quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

CORDEL E POEMAS


















O QUE A MENTIRA FAZ
José Edimar

Papai sempre me dizia:
Meu filho não vá mentir,
Que se a mentira sair
E ela ter garantia,
Quem soltou precisaria
De umas três inventar
E assim se transformar
Em um mentiroso nato
Espalhador de boato
Sem ninguém acreditar.

Mas acontece que a vida
Não é como deve ser,
Me encontrei sem querer
Em um beco sem saída,
Com minha sorte agredida,
Sem dever nada fui preso,
Não pude sair ileso
Das minhas acusações,
Sobre algemas e grilhões
Fui pra prisão indefeso.

Vinte anos me afastava
Da minha terra natal,
No dia das mães afinal
Muito distante me achava,
Minha mãe velhinha estava
Sem de mim ouvir falar,
Pro seu coração alegrar
Eu não tinha condição,
No bolso nem um tostão
Pra seu presente comprar.

A minha lembrança faz
Eu querer telefonar
E minhas noticias dar
Pois seria bom demais,
Nenhum presente era mais
Para uma mãe receber
Que do seu filho saber,
Pensando no meu dilema,
Pra dar o telefonema
Qual notícia devia ser.

Enquanto tremia na base
Falei com o delegado
Que estava do meu lado
Não me veio à fala quase;
— Escolha aí uma frase
Pra falar pra mamãezinha
Pois já espera na linha
Não pode ter emoção
Que sofre do coração
Ouve mal e é velhinha.

Diga qualquer coisa breve!
— Me falou tal comissário —
Pois na vida dum otário
Qualquer baboseira serve
O que diz ninguém escreve!
Foi ali que em mim veio
Botar mentira no meio
Pra poder falar bonito,
Embora fosse esquisito
Porque mentir era feio.

Fui logo dizendo assim:
Mamãezinha como vai?
Diga como está papai!
Aqui não está ruim,
Deus tem ajudado a mim,
Hoje sou um homem rico,
Lhe ouvindo agora fico,
Na certeza que não falto!
Disse ela: fale mais alto,
Não estou ouvindo um tico!

Gritei em alto bramido
Foi aí que ela entendeu,
Muito triste respondeu:
Seu pai já é falecido,
Motivo de ter morrido
Eu nunca pude entender,
Pegou um jornal pra ler
Só pra ter noticias sua,
Enquanto eu saí na rua
Tudo pôde acontecer.

Aqui surgiu um boato
Espalhado por alguém
Que você não vinha bem,
Fizeram esse relato;
Lhe ouvindo, o  meu maltrato
Vai ficando aliviado.
Com isso eu fiquei calado,
Meu corpo todo a tremer
Que só consegui dizer:
Pode levar delegado!

Fui logo dizendo assim:
Mamãezinha como vai?
Diga como está papai!
Aqui não está ruim,
Deus tem ajudado a mim,
Hoje sou um homem rico,
Lhe ouvindo agora fico,
Na certeza que não falto!
Disse ela: fale mais alto,
Não estou ouvindo um tico!

Gritei em alto bramido
Foi aí que ela entendeu,
Muito triste respondeu:
Seu pai já é falecido,
Motivo de ter morrido
Eu nunca pude entender,
Pegou um jornal pra ler
Só pra ter noticias sua,
Enquanto eu saí na rua
Tudo pôde acontecer.

Aqui surgiu um boato
Espalhado por alguém
Que você não vinha bem,
Fizeram esse relato;
Lhe ouvindo, o  meu maltrato
Vai ficando aliviado.
Com isso eu fiquei calado,
Meu corpo todo a tremer
Que só consegui dizer:
Pode levar delegado!
           FIM


       Presente do pai para o filho:
























O FILHO E O PAI.
José Edimar

Todo pai é consagrado
E por Deus constituído,
Protetor do filho amado
Mas não é reconhecido
Pelo valor que ele tem,
Só pra ver seu filho bem
Se preciso, lhe diz não!                                               
Arriscando a própria vida,
Abrindo grande ferida
No fundo do coração.

Aconteceu no passado
Caso muito interessante,
Um pai honesto e honrado
Tinha um filhinho estudante
Que não quis mais estudar,
Pretendendo trabalhar
Tendo quatorze de idade,
O pai vendo que o estudo
Para o seu filho era tudo
Terminar a faculdade.

Induziu o filho amado
Para ser-lhe obediente,
O filho disse: eu formado
Quero ganhar de presente,
Um carro para passeio!
O pai dele sem receio
O presente prometeu.
Na festa da formatura
Ele somente a Escritura
Sagrada pra o filho deu.

O seu filho aborrecido
Não quis saber do presente,
Deixando seu pai ferido,
Muito triste e descontente;
Da festa se foi embora,
Saindo de mundo a fora
Indo morar bem distante;
Pra casa não voltou mais
Nem a notícia dos pais
Considerou importante.

  Na saída do rapaz
Tudo ali entristeceu,
Mas com alguns anos mais
O pai dele adoeceu,
A mãe foi lhe procurar,
Andou até encontrar,
O filho veio apressado,
Por muita falta de sorte,
Na casa do pai a morte
Antes já tinha passado.

Quando tinha seu pai vivo
Ele em nada lhe ajudou,
Então ficou pensativo,
Foi quando sua mãe entrou
Trazendo ali novamente,
O mesmo antigo presente
Que ele havia desprezado
Na festa de formatura;
Abriu para uma leitura
Aquele livro Sagrado.

Em uma folha, colado,
No momento que ele abriu
Notou um cheque assinado
Na data que ele partiu,
Para comprar seu transporte;
Do pai lamentando a morte,
Sentindo dor e saudade
No banco o cheque trocou
E todo o dinheiro usou

Para fazer caridade.
            FIM


















APÓLOGO DAS ÁRVORES (Autor: Joames)

Eram três árvores frondosas
Nascidas na mesma terra,
Nas encostas de uma serra
Entre fontes caudalosas;
Ali cresceram viçosas
Tangidas ao vaivém
Da mansa brisa do além
Por muitos e muitos anos
E como os seres humanos
Tinham seus sonhos também!

Cada árvore pujante
A larga fronde estendia,
Quando foi um certo dia
Uma delas radiante
Num diálogo interessante
Envolveu suas parceiras
E durante horas inteiras
A conversa transcorreu,
Cada uma o sonho seu
Segredou ás companheiras.

A primeira disse assim:
Desejo futuramente
Ser um baú reluzente
Ornado em ouro e marfim;
Para ser dona de mim
Quero uma linda princesa
Da mais sublime pureza 
Que o mundo já pôde dar,
Para em meu bojo guardar
Sua preciosa riqueza!

A segunda disse: anelo
Ser o maior dos navios,
Singrar os mares bravios
Sob o firmamento belo;
Aliviar o flagelo
De quem padece aflição,
Servi-lo de condução
Para uma enseada calma,
Sanar os males da alma
E as dores do coração!

A terceira árvore disse:
Daqui não quero sair;
Desejo crescer, subir,
Com esplendor e meiguice;
Quero alcançar a velhice
Espalhando os ramos meus
Sobre os crentes e ateus
Para os homens me olharem
Lá de baixo e se lembrarem
Que no céu existe um Deus!

Muitos anos se passaram,
Todos iguais aos primeiros,
Mas um dia os madeireiros
Em torno delas chegaram,
As árvores examinaram,
Medidas foram tomadas,
Todas três foram cortadas,
Lavradas e divididas
E logo após conduzidas
A plagas ignoradas.

Para uma carpintaria
A primeira foi levada
E logo após transformada
Numa rude estrebaria.
Um dia a Virgem Maria
Num desconforto profundo
Naquele estábulo imundo
A seu filho deu a luz,
E a árvore guardou Jesus,
Tesouro maior do mundo.

Da segunda, um pescador
De recurso muito parco
Construiu um tosco barco
De muito baixo valor,
Nele fazia o labor
Pra sua manutenção;
Numa certa ocasião
Foi desse barco pequeno
Que Jesus, o Nazareno
Fez o mais belo sermão.

A terceira não servia
Para utensílios de uso,
Tornou-se objeto escuso
De velha carpintaria;
Mas por fatal ironia
Foi tirada dos pauis,
Fizeram dela uma cruz
Muito pesada e grosseira
E nessa cruz de madeira
Crucificaram Jesus!

No pequeno logradouro
O estábulo no seu bojo
Não guardou nenhum estojo
Trabalhado em prata e ouro,
Mas guardou maior tesouro,
Cristo, Deus que nos assiste,
Que do barco humilde e triste
Deu lições de amor profundo
E a cruz em todo o mundo
Faz lembrar que Deus existe!























ORGULHOSA (Autor: Joames)

Deixas de orgulho menina,
Tua beleza é passageira.
Se Deus te deu esta sina,
Vês que não és a primeira;
Beleza o tempo consome,
Nenhuma mulher o nome
Eternizou por ser bela
Sem possuir elegância,
Da formosura a arrogância
Degrada os méritos dela.

Ostentas um corpo lindo,
Na face ternos meneios,
Pequena blusa cingindo
A rigidez dos teus seios,
Esbelto corpo moreno,
Nos lábios negro veneno
Nos olhos brilhos fatais;
Com teu sorriso embriagas
Cavando profundas chagas
Nos corações dos mortais.

É certo que a tua beleza
Ofusca muitos olhares,
Porém a mãe natureza
Iguais a ti fez milhares;
Frívolas, tolas, vaidosas,
Que só por serem formosas 
Julgam-se quase divinas;
Simples matérias humanas,
Contaminadas, profanas,
Causa de muitas ruínas.

Tu vives num pesadelo
Que muito te sacrifica,
No mais penoso desvelo,
Simulando vida rica;
No meio de muitas galas,
No burburinho das salas
Ouvindo juras falazes,
Agindo qual meretriz
E só te sentes feliz
Amando a muitos rapazes.

Tu hoje zombas de quem
Não tem igual formosura,
Só dás valor a quem tem
Boa aparência e mesura,
Além de fama e riqueza,
Menosprezando a pobreza,
O feio, o velho e o doente;
Foi teu passado obscuro
E com certeza o futuro
Também será deprimente.

Amanhã velha serás,
Sobrevirão os martírios,
Carinhos mendigarás
Na convulsão dos delírios
Prestando a todos e a tudo
Flácido corpo desnudo,
Expondo a rugosa derme
E acenando a mão convulsa,
Todos dirão com repulsa:
Detém-te asqueroso verme!

 E quando a morte chegar,
Cruel, horrenda e sisuda?
Certamente hás de ficar
Pasmada, quieta, muda,
Tardiamente arrependida
Porque conduziste a vida
Por caminho degradante;
Após os teus funerais
Poucos dias e ninguém mais
Lembrará o teu semblante.

Sou pobre, mas sou poeta!
Sou venturoso, feliz!
Tenho a modéstia por meta
E sempre me satisfiz;
Tenho sentimento nobre,
Belo, feio, rico, pobre,
Não vos faço distinção.
Muitos leitores ufanos
Daqui a duzentos anos
Meus versos declamarão!





AS 10 (DEZ) PIORES
DROGAS DO MUNDO
Joames & Messias Freitas

Após fazer um estudo
Meticuloso e profundo
Sobre o efeito das drogas
E todo o mal oriundo
Delas, selecionamos
As dez piores do mundo.

Heroína é a primeira
Nesta relação citada;
É uma droga opióide,
Pois do ópio é derivada,
Consumida natural
E também sintetizada.

No início do século XX
Tinha o uso permitido
Para a farmacologia,
Porém mais tarde, devido
Seus efeitos violentos
Seu uso foi proibido.

Heroína em forma líquida
Nas veias é injetada,
Já em pó a droga pode
Ser ingerida ou inalada,
Pela corrente sanguínea
É para o cérebro levada.

Cocaína é a segunda
Nesta nossa relação,
É uma droga alcalóide
Que causa alucinação,
Sua dependência afeta
O cérebro e o coração.

Extraída de uma planta
Natural ou cultivada,
A erythroxycum coca,
Que após ser processada
Em forma de pasta base
É comercializada.

Barbitúrico é a terceira,
Cujos princípios ativos
No centro do hipotálamo
Agem como sedativos,
Ao organismo levando
Seus efeitos depressivos.

A quarta é a metadona,
Que na Ásia é encontrada,
Também chamada de ópio,
Natural ou processada,
Pelo usuário pode
Ser mastigada ou fumada.

O álcool é a quinta droga
Nesta pesquisa da gente,
Mesmo sendo liberada
Ela é comprovadamente
A campeã mundial
Em morte, crime e acidente.

Cloridrato de cetamina
Ocupa o sexto lugar,
Tem efeito psicotrópico;
No sistema vascular
Faz aumentar a pressão
Podendo infarto causar.

As benzodiazepinas
Em sétimo lugar estão,
Por terem tranquilizantes
Na sua composição,
Nos casos de ansiedade
São de larga prescrição.

Mesmo utilizadas na
Psicofarmacologia,
Elas causam dependência,
Manifestando agonia
Física e psicológica
Ao longo da terapia.

Da Anfetamina, a oitava,
Devemos nos precaver,
Pois suprime o apetite,
O que faz emagrecer
E por anorexia
Quem usa pode morrer.

A nona droga é o tabaco,
Riquíssimo em nicotina
Que induz à dependência,
Ao usuário domina;
Por ser droga liberada
Mata mais que a cocaína.

O tabaco é uma planta
Da América do Sul, porém
Espalhou-se pelo mundo
Que em todo lugar tem,
E diversas substâncias
Cancerígenas contém.

Em décimo lugar citamos
A droga buprenorfina,
Substância venenosa
Derivada da heroína,
Como remédio tem sido
Usada na medicina.

A buprenorfina pode
Combater a dependência
Da heroína e do ópio,
Ministrada com frequência
Reduzindo a ansiedade
Nos casos de abstinência.

As drogas mais poderosas
Estão nesta relação;
Algumas delas são lícitas,
Enquanto outras não são,
Mas todas elas usadas
De formas exageradas
Provocam destruição.
     


 O outro lado da  História






Em dez pés de martelo alagoano


Inda guardo no arquivo da memória

O engodo dos livros escolares 

Que do herói imbatível de Palmares 

Defraudou a grandeza meritória, 

Vou mostrar o outro lado da história 

Com o brado de um povo soberano, 

Que jamais se curvou a tal engano, 

Semeado na classe dominante. 
O meu verso é navalha bem cortante 
Nos dez pés de martelo alagoano. 

 



Me recordo do príncipe altaneiro 

Dando o grito da tal independência, 

Que depois virou uma indecência, 

Alugando o Brasil ao estrangeiro. 

No meu livro, vi D. Pedro primeiro 
Retratado num gesto sobre-humano, 
Pra depois converter-se num tirano, 
Assassino cruel, escravocrata 
Defensor do castigo e da chibata 
Nos dez pés de martelo alagoano. 

 



No meu livro escolar não encontrei 

Nada acerca de Antônio Conselheiro,            

Que bradou contra o jugo traiçoeiro, 

Embutido na vil letra da Lei – 

Esperando o retorno do seu rei 
Pra pôr fim ao sofrimento humano, 
Bastião, o guerreiro lusitano, 
Da estirpe de Aquiles e Roldão, 
Transformai este mar em um sertão 
Nos dez pés de martelo alagoano. 

 



Enfrentando o raio e a procela, 

Desbravando o mar desconhecido, 

Transportando um povo embrutecido, 

Vai surgindo bonita caravela, 

Com a morte sinistra, dentro dela, 
Atracou neste solo Americano, 
Invadido por um tropel insano, 
Que irão se chamar descobridores, 
Urubus imitando beija-flores 
Nos dez pés de martelo alagoano. 

 



No meu livro, eu vi em outra parte 

Os valentes e fortes bandeirantes, 

Corajosos e bravos viajantes, 

Descendentes do deus romano Marte - 

Mas agora eu digo com minha arte: 
A mentira causou enorme dano; 
Foram eles um grupo desumano; 
De ladrões, covardes, homicidas. 
Eu os chamo “bandidos, genocidas” 
Nos dez pés de martelo alagoano. 

 



Admiro Castro Alves, o poeta 

Que lutou contra a vil escravidão, 

Tiradentes, emblema da nação, 

Que morreu sem trair a sua meta, 

Conselheiro, pra nós, é um profeta 
Expressando seu verbo soberano, 
Chico Mendes, o grande ser humano, 
Defensor da floresta e da vida. 
Peço a Deus que a todos dê guarida 
Nos dez pés de martelo alagoano.
(Musicado pelo poeta e intérprete João Gomes de Sá)
Nota: Gênero tradicional da cantoria de viola, aproveitado excepcionalmente pela literatura de cordel, o martelo alagoano tem esquema de rima A B B A A C C D D C. Na música popular, foi reaproveitado pelo cantor e compositor pernambucano Alceu valença. A faixa "Martelo alagoano", que faz parte do antológico álbum Cavalo de pau, traz estrofes como a abaixo reproduzida, que homenageia os grandes nomes da cantoria de viola do Nordeste:


Da cidade de Campina e do Monteiro

De Passira Panelas e Ingazeira

São José do Egito Capoeira

é viola é ganzá e é pandeiro

Salve Dimas e Pinto do Monteiro

Lourival trocadilho sobre-humano

Vitorino o teu verso tem bom plano
Oliveira Castanha e Beija-Flor
e Mocinha de Passira é um condor
nos dez pés de martelo alagoano.