PELEJA
DOS POETAS VIOLEIROS
Pedro
Bandeira e Manoel Xudu
PB—Colega
Manoel Xudu
Abra
o palco da cortina,
Se firme
bem na cadeira
Erga
o peito e se previna,
E diga
como deixou
A cidade
de Carpina.
MX- Vai
bem minha Planaltina
De poetas
um viveiro,
Situada
entre Paudalho
Nazaré
e Limoeiro,
E agora
mandou seu vate
Vir visitar
Juazeiro.
PB- Mas
você não é romeiro
Nem comprador
de pequi,
Nem carola
nem turista
Ninguém
lhe esperava aqui,
Sem eu
lhe dar carta branca
Pra entrar
no Cariri.
MX-
Eu vim porque conheci
Que havia
necessidade,
De conhecer
os colegas
Que moram
nessa cidade,
E saber
se o novo príncipe
Tem ou
não autoridade.
PB-
Saiba que sou majestade
No reinado
poesia,
Você
pra cantar comigo
Precisa
ter fidalguia,
Nobreza,
brio e respeito
Honra
e aristocracia.
MX-
Há tempo que conhecia
A fama
do meu amigo,
Porém
eu sou dos poetas
Que nunca
teme perigo,
Só digo
que um cabra canta
Depois
que cantar comigo.
PB-
Você está no meu abrigo
Se não
quiser passar fome,
Respeite
meu auditório
Meu cetro
e meu cognome,
Minha
esposa e minha filha
Minha
plateia e meu nome.
MX-
Acho bom que você tome
O conselho
que lhe dou,
Estou
no seu auditório
Mas seu
escravo não sou,
Penetre
em qualquer terreno
Que se
eu puder também vou.
PB-
O sangue do meu avô
No meu
sangue inda evapora,
Me dando
ideia e talento
Entusiasmo
e sonora,
Pra rebater
desaforo
De repentista
de fora.
MX-
Com sua proposta agora,
Sei que
o jeito que tem,
É eu
lhe dar um acocho
Dos ossos
virar xerém,
Que canto
a vinte e dois anos
E nunca
perdi pra ninguém.
PB-
Eu nunca perdi também
E agora
vou lhe provar,
Que daqui
a meia hora
Você
começa a chorar,
Troca
a viola em cachaça
E nunca
mais fala em cantar.
MX-
É mais fácil se esgotar
O mar
com uma peneira,
Bala
de aço esmagar-se
Em tronco
de bananeira,
Do que
Manoel Xudu
Temer
a Pedro Bandeira.
PB-
É Mais fácil uma caveira
Ter nojo
dum urubu,
Uma cobra
de veado
Se assombrar
com um cururu,
Do que
o príncipe dos versos
Respeitar
Manoel Xudu.
MX-
É Mais fácil um canguçu
Correr
com medo dum bode,
Menino
enjeitar bolacha
Moleque
enjeitar pagode
Do que
eu correr com medo
Dum cantador
sem bigode.
PB-
Nós sabemos que Deus pode
Manobrar
tudo que é seu,
Transformar
o gelo em fogo
Ressuscitar
quem morreu,
Não pode
é criar poeta
Pra cantar
mais do que eu.
MX-
Mas agora apareceu
Miguel
Alencar Furtado,
Que é
Juiz e deu um tema
Muito
bem metrificado,
E vamos
saber do tema
Quem
canta mais inspirado.
Dr.
Miguel de Alencar Furtado,
Juiz
de Direito de Juazeiro do Norte,
Homem
culto e amigo dos poetas
Violeiros,
Presidente da Câmara de
Turismo, pediu que Pedro e Xudu
Cantassem
o seguinte mote:
“Vi
a noite enlutando o horizonte,
Com
saudade do dia que morreu”.
Pedro
Bandeira começou:
PB-
Cinco e meio da tarde mais ou menos
Resolvi
vê de Deus os espetáculos,
Transportei-me
das baixas aos pináculos
Pra poder
me inspirar olhando Vênus,
Comecei
vislumbrar astros pequenos
O cruzeiro
do Sul resplandeceu,
Quando
o rosto da lua apareceu
Eu estava
na crista de um monte,
Vi à
noite enlutando o horizonte
Com saudade
do dia que morreu.
MX-
Quando o sino tocava Ave–Maria
E o
sol se escondia no ocaso,
De um
voo transportei-me ao parnaso
Num balão
que eu fiz de poesia,
Uma estrela
brilhava o sol morria
E a
natura chegava ao apogeu,
Tive
sede e um Querubim me deu
Água
pura tirada duma fonte,
Vi à
noite enlutando o horizonte
Com
saudade do dia que morreu.
PB - Contemplei o azul além do mar
Vi a
treva envolvendo as ondas pardas,
As libélulas
pousaram nas mostardas
E agripinas
saíram do pomar,
Escutei
uma musa solfejar
Uma musica
crida por Orfeu,
Estendi-me
nos braços de Morfeu
Reclinei
no seu busto a minha fronte,
Vi à
noite enlutando o horizonte
Com
saudade do dia que morreu.
MX-
Eu também me achava esmorecido
Numa
tarde perdido no deserto,
Sem achar
um amigo ali por perto
Que indicasse
por onde eu tinha ido,
Quando
o bravo leão deu um rugido
Que o
bosque da serra estremeceu,
Mas o
manto de Deus se estendeu
Parecendo
a varanda de uma ponte,
Vi à
noite enlutando o horizonte
Com
saudade do dia que morreu.
PB- Atendi
ao pedido do Juiz
Mas a
nossa polêmica continua,
Pra você
minha volta vai ser crua
Encomende-se
a Deus pra ser feliz,
Se é
mesmo um poeta como diz
Mostre
aqui sua personalidade,
Se vier
com mentira e vaidade
Entra
grande na luta e sai pequeno,
Nunca
mais quer entrar no meu terreno
Sem primeiro
pedir-me a liberdade.
MX-
Eu não vim procurar inimizade
Com você
seus irmãos e outros mais,
Mas se
quer destruir o meu cartaz
É perdida
de vez sua vontade,
Com poeta
de toda qualidade
No Nordeste
eu tenho combatido,
No Brasil
o meu nome é conhecido
Desde
o Norte ao Sul Leste e Oeste,
Quem
meter-se comigo a fazer teste
Leva
pau perde o jeito e sai vencido.
PB-
Vou coser sua boca e um ouvido
Dou-lhe
um murro na cara estoura os pés,
Cantador
do seu jeito eu dou em dez
Só enquanto
mamãe troca um vestido,
Fuxiqueiro
insultante e desconhecido
Atrasado
sem luz e sem valor,
Decoreba
perverso e traidor
Beberrão
de latada e pé de serra,
Volte
e digas chorando em sua terra
Que agora
encontrou superior,
MX-
Repentista se enche de pavor
Quando
ouve meu verso e meu baião,
Sente
logo tremer o coração
Gela
o sangue, o rosto muda a cor,
Em martelo
eu sou raio abrasador
Cantador
sendo fraco eu dou em cem,
A pancada
que dou é como o trem
Um gigante
pra mim inda é pequeno,
Cascavel
que eu pegar perde o veneno
Só me
curvo a Deus e a mais ninguém.
PB-
Otacílio Batista canta bem
Lourival
é o rei do trocadilho,
Zé Faustino
morreu deixou seu filho
Clodomiro
não perde pra ninguém,
Dr.
Dimas um título também tem
Pinto
velho é o rei do Pajeú,
Louro
Branco e Moacir no Iguatu
Os Irmãos
Bernardino se deleitam,
Todos
esses poetas me respeitam
Quanto
mais uma égua como tu.
O Juiz
disse: -- Xudu
Cantou
bastante inspirado,
Pedro
Bandeira com essa
Ficou
imortalizado,
É nosso
príncipe e não deixa
Outro
tomar seu reinado.
Houve
um abraço apertado
Ente
os poetas famosos,
O povo
dizia: -- Eles
São mesmos
mais fabulosos,
Mais
geniais mais autênticos
E muito
mais caprichosos.
FIM
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