terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

ASPOPOT - Associação dos Poetas Populares de Timon e Região dos Cocais



















        A ASPOPOT - Associação dos Poetas Populares de Timon e Região dos Cocais; foi fundada no dia 10 de janeiro de 2011, pelos poetas: Joaquim Mendes Sobrinho; (Joames) José Edimar Mendes Barbosa; (José Edimar) José de Ribamar de Pinho Barrros; (Barripi) Aureliano dos Santos Oliveira (Aureliano dos Santos) Raimundo Nonato Gomes (Raimundo Brito) Antonio Marcos da Silva; (Antonio Marcos) Manoel Lucas de Sousa; (Manoel Lucas) Francisco Agamenon Pereira; (Agamenon) José Barbosa de Sousa; (Zé Barbosa) José Maurício Pessoa; (Zé Maurício) Cícero Bento Figueredo (Cícero Alves) Raimundo Nonato Pereira Rosa; (Nonatinho)Antonio Monteiro da Silva (Antonio Virgílio)Antonia Gomes (Toinha Brito)Rosinaldo Alencar Santos (Rosinaldo Santos)Manoel Soares Sobrinho (Manoel Sobrinho)Antonio Benedito das Neves (Antonio Atanázio)João Ribeiro Santos (João Viola) Vital Ferreira Rolin (Vital Ferreira) Cícero Marques da Cunha (Cícinho)Antonio Raimundo da Silva (Antonio Raimundo) Maria Rosa Gomes Cavalcante (Rosinha Alves) Joaquim Rodrigues da Matta Filho; (Joaquim da Matta) Pedro Mendes Ribeiro; (Dr. Pedro)José de Moura e Silva (Zé Viola) Apologistas: Raimunda de Sousa Coelho; Raimundo Nonato Ferreira; Maria da Cruz Vieira de Sousa;Deusdeth Francisco dos Santos Lima; Maria Auriene Vidal de Lima; Stela Maria Viana Lima Brito; Maria da Paixão Soares de Sousa; Raimunda Evangelista de Sousa Silva e José de Assis Pires. A Região dos Cocais é composta por 17 municípios, são eles: Timon; Matões; Parnarama; Lagoa do Mato; Buriti Bravo; Fortuna; Alexandre Costa; São João do Sóter; Caxias ;Aldeias Altas; Coelho Neto; Duque Bacelar; Afonso Cunha; Codó; Peritoró; Timbiras e Coroatá.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

HISTÓRIAS DE VAQUEIROS

 













O VAQUEIRO NORDESTINO
José Edimar

O Vaqueiro do Nordeste
Tem uma vida arriscada,
Montando em cavalo bom
Pegando vaca raçada,
Enfrentando touro bravo
Dentro da mata fechada.

Foi à vida mais pesada
Que encontrei no meu sertão,
Porém nunca dispensei
Chapéu, perneira e gibão
Campeão de Vaquejadas
Nas festas de apartação.


O meu cavalo alazão
Sem precisar de esporas
Correndo atrás de boi bravo
Encostava sem demora,
Se eu não derrubasse o boi
Não deixava ele ir embora.

Quando corria por fora
Não fazia diferente,
Corria muito ligeiro
Que tinha a pisada quente
Por mais que o boi corresse
Ele chegava na frente.

Fui um vaqueiro valente
Correndo no tabuleiro,
Por cima de pedra e paus
Unha de gato e facheiro,
Honrei minha profissão
Dei prova de bom vaqueiro.


Que o homem verdadeiro
Quando abraça a profissão,
Para cuidar da fazenda
Não falta disposição
Sente amor pelo seu gado
Dando orgulho ao seu patrão.

Sinto hoje no coração
A mais tremenda saudade
Vive ala enchendo meu peito
Tirando a felicidade,
Tenho insônia e quando durmo
Sonho com a mocidade.

Quando na primeira idade
Comecei a campear,
Das carreiras que já dei
De fazer moita voar,
Dando alegria ao patrão
Sem deixar boi escapar.


Sinto hoje tudo faltar
Mesmo sobrando dinheiro,
Na condição vivo bem
Porque sou o fazendeiro,
Porém o meu peito que chora
Com a saudade que devora
Não posso mais ser vaqueiro.





PINTO PRETO DO ORIENTE



A trinta e um de dezembro
Vi um vaqueiro arrumado,
A fim de pegar um touro
No seu cavalo montado,
Vivia em cima da serra
Aquele touro malvado.

Esse touro se chamava
Pinto preto do oriente,
Pretinho da cauda branca
Mas brabo como serpente,
Se criou dentro dos matos
Sem conhecer um vivente.

E reuniu-se os vaqueiros
A fim de pegar o touro,
Todos disseram: - Eu não vou
Nem pra ganhar um tesouro,
Pedrinho disse: - Eu vou só
Montado em flecha de ouro.

Pedro disse: - A Luzinete
Prepare minha merenda,
Você é minha querida
Minha verdadeira prenda,
Se eu não pegar Pinto Preto
Não volto mais a fazenda.

Despediu-se do patrão
No outro dia cedinho,
Montado em flecha de ouro
Foi para o campo sozinho,
Jogado naquelas matas
Como um triste passarinho.

Com três léguas de viagem
Só via o mato tremendo,
Pedrinho olhou para o lado
Avistou o boi bebendo,
Num olho d´água que havia
Quando lhe viu foi correndo.

Pedrinho correu atrás
Daquele touro valente,
Seu destino era pegar
Era essa a sua mente,
Sem saber que a tristeza
Corria na sua frente.

Uma légua de carreira
Tiraram com rapidez,
Pedrinho alcançou o boi
Por sua sorte talvez, 

Numa gruta de dez metros
Caíram os três duma vez. 

Quando Pedrinho caiu
Ficou desorientado,
Porque viu o seu cavalo
Com o pescoço quebrado,
E pinto do oriente
Morto para o outro lado.

Ele chorando dizia
Meu Deus que sorte ruim,
Flecha de ouro está morto
Eu estou doente assim,
Mas Pinto do Oriente
Nunca mais come capim.

Quando foi no outro dia
Ele não apareceu,
Reclamava o fazendeiro
Meu Deus o que aconteceu
O Pedrinho está perdido
Ou na certa ele morreu

Também disse: - Luzinete
oh meu Papai de Belém,
Traga meu amor pra casa
Que tanto espero e não vem,
Se Pedrinho estiver morto
Pretendo morrer também.

Saíram à procura dele
Gente de perseverança,
Homem, mulher e meninos.
E todos da vizinhança,
Acharam dentro da gruta
Chorando como criança.

Pedrinho avistou o povo
Foi dizendo: - Meu patrão,
Flecha de ouro está morto
E eu estou sem condição,
Mas pinto do oriente
Não faz mais rastro no chão. 


Perdi a minha coragem
E minha disposição,
Flecha de ouro morreu
Não corro mais no sertão,
As lágrimas tristes caindo
Por cima da arreação.

E voltou com Luzinete
O seu amor verdadeiro,
Depois se casou com ela
Por ser seu amor primeiro,
Não montou mais em cavalo
Nunca mais quis ser vaqueiro.

























O VAQUEIRO QUE NÃO MENTIA
         (José Edimar)

Há muito tempo passado
Numa fazenda existia
Um boi chamado Eleição
Um rapaz que não mentia
O boi era estimação
E o vaqueiro a garantia!

Numa aposta de eleição
Foi o bezerro ganhado
Por isso pelo seu dono
O nome a ele foi dado
O patrão considerava
Ser ele o melhor do gado!

Conversava com um amigo
Quando o Vaqueiro chegou
Deu boa noite pra ele
Que ligeiro respostou
Também do boi eleição
Na hora lhe perguntou!

Vai bem disse o vaqueiro
Com todo resto do gado
Foi saindo e o patrão
Disse - Ao amigo do lado
Meu vaqueiro nunca mente
Nele tenho confiado!

-Não há ninguém que não minta

Seu amigo assim falou
-Querendo aposto contigo
Metade dos bens te dou
Se teu vaqueiro não mentir
O fazendeiro apostou!

Depois da aposta fechada
O amigo fazendeiro
Logo arranjou um meio
Para ganhar o dinheiro
Pediu ajuda a sua filha
Pra enganar o vaqueiro!

Ela combinou com o pai
Que a melhor solução
Era seduzir o vaqueiro
E matar o boi eleição
Não dava pra não mentir
Sendo o boi de estimação!

Ela foi para a fazenda
E lá fez sua morada
Se entregou ao vaqueiro
Como sua namorada
Depois fingiu-se de grávida
Armando-lhe uma cilada!

Disse ela-Tenho um desejo
Que me corta o coração
Pra comer carne de gado
Só quero o boi eleição
Ele temendo o pior
Matou o boi do patrão!

Terminou de almoçar
Foi ao gado dar de beber
Chegou ninguém tava em casa
Começou a perceber
Na armadilha que caíra
Seu patrão devia saber!

Num mourão botou o chapéu
Como se fosse o patrão
Parou e deu boa noite
Dizendo o boi eleição
Morreu com a mão quebrada
Caindo  num boqueirão!

Disse - Essa é furada
Tornou voltar novamente
Riscou bem junto ao mourão
Falando ali frente a frente
Seu boi eleição morreu
Hoje repentinamente!

Muitas tentativas fez
Pra mentir não conseguiu
Embora custasse caro
Ele que nunca mentiu
Foi encontrar o patrão
Da verdade não fugiu!

Chegando ele as pressas
Na casa do fazendeiro
Deu boa noite ao patrão
Que respostou ao vaqueiro
E notícias do seu boi
Já foi pedindo ligeiro!

Desmonte e vá me dizendo
Como vai meu Eleição
Seu Boi patrão eu matei
Foi causa a desejação
Me diga quanto é que custa
Que eu pago o boi meu patrão!

O amigo com a filha
Estavam ali esperando
Ela fingindo a barriga
Do vaqueiro e gargalhando
Porém ouvindo a resposta
Já foram se retirando!

O patrão abriu os braços
Para o vaqueiro sorriu
E o pai da moça grávida
Tentou e não conseguiu
O vaqueiro teve tudo
Enfrentou e não mentiu!
















VAQUEIRO PREGUIÇOSO
     (José edimar)

TENHO SIDO NESSA VIDA
UM VAQUEIRO CORAJOSO
JÁ TOPEI TODA PARADA
NUNCA GOSTEI DE MANHOSO
QUEM DESGRAÇA UMA FAZENDA
É VAQUEIRO PREGUIÇOSO!

QUANDO O CABRA TEM PREGUIÇA
NÃO PODE SER UM VAQUEIRO
NÃO MONTA EM CAVALO BRAVO
NEM CORRE NO TABULEIRO
NÃO DERRUBA NEM BEZERRO
QUANTO MAIS UM MANDINGUEIRO!

O PREGUIÇOSO SÓ SERVE
PARA BAJULAR PATRÃO
ZELA BEM CAVALO E ARREIOS
ESSA É SUA OCUPAÇÃO
AINDA PENSA QUE É
O MAIOR DA PROFISSÃO!

CAMPEAR ELE SÓ VAI
ACOMPANHANDO CINCO OU SEIS
E NO MATO NÃO DAR CONTAR
DE ATALHAR UMA RÊS
ELA FOGE E ELE GRITA
A CULPA FOI DE VOCÊS!

O DIA TODO É DEITADO
GOSTA MUITO É DE DORMIR
SE ALGUÉM LHE DER ATENÇÃO
PODE ATÉ MORRER DE RIR
QUE ESTANDO ACORDADO
SÓ PRESTA PARA MENTIR!

NA CASA DE ALGUÉM SE FOR
CONVIDADO A ALMOÇAR
NÃO ACEITA E RESPONDE
QUE FALTA PARA O JANTAR
CONVIDADO A ROÇA DIZ
QUE A CHUVA PODE MOLHAR!

NA CASA DELE UMA COISA
QUE É DIFÍCIL ACONTECER
PORÉM QUANDO ACONTECE
NINGUÉM PODE ESQUECER
TENDO COMIDA POR LÁ
PASSANDO TEM QUE COMER!

GOSTA MUITO DUMA FARRA
POIS É DADO A BRINCADEIRA
COMEÇA SÁBADO E DOMINGO
MUITO BOM NA GAFIEIRA
E AMANHECE DORMINDO
NA SEGUNDA E TERÇA – FEIRA!

O PATRÃO VAI VISITA-LO
ENCONTRANDO ELE DEITADO
LHE CHAMAR NÃO ADIANTA
JÁ CONHECE O RESULTADO
BALANÇA A CABEÇA E DIZ
TÁ TUDO DESMANTELADO!

UM VAQUEIRO PREGUIÇOSO
TAMBÉM TEM POR QUALIDADE
CONHECIDO DOS VIZINHOS
PELA SOLIDARIEDADE
SE TIVER CANA NO MEIO
ELE SE SENTE A VONTADE!

PELAS QUALIDADES DELE
NÃO HÁ QUEM NÃO-O CONHEÇA
MESMO SENDO PREGUIÇOSO
NÃO LIGAM QUE PERMANEÇA
VIVENDO FELIZ DEMAIS
SEM HAVER QUEM O ABORREÇA!

AOS VAQUEIROS DE VERDADE
PRECISO ME DESCULPAR
QUE VAQUEIRO QUE É VAQUEIRO
POR CERTO NÃO VAI GOSTAR
UM DESSES NA PROFISSÃO
SÓ SERVE PRA ATRAPALHAR!
















HISTÓRIA DE VAQUEIRO
    (José Edimar)

Lembro com muita saudade

Do meu tempo de menino
Do amanhecer na fazenda
Do vaqueiro campesino
Das festas de vaquejadas
Do meu sertão nordestino!

Saudades trazem lembranças
Que aquecem a memória
No Estado do Ceará
Aconteceu essa história
Da vida desse vaqueiro
Quase toda trajetória!

Aos doze anos montava
Provando ser bom vaqueiro
Aos dezoito era afamado
E mesmo sem ter dinheiro
Aos vinte e dois se casava
Com filha de fazendeiro!

Seu nome foi conhecido
Da Serra Grande ao sertão
Não lhe faltavam convites
Pras festas de apartação
E boi que ninguém pegasse
Só ele botava a mão!

Na vida de bom vaqueiro
Sempre ele era convidado
Pegou lá no pé de Serra
Um garrote encabojado
Depois disso em pouco tempo
Seu destino foi mudado!

Envolveu - se em amizades
Com experientes vaqueiros
Por sua ingenuidade
Achou que fossem parceiros
Sem imaginar que eram
Todos falsos e traiçoeiros!

Aqueles falsos vaqueiros
Viviam roubando gado
Por está ele envolvido
De roubo foi acusado
Pra não sofrer na prisão
Fugiu de noite apressado!

Sabendo dessa verdade
Sua mulher não agüentou
Com o filhinho nos braços
Pra casa do pai voltou
Esperando ele mudar
Nada daquilo falou!

Fugindo pro Piauí
Por cinco anos viveu
Na casa de seus parentes
O lugar que se escondeu
Arranjou muitas amizades
 Em confusões se meteu!

Deu muito desgosto aos tios
Com a vida que levava
Saindo na sexta feira
Só na segunda voltava
Chegando ainda zangado
Com seus tios não falava!

A mulher dele no sul
Onde estava a trabalhar
Sabendo notícias dele
Mandou logo lhe buscar
Lembro o dia da partida
E mais nada ouvi falar!

Nosso vaqueiro partiu
Foi embora e não veio mais
Com cinco anos depois
Mostrou como era capaz
Mudando completamente
Vaqueiro bom assim faz!

Soube da última notícia
Está no Rio de Janeiro
Hoje é um grande empresário
Também um bom fazendeiro
Conserva ainda  guardado
Os seus trajes de vaqueiro!
         

















                    


VAQUEIRO DE POUCA SORTE
(José Batista de Freitas)

Para Toinha e Agenor
Era pura obrigação
Dar a primeira arrancada
Na corrida de mourão
Pra alegrar o seu povo
Vendo o boi rolar no chão!

Porém na beira da pista
Tinha um pé de juazeiro
Perto duma cerca velha
Estaca de marmeleiro
Que para um acidente era
Um ponto traiçoeiro!

Soltaram o primeiro boi
Para começar o show
rapaz no seu cavalo
Pela cerca penetrou
Passando só o cavalo
Que o vaqueiro ficou!

Agenor foi de encontro
Uma estaca da faxina
Ou pura falta de sorte
Ou nascera com tal sina
Vindo a danada da morte
Com sua mão assassina!

Socorreram Agenor
Quando ainda respirava
Todo banhado de sangue
Para Toinha ele olhava
Dizendo adeus meu amor
Por essa eu não esperava!

Às quatro horas da tarde
Agenor foi enterrado
Tinha uns duzentos vaqueiros
De chocalhos empunhado
Ao som de todos eles
Foi o rapaz sepultado!

No meio da cerimônia
Ouviu-se uma voz ecoar
Era Toinha aboiando
Vindo ao povo avisar
Que só voltaria ao campo
Depois de Agenor voltar!

Agenor você morreu
Eu fiquei na solidão
Queimei o chapéu de couro
As perneiras e o gibão
Meu cavalo passatempo
Dei de presente ao irmão!

Houve grande emoção
Em homem, mulher, menino.
Eu também chorei um pouco
As lágrimas do meu destino
Ouvindo a primeira vez
Aquele aboio feminino!

Agenor você morreu
Mas vai levar um troféu
Vou morrer como eu nasci
De palma, capela e véu.
Pra desfrutar nosso amor
Nas vaquejadas do céu!

Escrevi a vaquejada 
Foi menosprezando a morte
Senti pena de Toinha
Que o golpe foi tão forte
Intitulei dando nome
Vaqueiro de pouca sorte!




O ÚLTIMO ADEUS DO VAQUEIRO
            (Louro Branco)

Já fui um vaqueiro novo, mas estou quase acabado
Com setenta e nove anos anos, faz um mês que estou prostrado
E o doutor disse ao meu povo, que estou desenganado

Campeei sessenta anos, brincando de mundo afora
Quem já fui eu passado, e quem estou sendo agora
Essa saudade que eu sinto, me mata antes da hora

Já sai pra tantas festas, hoje eu não posso sair
Bebi muitas pingas boa, dia e noite sem cair
Hoje só vejo remédio, sem poder mais engolir

Soluçando de saudade, dou adeus a minha sela
Peço pra minha família que se puder guarde ela
Pra recordar das carreiras, que eu já dei montado nela

Me despeço da cancela, estribaria e bebida
Adeus currais, adeus campos, cerrado pátio e corrida
Ah se deus ainda me desse, mais alguns anos de vida

De tudo na minha vida, eu levo recordações
Adeus queridos vaqueiros e colega dos meus sertões
Fique brincando por mim, nas festas de apartações

Adeus meu querido filho, que é meu melhor amigo
Adeus minha velha esposa, rainha do meu abrigo
Se fosse pelo meu gosto, vocês iriam comigo



Dou adeus a meu cavalo, lembrando a bondade dele
Já que Deus vai me matar, também deve matar ele
Pra ninguém ver outro homem, pegar boi montado nele

Meu patrão estou chegando o momento derradeiro
Bote a vela em minha mão, e perdoe se fui grosseiro
Receba como lembrança, o último adeus do vaqueiro
Receba como lembrança, o último adeus do vaqueiro


 VAQUEJADA NO CÉU
  (João Alexandre)

Quando é no mês de novembro
Dando a primeira chuvada
Reúne-se a vaqueirama
Em frente à casa caiada
Vão olhar no campo pasto
Se a rama já está fechada.

O vaqueiro da fazenda
É quem se monta primeiro
No seu cavalo amarelo
Calçado e muito ligeiro
E vai ao campo pensando
Na filha do fazendeiro.

E corre dentro da mata
Rolando em cima da sela
Se desviando de espinhos
Unha de gato e favela
Fazendo verso e pensando
Na beleza da donzela.

Dá um aboio dizendo:
Ó vaca mansa bonita
Tem no lugar do chocalho
Um lindo laço de fita
Seu nome é Rosa do Prado
O mimo de Carmelita.

Se reúnem a vaqueirama
Em frente à casa caiada
Um cabra de voz bonita
Sai cantando uma toada
E a filha do fazendeiro
Fica logo apaixonada.

Carmelita quando vê
O seu amor verdadeiro
Todo vestido de couro
Começa no desespero
Mamãe deixa eu ir embora
Na garupa do vaqueiro.

Quando o vaqueiro adoece
Bota seus couros na cama
Pelo campo o gado urra
Como quem por ele chama
Na porteira do curral
Berra toda a bezerrama.

Diz ele quando eu morrer
Coloque no meu caixão
Meu uniforme de couro
Perneira, chapéu gibão.
Pra mim brincar com São Pedro
Nas festas de apartação.

Não esqueçam de botar
As esporas e o chapéu
E o retrato do cavalo
Que sempre chamei Xexéu
Pra mim brincar com São Pedro
Nas vaquejadas do céu.

Termino me despedindo
Das Serras dos Taboleiros
Dos grutilhões, das chapadas
Dos baxios e oiteiros
Dos currais e das bebidas
E das filhas dos fazendeiros.


Meus Olhos Falam Por Mim
De: Edmilson Ferreira e Nonato Costa

És a minha leal companheira
Porque sabes me compreender
Entre todas tu foste a primeira
És a última que quero perder
Foste a minha melhor professora
Promotora da minha razão
Assistente de cargos omissos
Secretária dos meus compromissos
Empresária do meu coração...

Comparando às mulheres que vejo
Tu tens semelhança qualquer
Na pureza contida no beijo
No caráter que tens de mulher
Ao dormir nos teus braços com calma
Minha alma desprende-se ao léu
E o autor de quem tanto confio
Fez teu corpo com curvas de rio
Nos teus olhos pôs tinta do céu...

Respeitar-me se for teu propósito
Saberei te dar muito valor
Fiz do peito um eterno depósito
Pra guardar nossas frases de amor
Eliminas a minha carência
Na ardência do teu corpo grácil
Jamais nosso real será lenda
Que por mais que o destino pretenda
Destruir nosso amor não é fácil...

Como é bom quando estamos a sós
Sem desvelo da vista alguém
Nosso amor terá fim porque nós
Não seremos eternos também
Por amor teu amor já é meu
E eu sou teu se me queres assim
Se disser que te amo não minto
Nem preciso dizer-te o que sinto

Que meus olhos te dizem por mim...



MEU CIÚME É ASSIM
       (Heleno de Oliveira)

Querida esse nosso amor
Ainda está em começo
Me responda por favor
Seu nome seu endereço
E outra coisa também
Não converse com ninguém
Nem se quer um só momento
Não maltrate quem lhe adora
Que eu vou dizer agora
O quanto sou ciumento!

Querida eu sou de um jeito
Que quando ama alguém
Inda não tendo defeito
Para mim um defeito tem
Não se empalhe com nada
Não dê crença a camarada
Nem amiga, nem amigo
Vá pela a palavra minha
Que às vezes uma amiguinha
Bota outra no perigo!

Eu quando amo a alguém
O meu sonho é pesadelo
Que meu desejo é não vê – lo
Conversando com ninguém
E se por acaso vejo
Maldade amor e desejo
Fica o meu peito sentindo
Com o coração doendo
E a consciência dizendo
Meu bem está me traindo!

Querida tem outra coisa
Que eu preciso lhe falar
Pra tu seres minha esposa
Tem que a isso se obrigar
Nunca tome banho de praia
E não use mini – saia
E nem bermudas também
Que é pra outro rapaz
Não conhecer os sinais
Que o seu corpinho tem!

O nosso amor continua
Mas eu lhe dizer queria
Que se eu pudesse não via
Você sozinha na rua
Não vá recreio de bola
Não vá só para a escola
Por que existe um, porém.
Tenha o maior privilégio
Por que em qualquer colégio
Tem conquistador também!

Tem outra coisa também
Que eu preciso lhe dizer
Nem gibi e nem revista
Peço pra você não ler
Não se debruce em janela
E nem assista novela
E nem filmes imorais
Que permissão pra menina
Tem novela que ensina
Moça ser falsa a rapaz!

Não vá só meu grande amor
Pra festa de cavalhada
Nem cantiga nem xangô
Nem samba nem vaquejada
Não vá só a um reisado
E nem carreira de prado
Que nesse meio há um quê
Quero que ninguém lhe toque
Pode aparecer um jóquei
Pra conquistar a você!

Não vá o parque sozinha
Nem teatro e nem cinema
Aguarde a presença minha
Pra eu resolver o problema
Não vá ao clube dançar
Porque aquele lugar
Faz morrer a esperança
Com o calor da matéria
Ver se as maiores misérias
São praticadas na dança!

Não existe embaraço
Para você me amar
Não faço o que eu faço
Só faça o que eu lhe mandar
Não é por ter mau costume
É por que o meu ciúme
Pede pra mim ser assim
Se fizeres meus pedidos
Nós viveremos unidos
Queridinha até o fim!


MINHA MULHER É AQUELA
         (Barrazul)

Quem ama mulher casada
É sofredor e suspeito
Eu digo por que tem uma
Que está morando em meu peito
Já tentei me sair dela
Mais me apaixonei por ela
E agora não tem mais jeito

Estou amarrado nela
Ela também é assim
Os olhos dela me dizem
Que ela gosta de mim
Só penso nessa mulher
E se seu marido souber
Pode até ser o meu fim

O nosso amor cresceu muito
Já está enraizado
Tenho que desabafar
Não dar ficar calado
Qualquer dia eu vou beber
Abrir a boca e dizer
Eu estou apaixonado

Mulher do tipo menina
Frágil, dengosa e sensata
Bem vestida é minha dama
Sem a roupa minha gata
O seu calor me esquenta
Seu cheiro me alimenta
E a sua ausência me mata

Não adianta conselhos
Venha de onde vier
Dizer que ela é casada
Que eu procure outra mulher
Eu amo a ela somente
Pois o coração da gente
É só quem sabe o que quer


Farei de tudo na vida
Pra nosso amor não ter fim
Enfrento até uma guerra
Se tiver de ser assim
Para tudo sou capaz
Só não me acostumo mais
Com ela longe de mim

Admiro o seu marido
Homem de cabeça fria
Tem noite que passo a noite
Tem dia que passo o dia
Com ela na minha asa
Depois vou deixá - la em casa
E ele nem desconfia

Que se eu fosse casado
Com uma mulher daquela
Eu contratava a mim mesmo
Pra ficar cuidando dela
Não pisava nem no chão
Só eu lhe passava a mão
Nem mosca sentava nela

Devido ela ser casada
Eu quero tê-la e não posso
Mas se ela viuvasse
Ou largasse aquele troço
Eu me casava com ela
O mundo era meu e dela
E o céu também era nosso

Eu tenho muita vontade
De dizer o nome dela
Desfilar publicamente
Beijando e mordendo ela
Os trinta dias do mês
E depois dizer a vocês
Minha mulher é aquela





SAÍ SEM OLHAR PRA ELA
   De: Louro Branco

Num dia carnavalesco
Quando a noite teve início
Saí com três vagabundos
Contagiados do vício
Bebemos muito num bar
Depois achei ser propício
Pagar primeiro a despesa
E pedir licença na mesa
Pra curtir outra fraqueza
No forró do meretrício.

Parei em frente ao forró
Num barraco dos morenos
Tomei quatro gins com dois
Refrigerantes pequenos
Avistei uma mulher
Me olhando e fazendo acenos
Com um traje sem confiança
O dedo sem aliança
Ao lado duma criança
De dez anos mais ou menos.

Quase conheço a mulher
Porém achei diferente
Admirei o menino
Bonito mas descontente
Sujo, descalço e trapilho
Comendo um "cachorro quente"
Parecido com quem nasce
Das fibras da minha face
Embora eu nunca pensasse
Que fosse nem meu parente.

Enquanto eu mudei a vista
O menino sofredor
Obedecendo a mãe dele
Fez papel de portador,
Chegou onde eu estava
E disse assim: "Por favor"
Meio acanhado até
Ainda disse: "Seu Zé,
Aquela mulher em pé
Mandou chamar o senhor."

Acompanhei o menino
Rendendo aos dois saudação
Dei boa noite à mulher
Depois apertei-lhe a mão
Perguntei, quem é você?
Ela respondeu: Pois não!
Eu sou aquela infeliz
Que você fez meretriz
Depois que fez o quis
Me abandonou sem razão.

Mamãe morreu faz seis anos
Tenho pai mais não me quer
Peço muito, me dão pouco.
Agradeço a quem me der
Ser meretriz eu não quero
Sou uma pobre mulher
Ando suja e mal vestida
Sem conforto e sem guarida
Assim vou levando a vida
“Até quando Deus quiser.”

Por fim me disse chorando:
"Tem dia que nem almoço
Padeço que lhe conto
Trabalho que nem me coço
Viver com outro eu não quero
Casar pra você não posso"
Eu temendo a Deus divino
Temendo a cruz do destino
Perguntei, e esse menino?
Ela respondeu: “É nosso”!

Esse menino é o mártir
Da nossa podre união
Tão pobre que tem dez anos
E ainda hoje é pagão
Tem noite que falta rede,
Tem dia que falta o pão
Você que é pai acuda
Dê pra escola uma ajuda
Que esse pobre não estuda
“Porque não tem condição.”

Dei um dinheiro ao menino
Contemplando a feição bela
Ele recebeu chorando
Meu coração quase gela
Tanto tive pena dele
Como tive pena dela
Muito antipática e tristonha
Numa revolta medonha
E eu calçado de vergonha

Saí sem olhar pra ela.



MENINA DE 12 ANOS
De: Sebastião da Silva


Eu estava lá na praça
Feliz, achando graça
Quando ali eu avistei

Uma menina me olhando
Com as outras conversando
Assim observei

Eu não imaginava
Que ela em mim pensava
De amor, fazendo planos

E que garota que me amava
E que em mim pensava
Só contava doze anos

Ela chegou pra mim
Sorriu e disse assim:
Eu estou apaixonada

Apesar de ser criança
Mantenho a esperança
De ainda ser a tua amada

Falei, você é linda
Mas muito nova ainda
E não fica bem assim

Não vou contra a lei divina
Você é uma menina
Muito nova para mim

Ela ficou me olhando
As lágrimas derramando
Pelo seu rosto pequeno

Chorando ela dizia:
Meu Deus que grosseria
Amor demais é veneno

Eu fui me retirando
E ela ficou chorando
Entregue a nostalgia

E dizendo em seu desgosto
Essas lágrimas do meu rosto
Eu me vingarei um dia

O tempo foi passando
A lembrança terminando
Esqueci aquela cena

Com uns tempos pra frente
Em uma noite excelente
Avistei uma morena

Eu não imaginei
Que foi a que desprezei
E que lhe dei castigo

E disse a uma coleguinha
Diga a aquela bonequinha
Para vir falar comigo

Ao receber o recado
Que eu estava apaixonado
E que queria lhe falar

Ela veio aborrecida
Com a voz estremecida
E disse assim pra se vingar:

Sou aquela que sofreu
Que você não me entendeu
Não me quis não sei porque

Não vá contra a lei divina
Ainda sou uma menina
Muito nova pra você........



PARABÉNS Á VOCÊ
(De: Palmeirinha da Bahia)

AGRADEÇO A PROVIDÊNCIA
MAIS UM DIA DE EXISTÊNCIA
BRILHOU NO SEU CALENDÁRIO
QUE ESTE DIA EMINENTE
E RECEBA MAIS UM PRESENTE
PELO O SEU ANIVERSÁRIO

PARABÉNS Á VOCÊ, PARABÉNS Á VOCÊ!

MAIS DE UMA VELA ACESA
NUM BOLO EM CIMA DA MESA
ENFEITANDO O SANTO DIA
COM RADIOLA TOCANDO
E A MENINADA CANTANDO
PARABÉNS COM ALEGRIA

PARABÉNS Á VOCÊ, PARABÉNS Á VOCÊ!

MUITOS COPOS COM BEBIDA
A FAMÍLIA REUNIDA
AMIGOS PAIS E PARENTES
OS COLEGAS TE FESTEJAM
E AS CRIANÇAS TE BEIJAM
OFERTANDO MIL PRESENTES

PARABÉNS Á VOCÊ, PARABÉNS Á VOCÊ!

A LUA SE DESCORTINA
NASCE FLORES NA CAMPINA
ENFEITANDO SEUS ARCANOS
PRA ESSA DATA TÃO BONITA
PEÇA A DEUS QUE SE REPITA
POR MUITOS E MUITOS ANOS

PARABÉNS Á VOCÊ, PARABÉNS Á VOCÊ!

AS PAREDES ENFEITADAS
MUITAS TOALHAS BORDADAS
DISCUSSO E APERTO DE MÃO
SEU PEITO EMOCIONADO
COM TANTO ABRAÇO APERTADO
TREMULA O SEU CORAÇÃO
PARABÉNS Á VOCÊ, PARABÉNS Á VOCÊ!

NESTE DIA SEU AMOR
LHE BEIJA COM MAIS SABOR
SENTINDO AMIZADE PURA
POR TER DADO UM PRESENTE
E TER COLHIDO UM BEIJO QUENTE
DA MAIS FELIZ CRIATURA

PARABÉNS Á VOCÊ, PARABÉNS Á VOCÊ!

NO FIM DA GRANDE PALESTRA
TERMINA O SOM DA ORQUESTRA
JÁ PASSA DE ZERO HORA
O POVO TODO BEBENDO
SE DESPEDINDO E DIZENDO
ADEUS QUE JÁ VOU EMBORA

PARABÉNS Á VOCÊ, PARABÉNS Á VOCÊ!

EU JÁ FIZ O COMENTÁRIO
NESTE SEU ANIVERSÁRIO
DA ALEGRIA DO SEU POVO
APELO PRA O SOBERANO
ADEUS ATÉ PARA O ANO
QUE VAI TER FESTA DE NOVO

PARABÉNS Á VOCÊ, PARABÉNS Á VOCÊ!


Lágrimas de Amor
     (José Rodrigues)

Quem te deu tanto amor como eu
Jamais pode crer em promessa
Nossa chance de amor se venceu
Envolvemos o tempo em conversa
Hoje vivo distante de ti
E não sei se ainda te vejo
Estou sentindo uma imensa saudade
Sem poder fazer mais meu desejo

Quantos beijos nos lábios trocamos
Quantas juras de amor tu fizeste
Quando passo por onde passamos
Lembro tudo que tu me disseste
Os teus olhos vermelhos de lágrimas
Já tentei esquecer não consigo
A saudade que tu me deixaste
Vai ficar muito tempo comigo

Quando olho pro teu retratinho
Minhas lágrimas começam cair
Se é defeito chorar por carinho
Eu não tenho outro jeito de agir
Quem disser que não chora é mentira
Ou então nunca amou nesse mundo
Pois quem tem um amor sempre chora
Nem que seja na vida um segundo

Nunca mais vou sentir teu calor
Os meus olhos também tão chorando
Na distância cruel nosso amor
Aos poucos também se acabando
Mas a culpa é dos teus genitores
Que mudaram o teu jeito de ser
Separaram nós dois e por isso

Vivo longe de ti sem querer