JOÃOZINHO
E ROSINHA
E O PAI
SEM CORAÇÃO
Desgraça
sempre acontece
Onde
impera a traição
Com
ódio inveja ganância
Falsidade
e ambição
Toda
sorte vem mesquinha
Foi com
Joãozinho e Rosinha
Por um
pai sem coração.
No Rio
Grande do Norte
Naquele tempo passado
Morava
um velho viúvo
Trabalhador
do roçado
Embora
lutasse tanto
Não se
imaginava o quanto
Vivia
necessitado.
Era pai
de dois rapazes
De
Joãozinho e de Zezinho
Depois
que ficou viúvo
Cuidou
dos filhos sozinho
Como um
pai bem amoroso
Com os
dois era zeloso
Dando
pra eles carinho.
Na dura
luta diária
No
roçado trabalhava
Tendo
pouco rendimento
Quase
em nada melhorava
Dando
duro pra valer
Nem
mesmo para comer
O lucro
deles não dava.
Quanto
mais passava tempo
Só
aumentava a piora
Pois
somente a esperança
Que não
deixava uma hora
Ruim na
situação
Sendo
uma espera em vão
Nunca
havia uma melhora.
Daquela
vida cansado
E
pensando em melhorar
Joãozinho
o filho mais velho
Pediu
ao pai pra casar
Seu pai
lhe deu permissão
Tinha
ele no coração
Uma
moça do lugar.
Joãozinho
onde morava
Era bem
relacionado
Apesar
da sua pobreza
Nunca
lhe faltou agrado
Das
moças da vizinhança
Com ele
tinham esperança
De um
futuro dourado.
A jovem
de quem gostava
Era uma
linda mocinha
Filha
de família pobre
Que da
sua era vizinha
Divina
e maravilhosa
Foi
batizada por Rosa
Mas,
lhe chamavam Rosinha.
Rosinha
era moça bela
Alegre
e muito sincera
Sendo
fruto dos valores
Da
educação que tivera
Não
havendo na sua classe
Quem da
jovem não gostasse
Por
tudo que ela era.
Ela já
alimentava
Amizade
por Joãozinho
Sempre
dedicou pra ele
Amor
sincero e carinho
Foi
daquele sentimento
Que
trouxe pro casamento
Muito
amor ao novo ninho.
Depois
do seu casamento
Joãozinho
foi trabalhar
Comprando
gado e vendendo
Dentro
e fora do lugar
Melhorou
de condição
Até o
pai e o irmão
Começou
a sustentar.
Comprando
gado de fora
E
trazendo pra cidade
O
negócio foi crescendo
Com
muita facilidade
Seu
capital aumentando
Em
pouco tempo alcançando
A maior
prosperidade.
Comprou
uma casa grande
Para os
parentes morar
Pra seu
pai e pra Zezinho
Sem
ninguém se preocupar
Porque
nada ali faltava
Pois
tudo que precisava
Tinha
dinheiro pra comprar.
Rosinha
muito feliz
Ao lado
do seu amado
Vida de
menina pobre
Já
ficara no passado
Era uma
esposa decente
Querida
por toda gente
Lá
daquele povoado.
Três
anos de casamento
Folga
Joãozinho não tinha
A
esposa ficou grávida
Teve
uma linda filhinha
Aumentou
o sentimento
Com
grande contentamento
Para
Joãozinho e Rosinha.
Ele
conservava um hábito
Toda
vez que viajava
Na
saída e na chegada
Na casa
do pai passava
Para
falar de Rosinha
E da
querida filhinha
Que ao
pai recomendava.
Sem
saber do sentimento
Que
no seu pai existia
Um
grande peso na alma
Mas o filho
não sabia
Muita
inveja e ambição
Transbordando
o coração
Onde o
mal prevalecia.
Era uma
carga pesada
Que
ninguém imaginava
No
coração ninguém anda
E o
velho disfarçava
Tudo
aparentava bem
Filho
bom virtude tem
Do pai
não desconfiava.
Vendo o
dinheiro do filho
Nele a
inveja cresceu
Trabalhou
tanto na vida
Lutou e
nunca venceu
Ficou
com a alma pesada
E a
mente perturbada
Do mal
seu espírito encheu.
Falando
ao filho Zezinho
O seu
tom era zangado
Dizendo
- Não quero mais
Viver
aqui humilhado
Joãozinho
só dar migalha
Todo
tempo ele trabalha
Ganha
dinheiro avultado.
Zezinho
disse -Papai
Não
fale assim por favor
Joãozinho
tem sido bom
Comigo
e com o senhor
Quem
lhe ouvir falar assim
Pensará
que ele é ruim
Uma
pessoa sem valor.
Após
essa discussão
O velho
foi conformado
Não
falou mais com o filho
Cada um
ficou calado
Zezinho
achou uma afronta
Porém
não levou em conta
O que o
pai tinha falado.
Joãozinho
vinha chegando
Manifestava
alegria
Tudo
caminhava bem
No
negócio que fazia
Amava
muito seu pai
Pensava
consigo vai
Do
jeito que ele queria.
Chegando
dessa viagem
Ele
estava satisfeito
Abraçou
seu pai dizendo
Tudo
faço a seu respeito
Vai
trabalhar e ter valor
Para
ajudar o senhor
Vivo
alegre desse jeito.
Ele
sabendo que o pai
Desejava
trabalhar
Pensava
então num açougue
Que
pretendia montar
Com seu
pai ficava sócio
Desse
promissor negócio
Onde os
dois iam lucrar.
Assim
que o filho saiu
O pai
falou pra Zezinho
-Acho
bom que você saiba
Que
quero roubar Joãozinho
Dinheiro
tem a vontade
E me
vem com falsidade
Se
fazendo de bonzinho.
Zezinho
ficou trêmulo
Só de
ouvir o pai falando
Pois
roubar o próprio filho
Que
vinha os dois sustentando
Lembrou
da necessidade
Na
pobreza de verdade
Cresceu
sem viver roubando.
O velho
muito invejoso
Então
começou pensar
Na
fortuna de Joãozinho
Numa
forma pra roubar
Em
Zezinho ele pensou
Porém
não lhe convidou
Pois
não iria aceitar.
Zezinho
tinha lhe dito
Que
jamais aceitaria
Ir
roubar o seu irmão
Naquilo
nem pensaria
Que
maldade sem tamanho
Não se
faz nem com estranho
Que é
imensa a covardia.
Com
esse mau pensamento
Que ele
trazia escondido
Mantendo
dentro guardado
Fingiu-se
entristecido
Pensou
quando viajasse
Antes
que ele voltasse
Já
teria acontecido.
Rosinha
naquela noite
Dormindo
ela sonhava
Que
dois ladrões mascarados
Na
porta dela chegava
Dois
monstros sem confiança
Matavam
ela e a criança
Muito
aflita ela acordava.
De
manhã ela contou
O sonho
para o marido
Contando
o sonho ela estava
Com semblante
entristecido
Ele
ouvindo com carinho
Lhe
disse-Sonhar benzinho
É
ilusão do sentido.
Na
noite daquele dia
Joãozinho
ia viajar
Ela
falou - Que no sonho
Não
parava de pensar
Que não
fosse, desse um jeito
Mas
tendo negócio feito
Disse
-Não posso ficar.
Ele
confortou-a dizendo:
Tenha
fé e confiança
Preciso
dessa viagem
Não
posso fazer mudança
Para
lhe dar guarnição
Vem meu
pai e meu irmão
Fazer
toda segurança.
A
segurança é por conta
Do meu
pai e meu irmão
E sendo
um pedido meu
Eles
nunca deixarão
Enquanto
eu estiver fora
Sem
descuidar uma hora
Lhe
dando toda atenção.
Ela
ainda argumentou
Que seu
marido ficasse
Isso
não era por quê
Em seu
pai não confiasse
Do
sonho estava abalada
Só
ficava sossegada
Se ele
não viajasse.
Ele não
pode atender
Aos
apelos da amada
Preparou-se
pra viagem
De doze
pra madrugada
Na casa
do pai passou
E com
ele conversou
Pra
poder pegar jornada.
Na
conversa com o pai
Joãozinho
também contou
Sobre o
sonho de Rosinha
Seu pai
se prontificou
Dando
toda garantia
Que a
segurança faria
Com
isso ele confiou.
Na hora
que ele saiu
O velho
pai sem demora
Acordou
também Zezinho
Com uma
surra nessa hora
Uma
máscara nele botou
Outra
no rosto amarrou
E
saíram porta afora.
O velho
muito apressado
Zezinho
lhe acompanhando
Pedindo
perdão a Deus
Da
sorte se lamentando
Na mais
difícil missão
Com
aperto o coração
Seu
rosto o pranto banhando.
Apenas
dezesseis anos
Considerado
um menino
Governado
pelo o pai
Que
tinha gênio assassino
Por
força lhe acompanhava
Pois
ainda não mandava
Direito
no seu destino.
Com a
saída de Joãozinho
Rosinha
viu o abandono
Igualmente
um cão perdido
Dentro
do mato sem dono
Com a
filhinha ao seu lado
Embora
com muito enfado
Nunca
pegava no sono.
Ela
pensava no sonho
Quando
escutou a pancada
Alguém
batendo na porta
Igual
na noite passada
Ela
aguçou os ouvidos
Percebeu
fortes ruídos
Da
porta sendo quebrada.
Terminando
a zoada
Ela
notou que entraram
Estavam
dentro da casa
Em todo
canto pisaram
Sentindo
que ia morrer
Pediu
pra Deus socorrer
Quando
eles encostaram.
Abraçando
sua filhinha
Quando
um se aproximou
Pegou
com força a criança
Dos
braços dela arrancou
Segurando
num dos braços
Puxou
um punhal de aço
Na hora
ela desmaiou.
Ele
apunhalou Rosinha
Porque
estava irritado
Por não
encontrar dinheiro
Depois
de ter revirado
A casa,
e sem esperança
Jogou
pra cima a criança
Deixando
o punhal cravado.
Jogou
na primeira sala
Sem
desistir da jornada
Revirando
a casa inteira
Porém
não encontrou nada
De
procurar se cansou
Sem
dinheiro ele ficou
Feito
uma fera assanhada.
De
caçar tanto o dinheiro
Não
viram o tempo passado
Dinheiro
não tinha em casa
Estava
depositado
Procurando
insistiram
Só
pararam quando viram
Que
alguém tinha chegado
Joãozinho
seguiu viagem
Já
estava bem distante
Pensava
muito em Rosinha
Quando
viu naquele instante
Seu
cavalo refugar
Cavar o
chão relinchar
E não
dar um passo adiante.
Apertou
nele as esporas
Ele não
lhe obedeceu
Puxado
pelo o cabresto
Foi
inútil o esforço seu
Quando resolveu
voltar
Viu o
cavalo disparar
Como
nunca aconteceu.
Sem
chicote e sem esporas
Numa
carreira disparada
Que
quando chegaram em casa
Era
três da madrugada
Vendo a
casa toda acesa
Ele
exclamou com surpresa
Rosinha
ainda acordada!
Viu o
seu portão quebrado
Dois
vultos sair correndo
Foi
sacando o seu revólver
Na
noite eles se escondendo
Fez a
arma detonar
Conseguindo
acertar
Ainda
nada entendendo.
Entrando
ligeiro em casa
Foi a
mulher procurar
Passando
a primeira sala
O
calçado quis pregar
Era a
criança que estava
No
sangue dela marcava
O seu
rastro no lugar.
Seguiu
direto pro quarto
Viu a
porta escancarada
O
quarto desarrumado
A porta
também quebrada
Começou
queimar a alma
Não
pode manter a calma
Ver
Rosinha ensanguentada.
Agiu igualmente
um louco
Com a
alma muito ferida
Por
causa do seu trabalho
Sua
mulher perdeu a vida
Com seu
coração quebrado
Porque
não tinha encontrado
Junto à
filhinha querida.
Se
sentindo amargurado
No
desespero ele chorou
Novamente
veio pra sala
E seu
rastro observou
Com o
sangue no chão marcado
Também
com o punhal cravado
A
filhinha ele encontrou.
Foi ao
terreiro sentindo
Muita
dor no coração
Olhando
para os bandidos
Os dois
caídos ao chão
Quando
as máscaras retirou
Na
mesma hora notou
Ser seu
pai e seu irmão.
Chorou
porque os bandidos
Que ele
tinha matado
Era o
pai e o irmão dele
Pra
quem tinha confiado
Os
cuidados de Rosinha
Mataram
ela e a filhinha
Oh que
gênio desgraçado!
Ficou
muito atordoado
Depois
daquele ocorrido
Quase
perdeu o controle
Seu
mundo estava perdido
Seus
nervos virou bagaço
Da
família todos os laços
Tinha
desaparecido.
Joãozinho
foi á polícia
Contou
o que aconteceu
Entregou-se
a prisão
Porém
ninguém lhe prendeu
Sem a
esposa e sem filha
Ele
seguiu outra trilha
Dali
desapareceu.
Saiu
montado a cavalo
Daquela
delegacia
Lamentando
a triste sorte
Foi
aquele o pior dia
Pegou
um novo caminho
Precisava
andar sozinho
Com a
tristeza em companhia.
Quando
foi menino pobre
Sofreu
por necessidade
Nunca
pensou que riqueza
Trouxesse
infelicidade
Que
inveja e ambição
Fosse
encher o coração
Do pai
com tanta maldade.
Ninguém
ouviu mais falar
Qual
foi dele, a trajetória
Mamãe
contava pra gente
Guardei
tudo na memória
Disse
ela, que um violeiro
Cantando
com o companheiro
Divulgava
a triste história.
F I M