sábado, 29 de dezembro de 2012

100 ANOS DE GONZAGÃO










Cordel: o nosso rei do baião
Meu caro amigo leitor
Por favor, preste atenção
Pois vamos falar agora
Nessa nossa exposição
Do grande Luiz Gonzaga
O nosso Rei do Baião.
Vamos cantar em cordel
Cem anos do Gonzagão
Homem forte e valente
Que causa admiração
Ele cantou o Nordeste
Com muita dedicação.
Vou contar uma história
De um homem apaixonado
Pelo forró, a safona
O baião e o xaxado
O grande Luiz Gonzaga
Como ele é chamado.
Nome completo é Luiz
Gonzaga do Nascimento
Ele nasceu no Exu
Grande acontecimento
Dia 13 de dezembro
O dia desse momento.
Mil novecentos e doze
Foi o ano abençoado
Nascimento de Gonzaga
Esse artista arretado
Pernambucano porreta
Pelo Brasil consagrado.
Quando era adolescente
Passou a se apresentar
Em bailes, forrós e feiras
Onde ia acompanhar
O seu papai Januário
Com ele aprendeu tocar.
Antes dos dezoito anos
Teve a primeira paixão:
Nazinha sua amada
Moça lá da região
Com amor e com carinho
Conquistou seu coração.
O pai dela o rejeitou
O namoro, não queria
O ameaçou de morte
Foi grande a covardia
Luiz Gonzaga então
Quis mostrar, a valentia.
Januário e Santana
Descobriram o namoro
Deram uma surra em Luiz
E ele caiu no choro
Revoltado e com medo
Fugiu como desaforo.
Gonzaga fugiu de casa
No exército ingressou
em Crato, no Ceará
Pelo Brasil viajou
E durante um bom período
Soldado se transformou.
Domingos Ambrósio foi
Um grande acordeonista
Que incentivou Gonzaga
A ser um grande artista
Ensinou os seus segredos
Pra ser grande sanfonista.
No ano de 39
Lá no Rio de Janeiro
Ele deixou o Exército
Como um bom brasileiro
Passou a tocar sanfona
Com repertório estrangeiro.
Tocava nos cabarés
Um tremendo retrocesso
Em programas de calouros
Também não teve progresso
Quis voltar p'ro seu sertão
Pois não achava o sucesso.
No ano 41,
Programa de Ary Barroso,
Foi aplaudido de pé
Começou ficar famoso
Tocando o Vira e Mexe
Um regional gostoso.
Vira e Mexe é a primeira
Música que ele cantou
De sua própria autoria
Com ela, se consagrou
Lá na gravadora Victor
50 canções gravou.
Depois de ser contratado
Pela Rádio Nacional
Pra cantar, tocar sanfona
De forma sensacional
Da rádio ele ficou sendo
O artista principal.
No ano 45
Luiz Gonzaga gravou
A sua primeira música
Um verdadeiro cantor
No estúdio RCA
Seu sucesso estourou.
Asa Branca, o seu hino
Sua principal canção
Traduzida em várias línguas
Conquistou toda nação
Composta em 47
Por Humberto e Gonzagão.
Luiz Gonzaga foi grande
Compositor e cantor
Sanfoneiro de primeira
Homem de grande valor
Que cantou nosso sertão
Com carinho e com amor.
Luiz Gonzaga é forró
É xaxado e é baião
Foi um grande sanfoneiro
Cantou o nosso sertão
Ele foi grande expoente
De toda nossa nação.
Foi um grande cantador
Só cantava acompanhado
Da sanfona, do zabumba
Do triângulo ao seu lado
Cantando o seu sertão
E o seu Nordeste amado.
Foi grande compositor
De xaxado e de baião
Exaltava o vaqueiro
O temido Lampião
Cantou para o Padim Cícero
Pro nosso Frei Damião.
No forró e no baião
Gonzaga foi pioneiro
Cantava com a sanfona
Vestido como um vaqueiro
Gonzaga pernambucano
Nordestino, brasileiro.
Zé Dantas foi seu parceiro
Também Huberto Teixeira
Juntos esses três fizeram
Sucessos, grande carreira
Hoje, os três fazem parte
Da cultura brasileira.
Sofrendo de osteoporose
No Hospital Santa Joana
Na cidade do Recife
Capital pernambucana
Morreu o Rei do Baião
Calou-se sua sanfona.
No dia 2 de agosto
Do ano oitenta e nove
Na cidade do Recife
Vá à net e comprove
Faleceu Luiz Gonzaga
Todo mundo se comove.
Vítima duma parada
A cardiorrespiratória
O seu corpo foi velado
Com honradez e com glória
Na cidade do Exu
Tá gravada a sua história.
Com sua sanfona branca
E o seu chapéu de couro
Com o manto do vaqueiro
E o seu gogó de ouro
Luiz Gonzaga foi rei
Do Nodeste, um tesouro.
Um dia, ele me disse
Que queria ser lembrado
Como um grande sanfoneiro
Que durante seu reinado
Amou e cantou seu povo
Com baião, xote e xaxado.
Que cantou os animais
O amor, os cangaceiros
Os padres, os retirantes
As aves e os vaqueiros
Os covardes, os valentes
Do Nordeste brasileiro.
Mas foi muito mais além
Virou o Rei do Baião
Amado em todo Brasil
Na Europa, no Japão
Respeitado em todo mundo
Como o grande Gonzagão.
Cantamos nesse cordel
Cem anos de Gonzagão
Esse bom cabra da peste
Cantador do meu sertão
Parabéns Luiz Gonzaga
O nosso Rei do Baião.
 
Carlos Soares da SilvaCupira, PE.

domingo, 23 de dezembro de 2012

VAQUEJADA, POEMAS E CANÇÕES

O MECÂNICO FALECIDO
   (Adriano Pereira)

Numa viagem que fiz
Da Santa Inês a São João
Aconteceu uma cena
Que abalou meu coração
Meu caminhão na primeira
Parou em uma ladeira
Desceu não quis mais pegar
Parado eu fiquei em pânico
Esperando algum mecânico
Que pudesse me ajudar!

Parei na beira da estrada
Olhando para uma cruz
Pedindo todas as forças
Enviadas por Jesus
Naquilo surgiu um carro
Era um jipe cor de barro
E me perguntou o rapaz
O que aconteceu cidadão
Eu disse meu caminhão
Parou e não pegou mais!

O rapaz sujo de graxa
Alvo dos olhos azuis
Uma camisa sem manga
Pés descalços e braços nus
Entrou no meu caminhão
Puxou o freio de mão
E disse eu vou dar um jeito
Fiquei olhando de fora
Em menos de meia hora
Ele tirou o defeito!

Quando terminou me disse
Tá pronto o seu caminhão
Agora pode ir embora
Cumprir sua obrigação
Perguntei quanto lhe devo
Ele disse não me atrevo
A lhe cobrar nenhum xis
Mas vou pedir ao senhor
Que me faça um favor
Me pagando o que eu lhe fiz!

Seguindo essa estrada em frente
Antes de entrar na cidade
Olhando a sua direita
Tem uma propriedade
Tem uma casa pequena
E uma mulher morena
E uma menina aleijada
A mulher é a mãe dela
Faça o que puder pra ela
Que pra mim não deve nada!

Me despedi do rapaz
Entrei no meu caminhão
Seguindo a estrada em frente
Sempre prestando atenção
Quando avistei a cidade
Vi logo a propriedade
Nela um casebre esquisito
Como se fosse uma herança
A mulher e a criança
Como o rapaz tinha dito!

Parei o carro e entrei
Falei com a mulher bom dia!
Ela ficou assustada
Perguntando o que eu queria
Eu disse foi um mecânico
Que no momento de pânico
Me tirou do sofrimento
E quando eu fui lhe pagar
Pediu para eu entregar
A senhora o pagamento!

Vi uma fotografia
Em um cordão pendurada
Falei pra mulher foi esse
Homem, que vi na estrada.
Ela disse é impossível
Que num acidente horrível
Esse homem faleceu
Eu sofri mil desenganos
Hoje completou três anos
Que meu esposo morreu!

É o pai dessa criança
Que nasceu deficiente
Tenho sofrido até hoje
Muito mais daqui pra frente
Lutava no mecanismo
Mas despencou num abismo
Um jipe que dirigia
Morreu no mesmo momento
Eu fiquei no sofrimento
Ele foi pra cova fria!

Dei um dinheiro pras duas
De quatro feiras ou mais
E do casebre esquisito
Saí sem olhar pra trás
Sentindo uma comoção
Por que aquela feição
Não saiu do meu sentido
Só resolvi o problema
Quando escrevi o poema
“O mecânico falecido!”




TEM VIOLÊNCIA DEMAIS
 (José Edimar M. Barbosa)

Peço a Deus pai de bondade
Que faça uma intervenção
No mundo modernizado
Com tanta revolução
Tornando em um novo Éden
Como fez na criação!

Pois na modernização
Não teve bom resultado
Os homens ficaram sábios
O Senhor foi desprezado
Os valores se inverteram
Num mundo amaldiçoado!

O respeito foi deixado
Num passado muito atrás
O amor não vale nada
Nem os valores morais
Quem manda hoje é o dinheiro
Vale mais quem paga mais!
                
O mundo perdeu a paz
Ninguém está se importando
Quem governa não ver nada
Quem legisla tá roubando
A justiça fecha os olhos
E a corrupção mandando!

Não sei meu Deus até quando!
O povo vai se aguentar
O homem feito de amor
Por vez deixou de amar
O próximo que é seu irmão
Ele resolveu matar!

Desse jeito não vai dar
Por isso apelo ao Senhor
Que ama demais o mundo
Não importando o valor
Amor não correspondido
Não é verdadeiro amor!

Ninguém quer ver o Senhor
Como sendo a solução.
Para resolver problemas
Prefere a revolução
Levando os bens um do outro
E matando o próprio irmão!
               
Vejo que a prostituição
Tá andando a mais de mil
Não importa se é adulto
Adolescente ou infantil
Aumentou demais mundo
E piorou no Brasil!

É mais que a guerra civil
A violência matando
Amanhece a gente ver
As tevês noticiando
Choro, vendo a juventude.
Todo dia se acabando!

As drogas vêm arrasando
Com a nossa juventude
Dilacerando as famílias
Acabando com a saúde
Quem governa se lixando
Sem tomar uma atitude!

Está faltando virtude
Na luz que tem maior brilho
A mãe por amor profundo
Também errou o seu trilho
Pra não ver o filho morto
Compra droga e dar ao filho!
                     
Hoje é a lei do gatilho
Que resolve uma disputa
Estão até pais e filhos
Se acabando numa luta
E a mãe feliz por ter
Uma filha prostituta!

Não importa a má conduta
A moral está um resto
A jovem não quer ser virgem
Ninguém pensa em ser modesto
É todo mundo sentindo
Vergonha de ser honesto!

De Rui Barbosa atesto
Que nisso ele falava
Quem ouvia até sorria
Pensando que ele brincava
Nessa inversão de valores
Quem jamais imaginava!

Ligeiro o tempo mudava
Só não vem nova mudança
Parece que o ser humano
Em si não tem confiança
É tudo se encaminhando
Para o fim da esperança!

Tenho uma desconfiança
Que o que é bom não vai voltar
Políticos incompetentes
Não gostam de trabalhar
As denúncias estão na mídia
E não param de roubar!
                 
Para Deus abençoar
Tem que haver um tratamento
Da mente do ser humano
Hoje muito violento
Trocando ódio em amor
Melhorando o sentimento!

Para o desenvolvimento
Melhorando nossa nota
Brasil crescendo e em paz
É ser Nação patriota
Não há quem resista quando
Todos tiram e ninguém bota!

Se gostarem da derrota
Todos fiquem como estão
Matem roube e escandalizem
Rebole a moral no chão
Dois, séculos será o bastante
Para o fim da geração!

Não há outra solução
Só através do amor
E tem que ser verdadeiro
Primado em grande valor
Sendo o homem a semelhança
E a imagem do Senhor!
              
Deus faz tudo por amor
Por todos nós e não cansa
Ele criou o ser humano
Sua imagem e semelhança
Enquanto a gente não for
Seu trabalho não descansa!

A tecnologia avança
A ciência com novidade
Tem um bom melhoramento
Pra nossa sociedade
Mas, falta a dose de amor.
Pra toda humanidade!

Todos fogem da verdade
Ninguém mais quer ser correto
Ficou sem vez o amor
O homem sendo objeto
Quem pode chorar chorando
No desmantelo completo!



Arco-íris da Vida
      (Benoni Conrado)

Vi por sonho num campo distante
Uma luz que descia no céu
Bem mais clara que a luz da aurora
Quando o sol da manhã rasga o véu
Uma escada, tocando nas nuvens
E por ela, grande multidão
Ia e vinha de olhos chorosos.
E o exército de alguns poderosos
De joelhos pedindo perdão.

Arco-íris da vida!
Prolongue os meus anos quero viver mais
Deus em paz com os homens
Com Deus vivo em paz
Mas paz do mundo o homem desfaz!

Vi um homem descer numa nuvem
Com um cetro de ouro na mão
Sua voz abalava as montanhas
Nas palavras dum santo sermão
Em voz clara dizia esse mundo 

Para Deus se tornou muito estranho
Ninguém mais quer cumprir minha lei
Mas em breve de volta estarei
Pra poder escolher meu rebanho

Arco-íris da vida!
Prolongue os meus anos quero viver mais
Deus em paz com os homens
Com Deus vivo em paz
Mas paz do mundo o homem desfaz!

Despertei ouvindo as palavras
Enviadas do santo pastor
Meio em dúvida de tudo escrevi
Essa trova de paz e de amor
De uma coisa eu tenho certeza 

Que estamos bem perto do fim
Por que redimir nossas culpas
Uns aos outros pedindo desculpas
E unidos cantarmos assim!

Arco-íris da vida!
Prolongue os meus anos quero viver mais
Deus em paz com os homens
Com Deus vivo em paz
Mas paz do mundo o homem desfaz

Procurei descobrir quem seria
Esse homem de tanto poder
Que acalmava a braveza dos ventos
E fazia a montanha tremer
Seus cabelos caiam nos ombros
Nos seus olhos brilhava uma luz
És aí a resposta fiel
O lugar que sonhei é Betel
E o homem que falo é Jesus

Arco-íris da vida!
Prolongue os meus anos quero viver mais
Deus em paz com os homens
Com Deus vivo em paz
Mas paz do mundo o homem desfaz!


Flor do Mocambo
(Apolônio Cardoso)

Dedico a você que está me ouvindo
E talvez sentindo saudades também!
Ô Flor do Mocambo, vestida de luto,
Herança do fruto dos beijos de alguém.

Foi de madrugada, quando lhe beijei,
Parti e chorei, vendo a imagem sua!
Sou triste e boêmio, sem felicidade,
Cantando saudade, aos raios da lua.

Você, flor divina, tão simples e tão bela,
Ô flor amarela, do meu pé de jambo,
Sou triste poeta, cativo, mas amo,
Por isso lhe chamo de Flor do Mocambo.

Não tenho riqueza para lhe ofertar:
Navio nem mar, nem Copacabana!
Só tenho a viola, a vida e molambo,
Ô Flor do Mocambo, da minha cabana.

Lhe dou as estrelas, a lua, a cascata,
O campo e a mata, o riso e o pranto;
Estrela candente, luz de vaga-lume,
Venha dá perfume aos versos que canto.

Lhe dou o peixinho que morre na areia
A voz da sereia que canta escondida
Eu só desejo apenas que os dias seus
Se unam aos meus, nos dramas da vida!

Odeio os guerreiros da vil raça humana,
O homem que engana ao sei Criador!
Pois morro brigando no céu e na terra
E até faço guerra, pra ter seu amor.

Quando a mocidade voar, for embora
Olhando a aurora, sem saber porque!
Aí chorarei já quase no fim
Com pena de mim, pensando em você.

Olhando a inocência que tem no seu riso
Eu fico indeciso, sem saber o que faça!
Você é poema da felicidade
Plantando saudade, na alma da raça.

Termino o poema olhando pra Lua,
Linda deusa nua, que sente ciúme!
Ô flor do mocambo dos meus desenganos,
No passar dos anos não perca o perfume!




Geraldo Amâncio e Moacir Laurentino
Mulher - Sextilha 2º Festival da Viola - Fortaleza - CE. 

Dei na mulher com a flor
E a flor ficou amassada
Depois que a flor amassou
Veja que coisa engraçada
A flor perdeu o perfume
Ela ficou perfumada!

Mulher é coisa sagrada
Tem um sentido tão fundo
Que Deus nosso Pai Eterno
Criador do amor profundo
Das entranhas da mulher
Trouxe o Salvador do mundo!

Mulher espírito profundo
Que todo corpo não tem
A Santa mãe soberana
Teve seu filho em Belém
As outras são pecadoras
Mas, viram santas também!

Pela beleza que tem
 A mulher que a gente ama
É pra ter o tratamento
De deusa rainha e dama
Não é para ser escrava
Da cozinha e nem da cama!

Mas tem homem que reclama
Tem ciúme e lhe aperreia
Pega a mulher inocente
Chega em casa e mete a peia
Esse merece um processo
De dez anos de cadeia!

Não existe mulher feia
Mulher é um paraíso
Quem não gostar da mulher
Do sexo nem do sorriso
Está faltando uma telha
Na construção do juízo!

Eu de uma mulher preciso
Pra sempre está me servindo
Além do corpo um desenho
Seu semblante e riso lindo
É santa estando acordada
Um anjo estando dormindo!

Mulher é um quadro lindo
E o homem machista quer
Que a mulher seja uma escrava
E faça o que ele quiser
Quando ele é quem devia
Ser escravo da mulher!

Eu admiro a mulher
Por ser carinhosa e bela
São dois corpos em um só
Dois filmes na passarela
No trabalho até na dor
Deve auxiliar a ela!

Mulher é a peça bela
Tenho cinco em minha meta
Minha mãe e minha filha
Minha esposa e minha neta
E a mãe do Nazareno
Que é quem protege o poeta!

A esposa de um poeta
É dama da paciência
E a Virgem Nossa Senhora
É a mãe da providência
Todo mulher é a rosa
Que o mundo botou essência!

É da minha preferência
Pelos os cálculos que já fiz
Se tivesse uma mulher
Governando esse país
Não havia desemprego
E todo mundo era feliz!

Tenho a minha imperatriz
E o meu império é perfeito
Eu chego em casa enfadado
Eu me levanto e me deito
Já acho meu café pronto
E encontro o almoço feito


SONHO DE AMOR
   Onildo Barbosa

Deitei-me na cama humilde
Do meu ranchinho isolado
Tresvariei toda noite
Sonhando quase acordado
Pra todo lado que olhava
Via você do meu lado!

Sonhei com o sol pintando
A tua fotogenia
E a lua beijando os anos
Da tua fotografia
E a brisa parando os pelos
Da tua pele macia!

Sonhei voando contigo
No avião do destino
No sonho eu adormecia
Do teu encanto divino
Revendo o céu da saudade
De um sonhador peregrino!

Sonhei andando contigo
Por campos desconhecidos
No sonho as aves cantavam
Os cajueiros floridos
O vento soprando as pontas
Dos teus cabelos compridos!

Sonhei dormindo em teus braços
Nas madrugadas serenas
No sonho eu via reboliços
Das cores das açucenas
E o pingo de orvalho
Nas tuas faces morenas!

Assim que eu sonhei contigo
No meu rancho de ipê
Agora choro acordado
Com vontade de ti ver
Por que no sonho tem partes
Que eu só conto a você!

Agora choro acordado
Com vontade de ti ver
Por que no sonho tem coisas
Que eu só conto a você!.




CRISTO É MEU ADVOGADO
    (Chico Pereira)

Tenho recebido ofensa
De pessoa que não pensa
Nem conhece o verbo amar
Mas eu amo a lei divina
Por que sei que ela ensina
Um ao outro perdoar
Eu estou vivendo agora
Esperando toda hora
Nosso mestre aparecer
Está próximo a sua vinda
Numa nuvem muito linda
Jesus Cristo vai descer

Cristo é meu advogado
E o seu reino não tem fim
Ele está sempre ao meu lado
Pra fazer tudo por mim!

Vivo pra fazer o bem
Mesmo que encontre alguém
Com o mal no coração
Leio a Bíblia e depois digo
Que Jesus é meu amigo
Em qualquer ocasião
Quem de mim guardar rancor
Eu confio no amor
Que Jesus me prometeu
Só Ele mesmo é juiz
Tenho pena de quem diz
Que é melhor do que eu!

Cristo é meu advogado
E o seu reino não tem fim
Ele está sempre ao meu lado
Pra fazer tudo por mim!

Vou seguindo a minha estrada
Que é bem iluminada
Pela a luz da esperança
Sou amigo do direito
Ninguém acha no meu peito
Sinal nenhum de vingança
Quem tentar me destruir
Está sujeito a cair
Num abismo inesperado
Quando estiverem sofrendo
Eu estou rindo e dizendo
Cristo é meu advogado

Cristo é meu advogado
E o seu reino não tem fim
Ele está sempre ao meu lado
Pra fazer tudo por mim

Quem diz que eu nada sou
É por que nunca lembrou
De escutar a minha voz
Posso dizer noite e dia
Que o Filho de Maria
Lá no céu roga por nós
Somente o amor constrói
A desunião destrói
Onde não existe lei
Creio que somos iguais
Ninguém é menos nem mais
Só Cristo é nosso Rei

Cristo é meu advogado
E o seu reino não tem fim
Ele está sempre ao meu lado
Pra fazer tudo por mim (bís)



VAQUEIRO PREGUIÇOSO
(José Edimar)

Tenho sido nesta vida
Um vaqueiro corajoso
Já topei toda parada
Nunca gostei de manhoso
Quem desgraça uma fazenda
É vaqueiro preguiçoso!

Quando o cabra tem preguiça
Não pode ser um vaqueiro
Não monta em cavalo bravo
Nem corre no tabuleiro
Não derruba nem bezerro
Quanto mais um mandingueiro!

O preguiçoso só serve
Para bajular patrão
Zela bem cavalo e arreios
Essa é sua ocupação
Ainda pensa que é
O maior da profissão!

Campear ele só vai
Acompanhando cinco ou seis
E no mato não dar contar
De atalhar uma rês
Que foge e ele grita
A culpa foi de vocês!

O dia todo é deitado
Gosta muito é de dormir
Se alguém lhe der atenção
Pode até morrer de rir
Que estando acordado
Só presta para mentir!

Na casa de alguém se for
Convidado a almoçar
Não aceita e responde
Que falta para o jantar
Convidado a roça diz
Que a chuva pode molhar!

Na casa dele uma coisa
Que é difícil acontecer
Porém quando acontece
Ninguém pode esquecer
Tendo comida por lá
Passando tem que comer!

Gosta muito duma farra
Pois é dado a brincadeira
Começa sábado e domingo
Muito bom na gafieira
E amanhece dormindo
Na segunda e terça – feira!

O patrão vai visita-lo
Encontrando ele deitado
E chama-lo não adianta
Já conhece o resultado
Balança a cabeça e diz
Tá tudo desmantelado!

Um vaqueiro preguiçoso
Também tem por qualidade
Conhecido dos vizinhos
Pela solidariedade
Se tiver cana no meio
Ele se sente a vontade!

Pelas qualidades dele
Não há quem não-o conheça
Mesmo sendo preguiçoso
Desejam que permaneça
Vivendo feliz demais
Sem que alguém lhe aborreça!

Aos vaqueiros de verdade
Preciso me desculpar
Que vaqueiro que é vaqueiro
Por certo não vai gostar
que um desses na profissão
Só serve pra atrapalhar!


O QUE A MENTIRA FAZ
    (José Edimar)

Papai sempre me dizia
Meu filho não vá mentir
Que se a mentira sair
E poder ter garantia
Quem soltou precisaria
Três mais ter que inventar
Podendo se transformar
Em um mentiroso nato
Espalhador de boato
Sem ninguém acreditar!

Mas acontece que a vida
Não é como deve ser
Encontrei-me sem querer
Em um beco sem saída
Com minha sorte agredida
Sem dever nada fui preso
Não pude sair ileso
Das minhas acusações
Sobre algemas e grilhões
Me tornei um indefeso!

Vinte anos separava
Família e terra natal
No dia das mães afinal
Muito distante me achava
E mamãe velhinha estava
Sem de mim ouvir falar
Pro seu coração alegrar
Eu não tinha condição
No bolso sem um tostão
Pra seu presente comprar!

É quando a mente me trás
Para lhe telefonar
E minhas noticias dar
Parecia bom demais
Qual presente ia ser mais
Para uma mãe receber
Que do seu filho saber
Foi quando veio o dilema
Pra dar o telefonema
Qual noticia devia ser!

Pensando, tremi na base,
E falei pro delegado
Que estava do meu lado
Não saiu – me fala quase
Pedi! Escolha uma frase
Vou falar pra mamãezinha
Ela me espera na linha
Não pode ter emoção
Que sofre do coração
Ouve mal e é velhinha!

Diga qualquer coisa breve!
Disse assim o comissário
Que na vida dum otário
Qualquer baboseira serve
Pois o que diz não se escreve
Foi então que em mim veio
Botar mentira no meio
Pra poder falar bonito
Embora fosse esquisito
Porque mentir era feio!

Fui logo dizendo assim,
Mamãezinha como vai!
Diga como está papai
Pois aqui não está ruim
Deus tem ajudado a mim
Hoje sou um homem rico!
Lhe ouvindo também fico,
Na certeza que não falto
Ela gritou - Fale alto!
Não estou ouvido um tico.

Gritei em alto bramido!
Foi aí que ela entendeu,
E triste me respondeu
Seu pai já é falecido,
Motivo de ter morrido
Nunca deu pra entender
Pegou um jornal pra ler
Se tinha noticia sua
Enquanto saí na rua
Tudo pode acontecer

Aqui surgiu um boato
Espalhado por alguém
Você não estava bem
Comentaram no relato
Com sua voz, meu maltrato.
Foi agora aliviado
Quando ouvi fiquei calado
Comecei logo a tremer
Que só consegui dizer
Pode levar delegado!

Dali mesmo fui levado
Pra sala de detenção
Tinha um quarto na prisão
Para mim já reservado
Meu coração machucado
Me senti um incapaz,
Assim a mentira faz,
Me levou tudo que tinha.
Até a minha mãezinha
Talvez que não veja mais!
               

   

   

Casa Amarela
    Antônio Jocélio

Ainda lembro aquela casa onde eu nasci
Onde vivi com os meus irmãos e meus pais,
Muitos conselhos de mamãe eu recebi,
papai ali me ajudou até de mais
Era amarela aquela casa ainda me lembro
Quando chegava Dezembro,
Papai renovava ela,,
Depois mandava convidar o nosso povo,
Pra passar o ano novo, na nossa casa amarela. (bis)

Tive vontade de deixar o meu torrão
na impressão de conhecer outro pais
papai choroso deu-me a sua permissão,
Dizendo filho Deus lhe faça bem feliz.
tomei a bênção aos meus pais e abracei
meus irmãos, depois chorei
Debruçado na janela,
depois parti pra outra terra diferente,
Nunca mais vi minha gente
Na nossa casa amarela. (bis)

Às vezes penso em voltar pra o meu lugar,
pra ir ficar no mesmo canto onde fiquei,
Essa saudade me pedindo pra voltar,
Pra ir morar na mesma casa onde morei,
Naquela casa ir morar não posso mais
que meus irmãos e meus pais
não são mais os donos dela,
Como eu queria dessa terra um pedacinho
Pra construir meu ranchinho,
Vizinho à casa Amarela. (bis)



Alma de menino

Eu gostaria de inverter o tempo
E interditar a rota do destino
Pra reviver aquelas fantasias
Que eu arquivei n'alma de menino
Aquela estrada cortando o terreiro
E uma cancela um pouco mais na frente
E as flores brancas
Coroando os jarros da casa da gente

Os nossos filhos são do que nos fomos
Real semelhança
Que todo adulto trás dentro de si
Um sonho de criança

Fiz muitas vezes no oitão de casa
Curral de pedra e boiada de osso
Fechava os olhos pra ganhar um beijo
Na brincadeira de cair no poço
Carro de flandres, cavalo de pau.
Eram os brinquedos que eu fazia escolha
E o meu dinheiro
Feito de carteira de cigarro e folha

Criei canário e concertei gaiola
Brinquei de bila, pião e ponteira.
Bola de meia, carrapeta e pipa
Bornal de saco, pedra e baladeira.
Infelizmente mudou o cenário
Daquelas cenas que a infância fez
Passou o filme
E o tempo não deixa que eu veja outra vez.


Ponto G

Meu ex-amor se não for pedir muito
Dê-me outra chance pela última vez
Ouça os apelos de quem canta e chora
Que seu ex agora não quer ser mais ex.
Passe comigo um fim de semana
Em uma cabana presa aos meus abraços
Que até duvido que segunda-feira
Você "inda" queira dormir noutros braços.
Sinta meu gosto aqueça em meu corpo
Receba o título de minha mulher
Tornar possível o quase impossível
Só será possível se você quiser
Juro por Deus que se eu ouvir um sim
Você será por mim eternamente amada
Eu sei de muito e se eu fizer com calma
Até sua alma fica apaixonada.
Como Geólogo do seu coração
Deixe que eu deixe seu corpo sem véu
Me ponha solto num quarto trancado
Que faço um pecado que nos leva ao céu
Depois da volta da troca de afeto
No seu alfabeto eu vou do A ao Z
E ainda tem surpresa que só conto
Quando marca ponto no seu ponto G.

Um Nós, por dois Eus...

Eu tinha medo de encontra-la
E ser reincidente
Fraquejar de novo como antigamente,
Pelo recomeço do que teve fim...
Ao vê-la eu tive a certeza que a dúvida acabou
Chorei mas 'tô' rindo
Doeu mas, passou
Você está viva, mas morreu pra mim...
O tempo que me abriu os olhos me fez despertar
Ninguém é cego a vida toda podendo enxergar
O nosso romance acabou-se num passe de mágica
Como personagens dessa história trágica
Fomos namorados hoje somos ex....
Foi muito melhor ficar 'sem', do que ficar 'com'
Tentar foi um erro
Acabar foi bom
Quem gosta por dois padece por três
Eu tenho emendado as juras que você quebrou
A vida não pára por causa que a gente parou...
Eu era refém do seu corpo
Você do meu beijo
Se sobrou ciúmes,
Se faltou desejo
Agora é passado recordar pra que?
Estamos novamente livres sem novo endereço
Toda liberdade tem que ter um preço
E eu ganhei a minha perdendo você!
Você não é mais minha ninfa
Nem eu sou seu Deus
E a gente partiu dividindo
Um Nós, por dois Eus....

Ponto Final

Antes que alguém lhe conte a verdade eu mesmo abro o jogo
Faz muito tempo que eu não quero nada do que você quer
O que eu sentia por você na fase que nós começamos
Agora eu sinto dez vezes mais forte por outra mulher
Eu não consigo fazê-la feliz, infeliz assim
Você me toca, mas o que lhe toca já não toca em mim
Não conto as vezes que fui contar tudo e desisti na hora
Tomei coragem de perder o medo e provar que não minto
Estou sentindo que as pessoas sentem que eu não sinto nada
Eu sinto muito, mas infelizmente amor eu não sinto
Vivo cansado de inventar desculpas que estou cansado
Eu estou certo que nada dá certo começando errado
Eu só desejo que você encontre quando me perder
Alguém que emende o elo de sonhos que havia entre a gente
É muito cedo pra pensar que é tarde e desistir de tudo
Refaça os planos, esqueça o que ouve, toque a vida em frente
Nós dois compomos a trilha sonora de um filme real
A nossa historia já passou do tempo do ponto final

Mudança Radical

Eu vou alterar alguns dígitos do meu RG
Do CIC da caixa postal e trocar de AP
Mudar de rua casa e imóvel
No meu automóvel por vidro fumê
Um novo numero telefônico
Correio eletrônico fazendo com que...
Eu fique de uma vez por todas
Livre de você!
Eu vou mudar o meu estilo de roupa e sapato
Ate a minha assinatura rubrica em contrato
Em hotel embora eu não durma
De festa, de turma, de brinco e de prato.
Eu penso em fazer uma plástica
E usar a fantástica lente de contato
Agora sou outra pessoa com o mesmo retrato
Mudei a marca do perfume e do desodorante
Não trato mais a minha pele com o mesmo hidratante
Mudei o gosto musical
E por ultimo o jornal que eu era assinante
A senha do cartão de credito
Esse feito inédito não foi o bastante
Só resta do meu coração fazer o transplante.

Astronauta

Eu como astronauta visitei planetas
transpus os limites do céu multicor,
Viajei a bordo dos meus pensamentos,
fiz do coração um disco voador,
Em meio às galáxias do mundo universo,
encontrei em marte a musa do amor,
Seu nome possui sinônimo de água,
mais ela parece ser mesmo é de marte,
Madeixas da noite estéticas de estrela,
beleza que igual não tem em outra parte,
Eu estou em órbita entre a terra e júpiter,
vigiando os astros que seguem seus passos,
no céu de sua boca meus lábios decolam,
e a nuvem de beijo encobre os espaços,
e essa massa cósmica que envolve os planetas,
constituem os elos dos nossos abraços.
Seu nome possui sinônimo de água,
mais ela parece ser mesmo é de marte,
Madeixas da noite estéticas de estrela,
beleza que igual não tem em outra parte,
Na mitologia marte é o deus guerra,
da mais ela é a deusa da minha paixão,
seu rosto tem traços da face da lua,
seus olhos tem brilho de constelação,
e ela como a nave Discovery já fez,
uma aterrissagem no meu coração.

Coração Turista

Saudade eu catalogo
Mas paixões eu não mantenho
Que eu mesmo me interrogo
Quantos corações eu tenho
Que coração é esse
Que escuta e faz promessa
Desperta o interesse
Mas depois não se interessa
Coração! Que carma você tem?
Que envolve todo mundo
E não se envolve com ninguém
Meu coração tem sido
Como um músculo de borracha
Que quer ficar perdido
Toda vez que alguém o acha
Meu coração carente
É um cofre de mistério
Brincou com tanta gente
Que ninguém o leva a serio.
Meu coração tem hora
Que prefere estar sozinho
Depois chorando implora
Uma esmola de carinho
De tanta crueldade
Que meu coração apronta
Virou propriedade
Que ninguém quer tomar conta
Com juras ilegítimas
Até breve e um talvez
Não tem quem conte as vitimas
Que meu coração já fez
Meu coração turista
Bandoleiro e vagabundo
Promete amor à vista
E dá calote em todo mundo.

Site Do Coração

Eu quero lhe pedir desculpas por minha insistência
Por estar tão frágil devido à carência
E romper o silêncio
Dos meus sentimentos.
Eu sei que nós nos encontramos na hora indevida
Você já tem outro, está comprometida,
Mas estou sem bússola, sem rumo na vida
Com você dia e noite nos meus pensamentos.
Me diga qual é seu e-mail,
Navegue na minha emoção,
Que eu quero acessar o site
Do seu coração.
Entendo que você não possa me dar esperanças
Com medo do risco, da desconfiança
Dos olhos do mundo
E da língua do povo.
Sabemos tão pouco um do outro, das nossas manias
E a cada encontro novas fantasias,
Tô marcando as horas, tô contando os dias,
Tô roendo as unhas pra vê-la de novo
Me diga qual é seu e-mail
Navegue na minha emoção
Que eu quero acessar o site
Do seu coração.
Você não anda bem de amor
Eu também não ando
É inútil a gente viver se enganando
Pensando tão longe, podendo está perto
Eu mesmo já bati cabeça, já chorei a toa
Você deu errado com outra pessoa
Estou lhe propondo ficar numa boa
Sem medo de nada, pra tudo dar certo.
Me diga qual é seu e-mail
Navegue na minha emoção
Que eu quero acessar o site
Do seu coração.

Coração De Pedra

Da última vez que me apaixonei
Sofri sem pensar.
Agora eu penso duas vezes antes de me apaixonar
Talvez você seja diferente
Da outra pessoa.
Ame sem cobranças,
E goste numa boa.
Mas eu tenho medo de outra vez amar.
É que as mulheres pensam que é de pedra o meu coração
Que não tem saudade
Não sofre paixão
Não padece angústia e
Não guarda tristeza
Se eu algum dia
Ainda gostar de alguém
Vou ver se não gamo, não compro mais juras,
Nunca mais eu amo.
E antecipo o jogo de cartas na mesa...
Errar de novo seria fatal pra quem quer viver
Você parece ser bem diferente mas pode não ser
E antes que eu me dê de bandeja
E ceda ao seu apelo
Pra não ver meu sonho virar pesadelo
Fazer de tudo pra lhe esquecer
Você talvez não queira um namorado com tanto rumores
Que não dê presentes
Que não mande flores
Não seja romântico e não se entregue tanto
Pra evitar de uma vez por todos um amor que não dura
Outra paixão crônica
Outra desertura
Muito bem sozinho eu estou por enquanto
Mais um adeus pro meu coração seria cruel
Estou exausto de esperar o vinho e só beber o fel
Palavras doces frases impensadas não me deram sorte
O sal do meu canto tem sido mais forte
E todos os beijos tem gosto de Mel
Tenho receio que você não seja essa jóia rara
De pisar na bola
De quebrar a cara
De iludir por fora
E me enganar por dentro
E até que eu me convença disso por mim não me entrego
Faço que estou surdo finjo que estou cego
E não tendo a certeza, na duvida eu não nego

Juntos e Separados

Nós estamos juntos, quase separados tudo ao mesmo tempo
Não pela distância, mas sim pelas brigas que afastam nós dois
Controle os impulsos nas suas palavras usando o bom censo
Se desculpe antes das coisas que faz e perdoe depois
Fora do sério quando a gente fica
Qualquer palavra por descuido inflama
Amor ou ódio, nada justifica quando a gente ama
Amor ou ódio, nada justifica quando a gente ama
Todo sentimento é maravilhoso se for espontâneo
Amar não tem graça quando a gente tem que pedir, por favor,
Não infrinja as regras nem viole o pacto de paz que fizemos
Os beijos são balas, o quarto é o campo da guerra do amor
Fora do sério quando a gente fica
Qualquer palavra por descuido inflama
Amor ou ódio, nada justifica quando a gente ama
Amor ou ódio, nada justifica quando a gente ama
Fica sem sentido dividir a cama sem nenhum diálogo
Uma vida a dois eu não tenho como decidir sozinho
Se aborreça menos, compreenda mais, seja tolerante
Nós dois precisamos afastar as pedras do nosso caminho
Fora do sério quando a gente fica
Qualquer palavra por descuido inflama
Amor ou ódio, nada justifica quando a gente ama
Amor ou ódio, nada justifica quando a gente ama
Amor ou ódio, nada justifica quando a gente ama.

Santa Mulher

Por algum tempo eu andei solitário
Mas hoje estou completamente hilário
Silenciando a dor da cicatriz
Sonhar de novo me fez muito bem
Desde o dia que encontrei alguém
Que como eu necessidade tem
De amar e ser feliz
Fiquei surpreso a vendo frente a frente
Apostei tudo no olhar da gente
Lhe dei amor pra receber carinho
Um reencontro eu ansioso espero
Pra lhe provar o quanto eu sou sincero
De hoje em diante nunca mais eu quero
Permanecer sozinho
Ela em seu peito traz amor sem fim
O complemento que faltava em mim
E a humildade da compreensão
Quando me ocorrem horas infelizes
Ela me abraça e beija com reprises
Como analgésico aliviando às crises
Do meu coração
Como seus olhos nem a lua brilha
Ela é a minha oitava maravilha
Nem uma estrela pode ser tão linda
Por seus princípios se comporta e zela
Não tem sereia equivalente a ela
E outra mulher da formosura dela
Não nasceu ainda
Ela é suave como a voz da brisa
Quando ela escreve vira poetisa
Calando as aves toda vez que canta
Hipnotiza no primeiro olhar
É feiticeira sem querer matar
E algumas vezes cheguei a pensar
Esta mulher é santa
Hipnotiza no primeiro olhar
É feiticeira sem querer matar
E algumas vezes cheguei a pensar
Esta mulher é santa

Dia de Aniversário

Hoje todos comemoram
Teu aniversário
Parentes amigos, vizinhos
Teus pais e teus manos
A casa no clima de festa
Tem novo cenário
As velas em cima do bolo
Revelam teus anos.
A ti os amigos reservam
Várias homenagens
Presentes com flores e tele mensagens
Carinho aqui dentro
Surpresa lá fora
Iremos ficar esperando
Por mais doze meses
Infinitamente de todas às vezes
Tu jamais sorriste feliz como agora
Queremos comer brigadeiro
Pastel e coxinha
Fatias de bolo, creme de galinha
Exibindo a taça e provando a bebida
Na hora de abrir o champanhe
Brincando tu vens
Pra fazer um brinde ouvir parabéns
Pousar para as fotos
Do álbum da vida.
É na hora de ler os cartões
Dos seus remetentes
Fazer um discurso, abrir os presentes
Dar muito obrigado beijando na face
Ter forças pra seguir o ritmo
Do tempo que corre
Pra dizer adeus ao ano que morre
E dar as boas vindas ao ano que nasce.

Vou tomar posse do seu coração

Pra nossa vida já tem mais de um sonho
Pra nossa casa já tem mais de um troço
Não tenho tempo de pensar em outra
Viver distante de você não posso
Outro romance por grande que seja
É impossível ser maior que o nosso
A sua boca tem sabor de mel
Tem em seus lábios essência de flor
Seja comigo mais compreensiva
O seu silêncio me provoca dor
As minhas brigas não as leve em conta
Só há ciúmes onde existe amor
Não tem limites a nossa paixão
Pra ser seu dono até com Deus eu brigo
Me sinto bem quando você me escreve
Você se sente feliz quando eu ligo
Mesmo querendo negar que a amo
Não tenho como ser só seu amigo
Entre nós dois há um desejo mútuo
Nas nossas vidas ninguém interfere
Na minha vinda me receba rindo
Na minha ausência não se desespere
Desgosto morre, esperança vive
Amor não mata, mas, saudade fere
No idioma do amor da gente
Foi excluída essa palavra não
São duas vidas num destino só
São dois destinos numa só junção
Vou ser Governo nos seus pensamentos
Vou tomar posse do seu coração



NORDESTE INDEPENDENTE
(Imagine o Brasil ser Dividido)
(Ivanildo Vilanova e Bráulio Tavares)

Já que existe no Sul este conceito
que o Nordeste é ruim, seco e ingrato,
já que existe a separação de fato
é preciso torná-la de direito.
Quando um dia qualquer isso for feito
todos dois vão lucrar imensamente
começando uma vida diferente
da que a gente até hoje tem vivido:
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

Dividindo a partir de Salvador
o Nordeste seria outro país:
vigoroso, leal, rico e feliz,
sem dever a ninguém no exterior.
Jangadeiro seria o senador
o cassaco de roça era o suplente
cantador de viola o presidente
e o vaqueiro era o líder do partido.
Imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

Em Recife o distrito industrial
o idioma ia ser "nordestinense”
a bandeira de renda cearense
“Asa Branca" era o hino nacional
o folheto era o símbolo oficial
a moeda, o tostão de antigamente
Conselheiro seria o Inconfidente
Lampião o herói inesquecido:
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

O Brasil ia ter de importar
do Nordeste algodão, cana, caju,
carnaúba, laranja, babaçu,
abacaxi e o sal de cozinhar.
O arroz e o agave do lugar
a cebola, o petróleo, o aguardente;
o Nordeste é auto-suficiente
nosso lucro seria garantido
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

 Se isso aí se tornar realidade
e alguém do Brasil nos visitar
neste nosso país vai encontrar
confiança, respeito e amizade
tem o pão repartido na metade
tem o prato na mesa, a cama quente:
brasileiro será irmão da gente
venha cá, que será bem recebido...
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.

Eu não quero com isso que vocês
imaginem que eu tento ser grosseiro
pois se lembrem que o povo brasileiro
é amigo do povo português.
Se um dia a separação se fez
todos dois se respeitam no presente
se isso aí já deu certo antigamente
nesse exemplo concreto e conhecido,
imagine o Brasil ser dividido
e o Nordeste ficar independente.


           
Elizeu Ventania
Chorando ao Pé da Cruz  

Eu fui um dia visitar o cemitério
Lugar de pranto de tristeza e de emoção
Fiquei sabendo que a vida é um mistério
Por uma cena que abalou meu coração.
Foi lá que vi uma criança ajoelhada
Ao pé da cruz a lamentar dizendo assim
Esta é a cova que mamãe esta sepultada
Mamãe o mundo acabou-se para mim.

A nossa casa permanece abandonada
Minha roupinha nunca mais ninguém lavou
Minha comida é tão mal feita e limitada
Sou espancado por alguém aonde vou.
Se adoeço fico só ninguém me assiste
Se estou chorando ninguém vem me consolar
Se vejo um filho chamar mãe eu fico triste
Porque não tenho mamãezinha pra chamar.

Eu aconselho a quem tiver sua mãezinha
Agrade a ela não lhe faça ingratidão,
Eu sofro tanto nesse mundo sem a minha
Ninguém me olha só recebo humilhação.
Eu estava perto observando aquela cena,
A criancinha a soluçar sem ter ninguém
Agarradinha com a cruz eu tive pena,
Não suportei sai dali chorei também
.


Elizeu Ventania  
   Folha seca

Folha seca desprezada
Que hoje esta separada
Das rosas do teu jardim
Nascestes entre a grandeza
Em um pomar de beleza
E hoje eu te vejo assim:

Pelas estradas rolando,
O vento te carregando
Sem ter direito a pousar
Sujeita a força do vento
Eu olho o teu sofrimento
Fico tristonho a pensar.

Eu também fui bem criado
E hoje, tão desprezado
Vivo a sofrer sem ninguém,
Igualmente a um peregrino
Jogado pelo destino
Vivo sofrendo também

Do meu lugar vivo ausente
Não tenho nenhum parente
Para prestar-me atenção
Nessa existência perdida,
Eu sou a folha sem vida
Que vive a rolar no chão.


Elizeu Ventania  
   Dez Anos Depois

Amei a uma criatura há quatro anos
O meu desejo era fazê-la bem feliz
Casar com ela toda vida era meus planos
Ficamos noivos na calçada da matriz
Marquei o dia pra se dar o casamento
Comprei a casa mobilhei até o fim
Antes dez dias para o nosso sacramento
Ela enviou uma cartinha para mim.

Dizia a carta entre nós tudo acabado
Já tenho outro mais bonito em seu lugar
Procure outra que já tenho namorado
Não adianta outra carta me enviar
Guardei a carta me calei não disse nada
Vendi a casa viajei pra muito além
Sai chorando e soluçando na estrada
Devido a isso nunca mais amei ninguém.

Depois dez anos dessa cena amargurada
Eu me encontrava no balcão de um botequim
Quando chegou uma mulher embriagada
Esfarrapada dirigiu-se disse a mim
Tu não conheces quem sou eu mais eu te digo
Eu sou aquela da calçada da matriz
Me abandonaram e me jogaram no perigo
Agora peço que perdoe esta infeliz
A perdoei me retirei, mas ela disse
Estou pagando pelo mal que eu te fiz.


Elizeu Ventania  
    Casal Feliz

O casamento é um passo perigoso
Felicidade pra quem casa e vive bem
Tendo a esposa, um esposo carinhoso
E o esposo, uma esposa assim também
Fica bonito pra toda humanidade
Vivendo bem um para o outro até o fim
A união a quem nos traz felicidade
Deus abençoe um casal que vive assim.

Não confiar, responder mal, guardar ciúme
Não dispensar alguma falta que houver
Se separar e se juntar fica em costume
E muito feio para o homem e a mulher
Uma esposa ciumenta e malcriada
Ou um esposo sem prestigio e sem moral
É uma vida mal vivida, angustiada
É o principio da derrota do casal.

Não adianta se casar por vaidade
Por interesse ou pra cumprir opinião
Só adianta se casar por amizade
Quando se tem um grande amor no coração
Viver unidos todos os dois num só caminho
Só crer em ambos, não ligar os imbecis
A união, a amizade e o carinho
É o bastante para o casal viver feliz.


Elizeu Ventania  
   Feliz Aniversário

Hoje é o dia do feliz aniversário
Da criatura que mais prezo e quero bem
Deus lhe dê tudo quanto achar que é necessário
Nunca lhe deixe viver só sem ter ninguém
Eu lhe desejo a maior felicidade
Saúde, paz e alegria em seu viver
Eu peço a deus que multiplique a sua idade
Ainda dê mais a salvação quando morrer.

Eu rogo a deus que lhe oriente nos seus planos
Em cada plano que fizer se saia bem
Que esta data se repita muitos anos
Até os anjos lá do céu lhe digam amém
A sua casa fica cheia de alegria
Os seus amigos compareçam ao festim
Os passarinhos também cantam neste dia
É uma glória para você e para mim.

Receba agora parabéns dos seus parentes
Dos seus sobrinhos, dos seus tios e dos seus pais
Cada um deles lhe envia mil presentes
Lhe desejando: vida, luz , amor e paz
A música toca, o povo canta o padre reza
A santa missa nesse dia na matriz
E o seu povo que lhe preza e não despreza
Pedindo a deus para você ser bem feliz.


Elizeu Ventania  
 Serenata Sertaneja

A noite esta enluarada, oh! quanto é bela,
Parece aquela que não pensa mais em mim
Dorme em seu leito sossegada e nem imagina
Que a minha sina é sofrer até o fim
Adoro a ela desde o tempo de criança
Tenho a esperança de findar-se meu sofrer
Ainda tenho o prazer de abraçá-la
Hei de amá-la neste mundo até morrer.

Se estás ouvindo, meu amor, vens á janela
Que a noite é bela pra se ouvir um cantador
Eu fico triste quando canto e não te vejo,
O meu desejo é gozar o teu amor
Por ti eu vivo suspirando apaixonado
Alucinado por ti amar de coração
Pensando em ti eu sempre me entretenho
Por isto eu venho te ofertar esta canção.

Esta canção é uma prova de amizade
Sem falsidade, eu nasci para ti amar
Tu es a jovem que possui maior beleza
A natureza esmerou-se em te formar
Por isto eu venho te adorando por toda vida
Minha querida, pra te amar foi que eu nasci
Por minha causa nosso amor nunca se finda
Es a mais linda das mulheres que eu já vi.

Esta canção é uma carta que te escrevo
Não me atrevo a viver sem teu amor
Mande resposta desta carta que espero
Me considero ser um pobre sofredor
Por deus te peço, não desprezes a quem te ama
Eu vivo em chama por viver na solidão
Oh! linda jovem tenha dó do meu tormento
Neste momento que escutar esta canção.


Elizeu Ventania  
Recordação do Passado


Nesta canção irei contar o meu passado
Sou obrigado a descrever o que gozei
Naquele tempo, passageiro e tão risonho
Foi como um sonho que do leito despertei
Ao despertar notei a vida fracassada
E transformada numa grande solidão
Por que agora no lugar da mocidade
Vem a saudade invadir meu coração.

E quando vejo uma noite enluarada
A meninada espalhada pelo chão
Ai recordo que já tive a mesma idade
Tenho saudade do luar do meu sertão
Já fui menino e gozei muito no passado
Fui namorado de milhares no jardim
Namorei muito e com mulher fiz grosseria
E hoje em dia a mulher zomba de mim.

Fico tristonho quando vejo uma cidade
Com a mocidade na bancada do jardim
Trocando risos de amor e de esperanças
Tenho a lembrança que também já fui assim
Naquele tempo meu viver foi um colosso
Quando fui moço e todo mundo me quis bem
E hoje vivo pelo mundo desprezado
Abandonado sem carinho de ninguém.

Ah! se voltasse o que gozei na meninice,
Mas a velhice acabou o meu cartaz,
Aquele gozo transformou-se em sofrimento
Este tormento a velhice sempre traz
Não tenho pai, não tenho irmão e nem parente
Vivo somente lamentando o meu sofrer
Não tenho lar, nem esposa, nem amigo
Assim prossigo neste mundo até morre


Elizeu Ventania  
    Estrela da Vida

O povo diz que cada uma criatura
Tem uma estrela que ilumina seu viver
Já sei que a minha não acende está escura
E se acende, está distante, não me vê
Eu não conheço o que é felicidade
A humanidade escurece meu valor
Vivo rompendo a maior dificuldade
Ninguém no mundo da um passo em meu favor.

A minha estrela toda vida é apagada
Tudo no mundo é difícil para mim
Pra onde olho vejo espinho em minha estrada
Não sei por que o grande deus me fez assim
Se é verdade que existe a minha estrela
Há muito tempo pra o meu lado escurecer
Se há fortuna eu não pude recebê-la
Não há quem seja sofredor mais do que eu.

Feliz quem nasce numa estrela reluzente
Arranja tudo que quiser, sem se vexar
Pra onde olha vê fortuna em sua frente
A sua estrela lhe ajuda a melhorar
Porém a minha se existe é apagada
Por isto mesmo, é que estou sofrendo assim.
Quem tem meu signo é infeliz, não goza nada
Felicidade nem se fala para mim.

Existe gente que me diz que o tempo muda
Mas o meu tempo até hoje não mudou
A minha estrela é apagada, não me ajuda
Às vezes penso que Jesus me abandonou
Eu vou agora esperar que o tempo mude
Pra ver se é certo o que sempre o povo diz
Talvez um dia a minha estrela me ajude
E eu ainda seja um ente bem feliz.


 Elizeu Ventania       
Desunião na Vizinhança

Não há quem possa ser feliz aonde mora
Um mal vizinho ambicioso e falador
Levanta falso e roga praga toda hora
Só ele presta e ninguém não tem valor
Na sua boca, quem é bom não vale nada
Pra sua casa ninguém pode nem olhar
Porque olhando está sujeito a uma piada
O mal vizinho é a derrota do lugar.

Não há quem possa conversar nem achar graça
Se a gente canta, diz que é chateação
O mal vizinho neste mundo é uma desgraça
Tenho sofrido mediante esta nação
Se o bom vizinho fala alto ele reclama
Se fala baixo o mal vizinho acha ruim
A todo mundo, seu vizinho, ele difama
Não há quem possa ser feliz com gente assim.

Fala da filha e da esposa do vizinho
Que o mau vizinho vocês sabem como é
Quer ver o outro caminhar no mau caminho
Na sua casa, o que se passa não dá fé
O mal vizinho vive cheio de maldade
E ameaça com feitiço e catimbó
O povo diz e eu combino esta verdade
Que neste mundo, quem é ruim não quer ser só.

Sebastião Dias
Súplica dos Ecólogos

Tombam árvores, morrem índios
Queimam matas, ninguém vê
Que o futuro está perdido
Uma sombra e não vai ter
Pensem em Deus, alertem o mundo
Pra floresta não morrer.

Devastação é um monstro
Que a natureza atropela
Essas manchas de queimadas
Que hoje vemos sobre ela
São feridas que os homens
Fizeram no corpo dela

Use as mãos, mude uma planta
Regue o chão, faça um pomar
Ouça a voz do passarinho
A floresta quer chorar
A natureza está pedindo
Pra ninguém lhe assassinar

Quando os cedros vão tombando
Dão até a impressão
Que os estalos são gemidos
Implorando compaixão
As mãos do homem malvado
Desmatou sem precisão

Mas quando Deus sentir falta
Do pau que já foi cortado
O homem talvez procure
Por a culpa no machado
Ai Deus vai perguntar :
"E por quem foi amolado ?"

Use as mãos, mude uma planta
Regue o chão, faça um pomar
Ouça a voz do passarinho
A floresta quer chorar
A natureza está pedindo
Pra ninguém lhe assassinar

Fauna e flora valem mais
Do valor que o ouro tem
A natureza é selvagem
Mas não ofende ninguém
Ela é a mãe dos seres vivos
Precisa viver também

Ouça os índios, limpem os rios
Façam a Deus esse favor
Floresta é palco das aves
Museu de sombra e de flor
Vamos cuidar com carinho
Do que Deus fez com amor

Use as mãos, mude uma planta
Regue o chão, faça um pomar
Ouça a voz do passarinho
A floresta quer chorar
A natureza está pedindo
Pra ninguém lhe assassinar


Elezeu Ventania
Serenata na Montanha

Eu sonhei quando dormi,
No mesmo sonho eu ouvi
Uma voz dizendo vá
Enfrentar a verde mata
Fazer uma serenata
Na montanha do Pará.

Eu entrei de mato adentro
Quando cheguei bem no centro
Afinei meu violão
Como estava em terra estranha
Pedi licença a montanha
E cantei uma canção.

Quando eu estava cantando
Vi um índio vir chegando
E começou a me falar:
Atenda o morubixaba
Me acompanhe até a taba
Que pajé mandou chamar.

Eu parei meu instrumento
E ali naquele momento
De viver perdi a fé
Com o violão de lado
Nesta hora fui levado
A presença do pajé.

O pajé falou comigo
Foi dizendo meu amigo,
Cante ai uma canção
Eu cantei ele alegrou-se
Uma índia apaixonou-se
Me ofertou seu coração.

Eu mirei sua beleza
Foi esta maior surpresa
Que no mundo pude ter
Por que nunca vi tão bela,
Uma índia igual aquela
Nunca mais eu hei de ver.

Ali naquele momento
A pedi em casamento
E o pajé não fez questão
Eu casei-me lá na mata
Houve uma serenata
De viola e de canção.

Quando a festa terminou-se
Todo mundo retirou-se
E eu dali sai também
Com a índia pela flora
Porém nesta mesma hora
Acordei não vi ninguém.



A CARTA DO FILHO QUE NÃO NASCEU 
       (Cipriano Mourinha)

Mamãe; resposte esta carta,
Que agora vou escrever
Você já deve está farta
De ver seu filho sofrer
Lhe faltando com o respeito
Tirando todo o direito
De ver seu filho nascer

Por meio dum falso amor
Me concebeu no seu ventre
Querendo não passar dores
Ou algo que lhe concentre
Pois mãe que mata seu filho
Perde de mãe todo o brilho
E talvez no céu não entre

Mamãe, podia eu ser vivo
Pisando neste terreno
Porém você me matou
Ainda embrião pequeno
Tirando assim meu talento
Em vez de dar alimento
Você me dava veneno

Quando se engravidava
Recorria a um doutor
E todo dia tomava
Neovlar e Evanor
Anticoncepcional
E com coração chacal
Fez tudo e me abortou

De tanto tomar remédio
Eu estava quase morto
Cansado e com muito tédio
Sem você me dar conforto
Veneno era todo dia
E quando viu que eu nascia
Me provocou um aborto

Oh mamãe! tu me extraia
Em uma maternidade
Hoje eu completaria
Cinco anos de idade
Mamãe se eu fosse vivo
Eu era um forte motivo
Pra sua felicidade

Sou um espírito de luz
No meio dos imortais
Cristo que morreu na cruz
Pergunte a Deus pai dos pais
E tenha a resposta bela
Que a mãe não é aquela
Dos prazeres sexuais

A mãe que aborta um filho
Nada a Deus ofereceu
A mãe de Cristo tem brilho
Ao seu filho concebeu
E de sofrer não se farta
Assim escrevi a carta
Do filho que não nasceu!


 A MENINA DA PRAÇA (José Edimar)

Viajei pra o Maranhão
A cidade era vizinha
Mas, a esperança minha
Era a pura solidão
Porque, no meu coração
Não morava a alegria
Pois eu mesmo me sentia
Como um ser desconhecido
Na praça estava perdido
Onde nada conhecia.

Sentei na mesa dum bar
Ali no centro da praça
Sem beber não tinha graça
Porém resolvi ficar
Observando o lugar
Logo comecei beber
Mas, o imenso prazer
Deixou - me muito agitado
Foi a jovem do meu lado
Que chegava, pude ver

Desejei falar com ela
Procurei não achei jeito
O coração em meu peito
Batendo forte por ela
Pois a moça era tão bela
Olhando nela, notei
A Deus do céu apelei
Que, uma chuva mandou
No bar que a nós abrigou
Pertinho dela sentei

Usando da esperteza
Com a jovem conversei
No momento me alegrei
Com tanta delicadeza
Encantei-me com a beleza
Ela era muito bela
Perguntei o nome dela
Fiquei sabendo o que quis
Na conversa fui feliz
Que me apaixonei por ela

Conversamos uma hora
Ela com tanta alegria
Deixamos pro outro dia
Meu coração foi embora,
Com ela naquela hora,
Hoje a saudade me laça
Preciso alcançar a graça
De tê-la na minha frente
Quero vê-la novamente
A menina lá da da praça


CRIANÇA MORTA
   (Sebastião da Silva)

Dos poemas que escrevi
Por meio da inspiração
Este é o mais comovente
Porque tem a narração
De um dos casos mais triste
Que já se deu no sertão.

Trata – se de uma menina
De uma beleza extrema
Com quatro anos de idade
Com quem se deu o problema
E tornou – se a central figura
Das emoções do poema.

Edinete era seu nome
Que lembramos com pesares
Filha de Rita Alzira
E Expedito Soares
Casal pobre, mas, benquisto.
Com todos os familiares.

No município Riacho
Dos Cavalos terra amena
No sertão paraibano
Aonde os pais da pequena
Moram, e ainda hoje.
Lamentam a triste sena.

Vinte sete de novembro
Do ano setenta e seis
Pelas três horas da tarde
Ou pouco antes talvez
Os pais de Edinete viram
Viva pela última vez

Pôs – se a criança brincando
No pátio da moradia
Se entretendo com árvores
Ou com animais que via
E aos poucos entrou no mato
Sem saber pra onde ia.

Quando a mamãe sentiu falta
Da sua filha querida
Chamou – a diversas vezes
Já bastante comovida
Aí notou que a criança
Já se achava perdida.

Alarmou pra vizinhança
E começou a chegar gente
Pra procurar a criança
Todos apressadamente
Anoiteceu e ninguém
Encontrou a inocente.

E assim passaram três dias
Procurando sem parar
De oitenta a cem pessoas
Podia se calcular
Todos a sua procura
Mas, ninguém pode encontrar

Na manhã do dia trinta
Já todos sem esperança
No lugar serra dos bois
Num talhado que se avança
Neste local esquisito
Acharam morta a criança.

Morreu de fome e de sede
Em situação singela
Mais ou menos seis quilômetros
Do local pra casa dela
As folhas foram seu leito
E a lua serviu de vela.

Quando espalhou - se a notícia
Que a menina faleceu
Foi muita gente ao local
Aonde a morte a venceu
Vão fazer uma igrejinha
No canto que ela morreu.

Todos os seus irmãos lamentam
Os pais lamentam também
Chorou toda vizinhança
Porque lhe queriam bem
E Deus aumentou a conta
Dos muitos anjos que tem.


A CAÇULA DO PATRÃO 

           (Ari Teixeira)

Eu sou muito feliz por ser vaqueiro
Me criei no sertão pegando gado
Com o simples olhar de uma pequena
Eu fiquei para sempre apaixonado
Eu pensava que fosse brincadeira
Numa noite tão linda de fogueira
Sem querer segurei na sua mão
Se eu contar pouca gente me acredita
Que essa jovem tão meiga e tão bonita
É a filha mais nova do patrão

Quando são cinco horas da manhã
Penso em Deus e pra luta me levanto
Corro a vista no pátio da fazenda
E vejo gado malhado em todo canto
Eu por ser da fazenda o bom vaqueiro
Vou de pontas de pé pelo terreiro
Atendendo aos impulsos da paixão
Sem temer a carranca do pai dela
Da calçada me escoro na janela
E dou um beijo na filha do patrão

No final de semana tem forró
Eu termino mais cedo meu trabalho
Dou comida ao cavalo e prendo o gado
Guardo a sela o gibão e o chocalho
Num horário marcado pra nós dois
Ela chega primeiro e eu depois
O encontro da gente é no salão
Invejosos cochicham sem descanso
Comentando na festa que eu só danço
Com a linda caçula do patrão

O seu pai descobriu nosso namoro
Quem é pobre com rico nunca bole
Inda bem que na minha profissão
Não conheço um vaqueiro pra ser mole
Decidi-me a falar com o pai dela
E pedir para me casar com ela
Mas o velho zangado disse não
Me botou da fazenda para fora
Dessa vez eu vou ter de ir embora
Mas só vou com a filha do patrão


Conversa de Passageiro
       (Zé Laurentino)

Certa feita, viajei
Com destino ao interior
E no ônibus me sentei
Bem pertinho de um doutor.
E o homem conversava
As coisas me perguntava
Pois apesar do estudo
E sua sabedoria
Quase tudo ele sabia
Mas não sabia de tudo.

Por exemplo, perguntou
Num gesto de ironia
Quem foi que me ensinou
A escrever poesia.
Eu lhe respondi patrão
Não tenho certeza não
Mas pra estes versos meus
Que tem sabor silvestre
Eu só tive um grande mestre
A quem conheço por Deus.

Cortava o carro o asfalto
a gente dialogando
Toda viagem é um salto
Quando se vai conversando.
Contemplávamos a paisagem
Que margeava a rodagem
Num quadro bem nordestino
Cavalos, bois que comiam
Casebres que pareciam
Brincadeiras de menino.

Casebres rústicos de palha
Semeados pela serra
Feitos sem viga, sem calha
Os pisos feitos de terra.
Portas que nunca trincavam
Guris raquíticos brincavam
Pelo terreiro da frente
Vendo esse quadro o doutor
Falou assim trovador
Nestas casas mora gente.

Mora, um povo semimorto.
Lhe respondi no momento
De que o nome conforto
Não tomou conhecimento.
Em cada casinha desta
Por mais pequena e modesta
Tem dez pessoas ou mais
Ali os filhos se somam
Pois as suas mães não tomam
Anticoncepcionais.

E elas não tomam, não
Por não, quererem tomar
Lhes faltam orientação
E o dinheiro pra comprar
Mais necessitam de amor
Que é um dom do criador
Fazer amor quem não quis
Assim a todos instantes
Vão produzindo emigrantes
Que irão ao sul do país.

As poltronas desses ranchos
São alguns cepos de paus
Os guarda-roupas são ganchos
As camas quase jiraus.
E a alimentação
É um prato de feijão
Um taco de rapadura
Batata doce também
Cuscuz de milho, xerém
Macaxeira, fava pura.

Meninos famintos fracos
Dado a limitada bóia
Os seus lençóis são de sacos
O leito é uma tipóia.
Os seus brinquedos são ossos
Caramujos e outros troços
Que eles acham pelo chão
Na maior variedade
Pois brinquedos de verdade
Eles não possuem não.

E os pais desses meninos
Me perguntou o doutor
São vadios, peregrinos?
Eu respondi não senhor.
São eles homens modestos
Porém honrados, honestos
Que trabalham todo dia
Trabalham tanto aliás
Que talvez trabalhem mais
Do que vossa senhoria.

Só uma coisa é diferente
É que eles tem embaraços
Trabalha o senhor com a mente
Eles trabalham com os braços
O senhor no gabinete
Que parece um palacete
Com todo luxo e requinte
Pobrezinhos que eles são
Não ganham nenhum milhão
Ganha o senhor mais de vinte.

Vive este homem da terra
Que não é dele é alheia
Nesta luta quase guerra
Que é trabalhar de meia.
Com sua mão calejada
Puxa o cabo da enxada
Que as suas forças consome
Para extrair do chão
Essa alimentação
Que o homem da praça come.

Ainda tinha uma coisa
Para dizer o doutor
Porém chegamos em Souza
Cidade do interior.
Eu precisa ficar
E ele tinha que passar
Pois ia pra o Juazeiro
Tão logo me despedi
Peguei a pena e escrevi
Conversa de Passageiro.


Ismola Pra São José
    ( Zé Laurentino )

Tem certas coisa, Seu Môço, 
Que eu não gosto muito não. 
Pur inzêmplo, ô
vi: 

Contá história de operação, 
De arracamento de dente, 
Ôvi história de briga... 
Eu posso inté escuitá, 
Mai me dá uma fadiga! 

E ôta coisa, Seu Môço, 
Que, de bom gosto, eu nun faço: 
É dá ismola a quem pede, 
Cum Santo dibaxo do braço! 
Pruquê eu acho que o Santo 
Nun tem muita precisão. 
Afinár, eu nunca vi 
Um Santo comê feijão! 

Mais, pru má dos meus pecado, 
Ou, pru minha pouca fé, 
Tudo dia, lá em casa, 
Passa um veínho, andano a pé. 
Pru sinal, muito filiz, 
Cantarolano, e tal, 
Chega na minha porta, 
Bate palma e diz: 
- Ismola pa São Jusé!... 

O diabo da muié, 
Que é muito curvitêra, 
- Eu nunca vi uma muié, 
Qui nun fosse rezadêra! - 
Adiquére um tanto quanto, 
Corre e vai dá lá pro Santo. 
Qué dizê, pro santo, 
Pro véio fazê a fera! 

De manhã, logo cedin, 
Eu vou tomá meu café, 
Quando dô fé, ó o grito: 
-- Ismola pa São Jusé!... 
-- Ôooo!... 
Mais isso foi me encheno o saco, 
Mais me encheno pru dimais! 
Um dia, cheguei em casa, 
Cum a barguía da carça virada pa tráis, 

Sentei num tôco de pau, 
Tumei uma de rapé, 
Quando, de repente, ouvi o grito: 
--Ismola pa São Jusé!... 
Pra móde dá a ismola, 
A muié se arremecheu. 
Eu fui e gritei: -- Num vá não! Dêxa! 
Hoje, quem vai dá essa esmola sô eu! 

Quando eu cheguei na porta, 
O velho teve um espanto. 
Eu fui e disse: 
-- Vá trabaiá, vagabundo! 
Qui eu num dô ismola pra santo! 
Troque o santo numa enxada! 
Dêxa de ser preguiçoso! 
Santo num carece de esmola, rapaiz, 
Dêxa de ser... mintiroso!... 

O véio me oiô, e me disse: 
-- Que São José te perdoe! 
E, se Deus tivé te ouvino, 
Que Ele te abençoe! 
E que cubra tua casa de Paiz, Amô, 
União, Sussêgo, Prosperidade, 
Confôrto e Cumpriensão! 
E, se um dia o sinhô pricisá 
desse veinho, 
Ele não mora tão perto, 
Mai eu lhe insino o caminho: 

Mora no sítio Cauã, 
Onde já viveu meu pai, 
À direita de quem vem, 
À esquerda de quem vai! 
E, se um dia o sinhô passá 
Pur ali, com pricisão, 
De fome o sinhô num morre, 
Tomém num drome no chão! 

Quando o Véio disse aquilo, 
Eu senti, naquele instante, 
Como seu eu fosse uma... 
Uma frumiga, 
Sob os pé de dum elefante!... 
Fiquei com as perna tremeno! 
Digo e num peço segrêdo: 
Óia, aquele véio me deu ma surra, 
Sem me tocá com um dedo!... 

Eu, com tanta ignorança! 
Ele, tanta mansidão! 
Fêiz eu pagá muito caro, 
Minha farta de cumpriensão! 

Então, naquele momento, 
Eu gritei pra Salomé, 
Mandei trazê, pro Veinho, 
Uma boa xícara de café, 
E fui, correno, contá meu dinheiro: 
Tinha somento um cruzêro! 
Dei tudin pra São José!!! 


O MAL SE PAGA COM O BEM
     (Zé Laurentino)

Seu dotó se não lhe atraso
demore ai meu amigo
pra mim lhe contar um caso
acontecido comigo
eu tive necessidade
de ir inté a cidade
comprar umas besteira
café, açúcar, balaio
e um resto de piquaio
porque pobre não faz feira.

Quando eu fui foi num jumento
e quando voltei, foi a pés
Foi o maior sofrimento
de légua era mais de dez.
da cidade lá pra casa
o sol quente feito brasa
e o tempo sem dar açoite
e eu naquela travessia
descobri logo que ia
chegar a boca da noite

quando eu tava descansando
na sombra de uma ingazeira
ouvi um carro roncando
no topete da ladeira
Eu pensei com os meus botão:
acho que vou dar com a mão.
se o dono for amiguinho,
ele pode me levar
ai eu vou encurtar
a metade do caminho...

era um carro de alto preço
e por arte do satanás
um desses que não conheço
onde é a frente ou atrás...
e eu falei para o chufer
patrão se o senhor puder
fazer a mim um favor?
me levando até meu rancho
eu ficava muito ancho
e até pagava o senhor."

Ele arespondeu "não posso
desse jeito mesmo assim.
você leva muito troço
e a estrada tá ruim.
ainda tem outro gancho
não vou passar no seu rancho
e ando com minha mulher:
vá mesmo amassando o barro
que afinal não comprei carro
pra carregar esmolé."

e deu um cutucão no carro
que quase bateu em mim
os pneu queimaram o barro
e eu fiquei dizendo assim:
Deus lhe acompanhe seu dotor
você não fez o favor
me deixou só feito um monge...
o senhor tá apressado
mas se lembre do ditado
devagar se vai ao longe"!

deixei a sombra da ingá
e emburaquei no caminho
parando aqui e aculá
devagar, devagarinho
cansado muito cansado
com meus pés estrupiado
e o rosto da cor de brasa
passei no campo redondo
quando o sol tava se pondo
eu ia chegando em casa.

da minha casa pra baixo
no ôi d'agua dos macaco,
na beirada dum riacho
aonde tem uns buraco
eu vi um carro parado
com capús alevantado
um home e uma mulher.
eu maginei vou jantar 
e depois vou até lá
pra saber o que eles quer".
..
dipois que matei a sede
despois que enchi a barriga
fui descansar numa rede
mode tirá a fadiga
do cansaço da viage
para criar mais corage
acendi o meu cigarro.
e dixe prum irmão meu
vou ver o que assucedeu
com o dono daquele carro.

chegando lá perguntei
que aconteceu meu patrão
ele respondeu quebrei
a barra da direção
mas quando ele olhou pra eu
quando ele me conheceu
disse assim meu "amiguinho
eu conheci que errei
na hora que lhe deixei
na metade do caminho"

eu respondi seu doutor
isso não tem importânça
afinal aqui estou
e já venci a distânça.
e pra mudar de assunto
eu agora lhe pregunto
em que, posso lhe servir
se não puder viajar
vá lá pra casa jantar, 
tomar café e drumir".

Ele ficou muito ancho
e a noite tava chuvosa
teve que ir pra meu rancho
com aquela mulher orgulhosa
mandei butar a coalhada,
o cuscuz  a carne assada
passei as redes também
truxe as cobertas depois
dando uma prova pros dois
que o mal se paga com o bem.

O LENHADOR (Joames)

Fui na minha juventude
Lenhador de profissão,
Devastei muitas floresta
Com meu machado na mão;
Toda árvore frondosa
Que tivesse mais idade
Eu cortava em quantidade
Pra fazer lenha e carvão.

Insensato eu derrubava
Baraúna e pequizeiro,
Umburana, sucupira,
Jatobá e marmeleiro;
Quanto mais passava o tempo
Mais cortava sem ter pena
E o que era selva plena
Foi virando um tabuleiro.

Veio a chuva, sol e vento,
Uma erosão começou,
Sem adubo nem sementes
Um deserto se formou,
Pois sabemos que de onde
A gente tira e não bota,
Toda fonte se esgota
E a floresta se esgotou.

Só restou um arvoredo,
De beleza manifesta,
O mais antigo exemplar
Onde eu fazia a sesta,
Ali muitos passarinhos
Que perderam seu abrigo
Vinham reclamar comigo
Por devastar a floresta.

Sem ter lenha pra vender
Eu fiquei no aperreio,
Pra resolver o problema
Eu só encontrei um meio:
Fui cortar o arvoredo
Onde eu sempre descasava
E das aves escutava
O mais sentido gorjeio.

Ao suspender o machado
Pra dar o golpe fatal,
Uma voz estremecida*
Escapou do vegetal,
Dizendo: não seja ingrato
Para não ser infeliz,
O que foi que eu te fiz
Para receber o mal?

Dou conforto ao viajante
Andarilho dos caminhos,
Alimento os animais,
Agasalho os passarinhos;
Muitas vezes dei-te abrigo
Nas horas do sol a pinho
Pra ter o mesmo destino
Que tiveram meus vizinhos!

Ao ouvir essa palavras
Senti grande comoção,
Um sentimento de culpa
Invadiu meu coração;
Não cortei o arvoredo
E voltei angustiado,
Declinei do meu machado
E mudei de profissão!

* Voz da consciência.

PENSANDO EM VOCÊ (Joames)

Dedico a você que lê meus poemas,
Entende os dilemas do meu coração,
Menina querida, morena formosa,
Você é a rosa da minha ilusão.

À noite sozinho pensando em você
Eu não sei porque meu sono não vem,
Sentindo saudade do seu lindo riso,
O meu paraíso é você m ais ninguém.

Triste e solitário na minha guarida,
Sem você querida, minha doce amada;
Nas horas sombrias, momentos tristonhos,
Só tenho em meus sonhos você e mais nada.

Se você nasceu alguns anos depois,
Pior pra nós dois, o destino é culpado;
Sou triste poeta, você é criança,
Não tenho esperança de tê-la ao meu lado.

Em sua vida plena tristeza não cabe,
Mas você não sabe que eu sofro assim,
Formosa princesa, não vê do seu trono
O meu abandono nem lembra de mim.

Daria se pudesse o mundo inteirinho
Pra ter seu carinho, seu beijo e o calor,
Mas como não posso vou me contentando
Sofrendo e cantando pra você, amor.

Termino o poema com lágrimas nos olhos,
Sentindo os abrolhos da vil solidão,
Mas saiba querida que perto ou distante
Guardo seu semblante no meu coração.

O SERESTEIRO (Joames)


Dizem que sou perdulário
Vagabundo e aventureiro,
Não ligo para o trabalho
Nem dou valor ao dinheiro,
Mas eu sou é repentista,
Cantador e seresteiro.

Apontando meu roteiro
Seguindo as minhas pegadas,
A viola me acompanha
Com as cordas afinadas,
Companheira das serestas
Ao luar das madrugadas.

As ruas abandonadas
Não me oferecem perigo,
A solidão me acompanha,
O vento brinca comigo,
Quando me apraz eu demoro,
Quando não apraz eu sigo.

Vivendo como mendigo
Aos olhos da raça humana,
Tem dia que como um pão,
Outro dia uma banana,
Mas quem me julga infeliz
Redondamente se engana.

Assim entra e sai semana
Sem ter preocupação,
Meu lar de noite é a rua,
A minha cama é o chão
De onde eu vejo as estrelas
Cintilando na amplidão.

Dentro do meu coração
Não existe devaneio,
Se a barriga está vazia
O meu crânio é sempre cheio
E a minha maior riqueza
É não querer nada alheio.

De dia faço recreio
Na sombra dos arvoredos,
Sentindo as cordas sonoras
Brincarem com os meus dedos
E à noite faço orações
Contando a Deus meus segredos.

A brisa me conta enredos
Das mais bonitas histórias,
Faço poemas pra lua
Olhando as estrelas flóreas
Gravando os dramas da vida
No pen-draive  das memórias.

Eu não corro atrás de glórias
Como Aquiles e Jasão,
Não desejo ser Homero,
Alexandre ou Salomão,
Porque sei que amanhã
Serei pó como eles são.

Vagando na solidão
Pelas ruas da cidade,
Satisfeito vou cantando
As canções da liberdade
Sem pensar em desventuras
Nem dar chance pra saudade.

Faço o que tenho vontade,
Porque só desejo o bem,
Sei que a natureza dá
E às vezes tira também,
Por isso tendo em excesso
Vou doando a quem não tem.

Contemplando o espaço além
Eu posso ver com clareza
De Deus o poder imenso,
Do ser humano a fraqueza,
O céu inteiro e a terra
Num só quadro de beleza.

Amo a Deus e a natureza
Com tudo que ela criou,
Levo a minha poesia
Aos lugares onde eu vou,
Não vou onde Deus está,
Mas Deus vem onde eu estou.

Não peço nada mas dou
Ajuda a quem necessita,
Vou vivendo a minha vida
Sem saber o que é desdita,
Buscando a quem me procura
E evitando a quem me evita.

Quando a coruja crocita
Nos arvoredos sombrios,
Nossas vozes se confundem
E o vento faz rodopios
Carregando as folhas secas
Que tem nos becos vazios.

Meteoros fugidios
Vão rasgando o firmamento,
Os vagalumes acendem
Tochas a todo momento,
Enquanto meus versos voam
Nas surdas asas do vento.

Eu só tenho o instrumento
Pra viver tocando em paz,
As ruas que me acolhem,
O rócio que a noite traz,
Pra quem não deseja nada
Já é ter coisas de mais.

Nestes meus versos finais
Convido meus companheiros:
Poetas e repentistas,
Cantadores violeiros:
Afinem suas violas
E vamos ser seresteiros!



VAMOS VIVER SEPARADOS

Respostando aquela carta
Que você me enviou
Estou lhe mandando outra
Pra lhe contar como estou
Lhe dizer que não dar certo
O que você me falou

Eu sei que nós somos cúmplice
Eu errei você errou
Eu ainda estou sozinho
Mas você já se casou
Hoje só resta esquecer
O passado que ficou

O nosso lindo filhinho
Fruto da nossa amizade
Me abraça chora e me diz
Papaizinho por bondade
Faça mamãe voltar logo
Que eu estou com saudade

Com o coração ferido
Vejo seu rosto chorando
Enxugando as suas lágrimas
Tristonho lhe consolando
Não chore filho não chore
Que mamãe está voltando

Mais só que daqui pra frente
Não vou mais lhe enganar
Vou lhe contar a verdade
Embora vá machucar
Um coração inocente
Que não merece mais chorar

Querida se for possível
Quero que você me dê
Aquela fotografia
Que nós tiramos por quê
Pode seu novo marido
Querer brigar com você

Tire a aliança do dedo
Deixe caída no chão
Pra quê guardar uma coisa
Que fez a nossa união
Se ela não proibir
A nossa separação

Você me pede perdão
Com os olhos lacrimados
Eu sei que a culpa foi nossa
Nós mesmo somos culpados
Mas pra quê voltar de novo
Vamos viver separados

Pode ficar com seu povo
Mas pra quê voltar de novo
Vamos viver separados


              

CONTO DE CABOCLO
(Benoni Conrado e Zé Maria)



Meu sinhô, me arrepare
Eu ando mêi disgostôso
Não é por minha pobreza
Que eu nunca fui orguiôso
É porque tenho sofrido
Por via d’eu sê medroso

Um dia, me arresorvi
Saí lá donde eu vivia
Pra dá u’as riviravorta
Por onde eu não cunhecia

Pensei logo cá cumigo:
Eu sô um rapaz sortêro
Ta certo, sô mêi feioso
Não sei lê nem tem dinhêro

Mas quem sabe se eu saindo
Dos diabo dessas biboca
Num arranjo inté u’a nêga
Pra tirá minhas caroca

Botei as roupa num saco
Às quatro da madrugada
Me arrecumendei aos santo
E prantei os pé na estrada

Só sei que dessa isquipada
Eu andei uns quinze dia
Mas só no rumo da venta
Sem sabê pra donde ia

Inté que um dia, de tarde
Eu atravessei um rio
Num ida pensando em medo
Mas me deu uns arrepio

Aí foi que eu ispiêi
Achei tudo assim deserto
Cunhecí que ali num tinha
Uma só casa por perto

Por via de num tê casa
Pro mode eu apernoitá
Vi u’a arve infoiada
Maginei: Se eu me atrepá
Sei que é mêi desajeitôso
Mas dá pra me agasaiá

Subi na arve e fiquei
Ta certo que eu não drumia
Mas tava bem iscundido
Porque os gái me cobria
Se passasse argum viviente
De jeito nenhum me via

Mas meu sinhô, quando foi
Mais ou menos doze hora
Eu ouvi uns alarido
Cuma quem canta ou quem chora

Du arregalei os oi
E avistei u’a multidão
De gente com as voz rouca
Tudo de vela na mão
Eu maginei: é as alma
Fazendo uma procissão

Na frente, avistei um pade
Cum a image do Sinhô
Um sacristão com água benta
Mas ninguém trazia ando

Nesta hora eu respirei
Fiquei todo arripiado
Dispois notei que eles vinham
Caminhando pro meu lado

Bateu-meu um medo tão grande
Que eu quage inté me afroxava
Quando eu vi que uns apontavam
Pra dita arve que eu tava

Quando chegaram debaixo
Era dez pessoas ou mais
Uns preguntaram pros outro:
E agora, o que é que se faz?
Um respondeu: é subir
Pra ir buscar o rapaz

Quando eu vi essas palavra
Peguei logo a me tremê
Mas mermo assim: maginei:
Eu num tenho que perdê
Respondi, batendo os dente:
Dêxe, eu mermo vou descê...

Ah, meu sinhô, me acredite
Eu falei mêi arrastado
Mas pode crê, nessa hora
Foi fê o ispatifado

O pade se assombrou
Jogou o santo no chão
O pobre do sacristão
No pade se pindurou

Uma veia inda gritou:
Joga água benta pra trás
Cada qual corria mais
Soltaram a image do Cristo
Parece que tinham visto
Careta do satanás

Eu, vendo aquele istrupiço
Pulei ligêro no chão
Saí correndo também
Mas em outra direção

Na frente eu parei pensando:
Ora essa, tava ruim
Era eu com medo deles
Eles com medo de mim

Dispois que o dia amanheceu
Eu vortei no mesmo canto
Pra vê qual era o motivo
Daqule tão grande espanto

Pois né que de longe eu vi
Um home dipindurado
Bem pertinho donde eu tava
Tinha morrido enforcado

Nessa hora eu compreendi
Qual era o sinificado
O povo vinha buscá
O home suicidado

E quando viram eu falá
Dizendo que ia descer
Pensaram que era o defunto
Danaram a égua a correr

Quando eu cheguei na cidade
Ninguém via outro assunto
Todo mundo só falava
No discurso do defunto

As históra sempre aumenta
Uns dizia: é verdade
O morto falou nas guerra
Nos viço e nas vaidade
No mundo que se arrivira
E quem pensá que é mentira
É só preguntá ao pade

Eu inda fui na eguage
De dizê o que passô
Mas fui descreditado
Ninguém me acreditou

Uns cabôco inda disseram
Esse cabra é mentiroso
Quer se metê nas históra
Pra dizê que é corajoso

Vamos dar-lhe umas esfrega
Quando eu vi esses cuchicho
Lasquei os pé na carrêra
Mas dispois fiz por capricho

Maginando no castigo
Nunca mais contei históra
Voltei prás minha biboca
Porque lá tô sem perigo

E quem tiver qualquer segredo
Pode me contá sem medo
Que eu me lasco, mas não digo
             

A VOZ DO CORAÇÃO
     (Afonso Pequeno)


Se você já teve amor
Pode até me dá razão
Quando a gente quer tentar
Esquecer uma paixão
Quando a mente diz que sim
O coração diz que não
É aí quando a matéria
Se esquece de ser séria
Pra ouvir o coração

O coração sobre a gente
Dispõe dum poder incrível
Se entregou pra alguém
Numa paixão tão terrível
E fez com que minha historia
Chegasse até este nível
Um amor de sacrifício
Que pra ganhar foi difícil
Pra deixar foi impossível

Gosto de amar alguém
Mantendo um diálogo aberto
Por isso eu não acho justo
O nosso amor encoberto
Discuto comigo mesmo
Que esta paixão não dá certo
Mas o mais interessante
É que me lembro distante
E esqueço quando está perto
  
Tentei de várias maneiras
Desvendar este mister
Pra só conseguir amar
Alguém que me convier
Mas o coração me obriga
Fazer tudo que ele quer
É quem manobra comigo
E por isso q`eu não consigo
Esquecer essa mulher

Fui atender um pedido
Que o coração me fez
De uma vez passou pra duas
De duas passou pra três
Da terceira vez em diante
Já fui ficando freguês
Eu nado e sempre me afogo
E é melhor me entregar logo
E me declarar de uma vez

Diante de alguns problemas
Eu já tomei providência
Mais antes fiz um exame
Um cálculo de consciência
Ir de encontro ao coração
Pode trazer conseqüência
Vou entrar em sua equipe
Antes que a morte antecipe
O fim da minha existência

A MENINA SOFREDORA
      (Lucas Evangelista)

Um dia numa pracinha
Avistei uma donzela
Mal calçada e mal vestida
Ninguém olhava pra ela
Os olhos esverdeados
Os cabelos acastanhados
A face era muito fina
Corada e corpo bem feito
Não se achava um defeito
Naquela pobre menina

Chegando pertinho dela
Perguntei quem são seus pais
Disse ela eu tenho um padrasto
Que me maltrata demais
Minha mãe cega por ele
Às vezes por causa dele
Me pôe de casa pra fora
Um irmão que eu quero bem
Por sofrer muito também
Faz tempo que foi embora

Meu padrasto é bem de vida
Minha mãe bem remunerada
O que meu pai deixou com ela
A mim não pertence nada
Meu alimento é mesquinho
Só posso comer pouquinho
É péssima a situação
Tenho como recompensa
Dormir dentro da dispensa
Sobre um rasgado colchão

Me levanto bem cedinho
Vou a luta começando
Faço o café limpo a casa
Com minha mãe reclamando
Quanto mais faço direito
Mais ela acha mal feito
Me chamando de ruim
Faço almoço e lavo prato
Mas meu padrasto é ingrato
Só vive batendo em mim

Se estou aqui nesta praça
Lamentando a minha vida
É por que hoje meio dia
Errei o sal na comida
Minha mãe mandou-me embora
Botou de casa pra fora
Pois nunca vi tão ingrata
Meu padrasto a reclamar
Dizendo se eu voltar
Com certeza ele me mata

Se eu ficar eles me matam
Se me esconder vão atrás
Me botam pra fazer tudo
E por mim ninguém nada faz
Sou eu quem faço a limpeza
Da cozinha até a mesa
E ainda costuro também
Pra minha mãe e meu padrasto
Pra mim ninguém faz gasto
Esta é a roupa que eu tem

Desde que meu pai morreu
Trabalho igual um cativo
Estudei tive o primário
Pois fiz quando ele era vivo
Não tenho felicidade
E não posso ter amizade
Com uma colega vizinha
Nem roupa tenho pra vestir
Não tenho com quem sair
É grande a tristeza minha

As moças da vizinhança
Me chamam de retardada
Nem o pior vagabundo
Me quer pra ser namorada
Vejo as lagrimas de desgosto
Caindo sobre o meu rosto
Num desengano sem fim
São estes os prantos meus
Moço diga porquê Deus
Me despreza tanto assim

Fitando seus lindos olhos
Transpassados de tristeza
Conheci que seu coração
Tinha pudor e grandeza
Quanto mais jorrava pranto
Mais aumentava o encanto
Pois a menina era bela
Não resistindo chorei
Fui embora mais passei
A noite pensando nela

Se dormia era sonhando
Com ela a todo momento
Lhe vi de véu e grinalda
Dentro do meu pensamento
Levantei no outro dia
Pensando na grosseria
Dos seus pais batendo nela
Não é coisa que se faça
Voltei de novo na praça
Afim de encontrar com ela

Procurei um mês inteiro
Meu peito ficou vazio
Um dia levei meu carro
Pra lavar dentro dum rio
Era um domingo a tardinha
Quando avistei a mocinha
Lavando roupa e chorando
Disse a menina é aquela
Quando cheguei perto dela
Foi assim me perguntando

Seu moço por que o senhor
Aparece em minha frente
Daquele dia pra cá
Nunca mais tirei da mente
Que o você era um anjo
Rodeado de arcanjo
Que vinha pra me salvar
Mas como não é certeza
O senhor ver minha tristeza
Cada vez mais aumentar

Eu disse para a mocinha
Voltei pra te procurar
Que depois daquele dia
Não pude mais sossegar
Nunca mais pude dormir
Só vendo você sorrir
Toda hora em minha frente
Se acaso você quiser
Poderá ser minha mulher
E ser feliz eternamente

Minha vida tu já conhece
E não preciso contar mais
Quero que você me leve
Para a casa dos seus pais
Só depois do casamento
Que a gente escolhe o momento
Para falar com os meus
Eles tem que aceitar
Pois não podem desmanchar
O que está nas mãos de Deus

Foi assim que aconteceu
Pra cumprir o meu destino
Ainda quis recusar
Me chamando de granfino
Mas depois acreditou
E o meu convite aceitou
Pra completar sua lida
Foi minha esposa amorosa
Muito meiga e carinhosa
E a dona da minha vida


A INGRATIDÃO DE UM FILHO

(José Edimar Mendes Barbosa)


Uma mãe bem virtuosa
Foi tão cedo abandonada
Ficando só na pobreza
Duma luta bem pesada
Tendo que ser pai e mãe
Com três filhos na parada
Duas meninas e um menino
Confiar em Deus divino
Era este o seu destino
Naquela dura jornada

Com a ajuda do padrinho
Pode o menino estudar
Na capital do Estado
Tendo ela que trabalhar
As filhas lhe ajudavam
Para a casa sustentar
E dando um duro danado
Na faxina e com lavado
Serviço muito pesado
Sem ter pra quem reclamar

O filho estudou bastante
Até que ficou crescido
Porém da mãe e irmãs
Logo ficou esquecido
Não queria mais, voltar
Pro lugar que foi nascido
Tornou-se um advogado
Pra política foi levado
Sendo eleito deputado
Ficando assim envolvido

Quando voltou pro sertão
Uma chácara construiu
Para a mãe não contou nada
Mas sem querer ela viu
Do banquete com os amigos
Ela também descobriu
Ele esqueceu da pobreza
Se envolveu com a nobreza
Ela com tanta tristeza
Dor no coração sentiu

Sem o sacrifício delas
Ele não tinha estudado
Ela pensando nas filhas
Que trabalharam pesado
Agora serem excluídas
Depois dele está formado
Convidou as duas filhinhas
Eram: Joaninha e Doquinha
Dizendo amanhã bichinhas
Vamos ver o deputado

Assim chegaram bem cedo
Quando amanheceu o dia
Ficaram bem escondidas
Num quarto bom que havia
A governanta da casa
Deu a elas garantia
Desta forma aconteceu
que o filho não percebeu
Por que o destino seu
Só a mãe dele sabia

Com cuidado observando
Tudo quanto se passava
Daquele grande banquete
Que a casa preparava
Como a mãe era sofrida
Todo seu peito sangrava
Quando o almoço chegou
Ele os amigos chamou
Na mesa a mãe avistou
Que como louca gritava

Sentada a mesa bradando
Ninguém esqueçam meu nome
Lá em casa há muitos dias
Nossa família não come
Olhava as filhas e dizia
Nenhuma aqui me embrome
Come, come, Joaninha
E você também Doquinha
Que se não comer filhinha
Nós vamos morrer de fome

E pondo as mãos na comida
Em todos os pratos botando
No seu e no das filhinhas
E a mesa lambuzando
Comendo e mãos na boca
A mesma coisa falando
O filho nem quis sentar
Só fez ali convidar
Os amigos e se retirar
A mãe dele observando

Quando foi no outro dia
Uma grande surra deu
Em Joaninha e em Doquinha
Que a mãe dele adoeceu
Devido o grande desgosto
Três dias depois morreu
Por sua mãe ter falecido
Ele foi muito atingido
Ficou muito deprimido
E com isso enlouqueceu
      

O TRISTE FIM DE UMA FAMÍLIA



Por ser poeta e viajante
Eu assisti uma cena
Dum casal descontrolado
Eu juro que tive pena
O homem sem confiança
A mulher sem esperança
E a morte de uma criança
Ainda muito pequena

Ele boêmio e farrista
E com isto a mulher sofria
Por que tudo que ganhava
Ele tomava e bebia
E a criancinha coitada
Pelo o pai abandonada
As vezes sem comer nada
Ia pro quarto e dormia

Ele no jogo e na farra
Nos bares da avenida
E a família desprezada
Dentro da triste guarida
Sem ver panela fervendo
A criancinha sofrendo
E a mulher se maldizendo
Dos dias da sua vida

Dias e dias passando
E ele na bebedeira
Com jogo mulher e dança
E amizade passageira
E quando em casa chegava
Tudo que tinha quebrava
Brigava muito e não dava
Nem o dinheiro da feira

Batia na sua esposa
E tentava tirar-lhe a vida
Aborrecia os vizinhos
Infernizava a guarida
Cheio de cachaça e vinho
Sem dá fé do mau caminho
Batia no garotinho
Quando pedia comida

A mulher magra e doente
E sem ter roupa e sem chinela
A casa sem segurança
O fogão sem ter panela
O garotinho inocente
Sem conforto e decadente
Pálido magrinho e doente
Que se contava as costelas

Porem um dia bem cedo
O garotinho saiu
Numa venda da esquina
 Um pão ao dono pediu
O seu pai vinha chegando
De onde estava farrando
O garotinho chorando
Disse assim quando lhe viu

Meu querido papaizinho
Tenha mais pena da gente
Estou magrinho e com fome
Minha mãe está doente
Oh! Papai cuide mais dela
Compre remédio pra ela
Que se eu perder mamãe bela
Irei morrer certamente

Ele cheio de cachaça
Sem pensar no desatino
Partiu pra bater no filho
Magricelo e pequenino
O filho se desviando
Correu na rua chorando
Um carro ia passando
Bateu matando o menino

Quando a mãe foi avisada
Do triste acontecimento
Correu se banhando em pranto
Amargura e sofrimento
Quando ela viu o mau trilho
Seus olhos perderam o brilho
E abraçada com o filho
Morreu no mesmo momento

O ébrio naquele instante
Se arrependeu do que fez
Vendo a mulher e o filho
Se acabarem de uma vez
Da parede fez escora
Com a arma sem demora
Se suicidou nessa hora
E assim se acabaram os três



Sebastião Dias
 Conselho Ao Filho Adulto
        
Por favor, filho querido
Me escute, pense bem
Seu velho pai quer lhe dar
O valor que você tem
Você está na idade
De alcançar a liberdade
De fazer sua vontade
E tornar-se homem também

Tem uma coisa meu filho
Que eu queria lhe dizer
Lhe eduquei como podia
Já cumpri com o meu dever
Você agora decida
O futuro lhe convida
Eu gerei, Deus deu a vida
É você quem vai viver

Tem espinhos no começo
Aguarde flores no fim
Respeite os seus semelhantes
Siga o bom, deixe o ruim
Por onde você passar
Reconheça o seu lugar
Pra ninguém se envergonhar
Dum filho meu, nem de mim

Defenda a moral sem sangue
Ajude a quem precisar
Quando tiver precisão
Peça um pão, pra não roubar
Ouça o velho, ame o menor
Pense em Deus, faça o melhor
Coma e vista do suor
Que o seu rosto derramar

Não queira nada roubado
Nem amor por fantasia
Escolha mulher sincera
Para sua companhia
Faça, meu filho, o que fiz,
Veja como sou feliz
Só casei com quem me quis
E sua mãe com quem queria

O mundo tem dois caminhos
Um é certo, outro é errado
Na escolha de um deles
É preciso ter cuidado
Se você não escolheu
Um deles pra ser o seu
Se quiser seguir o meu
O exemplo é meu passado

Mesmo na maior idade
Quero estar sempre contigo
Lhe ensinando bons caminhos
Lhe livrando do perigo
Estando perto ou distante
Não lhe deixo um só instante
Porque de agora em diante
Além de pai, sou amigo

Corra mundos, faça amigos
Conheça o que eu conheci
Transmita o que eu ensinei
Conquiste o que eu consegui
Aproveite a juventude
Ame a paz, honre a virtude
Quando quiser quem lhe ajude
Seu velho pai está aqui


O VENDEDOR DE BIRIMBAU
       (Chico Pedrosa)

Quando Pedro Malazarte
Resolveu se aposentar
Mandou chamar o juiz
O escrivão do lugar
E passou o cetro a Cancão
Caçula de seu irmão
E chefe político em Brasília
Cancão a maneira sua
Até hoje continua
Assessorando a família

Os Anões do orçamento
Foram alunos de Cancão
Só saíram de cenário
Quando receberam a lição
Coisa que jamais um dia
Canção admitiria
Era trair seus pupilos
Ou por eles ser traído
Hoje bem mais comedido
Cultiva novos estilos

No vale do São Francisco
Reside um parente seu
Comerciante ranzinza
Unha de fome e judeu
Suvina que só o Cão
Nunca comprou um tostão
A vendedor viajante
Na sua mercearia
Não entra mercadoria
Comprada a representante

Viajante aqui comigo
Não ganha nem pro café
Quem diz isso é Neco Pança
Nicolau de Canindé
Na minha mercearia
Só entra mercadoria
Passada por essa mão
Daqui vendedor não come
Se não quiser passar fome
Arrume outra profissão

Era assim que Neco Pança
Tratava representante
Como em todas as camadas
Existe gente pedante
Neco não era excessão
Era a força de expressão
Por ser desconhecedor
Que entre oferta e procura
Sempre haverá a figura
E a força do vendedor

Neco Pança Nicolau
Vende no seu armazém
Tudo que nos outros tem
De vela a colher de pau
Só não vende birimbau
Porque não gosta do som
Diz que instrumento bom
É aquele que nem pia
Mas tudo acabou no dia
Que apareceu Macilon

Profissional de vendas
Traquejador competente
Soube que Seu Neco Pança
Além de ser prepotente
E nada comprava de fora
Macilon disse é agora
Que eu pego o véi Nicolau
Ou mudo de profissão
Só digo que ele é o Cão
Se não comprar birimbau

Mandou tirar de encomenda
Dezoito feixo de varas
Doze cento de cabaça
Mil e duzentas taquaras
Comprou arame na praça
Pra cada vara uma braça
Mandou descascar os paus
Preparou os caxixis
Fez do jeito que bem quis
Cem dúzias de birimbaus

Arrumou o caminhão
Jogou na carroceria
Levou até a cidade
Guardou na hospedaria
Antes de dormir pegou
Dez birimbau amarrou
Quando o dia amanheceu
Revisou o mostruário
Esperou dar o horário
E foi visitar o judeu

Foi chegando e foi dizendo
Bom dia Seu Neco Pança
Tenho prazer em conhecê-lo
Macilon Nunes de França
Vim lhe oferecer um cento
Desse moderno instrumento
Feito na Guiné Bissau
Porque no vosso armazém
Já tô vendo que não tem
O sagrado birimbau

Não tem e nem nunca vai ter
Esse troço do capeta
Aqui só entra o que presta
E por favor não se mêta
Tenha vergonha na cara
Me tire esse feixo de vara
Da porta de Neco Pança
Bote esses bichos pra lá
Se não eu chamo já já
Meus cabras de confiança

Mas Seu Neco, esse instrumento
Não dar trabalho vender
É só aprender a tocar
E o senhor pode aprender
Quer ver, segure esse pau
Vá girando o birimbau
E balançando o caxixi
Bata com a vara no arame
Pro senhor ver o enxame
De gente chegar aqui

Já lhe disse que não quero
Nem estou interessado
Macilon disse desculpe
Té logo e muito obrigado
Se mudar de opinião
Eu tô ali na pensão
De Maria passa fome
No iotão da padaria
Em frente a delegacia
No beco do lubisome

Macilon viu que Seu Neco
Estava quase ferrado
Quando ele disse, não quero
Abriu a guarda coitado
Com seus instintos ladinos
Macilon bota os meninos
Pra perturbar Nicolau
E todo instante um ia lá
E perguntava, o senhor, já
Tá vendendo birimbau

Fizeram uma romaria
Que não tinha mais tamanho
A todo instante um rebanho
De menino aparecia
Muleque entrava e saía
Na maior cara de pau
O pobre de Nicolau
Já tava inchando o gogó
E a cantiga era uma só
Seu Neco, tem birimbau

Três dias nessa agonia
Seu Neco não agüentou
Perguntou ao menino
Diga quem foi que mandou
Vocês virem me abusar
Que eu já estou pra estourar
Calma Seu Neco, um momento
É o colégio da gente
Que pede urgentemente
Esse belíssimo intrumento

Na nossa escola esse ano
Termina o primeiro grau
Mil e trezentos alunos
E o diretor Bacurau
Acabou de anunciar
Pra todo mundo escutar
Quem não quiser levar pau
Nas provas que vai fazer
Esse ano é pra trazer
Cada qual um birimbau

Como ninguém tá disposto
A ir até Salvador
Comprar tantos instrumentos
Elegemos o senhor
Pra nos fornecer isso
Porém se o compromisso
O senhor não assumir
Não podemos fazer nada
Um de nós de madrugada
A Salvador tem que ir

Neco Pança disse calma
Também não é assim não
Lembrou-se de Macilon
Que estava na pensão
E vendo o lucro que ia ter
Disse eu posso fornecer
O que estão procurando
Até o final do mês
Eu entrego duma vez
Tudo que tão precisando

Naquele instante, Seu Neco
Que se julgava tão bom
Acabava de cair
No laço de Macilon
A noite foi a pousada
Comprou a birimbauzada
Que antes não quis comprar
Numa ganância infernal
Pagou o material
Sem nem se quer pechinchar

E fez questão de receber
Sem conferir o produto
Agasalhou numa sala
E ficou aguardando o fruto
Da grande compra que fez
Um dia, dois, cinco, seis
Terça ,quarta,,quinta, sexta
Até que desconfiou
Disse o cabra me pegou
Também, quem manda eu ser besta

Nunca mais chegou ninguém
Procurando birimbau
O arame enferrujou
O cupim furou o paus
A cabaça apodreceu
O caxixi derreteu
O dobrão mudou de cor
A vara ficou mais leve
Pra saber que não se deve
Substimar vendedor























CARTA DE UM MARGINAL

RECEBI PELO CORREIO
CARTA DE UM HOSPITAL
DIZENDO SER DE UM CLIENTE
QUE PASSAVA MUITO MAL
O QUAL EU JÁ TINHA LIDO
O SEU NOME EM JORNAL

DIZIA CARO POETA
SÓ VOCÊ QUE TEM MEMÓRIA
PODE TRANSFORMAR EM VERSO
MINHA FRACASSADA HISTÓRIA

MEU DESTINO FOI TRAÇADO
COM A MINHA FORMAÇÃO
O VENTRE QUE ME GEROU
FOI VÍTIMA DE TRAIÇÃO
FUI MALDITO DESDE O DIA
DA MINHA CONCEPÇÃO

PASSEI POR CIMA DA PÍLULA
FUI GERADO EM DESCONFORTO
MINHA MÃE TOMOU REMÉDIO
PRA VÊ SE EU NASCIA MORTO

VIM AO MUNDO POR ACASO
E NÃO CONHECI OS MEUS PAIS
FUI JOGADO EM UM CERRADO
EM PEDAÇOS DE JORNAIS
A POLÍCIA ACHOU-ME QUANDO
PROCURAVA MARGINAIS

ALGUÉM DE MIM TOMOU CONTA
ME FAZENDO UMA ESMOLA
ME CRIARAM COMO FILHO
E ME BOTARAM NA ESCOLA

NÃO QUIS SABER DE TRABALHO
ESTUDAR NÃO DEI VALOR
SEMPRE DESOBEDECENDO
AO MEU SUPERIOR
BATIA NOS MEUS COLEGAS
XINGAVA O MEU PREFESSOR

ENTREI NO VÍCIO DA DROGA
JUNTO COM A CURRIOLA
JÁ FUMEI ERVA MALDITA
MESMO DENTRO DA ESCOLA

FUI EXPULSO DO COLÉGIO
POR TRAFICÂNCIAS ILEGAIS
DESONREI UMA MENOR
E FUGI DA CASA DOS PAIS
E PARTIR PRA A PESADA
NUM GRUPO DE MARGINAIS

NÃO CONTO TUDO A MIÚDO
PORQUE O MEU TEMPO NÃO DÁ
NÃO QUIS NADA COM TRABALHO
MEU NEGÓCIO ERA ROUBAR

NA VIDA DE ASSALTANTE
TODOS TEMIAM A MIM
FUI TERROR DA NOITE ESCURA
 E FIZ TUDO QUE FOI RUIM
UM GERME ASSIM COMO EU
SÓ PRESTA LEVANDO FIM

SEMPRE FUGINDO DE CERCO
 E MATANDO DE EMBOSCADA
SEDUZI MUITAS DONZELAS
FIZ ASSALTO A MÃO ARMADA

NAQUELE MESMO LUGAR
ONDE FUI ENCONTRADO
PELA RONDA DA POLÍCIA
HÁ MUITO TEMPO PASSADO
ME ESCONDENDO DE UM ASSALTO
POR ELA EU FUI BALEADO

A BALA ENTROU NO MEU PEITO
E ME FERIU NO CORAÇÃO
JÁ FIZERAM MUITO ESFORÇO
MAS NÃO TENHO SALVAÇÃO

NÃO TE ESCREVO MAIS POR QUE
MINHA VISTA ESTÁ TÃO POUCA
FALAR TAMBÉM EU NÃO POSSO
MINHA GARGANTA ESTÁ ROUCA
TERMINO A CARTA BOTANDO
MUITO SANGUE PELA BOCA


TOSTÃO DE CHUVA

No sertão do Cariri
Certo tempo um fazendeiro
fez uma carta a meu padrinho
E mandou por um romeiro
Comprando um tostão de chuva
Ao padre do Juazeiro

Dizia a carta citada
Seu padre Cícero Romão
Dizem que és milagroso
Cumpra a sua obrigação
Me mande um tostão de chuva
Pra aguar minha plantação

Que o meu gado está morrendo
E minha plantação se acabando
Meu dinheiro sem valor
Minhas barragens secando
E estes romeiros bestas
Em você acreditando

Seu padre Cícero Romão
Espero você cumprir
Olhe eu tenho muito dinheiro
Sou o mais rico daqui
Domino seis municípios
No vale do Cariri.

Tenho catorze alambiques
Doze engenhos de rapadura
Oito fábricas de açucares
Dez vazantes de verdura
Três mil alqueires de terra
Tudo passado escritura

Não acredito em castigo
Para acabar minha riqueza
Se acaso o tostão não der
Mande chuva com franqueza
E depois mande dizer
Quanto foi toda a despesa

Se você não mandar chuva
Daqui para o anoitecer
Se acaso amanhecer o dia
E nas minhas terras não chover
O tostão que eu lhe mandei
Você tem que devolver.

Das três para as quatro horas
Um temporal se formou
Com relâmpagos e trovões
E forte chuva desabou
Nas terras do fazendeiro
O que tinha se arrasou

Demoliu todos os engenhos
Não escapou nenhum tacho
Demoliu todas as barragens
Emendou rio com riacho
Seis mil cabeças de gado
Desceram de água abaixo

Foi-se mala de dinheiro
Com papéis e escritura
Paióis de milho e feijão
E campos de agricultura
Gado, fazenda e dinheiro
Se acabou toda a fartura

Na região habitava
Entre grandes e miúdos
Um cego e um paralítico
E também um rapaz mudo
Nesse dia ele falou
Disse oh meu Deus se acabou tudo

Dentro do grande aguaceiro
O aleijado nadou
No estrondo do trovão
O mudo também falou
No clarear do relâmpago
O rapaz cego enxergou

A casa grande caiu
E o fazendeiro escapou
Com a mulher e uma filha
Na casa de um morador
Onde tinha um oratório
E foi o único que restou

Com quatro dias depois
O mensageiro chegou
Trazendo só dois vinténs
E na mão dele entregou
E disse é o troco do tostão
Que o padre Cícero mandou

Ele ficou arrasado
Se acabou toda avareza
Não pode reconstruir
Mais sua grande riqueza
E o governo repartiu
Suas terras com a pobreza

Dizem que arrependeu-se
E ainda hoje é romeiro
Anda de noite e de dia
Feito um louco em desespero
Mas nunca pode acertar
Com o caminho do Juazeiro


VENIZ O CÃO DE GUARDA

Seu moço você está vendo
Este grande casarão
Com uma área desocupada
Dos fundos até o portão
E não tem um cão de guarda
Para a sua proteção

Eu já criei neste muro
Veniz um cão lavrador
Um grande amigo do homem
Um guerreiro, um defensor
Guarda fiel da família
E da casa um pastorador

Muito valente e esperto
Era um autêntico vigia
Tudo que chegasse perto
Ele rosnava e latia
Não descuidava da casa
Nem de noite e nem de dia

Se chegasse alguém de fora
Ele tomava-lhe a frente
Onde as crianças brincavam
Ele estava ali presente
Cuidava de ponta a ponta
E nem precisava corrente

Porém um certo domingo
Como era acostumado
Saí à rua a passeio
Da família acompanhado
Deixando o neném de berço
Pelo cão vigiado

Quando eu cheguei de volta
Que abri a porta do meio
Vi o cachorro na sala
Soltando um rosnado feio
E a boca suja de sangue
Que mau pensamento veio

Quando a mulher viu o cão
De sangue todo manchado
Gritou o nosso cachorro
Está doido e enraivado
E matou nossa criança
Fiquei desorientado

Bati de mão ao revólver
E a mulher louca a gritar
O cão partiu para mim
Querendo me abraçar
E eu de nada entendendo
Fiz a arma detonar

Quando o cachorro caiu
Entrei no quarto apressado
Vi o menino no berço
Chorando um tanto assustado
E um homem morto no chão
De dentes todo rasgado

Desesperado eu gritei
Meu Deus o que foi que eu fiz
Arrastei o miserável
Pra perto do cão Veniz
Disparei mais quatro tiros
No peito do infeliz

Veniz ainda com vida
Quando avistou o ladrão
Arrastou-se até o corpo
Irado como um leão
Depois de morder bastante
Ficou gemendo no chão

Todos ali choravam
No momento amargurado
Veniz balançou a cauda
Olhando para o meu lado
Como quem diz o meu dono
Por mim está perdoado

Quando o cachorro morreu
Fui para o pronto socorro
Paguei pena na prisão
De desgosto quase que morro
E ainda hoje eu escuto
O ladrar de meu cachorro

       
A CARTA DE UMA MÃE ARREPENDIDA
Autor: Lucas Evangelista

DEPOIS QUE FIZ UM POEMA
DA CARTA DE UM MARGINAL
UMA MULHER ME ESCREVEU
 DIZENDO SER NATURAL
ESSE CASO SER PASSADO
 DENTRO DA VIDA REAL

ELA DIZIA: POETA
SUA HISTÓRIA É PARECIDA
COM UMA PASSAGEM TRISTE
QUE TIVE NA MINHA VIDA.

FUI VÍTIMA DA VIOLÊNCIA
DE UM MONSTRO SEM CONFIANÇA
SEM QUERER EU CONCEBI
NO MEU VENTRE, UMA CRIANÇA.
REMÉDIO NENHUM DEU JEITO
E EU PERDI A ESPERANÇA.

DEPOIS QUE ELE NASCEU
EU FIZ ESSA PERVERSIDADE
JOGUEI DENTRO DO SERRADO
 SEM NENHUMA PIEDADE

CHOREI MUITO ARREPENDIDA
POR NÃO TER DADO CARÍCIA
ABANDONANDO MEU FILHO
E DEPOIS SOUBE QUE A POLÍCIA
TINHA ACHADO UMA CRIANÇA
E FOI ESTA A ÚLTIMA NOTÍCIA

SE ALGUÉM DELE TOMOU CONTA
É DETALHE QUE EU NÃO SEI
POIS COM MEDO DA JUSTIÇA
NUNCA MAIS EU PROCUREI

NUNCA MAIS TIVE ALEGRIA
NO MEU CORAÇÃO INGRATO
QUANDO VEJO UMA CRIANÇA
NA RUA OU NUM ORFANATO
VEJO A IMAGEM DO MEU FILHO
 ESTAMPADA EM SEU RETRATO

QUEM SABE SE EU JÁ LI
O SEU NOME NO JORNAL
QUEM SABE SE EU NÃO JÁ VI
O MEU FILHO ORIGINAL

A SOMBRA DESTA MALDADE
 NUNCA MAIS PUDE ESQUECER
A MÃE QUE FAZ O QUE EU FIZ
PERDE O GOSTO DE VIVER
A DOR QUE SINTO EM MEU PEITO
SÓ PASSA QUANDO EU MORRER.




O Plantador de Milho
     Autor: Daudeth Bandeira

Sou eu caboclo da roça
Criado dentro da mata
Nunca calcei um sapato
Nunca usei uma gravata
Moro perto da cidade
Mas pra falar a verdade
Só vou lá de feira em feira
Ou quando há precisão
De batizar um pagão
Ou buscar uma parteira

No dia que registrei
O meu filhinho mais novo
O juiz estava nervoso
Brigando no meio do povo
Me chamou de maltrapilho
Sujo, plantador de milho
E disse mais uma piada
Dessas que a boca não cabe:
Matuto pobre só sabe
Fazer menino e mais nada.

O juiz não tinha filhos
Que enfeitassem sua vida
Eu conhecia a história
E fui direto na "ferida":
O senhor está zangado,
Tem dez anos de casado
E a mulher não tem um filho;
A sua comida fina
Não contém a vitamina
Que há na massa do milho.

A minha família é grande
Dez filhos e a mulher.
Sua família é pequena
Mas é porque você quer.
A sua mulher lhe embroma
Quase todo dia toma
Anticoncepcional
Lhe vicia em novela
Dorme tarde e faz tabela
E esquece do "principal".
Ouvi o senhor dizer
Que está gastando por mês
Mas de dez salários mínimos
Só com perfume francês
Diz que a vida é uma bomba
Que foi não foi leva tromba
Com mercadoria falsa
Comprar perfume estrangeiro
É pra quem possui dinheiro
Nos quatro bolsos da calça

Caro doutor, lá em casa
Ninguém nem conversa em luxo
A fora uma simples roupa,
O resto é encher o bucho
Não acostumei meu povo
Exigir sapato novo
Para as festas de São João
Ao invés de um colar de ouro
Compro a rabada de um touro
Pra se comer um pirão.

Lá ninguém fala em perfume,
O que há na minha casa
É cheiro de carne assada
Pingando em cima da brasa
Minha cabocla Maria,
Gorda, disposta e sadia,
Pra toda vez que eu quiser
Botar fogo na geléia
Para isso a minha "véia"
É mulher, sendo mulher.

Como, é galinha caipira
E não galeto de granja
Ao invés de coca-cola
Tomo suco de laranja
Com rapadura de mel.
E escute aqui, bacharel,
Conversa longa me atrasa.
Quer ver a mulher Ter filho?
Bote um plantador de milho
Pra dormir na sua casa.
  

CANÇÃO DO LENÇO
   (Severino Pelado)

MINHA VIDA É UM ROMANCE
DE TRISTEZA E ILUSÃO
PARECE QUE O DESTINO
QUIS ME FAZER TRAIÇÃO
MINHA ESPERANÇA É PERDIDA
QUANDO EU CONTAR MINHA VIDA
DÓI EM QUALQUER CORAÇÃO

JÁ AMEI E FUI AMADO
JÁ VIVI BEM SATISFEITO
JÁ GOZEI A MINHA INFÂNCIA
JÁ TIVE GRANDE PROVEITO
DESFRUTEI A MOCIDADE
NUNCA PENSEI QUE A SAUDADE
FOSSE MORAR NO MEU PEITO

UMA NOITE DE SANTO ANTONIO
EU FUI DANÇAR NUM SALÃO
ENCONTREI UMA GAROTA
DE UMA LINDA FEIÇÃO
LHE CONVIDEI PRA DANÇAR
E SENTI O AMOR ENTRAR
DENTRO DO MEU CORAÇÃO

EU PERGUNTEI A GAROTA
SE ERA COMPROMETIDA
ELA RESPONDEU A MIM
NUNCA AMEI NEM FUI QUERIDA
CONTROLEI UMA AMIZADE
QUE VEM DEIXANDO SAUDADE
NO RESTO DA MINHA VIDA

JÁ DECORRIA SEIS MESES
ESSA AMIZADE DA GENTE
MAS O DESTINO NÃO QUIS
QUE NOSSO AMOR FOSSE A FRENTE
VEIO A MORTE ENFURECIDA
CARREGOU MINHA QUERIDA
QUE EU AMAVA LOUCAMENTE

UM DIA FUI AVISADO
QUE A GAROTA ADOECEU
FUI URGENTE A CASA DELA
SABER O QUE ACONTECEU
NESSA HORA DE AFLIÇÃO
ESTAVA COM UM LENÇO NA MÃO
PEGOU O LENÇO E ME DEU

ME DISSE DESENGANADA
PRA MEU MAU NÃO TEM MAIS CURA
VOU MORAR NO CEMITÉRIO
VOU VIVER NA SEPULTURA
SE DESPEDIU DOS SEUS PAIS
E DEU – ME ADEUS PRA NUNCA MAIS
NESTA HORA DE AMARGURA

COMIGO GUARDEI O LENÇO
QUE RECEBI DAS MÃOS DELA
ROXO DA COR DA SAUDADE
BORDADO EM LETRA AMARELA
PERDI TODA A ESPERANÇA
E HOJE SÓ RESTA A LEMBRANÇA
DO AMOR QUE EU TINHA A ELA

UM N UM A E UM B
AS LETRAS DO NOME SEU
NUNCA MAIS TIVE ALEGRIA
DEPOIS QUE ELA MORREU
QUANDO DE MÁGOA EU CHORAVA
MEU TRISTE PRANTO ENXUGAVA
NO LENÇO QUE ELA ME DEU 


NÃO ACREDITO QUE VOCÊ VAI ME DEIXAR
               (Chico Alves)

Não acredito que você vai me deixar
E nem muito tempo sem me ver
Que sem você meu grande amor tenho certeza
Que tristeza e de saudade eu vou morrer
                        I
Quase chorei quando você me disse adeus
Senti os seus lábios aos meus serem tocados
Nesse momento quase morro de tristeza
Por ter certeza de vivermos separados
                        II
Daria tudo pra você não ir embora
Naquela hora que beijei tua feição
Mas o destino me separa eu reconheço
Que não mereço teu amor teu coração
                        III
Meu coração não te esquece um só instante
Mesmo distante eu vou viver sofrendo assim
Mas quando ouvir alguém cantar esta canção
Teu coração também irá lembrar de mim
                        IV
Quando senti a tua mão na minha mão
Meu coração quase para a minha flor
Adormecido nos teus braços soluçando
Findei cantando pra você versos de amor
                        V


O PAI O FILHO E O CARRO
    (Daudethe Bandeira)

Nesse poema se nota
Que a força da prepotência
Os sintomas do rancor
E os gumes da violência
Tornam-se exagerados
Na hora que são tomados
De encontro a inocência

Um garotinho brincava
Na frente da moradia
Enquanto seu pai voltava
Dos haveres que fazia
Encostava com carinho
Um automóvel zerinho
Que comprou naquele dia

Porem como a inocência
Duma criança não sai
Essa criança caiu
No que qualquer outra cai
Frágil de raciocínio
Com um pedaço de alumínio
Riscou o carro do pai

E continuou riscando
E sujando o carro de barro
E quando seu pai viu aquilo
Gritou brigou deu esparro
E com gestos de vingança
Pegou a mão da criança
Bateu com força no carro

Ferindo a mão da criança
Numa pancada brutal
E daquele ferimento
Deu o tétano o grande mal
Foi o menino coitado
Pelo o mesmo pai levado
As pressas pra o hospital

E como o mau era forte
Não existiu outro jeito
Amputaram do garoto
O seu bracinho direito
Sem poder pedir desculpa
O pai já sentia a culpa
Fervendo dentro do peito

Voltaram do hospital
Lamentando a cada passo
A mãe sentindo desgosto
O filho faltando um braço
E o pai na sombra da calma
Queimava o manto da alma
Na fogueira do fracasso

Em casa perdeu o rumo
De tudo quanto fazia
Não olhava mais pra o carro
Não comia e nem bebia
Debruçado numa mesa
Ouvindo a voz da tristeza
Gemendo na moradia

Um dia estava chorando
Sem ter consolo e nem paz
Veio o seu filho enxugar
Seus prantos sentimentais
E disse assim papaizinho
Quando crescer meu bracinho
Seu carro eu não risco mais

Quando ele ouviu esta frase
Não pode mais suportar
Preparou um suicídio
E disse eu vou me acabar
Minha viagem está pronta
Irei pagar minha conta
Do tanto que Deus cobrar


             F  I  M



O PREÇO DO NOSSO AMOR
      (Daudethe Bandeira) 
         

Lacunas impreenchives
Se abrem dentro de mim
Falta calor no meu sol
Gênio no meu Aladim
Chamando por quem não vem
Lutando a favor do bem
Ganhando nome de ruim

Por mais que me esclareçam
Eu continuo indeciso
Por tua culpa meus lábios
Não brotarão mais sorriso
E pra desengano nosso
Fazer-te o bem eu não posso
Fazer-te o mau não preciso

Vou curtir minhas saudades
Nas brancas noites de lua
Cantar como o gaturamo
Na alva cascata nua
Vou erguer os meus quiosques
Entre os paredões dos bosques
E nunca mais ver a rua

Vou me ocultar dos olhos
Das sugestões da Candinhas
Se um dia tiver chance
Soltarei três andorinhas
Por entre nuvens e casas
Elas lhe trarão nas asas
Cartas com noticias minha

Se eu resolver um dia
Deixar as selvagens aldeias
E vou pra beira da praia
Ouvir as tristes sereias
Cantando pra não chorar
Vendo as esponjas do mar
Varrendo as brancas areias

Não completei minhas noites
No olô da castelã
Sonho com seu corpo nu
Entre as estufas de lã
Frisos rosados de cobre
Não tem objeto pobre
No quarto da cortesã

Enquanto não for possível
Adquirir seus amores
Vou retirando os perfumes
Das mais pequeninas flores
E dos choros das neblinas
Faço minhas sabatinas
E dedico as minhas dores

Tu és o mais belo ser
Que a natureza compôs
Vou guardar os meus martírios
Pra mim te contar depois
Não tardes adormecer
O sol que falta a nascer
Vem pra clarear nós dois


PAPAI TAMBÉM FOI VAQUEIRO
              (Zé Cardoso)

QUANDO EU AVISTO UM VAQUEIRO
MONTADO EM SEU ALAZÃO
DE PERNEIRA E GUARDA PEITO
CHAPÉU ESPORA E GIBÃO
RECORDO O MAIOR VAQUEIRO
QUE CONHECI NO SERTÃO

FALO DE MANOEL CARDOSO
QUE CAMPEANDO VIVEU
PEGOU GADO AMANSOU BURRO
LEVOU DEPOIS QUE MORREU
O ABOIO MAIS BONITO
QUE O SERTÃO JÁ CONHECEU

NO MUNICÍPIO ENCANTO
NO SÍTIO SACO VIVIA
NA SERRA DO BOM SERÁ
ATRÁS DE GADO CORRIA
E QUANDO DAVA UM ABOIO
O BOM SERÁ RESPONDIA

FILHO DE JOÃO CARDOSO
E MARIA DA CONCEIÇÃO
PASTOR,  AMIGO DO GADO
BOM PAI ESPOSO E IRMÃO
ESCRAVO DE NOVE FILHOS
A QUEM DAVA PROTEÇÃO

MAS COM A MORTE DO PAI
ELE SE VIU OBRIGADO
IR ATÉ A JAGUARIBE
BUSCAR O RESTO DO GADO
PRA FAZER O INVENTÁRIO
DO QUE O PAI TINHA DEIXADO

JUNTOU-SE AOS OUTROS VAQUEIROS
DA FAZENDA CACHOEIRA
ELE O SOGRO E JUAREZ
E EXPEDITO PEREIRA
SEM SABER QUE ESTAVA INDO
A VIAGEM DERRADEIRA

VINTE E UM DO MÊS DE MAIO
DE CINQUENTA E NOVE O ANO
VOLTAVA TRAZENDO O GADO
DO VALE JAGUARIBANO
NA FAZENDA MANIÇOBA
SOFREU UM GOLPE TIRANO

FOI ATALHAR UMA RÊS
E POR SUA INFELICIDADE
NA FRENTE AVISTOU UM CARRO
EM ALTA VELOCIDADE
TENTOU FUGIR MAIS NÃO PODE
DA NEGRA FATALIDADE

AINDA ACENOU COM A MÃO
TENTANDO SALVAR OS TRÊS
MAS O CHOFER EM COMPLETO
ESTADO DE EMBRIAGUEZ
BATEU TIRANDO AS TRÊS VIDAS
DELE O CAVALO E A RÊS

ELE CAÍDO NO CHÃO
CONHECEU QUE ERA SEU FIM
AINDA OLHOU PRO SEU SOGRO
E CONSEGUIU DIZER ASSIM
ADEUS COMPADRE ESTOU MORTO
CRIE MEUS FILHINHOS POR MIM

FOI CONDUZIDO AO ICÓ
CHEGANDO LÁ SE ACABOU
DEPOIS LEVADO AO ENCANTO
TODA A FAMÍLIA CHOROU
O CORPO ESTÁ SEPULTADO
NO LUGAR QUE SE CRIOU

SEBASTIÃO ALVES TROUXE
PRA FAZENDA DOS SEUS PAIS
A PERNEIRA E AS ESPORAS
E O GIBÃO RASGADO ATRÁS
DA SELA SÓ OS ESTRIBOS
QUE O RESTO NÃO PRESTOU MAIS

HOJE OUVINDO A VOZ DO GADO
BERRANDO NO TABULEIRO
VENDO UM VAQUEIRO ENCOURADO
NO SEU CAVALO CAMPEIRO
ABOIO E DIGO AO SERTÃO
PAPAI TAMBÉM FOI VAQUEIRO


A MULHER (José Edimar)

Mulher o ser mais sublime
Que tem muita qualidade
Só Deus o mestre divino
Conhecedor da verdade
Pode criar tão especial
Com tanta capacidade

Ela tinha que ser deusa
Divina e do paraíso
Para encher um coração
Com tudo que é preciso
E deixar o pobre homem
Com mais ou menos juízo

E não há ninguém no mundo
Para ter maior beleza
Como mãe mulher ou filha
É duma imensa grandeza
Nasceu assim já dotada
Da divina natureza

A mulher por ser tão bela
É o símbolo da paixão
O seu amor é intenso
Mas quando ela disser não!
Quem recebe afirma logo
Mulher não tem coração!

Por amar tanto as mulheres
Delas serei defensor
Levarei a última instância
Como um leal protetor
Ao mundo anunciarei
Mulher! o símbolo do amor!

O MARIDO (José Edimar)

É tão desvalorizado
Um marido atencioso
Cumpridor dos seus deveres
Prestativo e amoroso
Parece que é o contrário
É que é maravilhoso

Um marido mau caráter
Nunca fica esquecido
A esposa apaixonada
Fala mal, dando sentido
Para que o nome dele
Seja sempre aplaudido

Ele maltrata a mulher
Agride com palavrões
Ela ora e pede a Deus
O centro das orações
Em vez de Deus é só ele
Quem recebe as atenções

Se o marido é bonzinho
Fica no esquecimento
Do amor só vem migalhas
E é só por um momento
Por ser muito atencioso
Só causa aborrecimento

Por se tornar tão caseiro
Cuidar bem de sua rainha
Fica sem direito a sala
Bem fora da camarinha
No corredor muito menos
Deus o livre da cozinha

Ele nunca é dispensado
Na conta do fim do mês
Nessa hora que se torna
Na casa a bola da vez
A mulher  diz para os filhos
O pai cuida de vocês

Lá no tempo de namoro
Ela só pensava nele
Todo sentimento existente
Declarava sendo dele
Nem Deus rei do universo
Era importante igual ele.

O marido atualmente
Não é esse o caso meu
Já é coisa do passado
Toda mulher esqueceu
Se bem andou tá distante
Hoje peça de museu

O mundo tá bem moderno
Ficou mais interessante
Namorar sem compromisso
Que vale mais ser ficante
Do que ser um bom marido
Muitas prefere um amante!

O TEMPO (José Edimar)

Dizem que o tempo ruge
Ele ajuda e atrapalha
Quem dele precisa ajuda
Quem descansa quem trabalha
Fazendo o bem ele é bom
Porém ruim pra quem falha

O tempo me ajudou
No amadurecimento
Das coisas ruins da vida
Me trouxe o esquecimento
Do bom deixou a saudade
Coisa que muito lamento

Porém deu-me o crescimento
Físico e espiritual
Me tornei capacitado
Com equilíbrio mental
Bastante e suficiente
Para me sentir normal

Tempo é como fuxiqueiro
Vive só de leva e traz
Leva amor e traz saudades
É coisa que ele mais faz
Na maioria das vezes
Quando leva não vem mais

Quando leva a juventude
É pra nunca mais trazer
Não espere nem lamente
Que não vai lhe devolver
Se console e peça a ele
Pra deixá-lo envelhecer

Resposta ele tem pra tudo
Quem quiser pode esperar
Faça o bem receba o bem
Sem ter que se preocupar
Pois o tempo age assim
Devendo tem que pagar

Deixo o tempo me levar
Uso ele e vou sonhado
Pode o mundo se acabar
Ele ajuda vivo amando
Só perdi a juventude
Todo o resto é só ganhando

O VAQUEIRO QUE NÃO MENTIA (José Edimar)

Há muito tempo passado
Numa fazenda existia
Um boi chamado Eleição
Um rapaz que não mentia
o Boi era estimação
E o vaqueiro a garantia

Numa aposta de eleição
Foi o bezerro ganhado
Por isso pelo seu dono
O nome a ele foi dado
O patrão considerava
Ser ele o melhor do gado

Conversava com um amigo
Quando o Vaqueiro chegou
Deu boa noite pra ele
Que ligeiro respostou
Também do boi eleição
Na hora lhe perguntou

Vai bem disse o vaqueiro
Com todo resto do gado
Foi saindo e o patrão
Disse - Ao amigo do lado
Meu vaqueiro nunca mente
Nele tenho confiado

Não há ninguém que não minta
- Seu amigo assim falou
Querendo aposto contigo
Metade dos bens te dou
Se teu vaqueiro não mentir
O fazendeiro apostou

Depois da aposta fechada
O amigo fazendeiro
Logo arranjou um meio
Para ganhar o dinheiro
Pediu ajuda a sua filha
Pra enganar o vaqueiro

Ela combinou com o pai
Que a melhor solução
Era seduzir o vaqueiro
E matar o boi eleição
Não dava pra não mentir
Sendo o boi de estimação

Ela foi para a fazenda
E lá fez sua morada
Se entregou ao vaqueiro
Como sua namorada
Depois fingiu-se de grávida
Armando-lhe uma cilada

Disse ela-Tenho um desejo
Que me corta o coração
Pra comer carne de gado
Só quero o boi eleição
Ele temendo o pior
Matou o boi do patrão

Terminou de almoçar
Foi ao gado dar de beber
Chegou ninguém tava em casa
Começou a perceber
Na armadilha que caíra
Seu patrão devia saber

Num mourão botou o chapéu
Como se fosse o patrão
Parou e deu boa noite
Dizendo o boi eleição
Morreu com a mão quebrada
Caindo  num boqueirão

disse - Essa é furada
Tornou voltar novamente
Riscou bem junto ao mourão
Falando ali frente a frente
Seu boi eleição morreu
hoje repentinamente

Muitas tentativas fez
Pra mentir não conseguiu
Embora custasse caro
Ele que nunca mentiu
Foi encontrar o patrão
Da verdade não fugiu

Chegando ele as pressas
Na casa do fazendeiro
Deu boa noite ao patrão
Que respostou ao vaqueiro
E notícias do seu boi
Já foi pedindo ligeiro

Desmonte e vá me dizendo
Como vai meu Eleição
Seu Boi patrão eu matei
Foi causa a desejação
Me diga quanto é que custa
Que eu pago o boi meu patrão

O amigo com a filha
Estavam ali esperando
Ela fingindo a barriga
Do vaqueiro e gargalhando
Porém ouvindo a resposta
Já foram se retirando

O patrão abriu os braços
Para o vaqueiro sorriu
E o pai da moça grávida
Tentou e não conseguiu
O vaqueiro teve tudo
Enfrentou e não mentiu


O ABILOLADO(GUARDA NOTURNO)
            (CHICO PEDROSA)

Doutor, eu tenho razão,
De ser meio abilolado,
Venho dum tempo marcado
Por seca e revolução.
Quando eu tinha ano e meio,
Escapei de um tiroteio,
De meu pai, com bolandeira.
Se pai ganhou, eu não sei
E também nunca perguntei,
Nem, sequer, por brincadeira.

Vim conhecer a cidade,
Quando votei pra prefeito
Que, por sinal, foi eleito,
E, pra minha felicidade,
Me deu emprego de guarda:
Me entregou uma farda,
Um capote, um coturno,
Um capacete envernizado,
Um apito enferrujado,
Eu fui ser guarda noturno.

Passava as noites inteiras,
Apitando na cidade,
Escola, igreja, cinema,
Mercado, maternidade.
Nas noites frias do inverno,
Eu usava um velho terno,
Umas meias de croché,
Bebia quatro cachaças,
Dava três voltas na praça
E corria pro cabaré.

Lá existia de tudo:
Discursão, briga, lorota,
Um contava uma aventura,
Outro me pagava a meiota;
Quando um bêbado se zangava,
Eu ia lá, ajeitava.
O bêbado ficava manso,
Pagava uma eu bebia
Eu dava um apito e saía,
Na velha ginga de ganso.

Até que um dia o prefeito,
Fez uma reunião
E nela perguntou aos guardas:
- Querem aumento ou promoção?
Antes de fechar a boca,
Eu gritei com voz rouca:
- Quero promoção seu Zé!
Disse ele tá garantido,
Aprovado e promovido,
Ao maior posto que houver.

Me deu uma farda nova, 
Florada,que nem chita 
Enfeitada,de galão, 
Estrela, medalha e fita,
Broche, botão, alfinete;
Trocou meu velho cacete
Por um, profissional,
E me disse: de hoje em diante,
Você é comandante,
Da Guarda Municipal.

Uns três meses depois,
Veio a guerra mundial
E, nesse tempo, uma irmã minha
Tava morando em Natal.
Um dia eu fui visitá-la;
Botei a farda na mala,
Passei o cargo a Raimundo
Que era quase meu irmão.
Peguei o trem na estação,
E me intupigaitei no mundo.

Que lugar longe da gota.
Quase o trem não chegava mais;
Tinha hora que pensava
Que ele tava andando pra trás.
Entre solavancos e berros,
O velho embuá de ferro,
Viajou a noite inteira,
E de manhã cedo, chegou
Deu um apito e parou
Na estação da Ribeira.

Desembarquei e fiquei
Perdido na multidão.
Quando eu puxava conversa
Ninguém me dava atenção.
Quando mais bom dia, eu dava,
Mais o povo se abusava,
Talvez me achando chato.
Era um povo diferente,
Da qualidade da gente,
Das cidadinhas do mato.

Perguntei a mais de mil,
Se eles davam notícia
De Carmelita de Sousa,
Uma cabocla mestiça,
Mulher do guarda Pompeu,
Mais moreno do que eu
E de cabelo meio ruim,
Que morava na Ari Parreira,
Que fica perto da feira
No bairro do Alecrim.

Depois de tanta pergunta,
Depois de ouvir tanto não,
Me apareceu Carmelita,
No pátio da Estação,
Toda cheia de finesses,
Puxando nos Rs e Ss
Que nem mulher de doutor,
Nem parecia a matuta,
Que lavrou a terra bruta,
No Sertão do interior.

Mesmo assim me recebeu,
Na sua casa modesta,
Os primeiros cinco dias,
Para nós, foram de festa.
Quando o sexto dia veio,
Resolvi dar um passeio.
Mandei engomar a farda,
Me banhei, tirei o grude,
Me preparei como pude,
Para ter meu dia de guarda.

Passei o resto da tarde,
Sentado num tamborete,
Pregando estrelas, galões,
Broche, botão alfinete,
Comprei mais uns acessórios,
Enfeitei o suspensório,
Feito de sola curtida.
De manhã cedo vesti,
Tomei café e sai,
Dando risada da vida.

Na praça Gentil Ferreira,
Aonde tinha um mercado,
Eu parei para tomar fôlego,
Quando passava um soldado
E fez continência para mim.
Eu fiquei pensando assim:
Que danado ele viu neu,
Ah! na certa ta me confundindo,
Ou me achando parecido,
Com algum amigo seu.

E haja passar soldado,
Fazendo assim com a mão.
Daqui a pouco, sargento,
Coronel, capitão, cabo,
Tenente, major
E todo o estado maior,
Dos quartéis da redondeza
Cumprimentavam-me ali
Até hoje nunca vi
Tamanha delicadeza.

Desfilou tanques de guerra,
Avião deu vôo rasantes,
Sirenes tocou mais fortes,
Canhões disparou distantes.
Um praça do Coronel,
Puxou do bolso um papel,
Aonde tinha um letreiro
Que dizia: – Em nossa terra
Tem um espião de guerra,
Que chegou do estrangeiro.

Não quer falar com ninguém,
Não pergunta e nem responde,
Ninguém sabe de onde vem,
Ninguém sabe onde se esconde.
A sua farda é de cor de ameixa,
A impressão que nos deixa,
É de um grande guerreiro,
Filho de outra nação,
Ou um perigoso espião,
Das guerras do estrangeiro.

Vamos levá-lo ao quartel,
Para uma averiguação,
Pois precisamos saber,
De onde veio esse espião.
Em seguida me levaram
Pro quartel e me entregaram
Ao Comandante Geral
Que, quando me viu fardado,
Perguntou meio assustado:
- Que tá fazendo em Natal?

Donde diabo é essa farda?
Faça o favor me informe
E como se chama a nação

Que usa esse uniforme
Desconhecido da gente
E quem lhe deu tanta patente?
A troco não sei de que.
E porque Vossa Excelência
Não responde as continências,
Afinal, quem é você?

Doutor, sou Zé Carrapeta,
Sou filho do Cariri.
Não sei fazer continência,
Pra gente que nunca vi.
Porém, nunca fui intruso
Me, acredite, eu só uso
Esse quepe de biriba,
Essa farda, esse coturno,
Porque sou Guarda Noturno,
Em Sapé, na Paraíba.




RECADO DE AMOR
     (Geraldo Amâncio)


Esta carta é um prenúncio
Do que eu tenho a lhe dizer
Depois de tanto silêncio
Resolvi a lhe escrever
Pra dizer-te quanto eu sofro
Sem notícia e sem te ver

Hoje acordei pensativo
Tristonho e inconformado
Perguntei ao silêncio
Porque tem me judiado
Disse o silêncio eu não posso
Ficar de te separado

E não ache ruim dizer-te
Que eu assim me desespero
Mas acho quase impossível
Tolerar como eu tolero
Amar mais do eu amo
E querer mais do que eu quero

Na noite que eu não lhe vejo
O meu sofrimento é tanto
Sinto saudade e me deito
Me envolvo enxugo o pranto
Fecho os olhos e falta o sono
Sinto insônia e me levanto

Que o mundo que lhe maltrata
Me maltrata e me judia
Confia em Deus e em mim
Que minha alma em Deus confia
Que esta solidão tremenda
Se transforma em alegria

Por favor mande notícia
Pra ver se me tranquilizo
Mande carta ou telegrafe
Mande recado ou aviso
E pode ficar tranquila
Que é só de te que eu preciso

Guardo o lápis dobro a carta
Lacro o envelope e mando
Na confiança de que
Meu bem está esperando
Desculpe as letras e os erros
De quem te escreveu chorando

Só lamento a solidão
Que a distância nos impôs
Tenho muito o que falar-te
Mas vou deixar pra depois
Lembranças a todos e adeus
E o resto é só com nós


SONHO DE ILUSÃO
     (Cesanildo Lima)   

ESTA NOITE EU TIVE UM SONHO
E PENSEI NÃO SER ILUSÃO
SONHEI QUE O MEU AMOR
APERTAVA A MINHA MÃO
ERA UMA DOR QUE EU SENTIA
QUANDO APERTAVA DOÍA
DENTRO DO MEU CORAÇÃO

DORMI TORNEI A SONHAR
NÓS DOIS BEIJANDO UMA FLOR
E ASSINANDO UM CONTRATO
NO LIVRO DO CRIADOR
SONHEI QUE ELA TIRAVA
DO CORAÇÃO E ME DAVA
UM PEDACINHO DE AMOR

PEGUEI NA MINHA CANETA
E PRA ELA ESCREVI ASSIM
QUERIDA SE FOR EMBORA
NÃO SE ESQUEÇA DE MIM
PODE OUTRO AMOR DIFERENTE
PEGAR O AMOR DA GENTE
JOGAR NO MATO E DÁ FIM

DE LONGE TAMBÉM SE AMA
DEPENDE É DA LEALDADE
CORRESPONDÊNCIA DE AMOR
AMENIZA UMA SAUDADE
QUERIDA LEIA ESTA CARTA
QUE NOSSO AMOR SÓ SE APARTA
NO REINO DA ETERNIDADE

TODA DOR MALTRATA A GENTE
MAS COMO A SAUDADE NÃO
TEM TANTO LUGAR NO CORPO
MAS SÓ DÓI NO CORAÇÃO
SÃO SENTIMENTOS IGUAIS
PRA SABER DOS DOIS QUEM FAZ
UM AO OUTRO INGRATIDÃO

VEJO A NOITE A MÃE DA LUA
CANTAR NO PÉ DE TORÉM
CHAMANDO POR SEU AMOR
MAS NÃO VER CHEGAR NINGUÉM
QUE A NOITE PRA ELA É TRISTE
QUEM TEM AMOR NÃO RESISTE
O JEITO É CHORAR TAMBÉM

QUANDO O SOL VAI SE ESCONDENDO
NO HORIZONTE CINZENTO
QUE CHEGA A AVE MARIA
DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO
VOU DORMIR NÃO TENHO SONO
FICO VAGANDO SEM DONO
QUE É TRISTE MEU SOFRIMENTO

QUERIDA LEIA ESTA CARTA
ESCRITA COM TANTOS ZELOS
QUE AS SAUDADES SÃO DE MOLHOS
DE SONHOS E PESADELOS
TODA TRISTEZA É DE MOLHOS
SONHEI ENXUGANDO OS OLHOS
NAS TRANÇAS DOS SEUS CABELOS

DE SOFRER TANTA SAUDADE
VIVO DE ALMA ABATIDA
É PORQUE VIVO PENSANDO
SOMENTE EM VOCÊ QUERIDA
FOSTES SANTA E VIROU FERA
QUE AS HORAS DE QUEM ESPERA
SÃO AS MAIS LONGAS DA VIDA

TANTO QUE EU CHAMO SEU NOME
VOCÊ DE MIM SE ESQUECE
TANTO QUE EU LHE QUERO BEM
E VOCÊ DE MIM SE ABORRECE
POR ISSO ESTOU DESCONTENTE
QUERER QUEM NÃO QUER A GENTE
É O QUE MAIS ACONTECE 

















A CHEGADA DE LAMPIÃO NO CÉU
Autor: Guaipuan Vieira

Foi numa Semana Santa


Tava o céu em oração
São Pedro estava na porta
Refazendo anotação
Daqueles santos faltosos
Quando chegou Lampião.

Pedro pulou da cadeira
Do susto que recebeu
Puxou as cordas do sino
Bem forte nele bateu
Uma legião de santos
Ao seu lado apareceu.

São Jorge chegou na frente
Com sua lança afiada
Lampião baixou os óculos
Vendo aquilo deu risada
Pedro disse: Jorge expulse
Ele da santa morada..

E tocou Jorge a corneta
Chamando sua guarnição
Numa corrente de força
Cada santo em oração
Pra que o santo Pai Celeste
Não ouvisse a confusão.

O pilotão apressado
Ligeiro marcou presença
Pedro disse a Lampião:
Eu lhe peço com licença
Saia já da porta santa
Ou haverá desavença.

Lampião lhe respondeu:
Mas que santo é o senhor?
Não aprendeu com Jesus
Excluir ódio e rancor?…
Trago paz nesta missão
Não precisa ter temor.

Disse Pedro isso é blasfêmia
É bastante astucioso
Pistoleiro e cangaceiro
Esse povo é impiedoso
Não ganharão o perdão
Do santo Pai Poderoso

Inda mais tem sua má fama
Vez por outra comentada
Quando há um julgamento
Duma alma tão penada
Porque fora violenta
Em sua vida é baseada.

- Sei que sou um pecador
O meu erro reconheço
Mas eu vivo injustiçado
Um julgamento eu mereço
Pra sanar as injustiças
Que só me causam tropeço.

Mas isso não faz sentido
Falou São Pedro irritado
Por uma tribuna livre
Você aqui foi julgado
E o nosso Onipotente
Deu seu caso encerrado.

- Como fazem julgamento
Sem o réu estar presente?
Sem ouvir sua defesa?
Isso é muito deprimente
Você Pedro está mentindo
Disso nunca esteve ausente.

Sobre o batente da porta
Pedro bateu seu cajado
De raiva deu um suspiro
E falou muito exaltado:
Te excomungo Virgulino
Cangaceiro endiabrado.

Houve um grande rebuliço
Naquele exato momento
São Jorge e seus guerreiros
Cada qual mais violento
Gritaram pega o jagunço
Ele aqui não tem talento.

Lampião vendo o afronto
Naquela santa morada
Disse: Deus não está sabendo
Do que há na santarada
Bateu mão no velho rifle
Deu pra cima uma rajada.

O pipocado de bala
Vomitado pelo cano
Clareou toda a fachada
Do reino do Soberano
A guarnição assombrada
Fez Pedro mudar de plano.

Em um quarto bem acústico
Nosso Senhor repousava
O silêncio era profundo
Que nada estranho notava
Sem dúvida o Pai Celeste
Um cansaço demonstrava.

Pedro já desesperado
Ligeiro chamou São João
Lhe disse sobressaltado:
Vá chamar Cícero Romão
Pra acalmar seu afilhado
Que só causa confusão.

Resmungando bem baixinho
Pra raiva poder conter
Falou para Santo Antônio:
Não posso compreender
Este padre não é santo
O que aqui veio fazer?!

Disse Antônio: fale baixo
De José é convidado
Ele aqui ganhou adeptos
Por ser um padre adorado
No Nordeste brasileiro
Onde é “santificado”.

Padre Cícero experiente
Recolheu-se ao aposento
Fingindo não saber nada
Um plano traçava atento
Pra salvar seu afilhado
Daquele acontecimento.

Logo João bateu na porta
Lhe transmitindo o recado
Cícero disse: vá na frente
Fique despreocupado
Diga a Pedro que se acalme
Isso já será sanado.

Alguns minutos o padre
Com uma Bíblia na mão
Ao ver Pedro lhe indagou:
O que há para aflição?
Quem lá fora tenta entrar
E também um ser cristão,

São Pedro disse: absurdo
Que terminou de falar
Mas Cícero foi taxativo:
Vim a confusão sanar
Só escute o réu primeiro
Antes de você julgar.

Não precisa ele entrar
Nesta sagrada mansão
O receba na guarita
Onde fica a guarnição
Com certeza há muitos anos
Nos busca aproximação.

Vou abrir esta exceção
Falou Pedro insatisfeito
O nosso reino sagrado
Merece muito respeito
Virou-se para São Paulo:
Vá buscar este sujeito.

Lampião tirou o chapéu
Descalço também ficou
Avistando o seu padrinho
Aos seus pés se ajoelhou
O encontro foi marcante
De emoção Pedro chorou

Ao ver Pedro transformado
Levantou-se e foi dizendo:
Sou um homem injustiçado
E por isso estou sofrendo
Circula em torno de mim
Só mesmo o lado ruim
Como herói não estão me vendo.

Sou o Capitão Virgulino
Guerrilheiro do sertão
Defendi o nordestino
Da mais terrível aflição
Por culpa duma polícia
Que promovia malícia
Extorquindo o cidadão.

Por um cruel fazendeiro
Foi meu pai assassinado
Tomaram dele o dinheiro
De duro serviço honrado
Ao vingar a sua morte
O destino em má sorte
Da “lei” me fez um soldado.

Mas o que devo a visita
Pedro fez indagação
Lampião sem bater vista:
Vê padim Ciço Romão
Pra antes do ano novo
Mandar chuva pro meu povo
Você só manda trovão

Pedro disse: é malcriado
Nem o diabo lhe aceitou
Saia já seu excomungado
Sua hora já esgotou
Volte lá pro seu Nordeste
Que só o cabra da peste
Com você se acostumou.
            FIM


A CAÇULA DO PATRÃO
          (Ari Teixeira)

Eu sou muito feliz por ser vaqueiro
Me criei no sertão pegando gado
Com o simples olhar de uma pequena
Eu fiquei para sempre apaixonado
Eu pensava que fosse brincadeira
Numa noite tão linda de fogueira
Sem querer segurei na sua mão
Se eu contar pouca gente me acredita
Que essa jovem tão meiga e tão bonita
É a filha mais nova do patrão

Quando são cinco horas da manhã
Penso em Deus e pra luta me levanto
Corro a vista no pátio da fazenda
E vejo gado malhado em todo canto
Eu por ser da fazenda o bom vaqueiro
Vou de pontas de pé pelo terreiro
Atendendo aos impulsos da paixão
Sem temer a carranca do pai dela
Da calçada me escoro na janela
E dou um beijo na filha do patrão

No final de semana tem forró
Eu termino mais cedo meu trabalho
Dou comida ao cavalo e prendo o gado
Guardo a sela o gibão e o chocalho
Num horário marcado pra nós dois
Ela chega primeiro e eu depois
O encontro da gente é no salão
Invejosos cochicham sem descanso
Comentando na festa que eu só danço
Com a linda caçula do patrão

O seu pai descobriu nosso namoro
Quem é pobre com rico nunca bole
Inda bem que na minha profissão
Não conheço um vaqueiro pra ser mole
Decidi-me a falar com o pai dela
E pedir para me casar com ela
Mas o velho zangado disse não
Me botou da fazenda para fora
Dessa vez eu vou ter de ir embora
Mas só vou com a filha do patrão
                    FIM



 

A LENDA DA MÃE
Merlânio Maia



Mãe é tesouro sagrado
Que Deus botou nesse mundo
Fulgor dos céus oriundo
Trazido ao lodo da Terra
Toda mãe tem uma linha
Direta com o Criador
Pois só ternura e amo
O seu coração encerra
















Dizem até que quando o homem
Criou-se das mãos de Deus
Ao ver os caminhos seus
Escutava do Divino:
- Pra Terra te enviarei
Muito frágil chegarás
Mas lá iniciarás
As lutas do teu destino





Derramarás muito choro
Pisarás pedra e espinho
Duro será teu caminho
Na busca da perfeição
Porém lá não estarás só
Antes mandarei alguém
Será teu Anjo do bem
A te dar o coração














E eis que te receberá
Enfrentando a própria morte
Um Anjo amoroso e forte
Pra toda necessidade
Seu seio há de te nutrir
Te fará andar, falar,
Sonhar e te preparar
Para ter felicidade






Fará todo sacrifício
Pra que tenhas segurança
Viverá da esperança
Será a tua guarida
Meu caminho ensinará
Velando em noite inteira
Sobre tua cabeceira
Pra te ver feliz na vida

















E o homem encorajado
Logo indagou ao Senhor:
- Oh! Meu Deus, meu Criador
E quem tanto amor encerra,
Que Anjo será por mim?
E assim falou-lhe o Senhor
- Seu nome aqui é AMOR
Pra ti será MÃE na TERRA!

Fonte: BLOGGER: POESIA POPULAR NORDESTINA



O VALOR QUE UMA MÃE TEM
(Autor desconhecido copiado
da voz de João Liberalino)

HÁ FILHOS QUE NÃO ENTENDEM
O QUANTO UMA MÃE PADECE
SÃO POUCOS QUE COMPREENDEM
O VALOR QUE A MÃE MERECE
SE CADA FILHO PENSASSE
QUE DESDE A HORA EM QUE NASCE
A MÃE LHE PRESTA ATENÇÃO
AMAMENTA ZELA E CRIA
NUNCA UM FILHO PAGARIA
FINEZA COM INGRATIDÃO

SE UM FILHO VAI EMBORA
A MÃE CHOROSA E TRISTONHA
SE LEMBRA DO FILHO E CHORA
SE DORME COM ELE SONHA
SE OLHA E VÊ NA PAREDE
OS ARMADORES DA REDE
NUM CANTO QUE ELE DORMIA
NUM QUADRO  VÊ O SEU RETRATO
AUMENTA MAIS O MALTRATO
A DOR E A MELANCOLIA

SE UM FILHO NÃO QUER ESTUDO
PARA A MÃE É UM SOFRER
POR QUE UMA MÃE FAZ TUDO
PRA VER O FILHO APRENDER
BEM CEDO COZINHA A SOPA
AJEITA SAPATO E ROUPA
PREPARA BEM A SACOLA
BOTA LÁPIS LIVRO E CARTA
QUE UMA MÃE NÃO SE FARTA
DE VÊ O FILHO NA ESCOLA

SE O FILHO É INSOLENTE
VIVE ÉBRIO PELA RUA
A MÃE FICA IMPACIENTE
LAMENTANDO A SORTE SUA
CONTRITA DE CORAÇÃO
CURVA OS JOELHOS AO CHÃO
E A JESUS FAZ UMA PRECE
VAI A CAMA E NÃO SE DEITA
E SÓ FICA SATISFEITA
QUANDO O SEU FILHO APARECE

SE O FILHO É MAU COLEGA
BEBE CANA E PUXA FOGO
TODO DINHEIRO QUE PEGA
GASTA NA MESA DO JOGO
ENTRA EM CASA TOMBA E CAI
NÃO RESPEITA MÃE NEM PAI
TUDO QUE TEM DEIXA ATOA
PEGA O FAROL QUEBRA A MANGA
A MÃE DE NOITE SE ZANGA
 NO OUTRO DIA PERDOA

SE O FILHO CAI DOENTE
NO COLO DA MÃE SE DEITA
ELA TODA PACIENTE
COM TODO PRAZER LHE AJEITA
NÃO QUER SABER QUANTOS ANOS
LIMPA O FILHO E TROCA OS PANOS
E CHAMA DE MEU TESOURO
QUANDO O FILHO É MALCRIADO
DEPOIS QUE ESTÁ CURADO
LHE PAGA COM DESAFORO

A MÃE SE TORNA CATIVA
ENTRE BEIJOS E CARINHOS
QUE A MÃE É SANTA VIVA
DOUTRINANDO OS SEUS FILHINHOS
ENTREGA A NOSSA SENHORA
E PEDE A DEUS TODA HORA
PRA COM ELES VIVER BEM
HÁ UM DITADO QUE VAGA
UM FILHO MORRE E NÃO PAGA
O VALOR QUE UMA MÃE TEM


O PADRE CÍCERO ROMÃO
PEDIU ENQUANTO FOI VIVO
AGORA FREI DAMIÃO
QUE DA MISSÃO É CATIVO
ME PEDIU DE FACE A FACE
QUE NA CASA QUE EU CANTASSE
FALASSE DE FRONTE ERGUIDA
NESTE POEMA DE AMOR
DEMONSTRA TODO O VALOR
QUE TEM UMA MÃE QUERIDA.

                  F  I  M 



AMOR DE MÃE
(Manoel Pedro Clemente)

Não há quem sofra no mundo
Como uma mãe amorosa
Seu sofrimento é profundo
Vive triste e pesarosa
Cuidando dos filhos seus
Entregando eles a Deus
E a Maria concebida
Perde o sossego e o sono
E as vezes no abandono
Termina o resto da vida

Se um filho cai doente
A mamãe pra lhe servir
Passa a noite impaciente
Sem ter direito a dormir
Do seu filhinho cuidando
Beijando e acariciando
Tristonha e desconsolada
Com o coração sem dolo
Deita seu filho no colo
E amanhece o dia acordada

Quando é no outro dia
Cuida da luta diária
Dando ao filho a garantia
E assistência necessária
E a família quando cresce
Tem filha que desconhece
Nem se quer se lembra dela
Começa com seus amores
Nem se quer lembra das dores
Que a mãe padeceu por ela

E se tem um rapazinho
Muda logo a diretriz
Do pai dispensa o carinho
Parte pra o sul do país
Lá se entretém com o ganho
Prazer de todo tamanho
Não se lembra mais de cá
Na farra e na bebedeira
Esquece a mãe verdadeira
Termina a vida por lá

Uma mãe derrama pranto
Por um filho toda hora
Pelo filho sofre tanto
Mas filho nenhum lhe adora
Uma filha finalmente
Só sabe o que uma mãe sente
Quando um filhinho ela tem
Filho que do pai esquece
Só sabe o que o pai padece
Quando ele é pai também

Se por casualidade
Seu filho erra uma vez
Nas mãos de uma autoridade
É conduzida ao xadrez
A mamãe banhada em pranto
Envolve a face num manto
Num sofrimento sem fim
Com seu rosto lagrimado
Diz chorando ao delegado
Solte ele e prendas a mim

Se ela ver o filho dela
Entrar em luta com alguém
Pelo amor que tem ela
Entra na luta também
Não respeita tiroteio
Do barulho entra no meio
Com seu peito encorajado
Passa por bala e peixeira
Se transformando em guerreira
Vai buscar o filho amado

Finalmente uma mãe sofre
Mágoa desgosto e tortura
Coração de mãe é cofre
De se guardar amargura
Pelo filho tudo faz
Além disso ainda é mais
Cativa do seu dever
Não tem descanso um segundo
Que a pobre mãe nesse mundo
Só nasceu para sofrer
           FIM

UM ADEUS POR DESPEDIDA
  (João Batista da Silva)

Adeus benzinho que amanhã irei embora
Espero a hora da nossa separação
Já que não posso te levar em companhia
Terei um dia de voltar meu coração

Mamãe querida me abençoe neste momento
Triste lamento por deixar a nossa terra
Se Jesus Cristo não modificar meus planos
Daqui uns anos visito o meu pé de serra

Adeus papai meus irmãos e toda gente
Mais dum parente que me tem em grande apreço
Só voltarei quando gozar e sofrer
E conhecer lugares que não conheço

Minha querida vou partir- partir chorando
Está chegando a hora do meu transporte
O meu destino quer transformar minha vida
Minha querida viajo em busca da sorte

Já vai embora teu amor e teu amigo
Deixo contigo meu retrato e a aliança
Fico beijando a tua fotografia
Pra nenhum dia tirar você da lembrança

Parto sentindo a dor da separação
No coração a saudade fez seu ninho
Se não der certo a minha vida por lá
Volto pra cá pra te amar de pertinho

A minha ausência você vai ficar chorando
Sigo pensando em teus beijos minha flor
Vou viver triste como vive o passarinho
Longe do ninho fica além do teu amor

Minha querida não chore que eu volto ainda
Na minha vinda saudade terá fim
Tenho que voltar pra coroar nosso amor
Tirar a dor de quem padece por mim

Querida aceite um forte aperto de mão
Meu coração está na hora da partida
Triste soluço por chegar à negra hora
Só falta agora um adeus por despedida
                           FIM

OS ÓCULOS DE DEUS
    (De Deus Sales e Moreira de Acopiara)

Essa daqui é uma história                               
De uma pobre criatura
Que teve uma trajetória
Complicada e obscura
Viveu enganando o povo
Porém morreu muito novo
Talvez por faltar juízo
E sem obedecer normas
Quis ver de todas as formas
Os jardins do paraíso

Enquanto viveu no mundo
Só praticou delinqüência
Por isso tinha um profundo
Peso em sua consciência
Vivendo disso e daquilo
Não caminhava tranqüilo
Como um cidadão correto
Buliu em coisas alheias
Conheceu muitas cadeias
Num desmantelo completo

Procurava se lembrar
De algum feito positivo
Mas não conseguiu plantar
Nada bom enquanto vivo
Só pensava na matéria
Deixou gente na miséria
E acabou-se arrependido
Igualmente a Madalena
Deixou a vida terrena
Foi ser por Deus recebido

Quis ver o pai da nação
No paraíso celeste
E alegre viu que lá
Não havia fila nem teste
Lá Chegou  no mesmo dia
Quando tudo acontecia
Depressa e naturalmente
Grande surpresa sentiu
Quando espiou e não viu
Nenhum soldado presente

Bateu palmas e chamou
Mas ninguém lhe respondeu
Ô de casa, e adentrou
Mas nada lhe aconteceu
Viu alguns portões abertos
Deu alguns passos incertos
Lembrou-se dos não ateus
Adquiriu mais firmeza
Entrou e viu numa mesa
Só os óculos de Deus

Perante aquilo ficou
De olhos arregalados
E depressa se lembrou
Dos muitos erros passados
E foi grande a tentação
Com os óculos na mão
E mais ninguém do seu lado
Quis dar uma olhadela
Na Terra pra ver se nela
Algo já tinha mudado

No momento que ele olhou
Através daquelas lentes
Mais abismado ficou
Vendo as coisas diferentes
Radiante de alegria
Ele achava que podia
Ver o dono da verdade
E ali a se deleitar
Pensou eu quero ficar
Aqui toda eternidade

Já de óculos no rosto
E o mundo na sua frente
Olhou tudo com mais gosto
E com olhar consciente
Enxergou o bem, o mal
E a ignorância brutal
Entre os mortais pecadores
Viu as paixões, as razões
E as reais intensões
Dos adiministradores

Enxergou as multidões
Nas mais terríveis pelejas
Viu as muitas tentações
De quem dirige as igrejas
Viu dragões destruidores
Enganadores pastores
Mergulhados na cobiça
Quanto mais coisas enxergava
Mais era que lhe aumentava
O desejo de justiça

Lembrando-se dos humanos
E se sentindo um frangalho
Notou os americanos
Mergulhados no trabalho
Viu a deterninação
Dos homens lá do Japão
Numa luta sem igual
E em tudo sendo os primeiros
E os pobres dos brasileiros
No mais Louco carnaval

Viu a classe estudantil
Sendo mal orientada
Metralhadora, fuzil
Opressão exagerada
Viu tevês alienantes
Os crimes dos dominantes
O massacre da cultura
Viu divisões sociais
Arrochos salariais
E a morte pela tortura

Viu policiais ingratos
Sem ter amor a bandeira
Junto a grilheiros Pilatos
Matando por brincadeira
E viu crués justiceiros
Corruptos e trapaceiros
Envergonhando a nação
Crianças subnutridas
E jovens prostituidas
Por força da precisão

Viu homens inteligentes
Sendo marginalizados
Por inbecis prepotentes
Malvados e alienados
Mergulhados no cinismo
E viu o Brasil no abismo
Sem previsão de mudança
E depois de tantos sustos
Viu a dor de uns homens justos
Na construção da esperança

Viu homens ricos chorando
Viu homens pobres sorrindo
A natureza criando
E os filhos seus destruindo
Viu as armas no cleares
E a poluição dos mares
E em seguida viu o drama
E o fim de alguns animais
E os bestas perdendo a paz
Por mulher dinheiro e fama

E viu por fim a tristeza
De pobres trabalhadores
Penando por safadeza
De patrões usurpadores
Viu famílias faveladas
Mendigando nas calçadas
Num sofrimento crescente
E nos tresvarios seus
Gritou, quero vê-lo ò Deus
E pedir por minha gente


A BRIGA NA PROCISSÃO
       (Chico Pedrosa)

Quando Palmeira das Antas
pertencia ao Capitão
Justino Bento da Cruz
nunca faltou diversão:
vaquejada, cantoria,
procissão e romaria
sexta-feira da paixão.

Na quinta-feira maior,
Dona Maria das Dores
no salão paroquial
reunia os moradores
e depois de uma preleção
ao lado do Capitão
escalava a seleção
de atrizes e atores

O papel de cada um
o Capitão escolhia
a roupa e a maquilagem
eram com Dona Maria
e o resto era discutido,
aprovado e resolvido
na sala da sacristia.

Todo ano era um Jesus,
um Caifaz e um Pilatos
só não mudavam a cruz,
o verdugo e os maus-tratos,
O Cristo daquele ano
Foi o Quincas Beija-Flor,
Caifaz foi o Cipriano,
e Pilatos foi Nicanor.


Duas cordas paralelas
separavam a multidão
pra que pudesse entre elas
caminhar a procissão.

Cristo conduzindo a cruz
foi não foi advertia
o centurião perverso
que com força lhe batia
era pra bater maneiro
mas ele não entendia
devido um grande pifão
que bebeu naquele dia
do vinho que o capelão
guardava na sacristia.

Cristo dizia: “Ôh, rapaz,
vê se bate devagar
já tô todo encalombado,
assim não vou agüentar
tá com a gota pra doer,
ou tu pára de bater
ou a gente vai brigar.
Eu jogo já esta cruz fora
tô ficando revoltado
vou morrer antes da hora
de ficar crucificado”.

O pior é que o malvado
fingia que não ouvia
além de bater com força
ainda se divertia,
espiava pra Jesus
fazia pouco e dizia:

 “Que Cristo frouxo é você,
que chora na procissão
Jesus pelo que se sabe
não era mole assim não.
Eu tô batendo com pena,
tu vai ver o que é bom
é na subida da ladeira
da venda de Fenelon
que o couro vai ser dobrado
até chegar no mercado
a cuíca muda o tom".

Naquele momento ouviu-se
um grito na multidão
era Quincas que com raiva
sacudiu a cruz no chão
e partiu feito um maluco
pra cima de Bastião.

Se travaram no tabefe,
ponta-pé e cabeçada
Madalena levou queda,
Pilatos levou pancada
deram um bofete em Caifaz
que até hoje não faz
nem sente gosto de nada.

Desmancharam a procissão,
o cacete foi pesado
São Tomé levou um tranco
que ficou desacordado,
acertaram um cocorote
na careca de Timóti
que até hoje é aluado.

Até mesmo São José,
que não é de confusão
na ânsia de defender
o filho de criação
aproveitou a garapa
pra dar um monte de tapa
na cara do bom ladrão.

A briga só terminou
quando o Doutor Delegado,
interviu e separou
cada Santo pra seu lado.
Desde que o mundo se fez,
foi essa a primeira vez
que Cristo foi pro xadrez,
mas não foi crucificado.

EU E ZEFINHA
(Aureliano dos Santos

Eu nasci num pé de morro
Muito feio e esquisito
Alem de eu ser, tão bonito
Ninguém me prestou socorro
Cresci pior que cachorro
Que de nada eu entendia
Só naquela moradia
Sem escola e sem estudo
E a sorte de ser chifrudo
Essa eu tinha e não sabia

Eu tinha quarenta ano
Um dia fui convidado
Pra assistir um noivado
Da filha de Zé Caetano
Fui logo fazendo um plano
Dessa vez eu me dou bem
Vendo uma égua que tem
Compro calça e camisola
Se lá alguém me der bola
Eu vou me casar também

Vendi a égua pintada
Que era a mais velha do lote
E na casa de Chico Tote
Comprei uma calça listada
Uma camisa rajada
E um sapato encarnado
Eu disse nesse noivado
De ninguém sou conhecido
E neste traje eu duvido
Se eu não voltar casado

Lá na casa do Caetano
No mesmo dia eu cheguei
Chegando me apresentei
Todo metido no pano
Nisso a filha dum cigano
Começou me beliscar
Depois pegou me agarrar
Naquilo entremos na festa
Comigo pensei é esta
Que vai me desmantelar

No outro dia bem cedo
Fui na casa do pai dela
Falei pra casar com ela
Sem ter um pingo de medo
O velho inda disse Afredo
Muda esse pensamento
Mas eu disse é meu intento
Não tem pedido e nem rogo
Foi o jeito marcar logo
O dia do casamento

Com oito dias depois
Eu já estava casado
Ah meu amigo, o danado
Foi o viver de nós dois
Comprar feijão e arroz
Até eu achei comum
Ela formou um zunzum
Pra me botar no castigo
E o que ela fez comigo
Fazia com qualquer um

Com cinco meses de casado
Começou o desadoro
Ela inventou um namoro
Com Zeca do pé Rachado
Ele vinha disfarçado
No quarto entrava com ela
Peguei minha parabela
E corri pra matar ele
E só não atirei nele
Com medo de acertar nela

Estava os dois agarrado
Foi o maior reboliço
Eu vendo aquele serviço
Fiquei desorientado
Joguei a arma de lado
Saí de cabeça tonta
Zefinha deve esta conta
Dali eu saí sizudo
Zefa ficou com tudo
E eu fiquei só com a ponta

EU E MARIA

Nasci no sítio Belém
Lá nasci e me criei
Desna de novo eu jurei
De não casar com ninguém
Por arte não sei de quem
Com Maria me encontrei
Quebrei tudo que jurei
Passei dois mês namorano
Passei três me ajeitano
Com quatro mês me casei

Me casei pra ter mais fé
Mais por pintura do diacho
Lá perto morava um macho
Iludidor de muié
Um tal de Joca Rumeu
E esse um dia apareceu
Na casa que nós vivia
Cum jeitão muito estranhe
Cum zoião dexe tamanhe
Reparando pra Maria

Eu só vivia dizendo
Talvez nunca me acostume
Eu morrendo de ciúme
E os amor deles crescendo
Sempre aquelas coisas eu vendo
Ela toda diferente
Ele metido a valente
Pra ternimar a novela
Tratou de vim buscar ela
Na outra noite da frente

Inda vi ela saindo
Nem me perguntou por mim
Ela respondeu assim
O bestaião tá drumino
Eu aquelas coisa ouvindo
Fui me levantei também
Ela gritou ele vem
Mas não vá temer acocho
Que aquele meu véi é frouxo
Nunca brigou com ninguém

Isso era de madrugada
Quaje amaicendo o dia
Quando eu oiei eles ia
Já descambano a chapada
Prantei o pé na istrada
Pra ver sela me atindia
Gritava vem cá Maria
Vorta pronde tu morava
Mais quanto mais eu gritava
Mais a danada corria
 
Mais sabe o que aconteceu
Cum a vida de nós dois
Cuns dez anos depois
Maria me apareceu
Deixou o Joca Rumeu
Chegou toda diferente
Cuns oito fios na frente
Uns cum tosse, outos cum gogo
E eu tenho cumigo é fogo
Pra sustentsr tanta gente


A MOÇA QUE BATEU NA
MÃE E VIROU CACHORRA
Rodolfo Coelho Cavalcante

Vou contar mais um exemplo
Dentro da realidade,
Pois toda alma descrente
Vive na obscuridade,
Tem um vácuo coração
Condena a religião
Com toda incredulidade.

Helena Matias era
Filha de uma religiosa,
Dona Matilde – mãe dela
Alma santa e virtuosa
Porem ela ao contrário
Era um falso relicário
Tipo mesmo vaidosa.

Em Canindé, Ceará
Deu-se esta narração
Helena Matias Borges
Foi transformada num cão
Por sua língua ferina
Transformou sua sina
Num mais horrível dragão.

Helena de vez em quando
Dava uma surra na mãe dela
Quando a velha reclamava
Um qualquer malfeito, ela
Com isso se aborrecia
Na pobre velha batia
Até que virou cadela.

Era uma sexta-feira santa,
Conhecida da paixão,
Helena disse à mãe dela:
- Quero me virar num cão
Se esta tal sexta-feira
Da paixão não é besteira
Da nossa religião.;

- Não diga isso, minha filha,
Que é arte do anticristo
Sexta-feira da paixão
Relembra o sangue de Cristo
Que por nós foi derramado!…
Disse Helena: - Isto é gozado….
Tudo é bobagem, está visto.

- Helena por Deus te peço
Não zombes do salvador
- Minha mãe, barriga cheia,
É algo superior…
Tudo isso são bobagens,
Cristo, padre, Deus, imagem,
Para mim não tem valor.

Na hora que gente nasce
Chora logo pra comer…
Eu quero comer jabá
Só se eu ouvisse Deus dizer:
“Helena não coma isto!”
Eu que não conheço Cristo
Nunca ouvi nem posso crer.

Quando Matilde, a mãe dela
Foi aconselhar Helena,
Esta deu-lhe uma bofetada
Sem piedade, nem pena
Que a velha caiu chorando
E a deus foi suplicando
Numa praga pequena.

- Tenho fé, filha maldita
Na santa virgem Maria,
Em todos santos do céu,
Que hás de virar um dia
Numa cachorra indolente
Para saberes, serpente
Que uma mãe tem valia.

Uma rajada de vento
Passou feito um furacão
Um raio caiu bem perto
Com o ribombar do trovão
A terra toda tremeu
Logo o sol apareceu
Dois segundos na amplidão.

Helena sempre a zombar
Se pôs a carne a comer
Vendo a mãe dela chorando
Queria mais lhe bater
Mas a justiça divina
Mostrou á filha assassina
O seu supremo poder.

Dona Matilde se pôs
Naquele instante a rezar
Uma tempestade horrorosa
Caiu ali sem esperar,
Chuvas, faíscas e ventos
Com elevado pensamento,
Foi à filha aconselhar.

Helena continuava
Fazendo profanação
Comia mais por despeito
A tal carne do sertão
E disse para a mãe dela:
- Deus me vire uma cadela
Se é que ele existe ou não?

Quando Helena disse isso
O rosto todo mudou
E cauda como cadela
A moça se transformou…
Uma cachorra horrorosa
Espumando e furiosa
Naquela hora ficou.

Tinha cabeça de gente
Com a mesma feição dela
Mas o corpo até a cauda
Era uma terrível cadela…
Foi Helena castigada
Uma filha amaldiçoada
O castigo pegou nela.

Ali dentro do Canindé
A noticia se espalhou
A cachorra nesta hora
Muita gente estraçalhou
Ninguém pode matar
Cercaram para pegar
Porem ninguém a pegou.

O animal furioso
Horrível, endemoninhado,
Passou pra Pernambuco
Feito um lobo esfomeado…
Foi visto em Juazeiro
Quase matando um romeiro
De padre Cícero sagrado!

Há uns três anos passados
A tal cachorra assassina
Quase mata uma criança
Na cidade de Petrolina,
Voltou de novo a Cocal
E na estrada de Sobral
Mordeu uma pobre menina.

Em janeiro deste ano
Ela esteve na Bahia
Passou perto de Tucano
Desceu a Santa Luzia,
Passou pelo Jacuipe,
Depois chegou a Sergipe
Fazendo a mesma agonia.

Dizem que ela sempre ataca
Quando a noitinha aparece
Tem a cabeça de moça
Assim no mundo padece
Tendo o corpo de cachorra
Vive ela numa masmorra
Da mãe dela não esquece.

Duas vezes que ela foi
A zona do seu sertão
Para pedir à mãe dela
Seu sacrossanto perdão,
Com o padre se avista
E diz que ela resista
Se quer ter a salvação.

A penitencia da moça
É vinte anos sofrendo
Por isso que ela padece,
Uivando, se maldizendo
Pegando de noite gente
É uma cachorra valente
Que há anos vem aparecendo.

Afirmam que ela já foi
Há pouco desencantada
Mas é boato, pois, já
Neste mês foi avistada
No sertão de Água-Bela
E é a mesma cadela
Do Ceará encantada.

A toda moça aconselho:
- Tenha juízo bastante,
Uma mãe é pra cem filhos,
Diz o adágio importante,
Zombar de mãe é espeto
Quem escreveu o folheto
Foi Rodolfo Cavalcante.
          




O CASAMENTO DOS VELHOS

Louro Branco

 

O povo diz umas coisas      

Mas num vi nem acredito     

Mas essa eu digo é verdade      

Um casamento bonito            

Dum viúvo e da viúva         

Bodoquinha Passaúva              

E Tributino Sibito              

 

O véio de oitenta ano           

Lascado por um amor              

A véia setenta e nove           

Virada num estopor             

Os dois atrás de casar      

Começaram a namorar              

Porque três doido ajeitou

 

Toda noite namoravam

Os dois morrendo de rir         

Um bate-papo imorá

Que ninguém podia ouvir

E noivaram no Natá

Já certo pra se enganchar

No dia três de abri

 

Trbutino deu um lindo         

Sutiã pra Bodoquinha       

Quando a véia foi vestir        

Num deu certo, coitadinha       

De raiva quase se lasca         

Que o sutiã tinha as casca    

Mas o miolo num tinha

          

Tributino achou da veia

Um calção de pano azul

Cheirou do lado da frente

Reparou no mucumbu

E disse ao calção dela

Eu não quero tu sem ela

Eu quero é ela sem tu

 

O vei comprou uma rede

Do jeito que as grande é

E disse é pra nós dois

A veia disse é né

Pode comprar uma cama

Pra nós surrar o drama

Da nossa lua de mé

 

Disse o vei não tem nada

Que tu peça que eu num traga

Trouxe a cama e disse a ela

Fora nós ninguém tem vaga

E disse já dando um cheiro

Disse foi tanto dinheiro

Mas de noite tu me paga

 

No dia três de abril            

Vêi o tocador Zé Bento          

Mataram trinta preá             

Selaram trinta jumento         

Tributino e Bodoquinha          

Levaram a raça todinha            

Pra assistir o casamento

 

O vei bebendo umas pingas

Se empaiou pela cidade

Mandaram, chamar correndo

Naquela oportunidade

O veião chegou de choto

Ainda deu dezoito arroto

Que quase embebeda o pade

 

O padre aí perguntou

Seu Tributino o que pensa

Quer receber Bodoquinha

Como esposa pela crença

Tributino disse aceito

Tô quase ficando dum jeito

Chega tô sem paciença

 

O padre disse minha veia

Você aceita esclareça

Bodoquinha respondeu, hum

Já balançando a cabeça

Aceito de coração

 Tô cum tanta sensação

 Tô doida que já anoiteça

   

 Casaram e foram pra casa

 Comeram de fazer medo

 Cochicharam duas horas

 Uns assuntos duns segredo

 Bodoquinha disse: agora,

 Meus pessoá, vão embora

 Pra nós drumi mais cedo

 

 Trbutino de cueca

 Ficou vê uma raposa

 A veia nua gritou

 Venha coçá sua esposa

 Cuma é, vai ou num vai

 O veião dixe: ai, ai, ai

 Já tá me dando umas coisa

 

 A véia disse me lasque

 Como se novo nóis fosse

 Tributino disse: ê minha véia

 Acabou-se o que era doce

 Ela dixe: empatou macho

 O fogo que eu tinha embaixo

 Graças a Deus acabou-se

 

Boboquinha disse é triste

Casar sem mexer no sarro

Eu já bati o motor

Meu véi estrompou o carro

Êi, meu vei Tributino

Nóis dois só faz um menino

Se a gente fizer de barro

 

Beberam dez garradas

Ficou pior ele e ela

Bodoquinha disse vei

Eu sem fogo e tu sem vela

Troque essa cama por brahma

Pra que nós quer uma cama

Sem fazer mais nada nela

 

O vei alisou a veia