quinta-feira, 22 de outubro de 2015

HOMENAGEM AOS PAIS, MOTE EM SETE - E JESUS E SÃO PEDRO

MOTE: TODO PAI MERECE SER
POR NÓS HOMENAGEADO.


Ter uma festa animada
Nem que seja só no dia
Ele merece alegria
E uma vida abençoada
Pois sua data é sagrada
Nela sempre estou ligado
Não deixo ela ser passado
Sem nada desenvolver
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

O pai cuida do seu filho
Alimenta e dar escola
Com carinho ele controla
A vida dele no trilho
Para que ele tenha brilho
Seja um homem respeitado
Que o filho sendo amado
Jamais irá se esquecer
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

Pai é sinônimo de vida
De conforto e amizade
Sua responsabilidade
É proteger sua guarida
Para a família querida
Sendo muito dedicado
Prestando todo cuidado
Na labuta do dever
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

Papai tem feito por mim
Coisa que eu não mereço
Sou feliz e agradeço
Comigo pensando assim
Deus é muito bom pra mim
Oh meu Deus muito obrigado
Já cresci e sou mimado
Em mim, criança pai ver
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

Tem tanto filhos ingratos
Que depois do pai velhinho
Esquece todo carinho
Dedicando só maus tratos
Se ouve tantos relatos
De pais sendo desprezados
Extorquidos, humilhados
Já cansado de sofrer
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

Quem tiver o pai consigo
Nunca lhe negue um abraço
Lhe afague o cansaço
Ofereça o ombro amigo
Para servir de abrigo
Para quem está cansado
Deixe sempre amparado
Quem lhe ajudou a viver
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

Quem teve pai e perdeu
Hoje vive na saudade
O pai na eternidade
E no sofrimento seu
É por que nunca esqueceu
De quem viveu ao seu lado
Dando amor dando cuidado
Para nunca lhe perder
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

Papai está com noventa
E é muito convencido
E diz ter juvenescido
Se sentindo com sessenta
Sua passada está lenta
Ainda cuida do gado
Não esquece do roçado
Nunca deixa se abater
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

O pai é tão amoroso
No cuidado do filhinho
Dar amor e dar carinho
Que todo pai é jeitoso
Cria seu filho dengoso
Que se torna tão mimado
Que um pai apaixonado
Jamais irá perceber
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

Um pai é muito querido
Por tudo que ele faz
Tendo um filho já rapaz
Dele não fica esquecido
Se o filho e correspondido
Tendo uma dama ao seu lado
O pai de tão animado
Vai o bolso dele encher
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

O pai por amar demais
É bem cheio seu coração
Pra o filho faltando o pão
Nele faltando os reais
Em vez de perder a paz
Se vira pra todo lado
Deixa o filho saciado
Sem precisar mais comer
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

O pai abre o coração
Tendo seu filho presente
Nunca dar uma serpente
Se ele vem pedindo um pão
Nem dar um escorpião
Nem zanga sendo cobrado
Deus nele é representado
Seu filho, seu bem querer
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

O pai é um timoneiro
Levando a embarcação
Nunca deixa a condução
Por que ele é verdadeiro
Mesmo com pouco dinheiro
Se mantém equilibrado
Não deixa o barco parado
Nem subir e nem descer
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

A maior felicidade
É o pai está presente
Filho tendo o pai ausente
Sente dor sente saudade
Com o pai na eternidade
Tem o coração quebrado
O peito todo rachado
Que não para de doer
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

O pai é pessoa amada
Com o seu filho querido
Pra não vê-lo aborrecido
E nem provocar zoada
Pro filho não fala nada
Embora ele esteja errado
Sempre gentil educado
Para não lhe aborrecer
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!

Por isso esse personagem
Que todo filho quer bem
Pelo o amor que ele tem
Merece nossa homenagem
Seria uma sacanagem
Se ele não fosse lembrado
Pois quem tanto tem lutado
Não dar pra gente esquecer
Todo pai merece ser
Por nós homenageado!



A CHAVE DEBAIXO DA PORTA
        Autor: Rafael Neto.

Escutem o testemunho
Duma velhinha vivida
Correndo para salvar
Sua netinha querida
E como a dor não muda
Foi à procura de ajuda
No centro de uma cidade,
E a velhinha analfabeta
Queria livrar sua neta
Duma triste enfermidade.

Correu a cidade inteira
Foi grande a sua peleja
E logo a boca da noite
Viu uma bonita Igreja
Veja a coisa como é
Para quem tem muita fé
Um grande segredo tem,
Para amenizar a dor
Entrou e disse ao Pastor
Eu quero orar também.

E a velhinha matuta
Quando começou orar
Disse Deus, não te conheço
Mas eu ti peço a chorar
Acabe esse meu drama
Minha neta está de cama
Não come apenas vegeta,
Minha casa é bem pertinho
Vou te ensinar o caminho
Vá lá curar minha neta.

Moro na rua do ônibus
Em frente da passarela
Vizinha de Conceição
Numa casinha amarela,
Pequena suja e torta,
E é debaixo da porta
Que o Senhor vai encontrar
Uma chave amarelinha
E quando sair da casinha
Ponha no mesmo lugar.

Quando a velha disse amém
Encerrando a oração
Foram muitas gargalhadas
Foi grande a gozação
E a velhinha calada
Saiu e não disse nada
Voltou para a moradia
Mas como era à noitinha
Sua chegada à casinha
Só se deu no outro dia.

Chegando em casa que viu
A netinha na janela
Estupefata pergunta
O que aconteceu com ela
Ela diz estou curada,
Não estou mais adoentada
Um anjo me reviveu
A velha sem forças na junta
Abre a boca e lhe pergunta
O que foi que aconteceu

Ela disse: ontem eu vi
Um grande brilho de luz
Um moço todo de branco
Como um anjo de Jesus
Me curou na mesma hora,
E mandou dizer a senhora
Que a fé é quem nos conforta
E ainda disse em voz suave
Eu não esqueci da chave
Botei embaixo da porta.




JESUS, SÃO PEDRO E O FERREIRO DA MALDIÇÃO
        Franscico Sales Arêda

Quando Jesus e São Pedro
pelo mundo viajaram
em casa de um ferreiro
uma tarde eles chegaram
e pra descansarem um pouco
nessa casa se arrancharam.

O ferreiro muito alegre
deu uma boa hospedagem
para Jesus e São Pedro
descansarem da viagem
e tratou muito bem deles
com toda camaradagem

E Jesus aproveitou
enquanto estava hospedado
e falou com o ferreiro
lhe mostrando muito agrado
para ferrar o burrinho
que ele andava montado

O ferreiro interessado
fez o serviço ligeiro
porém Jesus disse a ele:
— Aqui não tenho dinheiro
mas te sirvo em três pedidos
pode dizer o primeiro

O ferreiro olhou para Cristo
e começou a sorrir
depois disse: muito bem
tenho três coisas a pedir
porque sei que o senhor
pode isto me garantir

— Vamos lá disse Jesus
diga que farei urgente
mas antes dele falar
São Pedro tomou a frente
e disse: Amigo ferreiro
me ouça primeiramente

É verdade que não sei
qual sua finalidade
porém lhe dou um conselho
com toda sinceridade
peça-lhe o reino do céu
pra sua felicidade

O ferreiro disse: Eu não
que céu não enche barriga
e olhando pra Jesus
lhe disse: Mestre me diga?
se pode dar-me uma coisa
que me serve e não periga

Jesus disse: é qualquer coisa
que quiser pode falar
disse o ferreiro: Pois bem
quero que quem se sentar
no banco da minha tenda
só saia quando eu mandar

— Prometo, disse Jesus
a outra coisa qual é?
— Pede-lhe o reino do céu
São Pedro gritou com fé
disse o ferreiro: Ora esta?
não me interrompa seu Zé

— Este céu que você fala
não está em meu caderno
e também não há certeza
desse monumento eterno
eu morto posso seguir
para o céu ou pro inferno

A outra coisa que quero
é muita mais verdadeira
eu quero é que quem subir-se
naquele pé de figueira
não desça sem minha ordem
fique lá a vida inteira

— Concedo, disse Jesus
falta a última vamos ver
— Pede-lhe o reino do céu
São Pedro tornou dizer
— Enxerido! — disse o ferreiro
deixe de se intrometer

Já lhe disse: duas vezes
que não quero seu tesouro
eu quero é ver quem entrar
naquele saco de couro
fique dentro até morrer
pra pagar o desaforo

Jesus concedeu também
e montou-se no burrinho
acompanhado de Pedro
seguiu pelo seu caminho
e o ferreiro ficou
pensando em casa sozinho

Ele pensando dizia:
— Fui muito tolo e sem calma
porque não pedi a ele
riqueza para ter palma
venha agora o satanás
que lhe vendo a minha alma

— Pra que diabo me serve
banco nem pé de figueira
e saco sem ter dinheiro
de que serve esta porqueira
quero é ser rico e gozar
seja de qualquer maneira

— Portanto se há inferno
apareça o satanás
e se for como alguém diz
que ele tem força capaz
traga dinheiro que a gente
qualquer um negócio faz

Quando o ferreiro findou
de dizer esta heresia
satanás apresentou-se
lhe fazendo cortesia
e disse: pronto ferreiro
compro por qualquer quantia

Dinheiro tenho de sobra
dou-te uma soma sem fim
exija quanto quiser
que servirei sem  pantim
pois a alma dum ferreiro
vale tudo para mim

Até traçarem o negócio
disse o satanás: vou dar-te
uma riqueza assombrosa
pra gozares em toda parte
mas quando inteirar dez anos
— Eu venho para levar-te

— Você faça o que poder
em dez anos de riqueza
coma, beba e vista bem
desfrute toda grandeza
que com dez anos completo
você vai sem ter defesa

— Muito bem, disse o ferreiro
a ordem será cumprida
com dez anos de riqueza
posso gozar minha vida
a alma não vale nada
já vendi está vendida

Satanás abriu um livro
com três palmos de altura
e disse: para o ferreiro
— A minha parada é dura
assine aqui que preciso
levar sua assinatura

O ferreiro assinou-se
no livro preto infernal
o satanás deu o visto
comprovando o edital
e deu-lhe logo mil contos
tudo em moeda legal

No outro dia amanheceu
num palácio monstruoso
forrado de ouro e prata
com um jardim majestoso
pra todo lado ele via
um lustro maravilhoso

Com um quilômetro ao redor
o palácio era cercado
pelo um rio caudaloso
banhando por todo lado
pra todo canto ele via
o sol nascendo dourado

Tudo quanto precisasse
lhe chegava sem demora
no seu palácio forrado
de ouro por dentro e fora
era dizer: — Quero isto
chegava na mesma hora

Assim passou o ferreiro
dez anos de regalia
feito um fidalgo opulento
tendo tudo que queria
até que venceu-se o prazo
satanás chegou no dia

— Pronto amigo, disse ele
nosso prazo está vencido
disse o ferreiro: Está certo
o prometido é devido
mas já tinha feito um plano
para deixá-lo iludido

Com muito agrado mandou
o satanás ir entrando
e começou a tapiar-lhe
muitas histórias contando
e o satanás satisfeito
pelo o terreiro esperando

E no banquinho da tenda
mandou ele se sentar
foi tratar de seus negócios
e toca o diabo esperar
quando foi sair do banco
não pode se levantar

Passou três dias sentado
rogando praga e gemendo
esconjurando da sorte
chorando e se maldizendo
depois chegou o ferreiro
e assim lhe foi dizendo:

— Amigo velho você
já me esperou a vontade
e quanto o nosso negócio
tenho uma novidade
se você não aceitar
perdemos nossa amizade

Pois eu só te solto agora
se prometeres me dar
outro prazo de dez anos
pra eu viver e gozar
se não o mundo se acaba
sem mais nunca te soltar

Satanás aí conheceu
que tinha sido traído
mas queria se ver solto
aceitou logo o pedido
foi esperar mais dez anos
pro caso ser resolvido

E o ferreiro ficou
gozando cada vez mais
dentro da riqueza e luxo
como sempre o rico faz
que até se esqueceu
do trato com satanás

Porém no segundo trato
satanás chegou vexado
o ferreiro disse a ele
sei que é hoje estou lembrado
mais inda quero que dê-me
mais um dia de agrado

Hoje é meu aniversário
é a festa derradeira
que eu faço nesta vida
vou brincar a noite inteira
me espera até amanhã
trepado nesta figueira

Satanás se trepou
e lá ficou esperando
o ferreiro cá embaixo
com os amigos farrando
passaram-se oito dias
festa e brinquedo rolando

Com bebida música e dança
o samba rolava grosso
dia e noite sem parar
só se ouvia o alvoroço
e o ferreiro gritando:
— Vou gozar enquanto moço

E o infeliz satanás
por entre as folhas metido
sem poder descer da árvore
no mais horrendo alarido
babava e rangia os dentes
como quem estava mordido

Se lastimava dizendo
— Ah, ferreiro desgraçado
o que estás me fazendo
eu tenho tudo guardado
quando chegar no inferno
eu me vingo condenado

Aí chegou o ferreiro
sorrindo lhe disse assim
— Vou fazer outro pedido
se você negar a mim
neste pau fica pra sempre
transformando num cupim

Satanás disse: O que é
que me pedes tão contente
o ferreiro disse: eu quero
outros dez anos somente
que vinte anos não deu
pra gozar perfeitamente

— Ou dá ou ficas aí
sem te arredar um momento
quando esta árvore morrer
ficarás sobre o relento
transformado em cupim
exposto a chuva e o vento

Ele  apulso combinou
outros dez anos esperar
sendo solto foi embora
e o ferreiro foi gozar
mais dez anos de conforto
com orgia e paladar

Até que venceu-se o prazo
do último trato que fez
satanás disse: é hoje
que trago aquele freguês
eu quero ver se ele ainda
me engana mais outra vez

Mesmo na hora da ceia
ele bateu no portão
e disse: amigo ferreiro
você hoje vai ou não?
não me venha com lorota
nem tem mais arrumação

Por duas vezes você
me enganou mesmo direito
com suas conversas moles
me enrolou peito a peito
mas hoje venho disposto
levá-lo de qualquer jeito

O ferreiro resondeu-lhe
com a voz muito arrastada
— É verdade meu amigo
já lhe dei muita massada
eu vou só trocar a roupa
para seguir a jornada

— Os dois tratos que quebrei
isto nada quer dizer
bem sabe que todo moço
com a vida tem prazer
mas já estou com sessenta
posso desaparecer

— E por favor eu lhe peço
não tome por desaforo
enquanto eu troco de roupa
vá buscar todo meu ouro
que está numa mochila
naquele saco de couro

O satanás sem pensar
no saco de couro entrou
para tirar o dinheiro
e a mochila encontrou
porém não pode sair
que o saco se fechou

Ficou preso satanás
ao grande saco de couro
bramindo e esconjurando
com o maior desadouro
embolava pelo chão
bufando que só um touro

E dizia ele eu já sei
que preso aqui vou ficar
a ferreiro desgraçado!
pois tornou me enrolar
foi a alma mais difícil
que já vi pra se ganhar

— Toda vez que venho aqui
este infeliz me enrola
com o banco e pé de figueira
deu-me chute e jogou bola
e agora pra completar
me trancou nesta sacola

— Mas se um dia eu pegar
aquele cabra ladrão
nas profundezas do inferno
mesmo no meio do porão
verá com quantos garranchos
se faz um ninho de cancão

Dentro do saco de couro
ficou preso o satanás
e o ferreiro estudando
um plano muito sagaz
por ser a última vez
não podia enganar mais

Preparou depressa a saia
e ajeitou bem o fole
pegou o satanás e disse
— Você aqui não se bole
eu vou botá-lo no fogo
para fazer um controle

com saco dinheiro e tudo
Agarrou-se pelo o meio
tocou no fole e na saia
e o malho batendo em cheio
gritou: Me solta ferreiro
que nunca mais te aperreio

Quanto mais o satanás
ao ferreiro pedia
mais o ferreiro queimava
e o martelo batia
voava casca de fogo
e o moleque fedia

Depois o ferreiro disse:
— Te solto se garantir
nem com vida nem com morte
nunca mais me perseguir
satanás disse: Prometo
nunca mais quero te ouvir

— Pode ficar descansado
com toda sua riqueza
e morrer quando quiser
que eu juro com certeza
riscar seu nome do livro
pra não vê-lo em minha empresa

Disse o ferreiro: Está certo
porém passe um documento
como perdeu a questão
não quer me ver um momento
faça logo e se assine
com todo esclarecimento

O satanás assinou-se
e deu tudo por perdido
ficou o ferreiro lá
de riqueza prevenido
morreu com noventa anos
nunca mais foi perseguido

Mas depois que ele morreu
foi ao céu pediu morada
São Pedro bateu-lhe a porta
não deixou tomar chegada
o ferreiro disse a Pedro:
Você não é camarada

São Pedro aí respondeu:
— Você não quer salvação
vá se arrumar com seu banco
pé de figueira e surrão
e depois com satanás
com que fez arrumação

O ferreiro ouvindo isto
disse a Pedro: Você é
um santo bruto orgulhoso
e portanto eu já dei fé
que onde tem corta jaca
ninguém pode tomar pé

— Fique com sua porqueira
que não quero mais nem vê-lo
e agora mesmo eu vou
ao inferno conhecê-lo
se satanás não quiser-me
vai se dar um desmantelo

Quando chegou foi batendo
no portão de satanás
um diabo veio a porta
e disse: Daí pra trás
que quem fez como você
do inferno é incapaz

Seja incapaz ou não seja
abra a porta pra eu entrar
se não abrir entro apulso
que não venho de alisar
satanás disse: Eu duvido
você na porta cruzar

— Pode desaparecer
da porta de Lúcifer
vá procurar os seus bens
e viver onde quiser
que um enrolão do seu jeito
o satanás não o quer

Eu não estou esquecido
do seu banco desgraçado
pé de figueira e o saco
aonde sofri trancado
portanto desapareça
cabra enrolão descarado

Disse o ferreiro: Ora bolas
que tanta história e suspeita
vou ao céu Pedro expulsa
no inferno o diabo enjeita
eu já vi que essa gente
comigo está com despeita

Minha vida foi novela
de uma ponta a outra ponta
depois de morto inda querem
comigo fazer afronta
e já que todos me odeiam
vou viver por minha conta

Assim ficou o ferreiro
sem achar colocação
nem no céu nem no inferno
não encontrou proteção
ficou vagando e se chama
Ferreiro da maldição

Fartura brinde do céu
Salvação é coisa boa
A maldição representa
Logo do que vive à toa
Espalhando entre os maus
Sua maldita sua coroa



JESUS CRISTO, SÃO PEDRO E O LADRÃO
Manuel de Almeida Filho

Jesus Cristo andou no mundo
Ensinando aos malfeitores
Com exemplos e milagres
Convertendo os traidores
No fim ainda deu a vida
Em favor dos pecadores

Os seus exemplos nos chegam
Através da sua glória
Onde muitos malfeitores
Inda alcançaram a vitória
Como esse que eu conto
Nessa pequena história

Jesus fez uma viagem
Com São Pedro certo dia
Por necessidade entraram
Numa grande travessia
Para salvarem um ladrão
Que só para o mal vivia

Mas São Pedro ignorava
O que ia acontecer
Porque Jesus não lhe disse
Para ele não temer
No meio da travessia
Começou escurecer

São Pedro tremendo disse:
- Estou morrendo de fome
Muito cansado e com sede
Só o medo me consome
Se não surgir uma casa
A onça hoje nos come

Jesus disse: a tua fome
Muito breve terá fim
"Ó homem de pouca fé"
Por que és tão fraco assim?
Estás tão desanimado
Que não tens fé nem em mim?

Porém adiante viram
Uma casinha surgir
São Pedro disse: eu não posso
Assim de noite seguir
Vou ficar naquela casa
Para comer e dormir



Jesus disse: Eu vou também
Para a casinha marcharam
Lá foram bem recebidos
Boa comida jantaram
E depois em boas redes
Todos dois se agasalharam

Aqui vou fazer um ponto
Para poder explicar
Que o dono dessa casa
Vivia de hospedar
Quem passava na estrada
Para matar e roubar

De madrugada saía
Muito adiante esperava
Em um pé baraúna de
Quando o seu hóspede passava
Ele com um bacamarte
Com um só tiro matava

Depois que roubava tudo
O cadáver conduzia
Enterrava muito perto
Num cemitério que havia
E chamava de caçada
Tão grande selvageria

Na noite em que Jesus
Com São Pedro fez pousada
Na casa desse assassino
Ele foi de madrugada
E ficou na baraúna
Botando a sua emboscada

Jesus acordou-se cedo
E por São Pedro chamou
Despediu-se da mulher
Pelo homem perguntou
Ela disse: o meu marido
Muito cedo viajou

Foi fazer uma caçada
Só à tarde vem chegando
Jesus Cristo que sabia
Onde ele estava esperando
Agradeceu a mulher
E foi com São Pedro andando

Mais adiante avistaram
Ele lá de prontidão
Por detrás da baraúna
Com o bacamarte na mão
São Pedro disse: Senhor
Acolá tem um ladrão

Para a frente eu não vou mais
Pelo que lá estou vendo
Já sinto o sangue fugindo
E o coração morrendo
A vista ficando escura
E todo corpo tremendo

Jesus disse: Vamos Pedro
Deixa de tanto pavor
Lá estou vendo um cavalo
E não um salteador
Me diz onde está a fé
Que tens em teu Criador?

São Pedro disse: É verdade
A fé vale em toda a parte
Porém um ladrão daquele
Atira com muita arte
A fé não livra ninguém
Da boca dum bacamarte

Jesus disse: Mas ali
Não vejo nenhum ladrão
Saiu puxando São Pedro
Pegado por u'a mão
São Pedro fazendo força
Enterrando os pés no chão

De fato, quando chegaram
No canto tinha um cavalo
O ladrão foi transformado
Sem sentir nenhum abalo
Jesus disse: este animal
Agora vamos levá-lo

Vai ali corta um cipó
Faz um cabresto ligeiro
Que vamos os dois montados
Porém, eu monto primeiro
Na frente e você atrás
Na garupa do "sendeiro"

São Pedro fez o mandado
Depois os dois se montaram
O cavalo era possante
Todo o dia viajaram
Às cinco e meia da tarde
Em um engenho chegaram

Era tempo de moagem
No engenho "Canta Galo"
Quando o proprietário
Foi avistando o cavalo
Bonito, gordo e possante
Ficou doido pra comprá-lo

Falou a compra a Jesus
Porém Jesus disse: não
Lhe alugo por um ano
Se o senhor tem precisão
Por cinco contos de réis
Por menos nem um tostão

O homem pensou consigo:
- O aluguel é barato
Porque o cavalo é gordo
Não precisa muito trato
No meu carrego de cana
Ele vai pagar o pato

Disse a Jesus: eu aceito
O negócio companheiro
Jesus disse: com um ano
A quinze de fevereiro
Venho buscar o cavalo
E receber o dinheiro

Assim Jesus entregou
O cavalo e foi embora
São Pedro com muita raiva
Por que ia a pés agora
Era andando e reclamando
Todo instante toda hora

O senhor de engenho que
Pôs o cavalo na cana
Debaixo de uma cangalha
Sete dias na semana
Correndo de dia a noite
Numa vida desumana

No prazo Jesus chegou
O cavalo estava em pó
Todo arranhado e ferido
Que quem visse tinha dó
Magro que só um graveto
E a barriga dando nó

O senhor de engenho disse
- Me venda agora o cavalo
Jesus disse: Não senhor
Agora eu vou levá-lo
Tratar os seus ferimentos
Para depois engordá-lo

Jesus pegou o cavalo
E recebeu o dinheiro
Se despedindo do homem
Montou-se muito ligeiro
Pôs São Pedro na garupa
E viajou o dia inteiro

Mais ou menos às seis horas
No mesmo canto chegaram
Debaixo da baraúna
Lá o cavalo deixaram
Seguiram e na mesma casa
Do ladrão se hospedaram

Estava a mulher de luto
Vendo Jesus conheceu
Disse: hoje faz um ano
Que meu marido morreu
Foi "caçar" de madrugada
Por lá desapareceu

Jesus disse: o seu marido
Graças a Deus está vivo
Pelos crimes praticados
Passou um ano cativo
Nisso ele entrou em casa
Muito triste e pensativo

Viu Jesus e relembrou
Sua sentença tirana
De passar um ano inteiro
Sem a sua forma humana
Transformado num cavalo
E mais carregando cana

No outro dia Jesus
Saiu do seu agasalho
Chamou o ladrão e disse:
- Seu esforço não foi falho
Eis aqui o seu dinheiro
O fruto do seu trabalho

Receba seus cinco contos
E vá trabalhar com gosto
Que é no trabalho honesto
Aonde o homem acha encosto
Coma o seu pão honrado
Com o suor do seu rosto

Disse isso e despediu-se
Com São Pedro viajou
O ladrão foi trabalhar
Como Jesus ordenou
Nunca mais roubou ninguém
Até que Deus o chamou

Aqui se prova que o roubo
Leva o homem à desventura
Muito sofre quem não deixa
Esta vida de amargura
Isto só faz quem entende
Deus dá a quem se arrepende
A eternidade pura