O
REI QUE CORTAVA MANGUEIRAS
José
Edimar
Num
tempo muito remoto
Nos
confins da cordilheira,
Em
um antigo reinado
Perto
dum pé de mangueira,
Dois
irmãos se enfrentavam
Numa
luta carniceira.
Essa
luta era pesada
Quase
sempre acontecia,
Só
por causa de trabalho
Quando
o dia amanhecia,
Começavam
nessa arenga
Dia
a fora se estendia.
Antônio
era um caçador
E
brigava com o irmão,
Que
amolava as espadas
Sem
ter outra ocupação,
Para
cortar as mangueiras
Esse
se chamava João.
01
Da
manhã ao meio dia
Numa
luta tão pesada,
A
espada ele amolando
A
tarde ia pra jornada,
Cortando
pés de mangueiras
Sobre
o gume da espada.
Antônio
falava sempre:
Isso
não dá resultado,
Cortar
os pés de mangueiras
Que
além de ensombrado,
Todo
fruto que dá nele
Tem
tanto te alimentado.
Porém
João lhe respondia:
–
Nada disso meu irmão
Só
corto pés mangueiras
Porque
sou um valentão,
Quero
gastar energias
Sem
arranjar confusão.
--
Pois se eu ficar parado
Sem
ter nada pra fazer
Preciso
ir caçar brigas
Para
meu corpo aquecer
E
cortando estas mangueiras
Posso
minha ira conter.
02
E
dizia não ter medo
Nem
de espírito do além,
Que
se viesse assombrá-lo
Era
assombrado também,
Porque
não veio pra o mundo
Pra
ter medo de ninguém.
–
Sou um sujeito valente
Pode
em mim acreditar,
Sendo
dez homens é pouco
Pra
na luta me enfrentar,
Qualquer
batalhão chegando
Preso
não vão me levar.
Antônio
ficou calado
E
saiu para a caçada,
Porém
consigo pensando:
–
Pabula e não vale nada,
Pois
na hora do perigo
Esquece
até da espada.
Quando
chegou lá no mato
Destinou-se
para andar
Viu
que era dia da caça
Depois
de tanto caçar
Pois
estava muito exausto
Sem
uma caça encontrar.
03
Ficou
ali descasando
E
mais tarde despertou,
Passou
a mão sobre o rosto
Um
portão grande avistou,
Aberto
na sua frente
Sem
pensar duas vezes entrou.
Na
frente viu outra porta
Entrou
nela novamente,
Lotada
de ferramentas
Preferiu
seguir em frente,
Passando
meio apressado
Mas
vendo o suficiente.
Cada
porta que ele abria
Via
uma imensa grossura,
Sendo
metal amarelo
Bem
fornida em espessura,
Com
a chave presa dentro
Da
enorme fechadura.
Apareceram
mais portas
Ele
ia abrindo e passando,
Por
causa da claridade
De
longe foi avistando,
Uma
belíssima coroa
Numa
vitrine brilhando.
04
Ficou
muito admirado
Nela
desejou tocar,
Mas
preferiu ir em frente
Noutra
sala foi parar,
Mas
a curiosidade
Queria
lhe dominar.
Avistou
mais ferramentas
E
armamentos guardados,
Enxadas
e roçadeiras
Arco
de flechas, arados,
Lançadeiras,
armaduras
Facões
foices e machados.
Ouviu
vozes lhe chamando
Quando uma porta se abriu,
Chegando um vento tão forte
Que
Antonio não conseguiu,
Segurar-se
e arrastado
Dentro
do quarto caiu.
As
luzes foram acesas
Que
muito claro ficou,
No
centro daquela sala
De
longe ele avistou
Uma
múmia sobre a mesa
Que
Antônio quase gelou.
05
A
porta ali se fechou
Não
tinha como correr,
A
múmia mexeu com a mão
Que
fez seu corpo tremer,
E
cair numa banheira
Sem
nada poder fazer.
Levantou-se
já molhado
Nisso
a múmia se mexia,
A
perna e a mão esquerda
E
ele ali não corria
Pensando:
o bicho me pega
Seu
corpo inteiro tremia.
A
múmia lhe agarrou
Dando
nele um pulo certo,
Mas
não viu o rosto dela
Pois mantinha-se coberto
Lamentou
muito não ter
Uma
espada ali por perto.
Brigaram
por uma hora
Lutando
pra se soltar,
Sentiu
um forte perfume
Que
invadia o lugar,
Um
delicioso aroma
Que
chegava inebriar.
06
Naquela
hora se achava
Completamente
vencido,
Aquele
perfume forte
Tirava
dele o sentido,
Que
talvez no Oriente
Não achasse um parecido.
Não
resistindo exclamou:
–
Será um reino encantado!
Não
conheço esse palácio
Onde
tanto tenho andado,
Não
me lembro coisa alguma
Nem
aqui já ter passado.
Isso
é coisa do outro mundo
Meu
Deus te peço amparo,
Tenha
de mim piedade
Obediência
a ti declaro,
Porque
não quero pagar
O
que devo assim tão caro.
Enquanto
Antônio gritava
Algo
ali aconteceu,
Uma
pequena raladura
No
braço a múmia sofreu,
E
houve transformação
Logo
o dia amanheceu.
07
Sendo
tudo transformado
Numa
tremenda beleza,
A
múmia que era defunta
Tornou-se
linda princesa,
Aqueles
quartos escuros
No
Palácio a realeza.
Mas
pelas damas da corte
Foi
à princesa levada,
Antônio
ficou sozinho
Numa
tristeza danada,
Levaram-lhe
pra vestir-se
Também
com roupa adequada.
Foi Antônio conduzido
Para
um quarto reservado
Onde
havia lindas roupas
Onde
ele foi bem trajado,
Parecendo
com o príncipe
Daquele
reino encantado.
Foi
ao quarto da princesa
Sentiu
chegar novo dia,
A
princesa bem trajada
Radiante
de alegria,
Recebeu-lhe
como rei
Com
beleza e simpatia.
08
Foi
logo lhe agradecendo
Por
tudo que havia feito,
Desencantando
seu reino
Assim
ganhado o direito,
Se
quisesse ser o rei
Seu
nome seria aceito.
Mas
faltava uma coisa
Ela
pediu insistente,
Pra
que o encanto deixasse
O
reino completamente,
Precisava
a mesma ação
Mas
feita por um parente.
Porque
tinha uma irmã
Que
estava ainda encantada,
Se
não tivesse um parente
Pra
terminar a jornada,
Todo
esforço até ali
Não
teria valido nada.
Faltava
apenas três dias
E
precisava resolver,
Pra
não voltar o encanto
quando
o prazo se vencer,
Que
depois disso não havia
Nada
mais para fazer.
09
Enquanto
estiver comigo
Se
esforce pra lembrar,
Se
tem um parente próximo
Preciso
que vá buscar,
O
mesmo que você fez
Ele
tem que enfrentar.
Os
três dias passarão
Numa
grande rapidez,
Nosso
reino corre o risco
Assim
encanto se fez,
Não
resolvendo o problema
Volta
tudo outra vez.
Se
você tiver irmão
Deve
buscar bem ligeiro,
Pra
terminar o que falta
É
como um tiro certeiro,
Não
dar pra cometer falha
Tem
que agir como guerreiro.
Conseguindo
resolver
Vamos
ter felicidade,
Se
perdermos não seremos
Uma
nação de verdade,
Para
sempre sofreremos
A
cruel fatalidade.
10
Antônio
disse não tenho
Nenhum
amigo ou irmão,
Esqueceu
completamente
Até
das brigas com João,
Pra
desencantar o reino
Pensou
não ter solução.
Não
lembrando do irmão
A
princesa aperreou – se,
Começou
fazer perguntas
Pra
lembra seja o que fosse
Quando
falou em mangueiras
Aí
Antônio lembrou – se.
E
logo gritou afoito
Dizendo:
tenho um irmão
O
cortador de mangueiras
Que
é o rei da confusão,
Com
certeza não virá
Por
nenhuma condição.
João
não serve pra nada
Pois
nunca quis trabalhar,
Todo
serviço que faz
É
a espada amolar,
Passando
o dia inteiro
Para
as mangueiras cortar.
11
A
princesa satisfeita
E
muito mais animada,
Disse:
Traga o valentão
Que
a luta vai ser pesada,
Vai
ser ele o vencedor
Porque
é bom na espada.
Antônio
saiu às pressas
Para
buscar seu irmão,
Quando
saiu do palácio
Notou
a transformação,
Estava
na mesma sombra
Sentado
naquele chão.
Ele
olhou pra todo lado
Mas
só enxergava mato,
Ficou
pensando: foi sonho
Mas
dava a mente o relato,
Mostrando
toda clareza
Vinha
tristeza e maltrato.
Lembrou-se
da sua princesa
Ficou
muito pensativo,
Aquele
acontecimento
Dentro
dele estava vivo,
Voltar
novamente ao reino
Era
o seu objetivo.
12
Foi
à casa onde morava
Pra
tentar se convencer,
O
cortador de mangueiras
Lhe
ouviu mas não quis saber,
Dizendo:
daqui não saio
Quero
cumprir meu dever.
Antônio
não conseguiu
Nada
que o convencesse,
Falar
de reino encantado
Não
despertava interesse,
Tinha
que apresentar algo
Que
a João amolecesse.
Naquilo
Antônio lembrou-se
Daquelas
lindas espadas,
Que
avistou naqueles quartos
De
ouro bem cravejadas,
Pensou:
João não resistirá
Para
vê-las amoladas.
Disse
João: vim te buscar
Porque
andando encontrei,
Um
quarto cheio de espadas
Quando
vi eu me lembrei,
De
te trazer mas não pude
Lá
mesmo onde vi deixei.
13
João
ficou ligeiro eufórico
Porém
temendo perigo,
Disse:
nunca houve um dia
Que
eu não brigasse contigo,
Vem
querer me dar presente
Acreditar
não consigo.
O
irmão falou de novo:
–
Tenta me compreender,
Se
isso não for verdade
O
que tu podes perder,
É
o tempo de ir e vir
Se
nada puder trazer.
–
Lembra que tuas espadas
Já
afinaram o bastante,
De
tanto serem amoladas
Como
é que te garante,
Um
bom corte nas mangueiras
Como
será mais adiante.
E
tu trazendo as espadas
Tudo
vai ser diferente
Se
fizer competições
Quem
ganhará certamente
Quem
tiver espadas novas
Que
será o mais valente.
14
Depois
de pensar um pouco
João
disse: tu tens razão,
Até
agora foi sozinho
Que
enfrentei a profissão
Mudarei
de hoje em diante
Vou
reunir multidão.
E
disse: vamos embora
Foi
empurrando o irmão,
Só
pensava nas espadas
Prestando
pouca atenção,
Chegaram
encontraram abertas
A
entrada do portão.
João
avistou uma porta
Recuou
pra não entrar,
Para
enganar seu irmão
Antônio
fingiu passar
Voltando
a porta fechou
Ainda
ouviu João gritar.
Tentando
sair não pôde.
A
andar continuou,
Quando
avistou as espadas
Dez
na cinta ele amarrou,
Quando
avistou a coroa
Na
cabeça colocou.
15
Pondo
ela em sua cabeça
Amarrou
como podia,
Dizendo:
essa aqui é minha
Lutarei
com valentia
Mas
serei rei do reinado
Minha
espada é garantia.
Na frente viu outra porta
Por
ela foi logo entrando,
Tudo
quanto ele avistava
Amarrava
pendurando,
Ficou
num peso tremendo
Mas
continuou levando.
Gritando
por seu irmão
Quando
as luzes se acenderam,
Na
sala viu um defunto
Todos
seus membros tremeram,
Também
os braços e pernas
Daq1uela
múmia mexeram.
Começou
chamar o irmão
E
jogar as coisas fora,
Ficou
espada e coroa
Ele
querendo ir embora,
A
múmia deu-lhe um abraço
Quase
que morre na hora.
16
A
múmia encolheu a perna
Depois
a outra também,
Começou
seu desespero
Agitado
a mais de cem,
Saiu
correndo e gritando
Antônio
o bicho já vem!
Fugindo
daquela múmia
Ligeiro
como uma bala,
Quando
um cheiro de perfume
Encheu
toda aquela sala,
João
num medo tão terrível
Engasgou
perdeu a fala.
Porém
corria e pensava
Meu
Deus que perfume é esse,
Durante
a vida inteira
Não
senti um cheiro desse,
Com
tanta suavidade
Que
todo lugar enchesse.
Com
a múmia lhe agarrando
Quis
sair não conseguiu,
Sua
espada da cintura
No
momento escapuliu,
E
quando caiu no chão
A
mão da múmia feriu.
17
Tudo
ali se transformou
Como
já era esperado,
A
luta foi no escuro
Mas
havia clareado,
João
não percebeu por que
Estava
ali desmaiado.
O
reino desencantou-se
Todos
estavam gritando,
De
coroa na cabeça
Foi
ali João despertando
Já
saudado como rei
Quando
estava levantando.
Avistando
as princesas
Que
estavam desencantadas,
Percebeu
tanta beleza
Parecendo
santas ou fadas,
João
foi descobrindo ali
Perder
tempo com espadas.
A
primeira princesinha
Chamava-se
Angelina,
Essa
parecia um anjo
Duma
beleza tão fina,
Ainda
era muito jovem
Tinha
o rosto de menina.
18
A segunda parecia
Com
uma santa em andor,
Quem
olhasse já sentia
No
coração muito amor,
Essa
se chamava Rosa
Era
linda como a flor.
João
jamais tinha sonhado
Ficar
junto com princesa,
Foi
levado ao vestuário
Vestira-o
de realeza
Não
se afastou da coroa
Estava
na sua defesa.
Para
começar a festa
Foram
todos pra o salão
Onde
escolheriam o rei
Pra
governar a nação
A
princesa fez Antônio
Tomar
essa decisão.
Antônio
encostou-se a João
Mantendo
ele aberturado,
Pela
gola perguntando:
Quer
governar o reinado,
Vai
fazer tudo direito
Depois
que for coroado.
19
João
ali fez juramento
Dizendo
que sempre quis,
Ser
rei ter autoridade
Fazer
seu povo feliz,
Também
casar com princesa
E
governar o país.
Novamente
Antônio voltou
Pra
falar naquele instante,
Dizendo:
João é o rei
Do
reinado de hoje em diante
Todos
ali aplaudiram
Foi
muito emocionante.
Celebrou-se
em poucos dias
Dos
casais o casamento,
Antônio
com Angelina
Com
todo merecimento,
E
João casou com Rosa
Com
grande contentamento.
Antônio
o bom caçador
Não
precisou mais caçar,
Depois
do seu casamento
Começou
a viajar,
Com
sua linda esposa
Foi
viver sem trabalhar.
20
Foram
conhecer o mundo
Que
a princesa desejava,
Por
que viveu encantada
Sem
saber o que passava,
Muitos
anos no passado
Pouca
coisa se lembrava.
Pois
Antônio agora estava
Na
vida que mais queria,
Viajar
e ser feliz
A
princesa em companhia,
Não
faltava era motivo
Para
sentir alegria.
João
sendo rei escolhido
Não
podia se ausentar,
Tendo
a princesa de lado
Precisava
governar,
O
povo esperava dele
Como
iria trabalhar.
João
sentando-se no trono
Tomou
logo a decisão,
Para
alegrar sua corte
A
grande competição,
Cortadores
de mangueiras
Houve
grande animação.
21
Começou
plantar mangueira
No
reino pra todo lado,
Convocou
um grande exército
Todo
mundo bem treinado,
Pra
essa competição
Tinha
que ser preparado.
Treinamento
e exercício
Era
o corte das mangueiras,
Preparou
competições
Formando
grandes fileiras,
Os
troncos que eles deixavam
Servia
como trincheiras.
Ficaram
então conhecidos
Exército
de valentões,
Nas
batalhas em campo livres
Ou
grandes competições
Não
perdiam pra ninguém
Sempre
foram os campeões.
João
ficou bem conhecido
Por
cortador de mangueira,
Sendo
agradável com o povo
Pois
era um rei de primeira,
Muito
alegre e cordial
Que
amava a brincadeira.
22
O
reino foi garantido
Vivendo
assim bem seguro
O
exército preparado
Nunca
passou por apuro
E
ainda preservaram
A
manga para o futuro.
Foi
a partir do seu reino
Que
essa fruta apareceu,
Conhecida
no Nordeste
Quem
dessa fruta comeu,
Mesmo
passando cem anos
Dela
nunca esqueceu.
Tem
cheiro maravilhoso
Pra
comer é saborosa
Adoro
a peito de moça
Espada,
cajá e rosa.
Tem
grande variedades
Cada
qual a mais gostosa.
Essa
fruta abençoada
Engrandece
meu país,
Cada
terreno comprado
Um
belo plantio eu fiz
Que
mangueira carregada
Faz
nordestino feliz. - FIM
23
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