QUANDO
A MENTIRA FAZ BEM
José
Edimar
Virício foi um sujeito
Que
tinha um papo gostoso,
Com
piadas e gracejos
Na
história de Trancoso,
Reunindo
multidão
Por ser
muito mentiroso.
Morava
na Parnaíba
Estado
do PIAUÍ,
Vivendo
naquela encosta
O mesmo
nascera ali,
Todas
as vantagens do mundo
Ele
apontava pra si.
Contou -
me que certa vez
Estava
na pindaíba,
Tudo
que tinha era apenas
A
sombra da bicuíba,
Estava
até decidido
Deixar
sua Parnaíba.
01
A
mulher estava grávida
No
final da gestação,
Já nos
dias de parir
Ele sem
ter condição,
De
comprar nem o almoço
Seu
bolso sem um tostão.
Na
situação horrível
Não
valia uma capoca,
Um
amigo ofereceu - lhe
Dez
cargas de mandioca,
Pra ele
fazer farinha
Também tirar tapioca.
E ele
tendo a certeza
Que
doutra forma não vinha,
Conversou
com a mulher
Pois em
casa nada tinha,
Aproveitaram
a mandioca
Foram
fazer a farinha.
Chamou
também um amigo
Que na
cidade arranjou,
Para
lhe ajudar na arranca
Enquanto
esse arrancou,
Num
burro do seu vizinho
A
mandioca carregou.
02
Durante
a noite rasparam
Terminando
ao clarear,
Usaram
o aviamento
Para a
mandioca ralar,
Que em
seguida prensava
Para na
tarde torrar.
Os dois
puxando na roda
Soqueando
com vontade,
Com
duas horas o serviço
Tinham
ralado a metade,
Porém a
roda arrancou
Saindo
em velocidade.
Virício
mais o colega
Saíram
logo à procura,
Seguindo
o rastro da roda
Avistaram
ela segura,
Em dois
ganchos e rodando
Em alta
temperatura.
Rodava
que parecia
Puxada
por um motor,
Eles pensavam
que fosse
A zuada
dum trator,
Pensaram
em aproveitar
Já
trazendo o ralador.
03
Chegando
muito apressados
Fizeram
toda mudança,
Da casa
de farinhada
Com ajuda
da vizinhança,
Ralaram
toda mandioca
Pra
depois encher a pança.
A roda
rodou sozinha
Foi à
mandioca ralada,
Durou
menos duma hora
A massa
estava prensada,
A noite
chegaram em casa
Com a
farinha já torrada.
Ele
pensou: tem farinha
Só tá
faltando à mistura,
Cedinho
eu vou é caçar
Pra ter
casa em fartura,
Preciso
passar igual.
Qualquer
outra criatura.
Pegou
cedo à espingarda
Dirigiu-se
para o mato,
Pólvora,
bucha, faltou chumbo
Foi
onde botava o prato,
Tirou o
prego e levou
Primeiro
avistou um gato.
04
O prego
na espingarda
Era um
tiro pra fazer,
Se
atirasse e errasse
o prego
ia se perder,
Enxergou
dezoito louros
Sentando
ali pra comer.
Pensou
consigo: danou-se
– Como devo
agir agora,
Vou
atirar nesses louros
E baixo
o cano na hora,
Mas
posso errar no gato
Ele
corre e vai embora.
E Desse
jeito ele fez
Nos
louros logo atirou,
Descendo
o cano na hora
Naquele
gato apontou,
Tão
rápido quanto o estouro
Que da
arma detonou.
Naquela
hora caíram
Doze
louros sobre o chão,
Também
derrubou o gato
Tomou logo
a decisão,
De ligeiro
agradecer
Ao Deus
pai da criação.
05
Levantou
as mãos ao céu
Passou
um Jaó voando,
Pegou e
baixou em terra
Agradecido
ajoelhando,
Bem em
cima dum tatu
Que já
ia atravessando.
Ele
juntou toda caça
Que
havia conseguido,
Resolveu
ir procurar
O prego
que foi perdido,
Quando
passou num riacho
Que ia
noutro sentido.
Continuou
caminhando
Quando
desceu a ladeira,
Ouviu
grande labaceu
Uma
grande miadeira,
Pois
era um gato pregado
Na raiz
de catingueira.
O prego
prendeu no rabo
E o
gato estrebuchou,
Quando
avistou o Virício
Na testa
o couro rachou,
Que a
carne saiu correndo
Somente
o couro ficou.
06
Virício
arrancou o prego
E
ilhando admirado,
Com
aquele couro nas mãos
Quando
voltou apressado,
Viu
mais água no riacho
Que
atrás tinha deixado.
O prego
naquele tiro
Num
cortiço atravessou,
De Uruçu
com muito mel
Sobre a
terra derramou,
Aproveitou
cinquenta litros
Muito
mais de cem ficou.
Quando
ele chegou em casa
Viu o
grande conteúdo,
Doze
louros, um tatu.
Nambu e
gato rabudo,
Mel de
Uruçu e farinha
Ele
tinha quase tudo.
Porém
chegou a tardinha
Quase hora
do jantar,
Não
estava satisfeito
Desejava
inda pescar,
Pegou
um anzol bem grande
Isca e
fumo pra levar.
07
Ele
pensava voltar
Antes
do amanhecer,
Trazendo
peixe à vontade
Pois
desejava comer,
Pirão
de farinha nova
Que
acabara de fazer.
Chegando
a beira do rio
Da
noite ainda cedinho,
Para
espantar os mosquitos
Fez
cigarro acochadinho,
Sentou
onde não havia
Murmurar-carrapatinho.
Pegou
algumas traíras
Num
paneiro colocou,
Jogou o
anzol de novo
Porém o
mesmo enganchou,
Teve
que descer nas águas
Nisso
um peixe lhe tragou.
Já na
barriga do peixe
Rio
abaixo viajando,
Se
esforçando pra sair
De todo
jeito tentando,
Lembrou
do cigarro e fez
E saiu
logo fumando.
08
O peixe
embebedou - se
Que a
fumaça era demais,
Vindo
até a beira da água
Vomitar
ele no cais,
Deixando
lá desmaiado
Por uma
hora ou mais.
Quando
acordou não sabia
Direito
o lugar que estava,
Durante
vinte minutos
Quase
nada se lembrava,
Ao
banhar no Parnaíba
Sua memória
retornava.
Conheceu
ser Teresina
Ao lado
do troca-troca,
Lembrou-se
da Parnaíba
Da
farinha da mandioca,
Desejou
tanto comer
Um
beiju de tapioca.
Passou
pela Paissandu
Pouca
gente acordada,
Igreja São
Benedito
A Frei
Serafim parada,
Foi
direto a Estação
As duas
da madrugada.
09
Encontrou
somente um guarda
No pé
dum poste encostado,
Vigiando
no local
Do frio
estava gelado,
Tinha um
pequeno boteco
Que não
estava fechado.
Conversando
com o guarda
Disse que
queria ficar,
Até que
amanhecesse
Começou
logo contar,
Que
morava em Parnaíba
Como
ali fora parar.
O
guarda com muito frio
De vez
em quando saia,
Tomar
um gole de cana
Para
ver se conseguia,
Suportar toda frieza
Que a madrugada fazia.
Numa
das vezes que foi
Virício
pôs se a pensar,
Se o
guarda tivesse armado
Depois
de embriagar,
Quisesse
bancar valente
Como
podia escapar.
10
Tinha
ali um canhão velho
Por
mais dum século parado,
Da
guerra do Paraguai
As
tropas tinham deixado,
Pra levar
futuramente
Devido
ser tão pesado.
Ele
pensou no canhão
– Serve
pra me esconder,
O guarda
já está queimado
Talvez
nem vá perceber,
Nem
sentir a minha falta
Porque
só pensa em beber.
Pensava
que o canhão
Tivesse
descarregado,
Mas
fazia uma semana
Que o
guarda fora apertado,
Quando
deu guarita a outro
Que
chegara aperreado.
Há oito
dias passados
Na
entrada da Piçarra,
Zé
Rocha do Mafuá
Em uma
criança esbarra,
Chorando
a noite na rua
Vai lhe
acudir ela esparra.
11
Era
meia-noite em ponto
E a
criança sem ninguém,
Aquele
bebê chorava
Zé
Rocha pensou também,
De
socorrer a criança
E entregar
para alguém.
Tinha o
corpo de bombeiros
Mas sem
ninguém no local,
Foi
acudir o menino
Viu uma
coisa anormal,
No
momento ela cresceu,
Que
ficou descomunal.
Zé
Rocha foi assombrado
Correndo
para a estação,
Quando
avistou lá um guarda
Fardado
no seu plantão,
Encostado
ao pé do poste
Que
fazia a guarnição.
Mas não
era o titular
Esse era
um intrometido,
O outro
bebia muito
Pro
boteco tinha ido,
Ficando
esse encostado
Em
posição de sentido.
12
E Zé
Rocha apavorado
Contou-lhe
o que aconteceu,
Que ao
socorrer a criança
No
momento ela cresceu,
Disse o
guarda: foi rapaz
Pois o
menino sou eu!!!.
E cresceu
rapidamente
Que do
poste foi passando,
Zé
Rocha caiu tremendo
Pois
estava desmaiando,
Na hora
que outro guarda
Do
posto ia aproximando.
O
guarda assistindo tudo
Ficou
impressionado,
Com a
visão da meia-noite
Igual
um guarda fardado,
Pois há
meia hora antes
Já
haviam papeado.
Daquele
dia em diante
O
guarda foi prevenido
Pólvora
bucha pro Canhão
Ele
tinha adquirido
Sem
ninguém saber de nada
Fez
tudo isso escondido.
13
Uma
semana depois
Foi que
Virício chegou
Enquanto
ficou sozinho
Sem ter
o guarda pensou:
– Vou me
esconder no canhão
E no cano
dele entrou.
Depois
de tomar um gole
O
guarda voltou legal
Não
vendo Virício disse:
–
Aquele era um marginal
Devia
está escondido
Ou
fugido do local.
Por
isso não vai ter jeito
Vou
disparar o canhão
Que o
estouro vai dele dar
Para
espantar o ladrão
Se
acaso tiver perto
Vai
tomar sua direção.
Tocou
fogo no pavio
Foi
terrível o estampido
Acordou
o Vinte e Cinco
O BEC
foi sacudido
No
Getúlio Vargas deve
Ter alguém
também morrido.
14
Foi por
causa das mentiras
Que ficou
muito famoso,
Tornou-se
bem conhecido
Por ser
alegre e jeitoso
Não
ofendia a ninguém
Mesmo
sendo mentiroso.
Se
houvesse alguma tristeza
Não
fugia ao sacrifício,
Gastar
tempo com conversa
Não
achava desperdício.
Todo
mundo se alegrava
Com as
mentiras de Virício.
Por
todos cumprimentado
Logo de
manhã cedinho,
Se não
houvesse visita
Pegava
logo o caminho,
Para
uma conversa boa
Tomando
seu cafezinho.
De toda
essa
Que por
ele foi narrada,
Teresina
e Parnaíba
Durante
uma madrugada,
Deixando
o povo em suspense
Sem
explicar a chegada.
15
Virício
não quis dizer
Mais o
que aconteceu.
Tudo
que contou aqui
Ele
afirma que viveu.
Porém
estava na cama
Quando
o dia amanheceu
Todos
que lhe conheciam
Não puderam
acreditar.
Mas a
grande multidão
Sempre
pronta a escutar.
Ele
exercitava bem
O
talento pra inventar.
Sua
mulher agoniada
Um
pouco sem paciência,
Servindo
café ao povo
Ele
fazendo exigência,
Numa
calma exagerada
Virtude
de inteligência.
Virício
com suas mentiras
Nunca
fez mal a ninguém.
Quem
ouvia lhe aplaudia
Por
está feliz também.
Por
isso a história diz
Todo
mundo sai feliz
Quando
a mentira faz bem. FIM
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