A
MORTE DE ALONSO
E A
VINGANÇA DE MARINA
Leandro Gomes de Barros
ALONSO
e Marina são
Conhecidos
do leitor,
Aquela
que tinha o gênio
De
um leão devorador,
O
titulo do livro dela
É a
FORÇA DO AMOR.
O
leitor deve ter lido
Ou
ter ouvido contar,
O que
Marina sofreu
Para
poder se casar,
De
duas mortes que fez
Mesmo
no pé do altar.
Essas
mortes foram feitas
Com
grande publicidade,
Perante
os maiores homens
Ali
naquela cidade,
Onde
estava o presidente
A maior autoridade.
O
pai quis casá-la a força
Com
quem ela não queria,
Ela
esclareceu ao pai
Tudo
quanto pretendia,
Dizendo
fora de Alonso
Com
outro não casaria.
01
O
barão já tina dado
A um
sobrinho a mão dela,
O
moço veio com o irmão
Para
casar-se com ela,
Ela
matou todos os dois
Encheu
de sangue a capela.
Então
eram quatro irmãos
Os
dois que ela matou,
A
baronesa de Agil
Que
um peixe a devorou,
Braulino
que era pequeno
Dos
quatro foi quem ficou.
O
conde de Montalvão
Sabendo
do ocorrido,
Adoeceu
de repente
Quase
que perde o sentido,
A
mulher quase que morre
Pelo
que tinha sofrido.
O
barão tinha lhe escrito
Contando
todos passados,
Mandou
o punhal com que
Foram
os filhos assassinados,
Dizendo
o barão: -- Fui eu
Quem
fez eles desgraçados.
--
Porém aquela assassina
Um dia
há de me pagar,
Essa
afronta que sofri
Um
dia hei de me vingar,
Embora
saia depois
Pelo
o mundo a mendigar.
02
O
conde disse a mulher:
--
Condessa a nossa esperança,
Firma-se
toda em Braulino
Embora
seja criança,
Mas
ele ainda será homem
Nós
teremos a vingança.
--
Ele não há de saber
De
nada desse ocorrido,
Ninguém
há de lhe tratar
O
que foi acontecido,
Quando
ele tiver idade
Eu
lhe farei o pedido.
--
Este punhal eu o guardo
Onde
ele não possa ver,
Daqui
só posso tirar
Se
eu estiver pra morrer,
Só o
tiro da bainha
Quando
ele me prometer.
Depois
disso doze anos
A
condessa adoeceu,
Atacada
de uma febre,
Não
teve cura morreu,
Pediu
que o conde vingasse
E o
conde prometeu.
Uns
oito anos depois
O
conde Montalvão,
Caindo
muito doente
Viu
que era a ocasião,
De
chamar o filho a si
E
fazer declaração.
03
Chamou
Braulino e lhe disse:
--
Filho do meu coração,
Quero
fazer-te um pedido
Promete
fazer então?
O
pedido provará
Que
és um distinto irmão.
--
Prometo e assim juro
Pois
são direitos sagrados,
O
conde assim mesmo riu-se
Com
os olhos muito fitados,
Perguntou:
-- Vinga meu filhos
Que
foram assassinados?
--
Meu pai e eu tive irmãos?
Braulino
lhe perguntou,
--
Tivestes lhe disse o conde
E
uma fera os matou,
E
por isso tua mãe
Bem
depressa se acabou.
-- Pois
como tu me prometes
Escuta-me
atentamente,
Um
irmão de tua mãe
O
barão de São Vicente,
Que
a mais de dezoito anos
Desta
terra está ausente.
--
Tinha uma única filha
Que
se chamava Marina,
De
uma figura elegante
Porém
de uma alma ferina,
Morreram
teus dois irmãos
Pelas
mãos desta assassina.
04
--
Enamorou-se de um bandido
Sujeito
até enjeitado,
O
pai dela prendeu ele
Ele
peitou um soldado,
Tirou
ele ocultamente
E
botou noutro reinado.
--
Então o barão teu tio
Chamou
teu irmão Renou,
E
deu-a em casamento
Ela porém rejeitou,
No
dia do matrimonio
No
altar ela o matou.
--
Florismundo outro irmão teu
Com
que ele tinha ido,
Viu
quando ela o cravou
Investiu
enfurecido,
Ela
cravou-lhe o punhal
Ele
caiu sem sentido.
--
Teu tio barão pai dela
Ali
a encarcerou,
O
noivo esse tal Alonso
Sabendo
disso voltou,
Mato
o guarda do cárcere
Tirou-a
e carregou.
Braulino
escutava tudo
Quanto
seu pai lhe dizia,
Pois
da morte dos irmãos
Ele
ainda não sabia,
Jurou
ao pai que Alonso
Com
juros lhe pagaria.
05
É
necessário contar
Tudo
quanto aconteceu,
Tudo
que o conde pediu
E
Braulino prometeu,
Para
poder se entender
Toda
questão em que deu.
O
conde de Montalvão
Vendo
que não escapava,
Conhecendo
que o filho
Muita
coisa ignorava,
Pois
ele era o instrumento
Que
o conde tudo vingava.
A
condessa morreu logo
E o
conde ainda ficou,
Ao
cabo de quatro anos
A
moléstia o atacou,
Ele
conhecendo a morte
O
filho junto chamou.
Porque
ele conhecia
Que
dessa não escapava,
Sabia
que era seu fim
Dali
não se levantava,
Outras
recomendações
A
seu filho inda faltava.
Há
mais de dezoito anos
A
dezenove ou a vinte,
Que
o conde Montalvão
Tinha
guardado esse acinte,
Chamando-o
para junto
Disse
a história seguinte:
06
--
Meu filho eu já te contei
Meus
sentimentos passados,
Tu
já sabes, teus irmãos
Por
quem foram assassinados,
Quero
entregar-te o punhal
Com
que foram transpassados.
E
abrindo uma gaveta
Tirou
dela uma caixinha,
E
dentro da velha caixa
Um
punhal velho continha,
Com
as nódoas de ferrugem
Da
folha até a bainha.
Com
os olhos cheios de lágrimas
Em
alta voz exclamou:
--
Meu filho!... vês estas nódoas
Que
aqui mostrando estou?!
Foi
o sangue dos teus irmãos
Que
em ferrugem se tornou.
--
Tua mãe antes da morte
Foi
o que mais me pediu,
Nas
suas últimas palavras
Quando
ela se concluiu,
Foi
pedindo que eu vingasse
Já
morrendo repetiu.
Braulino
se ajoelhando
Exclamou
oh! pai descansa,
Porque
o que tu me pedes
Eu
escrevo na lembrança,
Juro
botar em teu túmulo
O
sangue dessa vingança.
07
O conde
estirando os braços
Os
olhos nele fitou,
-- Meu
filho pegue esta ar...
A
palavra não findou,
Fez
aceno com a mão
Nesse
momento expirou.
Braulino
tomou-lhe o pulso
De
repente entristeceu,
Encontrou
o pai sem vida
Um
grande gemido deu,
Dizendo:
-- Sem pai e sem mãe
Em que
estado estou eu!
-- Meu
pai meu maior amigo
Este
que me deu o ser,
Deixou
ao brotar da vida
Quem
não deseja viver,
Pois
que a vida é tão volúvel
Melhor
fora é não nascer.
-- Eu
hoje sou um visconde
Sou por
diversos cercado,
Morro
amanhã ou depois
Ficando
então isolado,
O que
mais cercou-se de mim
Agora
foge assombrado!
--
Riqueza, opulência, orgulho
Tudo é
cegueira da vida,
O
sentimento moral
Abre na
alma ferida,
Vingança
é uma loucura
Soberba
é sempre abatida!
08
-- Eu
prometi ao meu pai
Eu hei
de cumprir a jura,
Embora
ela me leve
A borda
da sepultura,
Farei
isto mas sabendo
Que não
há maior loucura!
-- Quem
sabe se essa loucura
Não vem
trazer-me o momento,
Que
desça a escada triste
Do
leito vil crapulento,
Me
atirando com urgência
No chão
do esquecimento.
-- Mas
juro hei de cumprir
Não
posso dela afastar,
O que
prometi ao meu pai
Não
posso mais revogar,
A
promessa que se faz
É
obrigado a pagar.
-- Se
eu morrer por causa disso
E for
ao Juiz Divino,
Se for
exato que o homem
Morrendo
toma um destino,
Direi a
Deus: -- Foi meu pai
Que fez
de mim assassino.
Fez o
enterro do pai
Depositou
o dinheiro,
Disse
ao criado: -- Eu morrendo
Você
será meu herdeiro,
Preparei
meus documentos
Deixei
o testamenteiro.
09
E na
cova do colete
Pôs
logo o dito punhal,
Dizendo:
-- Este objeto
É o meu
memorial,
Enquanto
houver mundo eu ando
A fim
de ver meu rival.
E
largou-se pelo mundo
Sem
saber pra onde ia,
Sem
direção sem destino
Sem
saber o que fazia,
Nem
esperou pela missa
Do pai,
no sétimo dia.
Andou
em muitos países
Correu
a Oceania,
Depois
voltou a Europa
Porém
de nada sabia,
A todos
que ele indagava
Nenhum
só o conhecia.
Correu
América Latina
Depois
voltou a Europa,
Disse –
lhe um turco que Alonso
Estava
em Constantinopla,
Tinha
lá sentado praça
Era
capitão de tropa.
Foi ele
a Constantinopla
Chegando
lá não achou,
Um
viajante lhe disse
Que há
dois anos viajou,
Com um
homem chamado Alonso
Que no
Egito ficou.
10
Braulino
foi ao Egito
Como o
viajante dizia,
Chegou
lá encontrou outro
Que com
Alonso parecia,
Era
também espanhol
E
Braulino não conhecia.
O
espanhol disse a ele
Se não
estava enganado,
Alonso
era um indivíduo
Que já
tinha naufragado,
Perto
da Ásia Menor
E por
lá tinha ficado.
Disse
Braulino: -- Eu corri
A
América e a Oceania,
Percorri
em toda Europa
Tive de
encontrar um dia,
Uma
noticia incerta
Que
quase nada valia.
Disse o
espanhol pra ele:
-- Quem
sabe até se o barão,
Não
tenha feito esquecida
Da
filha a ingratidão,
E
Alonso se casasse
E
esteja em união?
-- Pelo
o que diz o visconde
Alonso
foi prevenido,
Se ele
casou-se inda vive
Está
estabelecido,
Com
casa comercial
De nome
bem conhecido.
11
Disse
Braulino: -- Eu corri
Parte
da Ásia menor:
-- Já
correu todo Japão
Parte
da Ásia Maior?
Disse
Braulino: -- Inda não,
Disse o
tal: -- Foi o pior.
Esse
maldito espanhol
Parece
que adivinhava,
Era
mesmo uma certeza
Os
cálculos que ele formava,
Como
quem sabia de tudo
Ou quem
alguém informava.
Braulino
aceitou o plano
Tomou
uma embarcação,
Que ia
no mesmo dia
Com
destino ao Japão,
Embarcou
com um passageiro
Que
conhecia o barão.
Disse
ele ao passageiro
O barão
é meu conhecido,
Mora no
Japão com o genro
Que lá
é estabelecido,
Chama-se
Alonso de tal
Dos
nomes estou esquecido.
Então
Braulino pensou
Que
estava bem dirigido,
A
vantagem era não ser
Por
ninguém lá conhecido,
Acertou
todos os planos
Pra
chegar lá prevenido.
12
Então
chegou ao Japão
Hospedou-se
num hotel,
Lá
achou um japonês
Um tal
de Zurubabel,
Que lhe
pareceu ter caráter
De um
servo muito fiel.
Então
perguntou a ele
Tu
queres ser meu criado?
Zurubabel
respondeu:
--
Quero e lhe fico obrigado,
Pode
contar com seu servo
Lhe
servirei com cuidado.
Braulino
disse: -- É preciso
Eu lhe
expor a condição,
Eu
preciso de um criado
Homem
de disposição,
Que
seja até assassino
Quando
houver ocasião.
Lhe
disse Zurubabel:
-- Eu
não encaro terror,
Eu só
serei assassino
Em
defesa do senhor,
Pois o
crime para mim
É uma
cena de horror.
Disse
Braulino: -- Eu não quero
O
senhor para instrumento,
Apenas vou
preveni-lo
Ao
chegar esse momento,
É
necessário fazer-lhe
Um
grande esclarecimento.
13
-- E é
preciso o senhor
Guardar
bem esse segredo,
Este
fato é quase um drama
É perigoso
esse enredo,
Disse o
servo: -- A não ser roubo
O
patrão diga sem medo.
-- O
senhor conhece Alonso
Um
espanhol que aqui mora?
Ele
morava na Espanha
Há anos
que veio embora;
--
Conheço muito, é banqueiro
Passou
por ali agora.
--
Conheci o sogro dele
Que já
é morto o barão,
Conheço
a senhora dele
E é até
um figurão,
É a
mulher mais bonita
Que já
entrou no Japão.
-- Pois
bem esse tal Alonso
Tem uma
conta a pagar-me,
Ele
uma, a mulher outra
Dos
dois eu quero vingar-me,
Quero
saber se o senhor
Se dispõe
a acompanhar-me.
-- não
exijo que o senhor
Ao
crime vá se meter,
Só
quero que me acompanhe
Faça o
que eu mandar fazer,
Tenha cuidado
e aguarde
Para o
que puder haver.
14
Perguntou
ele ao criado:
-- O
que eu devo fazer?
Qual
será o melhor ponto
Para eu
o conhecer?
--
Disse o servo: -- No teatro
Onde
melhor pode o ver.
-- Sim
senhor, disse Braulino
-- Ele
o pode frequentar,
-- Toda
noite, disse o servo
Eu
tenho visto ele entrar,
De
braço com a mulher
E é
muito raro faltar.
Disse
Braulino ao criado:
-- Pois
você me acompanha,
Depois
que isso eu conseguir
Embarco
pra Alemanha,
Você
embarca comigo
Depois
vamos à Espanha.
-- Vá
contratar logo um carro
Bolleiro
habilitado,
Cavalos
que sejam bons
Pague
logo adiantado,
Mas
veja como faz isso
Eu
quero muito cuidado.
Tirou
vinte e cinco libras
E deu
as todas ao criado,
Dizendo:
--Tome o dinheiro
Se
apronte ande asseado,
Seja
fiel que meu cofre
Para si
está recheado.
15
--
Vamos logo ao teatro
Não
percamos as monções,
Eu
quero conhecer eles
Tomar-lhe
bem as feições,
Tanto
dele como dela
Traços,
caráter ações.
Estavam
eles no teatro
Chegaram
Alonso e Marina,
Braulino
ao vê-los fitou
Como
quem não se domina,
Exclamou
consigo só:
-- Como
é bela essa assassina!
Depois
recordando o caso
Dizia:
-- Teve razão,
Cumpriu-se
mais esse crime
Por
orgulho do barão,
E a
grande covardia
Que
apresentou meu irmão.
-- Se
eu não me considerasse
Hoje um
homem criminoso,
Se
pudesse ainda dispor
Da
liberdade e do repouso,
Somente
uma mulher digna
Teria a
mim como esposo!
-- Uma
que por si somente
Empregasse
em mim amor,
Quer
feia como a visão
Quer
linda como uma flor,
Mas que
risse em meu prazer
E chorasse
em minha dor!
16
-- Não
exijo que o pai
Fosse
um rei ou um criado,
E ela
não possuísse
Nem o
valor dum cruzado,
Só
exigia um caráter
Que
nunca fosse manchado!
-- Se
meu irmão desprezasse
O
orgulho e a ambição,
Não
desse tanto valor
A dinheiro e a brasão,
Ainda
estaria vivo
Tanto
ele como o irmão!
-- Cuja
ambição obrigou
A
marchar pra sepultura,
E fazer
quem não queria
Cometer
uma loucura,
A mesma
que me obrigou
A
passar tanta amargura!
--
Porque jurei ao meu pai
Na hora que ele morreu,
Que o
vingava inda que fosse
Grande
sacrifício meu,
Quebrar
uma jura dessa
É o que
não faço eu!
--
Depois pensava consigo
Como
poderei fazer,
Esse
crime justamente
Que
resultado devo ter?
Matar
um e deixar outro
Sou
arriscado a morrer.
17
-- Mas
como meu pai pediu-me
E dizem
que o prometido,
É um
compromisso sagrado
Como um
debito contraído,
Eu faço
embora depois
Fique
disso arrependido.
Foi ele
para o teatro
Aguardando
a ocasião,
Para
cometer o crime
De que
já tinha intenção,
Depois
no mesmo teatro
Fez
outra combinação.
Terminou
o espetáculo
Braulino
se recolheu,
Chegou
em casa deitou-se
Porém
não adormeceu,
Pensando
como cumprir
O
juramento que deu.
Não era
porque temesse
De sair
mal na empresa,
Era
porque repugnava
Crime
de tal natureza,
Fazer
dois assassinatos
Era
crime sem defesa.
Então
no dia seguinte
Combinou
com o criado:
-- É
hoje a noite do crime
Você
está preparado,
Não
saia hoje do carro
Pois o
crime hoje é dado.
18
Depois
de ter dito isto
Viu ele
Alonso chegar,
Braulino
chegou-se ao carro
Sem
nada lhe perguntar,
Cravou-lhe
o punhal no peito
Não deixou
se apear.
E
partiu para Marina
Porém
ela se livrou,
Marina
com uma lanceta
O braço
lhe traspassou,
Tanto
que o punhal caiu
E ele
não apanhou.
Marina acudiu
Alonso
Que
caíra desmaiado,
Apanhou
logo o punhal
Que no
chão tinha ficado,
Conheceu
perfeitamente
Pois
ela o tinha comprado.
Braulino
evadiu-se logo
Nem no
castelo entrou,
Quando
cometeu o crime
Na
mesma hora embarcou,
A
polícia o perseguiu
Porém
não o encontrou.
A
diligência foi feita
Porém
toda foi perdida,
Marina
acudiu Alonso
Que estava
ultimando a vida,
E não
dava demonstração
De que
estava sentida.
19
Alonso
chamou-a e disse:
-- Oh!
minha esposa querida,
Eu
morrendo você cuide
Em
tratar da sua vida,
Já que
a sua dura sorte
Sempre
foi tão perseguida!
--
Marina fitou Alonso
E em
alta voz exclamou,
-- Hoje
a vida para mim
Foi
moda que se acabou,
Tratarei
dela depois
De
matar quem te matou!
Alonso
disse: -- Marina
Tenho a
te pedir um favor,
Para tu
não me vingares
Daquele
infame traidor,
Que me
matou inocente
Como Cristo
Redentor.
Marina
lhe disse: -- Alonso
Tudo te
posso fazer,
Mas não
vingar tua morte
Não
posso te prometer,
Inda
querendo não posso
Meu
gênio contradizer.
Disse-lhe
Alonso: -- Marina
Melhor
é você se casar,
Antes,
e me esquecer,
Do que
sair pra lutar,
Entregue
esse crime a Deus
Pois
Deus o sabe vingar.
20
Casar-me
com outro homem
Só se
for por um castigo,
Disse
Marina: -- Eu jurei
Casar e
viver contigo!
Tu
morres, mas em meu peito
Pulsa
um coração amigo.
--
Minha vida está em ti
Se nutre com teu amor,
Logo
que tu não existas
Ela
murcha que nem a flor,
Sem ti
Deus pode matar-me
Seja de
que morte for!
-- Eu
não conhecia amor
Teu
amor foi o primeiro,
Não
procurarei mais outro
Ele foi
o derradeiro,
Fiz
dele uma flor de estima
Fiz de meu
peito um canteiro.
--
Estou com quarenta anos
Pouco
da vida gozei,
Apenas
os vinte anos
Que
unida a ti desfrutei,
Esse
fora como um sonho
Perdi-os
quando acordei.
-- A
vingança hoje domina-me
Sempre
ativa me rodeia,
Meus
dias são como trevas
A lua torna-se
feia,
Sinto
sede, mas não d’água
O
sangue é quem me saceia.
21
A estas
ultimas palavras
Alonso
olhou e sorriu,
Fazendo
um pequeno gesto
Logo
ali se concluiu,
Marina
gemeu tão alto
Que
muito ao longe se ouviu.
A
polícia averiguando
Com
atenção e cuidado,
Não
soube por qual motivo
Tinha
sido o crime dado,
Alonso
naquela terra
Não
tinha um só intrigado.
Disse
Marina ao juiz:
-- Esse
crime sucedeu,
Por
vingança de outro crime
Que há
vinte anos se deu,
Nele
Alonso era inocente
Quem fez
o crime fui eu.
E
metendo mão no seio
Tirando
o velho punhal,
Disse:
-- Eu com este matei
Om
covarde sem igual,
Essa
ferrugem foi sangue
Olhem
que vê-se o sinal.
Aí
narrou à história
Que com
ela se passou,
Dizendo:
-- Isto foi o irmão
Dos que
eu matei se vingou,
Vingou-se
em quem não devia
Quem
tinha culpa ficou.
22
-- Ele
vá por onde for
Sua
viagem é pequena,
Se
encante como lagarta
Pode
criar até pena,
Inda no
céu eu o mato
Os
anjos verão a cena!
Porque
hoje a vida dele
Me
pertence como herança,
O
sangue dele é meu ouro
Não sai
de minha lembrança,
A morte
não é capaz
De
esquecer-me essa vingança.
Fez o
enterro de Alonso
Sem lhe
mudar a feição,
Botou o
retrato dela
Por
lembrança no caixão,
E
disse: -- Quando eu vingar-me
Choro e
boto luto então.
Perguntou
ao guarda livros:
--Então
você me acompanha,
Atreve-se
a andar comigo
Em
Paris, na Alemanha,
Em
Portugal, na Itália
Na
Dinamarca e Espanha.
Respondeu
o guarda livros:
-- Se
tem confiança em mim,
Eu
acompanho a senhora
Até um
de nós ter fim,
Então
respondeu Marina:
-- Me
serve é um homem assim.
23
Agora
caros leitores
Vamos
tratar de Braulino,
Quando
praticou o crime
Ficou
quase em desatino,
Sem
acertar para onde
Devia
tomar destino.
Braulino
pode levar
Sangue
de Alonso num lenço,
Foi ao
sepulcro do pai
Com
esse desejo imenso,
Olhando
os ossos do pai
Ficou
daquilo suspenso.
-- Meu
pai disse ele ao túmulo
Eis o
sangue da promessa,
É
obrigado a um filho
Tudo
que seu pai lhe peça,
Está o
que prometi
Que
minha dívida foi essa!
Nisso
Braulino sentiu
A
sepultura se abrir,
O
esqueleto do pai
Erguer-se
do pó e sair,
Quis
falar, ali tombou
Foi ao
mesmo pó se unir,
Uma voz
triste e fanhosa
Em ecos
tristes bradou,
Tira
daqui este sangue
Não
quero vê-lo, onde estou,
Esta
maldita vingança
Agora
me magoou!
24
-- O
pedido que te fiz
No
momento agonizante,
Se
transformou numa seta
De uma
ponta penetrante,
Lançando
tudo isso em meu rosto
Toda
hora e todo instante!
-- As
noites sou visitado
Por
espectros de terror,
Infelizes
que passaram
Por meu
gladio vingador,
Me
botando todo crime
Me
acusando ao Criador.
--
Esqueletos de crianças
Pedindo
o pai que eu matei,
Viúvas
pedem o marido
Que eu
os assassinei,
Os
pobres mostram as contas
Que
enquanto vivi roubei.
-- Sou medonho
como as trevas
Triste
como a voz do sino,
Vem lá
da eternidade
O eco
medonho e fino,
Me
chamando de malvado
Ladrão,
perverso assassino!
Braulino
já estava ali
A
perder a paciência,
Pensando
em ter morto um homem
Que só
continha inocência,
Sem escutar
os conselhos
Que lhe
dava a consciência.
25
Agora
caro leitor
Deixemos
aqui Braulino,
Vamos
ver Marina agora
Como
tomou seu destino,
E como
fez a viagem
Em
busca do assassino.
Deixou
os negócios entregues
Ao seu
antigo criado,
Disse a
ele: -- Tome conta
Aplique
todo cuidado,
Faça e
desfaça tudo
E
marque seu ordenado.
Então
disse ao guarda-livros:
--
Vamos entrar em campanha,
O
assassino talvez
Se
demore na Alemanha,
Se nós
não acharmos lá
Vamos
depois à Espanha.
Foi
Marina a Alemanha
Não
encontrou mais Braulino,
Soube
que ele esteve ali
Mas
tomou outro destino,
Disse
ela: -- Na Espanha
Eu
encontro o assassino.
Chegou
Marina a Espanha
Alugou
um torreão,
Depois
de dias tratou
De
tirar informação,
Onde
ficava o castelo
Do
conde de Montalvão.
26
Foi lá
no dito castelo
Mas
Braulino não estava,
Perguntou
para os criados
Se
sabia onde ele andava,
Disse o
criado mais velho
Tudo
isso ignorava.
Então
dizia Marina
Que
desejava falar,
Com o
conde de Montalvão
Tinha
um negócio a tratar,
De uns
bens que possuía
E
queria hipotecar.
Então
pediu a um criado
Quando
visconde chegasse,
Procurasse
um portador
E com
urgência a visasse,
Então
preveniu a ele
Que a
Braulino não contasse.
Deu
três libras ao criado
Ele
agradeceu-lhe muito,
Disse
Marina consigo:
--
Essas libras são um unto,
Por
este meio é que posso
Obter
qualquer assunto.
Dias
depois o criado
Mandou
a ela um cartão,
Dizendo:
-- O senhor visconde
Já
chegou em Montalvão,
Se
ainda quer lhe falar
É
própria a ocasião.
27
Marina
chamou Abel
E lhe
disse: -- Meu amigo,
Quero
saber se está pronto
De
encarar a morte amigo;
Disse
Abel: -- Para servi-la
A morte
não é perigo.
Disse
Marina: -- Pois bem
Vamos
primeiro pensar,
O
castelo Montalvão
Dois só
não podem cercar,
O certo
é ir pela porta
Resulte
o que resultar.
Marina
achou na Espanha
Três
rapazes do Japão,
Que
estavam morrendo à fome
Sem
acharem proteção,
Ela os
chamou e disse-lhes:
--
Dou-lhes roupa, casa e pão.
--
Confio que vocês guardem
Um
segredo que direi,
Não
revelem o meu nome
Não
digam onde morei,
Que
quando eu sair daqui
Pro
Japão eu os levarei.
Então
disse ao guarda-livros:
-- Abel
temos precisão,
De duas
ou três pessoas
Que
tenha disposição,
Vamos
ver se conduzimos
Os
rapazes do Japão.
28
-- É
respondeu Abel
Ir
daqui bem prevenido,
Quem
deve fica assustado
Não
deixa de está munido,
Se
errar o primeiro golpe
Vai
alterar-lhe o sentido.
Chamou
ela os três rapazes
Marcos,
Ângelo e Salvador,
Perguntou
a todos três:
--
Vocês me fazem um favor?
Responderam
todos três:
--
Fazemos, seja o que for.
-- É
perigoso ela disse:
-- Não
tem perigo senhora,
Pra um
de nós a servir
Não tem
dia nem tem hora,
Precisa
de nossas vidas?
Pode
tirá-las agora.
-- Pois
bem respondeu Marina
Sou
obrigada a dizer,
Trata-se
de uma vingança
Um
crime que hei de fazer,
Mas eu
exclusivamente
Sou que
há de cometer.
-- Seja
como for senhora
Responderam
todos três,
Damos a
vida por si
Morremos
de uma só vez;
Então
Marina ainda disse:
-- Eu
agradeço a vocês.
29
Marina
disse a Abel
Não
devemos demorar,
No
porto ontem chegou
A barca
“Virgem Polar”,
Eu
escrevo ao capitão
Para
por mim esperar.
-- Leve
dinheiro daqui
Quantia
que ele se iluda,
Com
dinheiro e simpatia
Não
precisa mais ajuda,
Com a
presença do dinheiro
Tudo se
faz e se muda.
Abriu
uma das gavetas
E tirou
dela o cartão,
Escrevendo
nestes termos:
“Digníssimo
Capitão”,
“Quero
fretar sua barca
Da
Espanha pro Japão”.
Abel
foi ao porto e veio
Deixando
tudo arrumado,
Chegou
e disse a Marina:
--
Deixei tudo preparado,
Na
barca só vamos nós
Assim
ficou contratado.
Era
meia noite em ponto
O mundo
estava em trevas,
Piava
um pássaro baixinho
Nas
rochas daquelas selvas,
Como
também alguns grilos
Chiavam
em cima das relvas.
30
Chegaram
então ao castelo
Sem
alguém os pressentir,
Marina
trazia um pó
Que
obrigava a dormir,
Quem
sentisse o cheiro dele
Não
podia resistir.
Marina
queimou o pó
Deixou
a fumaça entrar,
Abriram
uma janela
Para
nela penetrar,
Marina
seguiu na frente
Com
cuidado a procurar.
Aí
Braulino acordou
Ergueu-se
e foi ver quem era,
Marina
conheceu ele
Aí
gritou: -- É esta fera!
Braulino
então conheceu
Que a
coisa era de vera.
Ainda
atirou duas vezes
Mas
nenhum tiro atingiu,
Marina
atirando nele
Ali
mesmo ele caiu,
Dos
criados que ali tinha
Nenhum,
o barulho ouviu.
Levaram
ele nos braços
Foram
logo embarcar,
Marina
narcotizou-o
Tratou
logo de curar,
Desembarcaram
no Japão
E
ninguém os viu chegar.
31
Braulino
tinha essa tarde
Uma
viagem formada,
E tinha
dito aos criados
Que ia
de madrugada,
Deu
toda definição
Deixou
a mata arruda
Os
criados de manhã
Julgaram
ele ter ido,
Visto o
quarto estar trancado
E a
barca ter saído,
Nem
podiam imaginar
Ter
aquilo sucedido.
Às três
horas da manhã
Eles no
porto chegaram,
Marina,
Abel e os rapazes
Na
barca todos entraram,
Então
pegando o caixão
Ocultamente
levaram.
Então
Marina levou-o
Mas ele
narcotizado,
Quando
chegaram ao Japão
Da
barca ele foi tirado,
Foi
para um subterrâneo
Que já
estava preparado.
Marina
deu-lhe um remédio
Fez ele
voltar a si,
Perguntou-lhe:--
Assassino
Sabes
por que estás aqui,
-- Pois
não, respondeu Braulino
Eu sei
o que cometi.
32
-- E
conheces quem sou eu?
Os
instintos infernais?
--
Conheço disse Braulino
A filha
de satanás!
Mataste
meus dois irmãos,
E
acabrunhastes meus pais.
--
Porque razão assassino
Tu
mataste meu marido?
-- Foi
por causa do meu pai
Ter me
feito esse pedido,
Inda
preso como o cão
Não
estou arrependido.
Marina
lhe perguntou:
-- Já
sabes que vais morrer:
-- Eu
suponho diz Braulino,
Mas
falando sem tremer,
É o
menos que a senhora
Comigo
pode fazer.
Marina
se retirou
Deixando
só na prisão,
E
depois no cárcere dele
Mandou
pôr um lampião,
E
mandou pelos criados
Levar-lhe
a refeição.
Braulino
estava com fome
Porém
em nada tocou,
No
outro dia Marina
Indo no
cárcere notou,
A
comida estava da forma
Que o
criado deixou.
33
Marina
lhe perguntou:
--
Então como quer morrer?
-- Todo
sistema me serve
Mate lá
como entender,
Morro
muito satisfeito
Porque
cumpri meu dever.
Ela
ainda perguntou:
-- Onde
quer se enterrar?
Braulino
olhou e disse:
-- Eu
não conheço lugar,
Dê meu
cadáver aos cachorros
É mesmo
que me sepultar.
-- Pois
bem, respondeu Marina
Já que
não quer escolher,
Eu só
te mato assassino,
Depois
que te ver sofrer,
Quando
te parecer festa
É o dia
que hás de morrer.
Marina
então retirou-se
Disse
consigo Braulino:
--
Morrerei de fome e sede
Assim
cumpro meu destino,
Contanto
que não dê gosto
Aquele
gênio assassino.
Passou
seis ou sete dias
Sem
aceitar alimento,
Marina
casualmente
Entrou
em seu aposento,
Disse:
-- A fome a este monstro
Ainda
não é tormento.
34
Ordenou
que os criados
O
pusesse sobre o chão,
E a
força lhe botasse
Pela a
boca água e pão,
Que ele
se alimentasse
Quer
quisesse aquilo ou não.
Os
criados executaram
O que
Marina ordenou,
A custa
de muita força
Braulino
se alimentou,
Vendo
que comia sempre
Depois
o pão aceitou.
Depois
de 5 ou 6 meses
Já ele
estava mais forte,
Disse
Marina: -- Eu o faço
Arrepender-se
da sorte,
Ele há
de curvar-se a mim
Pedindo
que dê-lhe a morte.
Mandou
pôr água no cárcere
Até que
fizesse lama,
Onde
ele não achasse
Onde fizesse
uma cama,
Dizendo
ele há de curvar-se
Dentro
da água ou da chama.
Deitaram
água no cárcere
Que
ficou tudo alagado,
Braulino
quando viu água
Ficou
até animado,
Dizendo:
-- Eu agora aqui
Talvez
que morra afogado.
35
Mas a
água era tão pouca
Que nem
mesmo o pé cobria,
E ele
ali conheceu
Que
afogado não morria,
Aquele
enorme tormento
Crescendo
dia após dia.
Seis
dias passou na lama
Lhe apareceu inchação,
Então
Marina mandou
Botá-lo
em outra prisão,
Num
quarto a forma de estufa
Com
pouca respiração.
O
quarto era muito estreito
Com
grossas tábuas forrado,
Em cima
duma fornalha
Era o cárcere
colocado,
Qualquer
preso em tal prisão
Morreria
asfixiado.
Marina
mandou botar
Na
fornalha um fogo lento,
Que
fosse de pouco a pouco
Esquentando
o aposento,
Então
ali na prisão
Não
aparecia vento.
Braulino
rangia os dentes
Como
fera engaiolada,
Exclamando:
-- Oh! ela ainda
Não acha
que está vingada!
Não
acha que minha existência
Está bem
amargurada!.
36
Então a
ação do fogo
Já
tinha tanto crescido,
E
Braulino com o calor
Estava
enfurecido,
Que
blasfemava de tudo
Já
desvairando o sentido.
Exclamava
foi mentira:
--
Jesus por mim não morreu,
Mil
vezes maldita seja
A mãe
que me concebeu,
Maldito
o pai que gerou-me
Que tal
conselho me deu!
--
Maldito o primeiro leite
Que meu
estômago ingeriu,
Maldito
seja esse monstro
Que
como pai me serviu,
Ali lhe
deu um ataque
Não
sustentou-se e caiu.
Assim
mesmo inda exclamou:
-- Oh!
Deus tem pena de mim,
Toca
aquele coração
De
tirania sem fim,
Que
venha logo matar-me
Não
faça eu sofrer assim!
-- Se
eu pudesse vê-la agora
Lhe pediria o perdão,
Pela a
alma do esposo
Que
assassinei sem razão,
Talvez
que o nome de Alonso
Lhe abrandasse o coração.
37
Marina
então pode ouvir
Toda
aquela exclamação,
Ouviu
falar em Alonso
Doeu-lhe
no coração,
Então
mandou os criados
Botá-lo
em outra prisão.
Quando
ele saiu do quarto
Estava
quase sem sentido,
Exclamava
por Alonso:
-- Fui
hoje favorecido,
Deus perdoai
esse crime
De que
estou arrependido!
Ao cabo
de quatro dias
Ele
sempre melhorou,
Pelas
dez horas do dia
Marina
se apresentou,
Braulino
se ajoelhou
Prostrado
aos seus pés chorou.
Dizendo:
-- Minha senhora
Quero
fazer-lhe um pedido,
Eu sei
que ainda não paguei
A morte
do seu marido,
Por ele
crave-me o ferro
Com que
ele foi ferido!
Marina
naquela hora
Suspendendo
a cólera imensa,
Ora tremia-lhe
o corpo
Ora
ficava suspensa,
Disse:
-- Eu solto esse assassino
Deus
que lhe marque a sentença.
38
--
Assassino eu te perdoo
A morte
do meu marido,
Pois
ele antes da morte
Me
deixou este pedido,
No
tribunal do Eterno
Teu
crime será punido.
--
Suma-se da minha vista
Então
Braulino saiu,
Embarcou
no mesmo dia
Para a
Espanha seguiu,
Sem
poder fazer um calculo
Nem
quem foi que lhe acudiu.
Quando
chegou na Espanha
Pegou
ele a refletir,
Como do
gládio da morte
Podia
ele escapulir:
-- Um
covarde como eu
Não
vale a pena existir!
Já
perto da meia noite
Pegou
Braulino a pensar,
Em
abrir o túmulo do pai
E
depois se suicidar,
Que um
nome negro e covarde
Devia
se liquidar.
Fez uma
carta a Marina
Dizendo:
-- Minha senhora,
A morte
de seu Marido
Há de
ser vingada agora,
Creio
que vou morrer já
Não
duro mais uma hora.
39
-- Fui
um covarde em matar
A quem
nunca me ofendeu,
Devido
um pai miserável
Que
seus conselhos me deu,
Matei
um homem que era
Mil
vezes melhor que eu.
Sacando
a mão do revólver
Correu
qual desesperado,
Meteu o
ferro do túmulo
Onde o
pai estava enterrado,
Dizendo:
-- Ergue-te do pó
Esqueleto
desgraçado!
-- Erga
esta alma negra
Do pó
que está reduzida,
Vem
escutar minha voz
Tão
magoada e sentida,
Ouve o
produto que deu
Tua
imprudência exigida.
-- Por
tua causa sofri
Todo
tipo de amargura,
Estive
em prisão infectas
Mais
feias que a sepultura,
Metido
em gelo e em chamas
Com a
maior desventura.
--
Porque não me assassinastes
Quando
eu era bem pequeno?
Não
tinha tão bons punhais
Tantos
frascos de veneno?
Maldito
seja mil vezes
Teu
agoureiro terreno!
40
Braulino
estava falando
Viu os
ossos se juntarem,
Surgiram
dois esqueletos
E pra
ele se botarem,
Com
bocas tintas de sangue
Rangindo
os dentes, uivarem.
--
Fomos quem te deu o ser
Assim
os vultos diziam,
Com os
dentes enferrujados
Um ao
outro se mordiam,
Duas
línguas negras e secas
Dos
esqueletos saiam.
Braulino
inda atirou neles
Porém
não os ofendeu,
Os dois
vultos o agarraram
E ele a
vala desceu,
Aí a terra
fechou-se
Tudo
desapareceu,
Marina
sabendo disso
Ficou
muito arrependida,
Dizendo:
-- Eu obrei mal
Ficar
tão enfurecida!...
Cinco
ou seis meses depois
Deixou
também, ela a vida.
No
túmulo de Montalvão
Ninguém
podia chegar,
Que a
meia noite em ponto
Se
ouvia um eco bradar,
Gemer
um, suspirar outro
Outro a
sorte praguejar. FIM
41
A DONZELA TEODORA
Leandro Gomes de Barros
Eis a real descrição
Da
história da donzela,
Dos
sábios que ela venceu
E a
aposta ganha por ela,
Tirado
tudo direito
Da
história grande dela.
Houve
no reino de Túnis
Um
grande negociante,
Era
natural da Hungria
E
negociava ambulante,
A
quem podia chamar-se
Uma
alma pura e constante.
Andando
um dia na praça
Numa
porta pôde ver,
Uma
donzela cristã
Ali para
se vender,
O
mercador vendo aquilo
Não
pôde mais se conter.
01
Tinha
feição de fidalga
Era
uma espanhola bela,
Ele
perguntou ao mouro
Quanto
queria por ela,
Entraram
então em negócio
Negociaram
a donzela.
O
húngaro conheceu nela
Formato
de fidalguia,
Mandou
educá-la bem
Na
melhor escola que havia,
Em
pouco tempo ela soube
O
que ninguém mais sabia.
Mandou
ensinar primeiro
Música
e filosofia,
Ela
sem mestre aprendeu
Metafísica
e astrologia,
Descrever
com distinção
História
e anatomia.
Ela
que já era um ente
Nascida
por excelência,
Como
quem tivesse vindo
Das
entranhas da ciência,
Tinha
por pai o saber
E
por mãe a inteligência.
Em
pouco tempo ela tinha
Tão
grande adiantamento,
Que
só Salomão teria
02
Um
igual conhecimento,
Cantava
música e tocava
A
qualquer um instrumento.
Estudou
e conhecia
As
sete artes liberais,
Conhecia
a natureza
De
todos os vegetais,
Descrevia
muito bem
A
casta dos animais.
Descrevia
os doze signos
De
que é composto o ano,
Da
cabeça até os pés
Conhecia
o corpo humano,
E
dava definição
De
tudo do oceano.
Admirou
todo mundo
O
saber desta donzela,
Tudo
que era ciência
Podia
se encontrar nela,
O
professor que ensinou-a
Depois
aprendeu com ela.
Mas
como tudo no mundo
É
mutável e inconstante
Esse
rico mercador
Negociava
ambulante
E
toda sua fortuna
Perdeu
no mar num instante
03
Atrás
do bem vem o mal
Atrás
da honra a torpeza,
Quando
ele saiu de casa
Levava
grande riqueza,
Voltou
trazendo somente
Uma
extrema pobreza.
Só
via em torno de si
O
vil manto da mazela,
Em
casa só lhe restava
A
mulher e a donzela,
Então
chamou Teodora
E
pediu o parecer dela.
Disse
ele: -- Minha filha
Bem
vês minha natureza,
E
sabes que o oceano
Espoliou
minha riqueza,
Espero
que teus conselhos
Me
tirem desta pobreza.
Ela
quando ouviu aquilo
Sentiu
no peito uma dor,
E
lhe disse, tenha fé
Em
Deus nosso salvador,
Vou
estudar um remédio
Que salvará
o senhor.
E
disse: -- Meu senhor saia
Procure
um amigo seu,
É
bom ir logo na casa
04
Do
mouro que me vendeu,
Chegue
lá converse com ele
E
conte o que lhe sucedeu.
O
que ele oferecer-lhe
De
muito bom grado aceite,
E
veja se ele lhe vende
Vestidos
que me endireite,
Compre
a ele todas as joias
Que
uma donzela se enfeite.
Se o
mouro vender-lhe tudo
Com
que possa me compor,
Vossa
mercê vá daqui,
Vender-me
ao rei Almançor
É
esse o único meio
Que
salvará o senhor.
El-rei
lhe perguntará
Por
quanto vai me vender,
Por
dez mil dobras de ouro
Meu
senhor há de dizer,
Quando
ele admirar-se
Veja
o que vai responder.
Dizendo
alto senhor
Não
fiqueis admirado,
Eu
vendo com precisão
Não
peço preço alterado,
Dobrada
a esta quantia
Tenho
com ela gastado.
05
É
esse o único meio
Para
a sua salvação,
Se o
mouro vende-lhe tudo
Descanse
seu coração,
Daqui
para o fim da vida
Não
terá mais precisão.
O
mercador seguiu tudo
Quanto
a donzela ditava,
Chegou
ao mouro e contou-lhe
O
desespero em que estava,
Então
o mouro vendeu-lhe
Tudo
quanto precisava.
Roupa,
objetos e joias
Para
enfeitar a donzela,
As
roupas vinha que só
Sendo
cortada pra ela,
Ela
quando vestiu tudo
Pareceu
ficar mais bela.
O
mercador aprontou-se
E
seguiu com brevidade,
Falou
ao guarda da corte
Com
toda amabilidade,
Para
deixá-lo falar
Com
a real majestade,
Então
subiu um vassalo
Deu
parte ao rei Almançor,
O
rei chegou a escada
06
Perguntou
ao mercador:
—
Amigo qual o negócio
Que
tem comigo o senhor?
Então
disse o mercador
Com
uma grande humildade:
—
Senhor venho a vossa alteza
Com
grande necessidade,
Ver
se vendo esta donzela
A
vossa real majestade.
O
rei olhou a donzela
E
disse dentro de si:
Foi
a mulher mais formosa
Que
neste mundo já vi,
Trinta
ou quarenta segundos
O
rei presenciou ali.
Perguntou
ao mercador:
Por
quanto vendes à donzela?
Por
10 mil dobras de ouro
É o
que peço por ela,
E
não estou pedindo caro
Visto
a habilidade dela.
Disse
o rei ao mercador:
—
Senhor, estou surpreendido,
Dez
mil dobras de bom ouro
É
preço desconhecido,
Ou
tu não queres vendê-la
Ou
estás fora do sentido.
07
Disse
o mercador: -- El rei
Não
é caro esta donzela,
Dobrado
a esta quantia
Gastei
para educar ela,
Excede
a todos os sábios
A
sabedoria dela.
O
rei mandou logo chamar
Um
grande sábio que havia,
O
instrutor na cidade
Em
física e astronomia,
Em
matemática e retórica
História
e filosofia.
Esse
veio e perguntou-lhe
—
Donzela estás preparada,
Para
responder-me tudo
Sem
titubear em nada?
Se
não estiver seja franca
Se
não saia envergonhada.
Então
ela respondeu-lhe
—
Mestre pode perguntar,
Eu
lhe responderei tudo
Sem
cousa alguma faltar,
Farei
debaixo da lei
Tudo
que o senhor mandar.
O
sábio ali preparou-se
Para
entrar em discussão,
Ela
com muita vergonha
08
Mas
não teve alteração,
Pediu
licença ao El-rei
E
ficou de prontidão.
—
Diz-me donzela o que Deus
Sob
o céu primeiro fez,
Respondeu
o sol e a lua
E a
lua por sua vez,
É
por uma obrigação
Cheia
e nova todo mês.
—
Além do sol e da lua
Doze
signos foram feitos,
Formando
a constelação
Sendo
ao sol todos sujeitos,
Desiguais
na natureza
Com
diversos preconceitos.
Como
se chama esses signos?
Perguntou
o emissário,
A
donzela respondeu:
—
Capricórnio e Aquário,
Tauro,
Câncer, Libra, Virgo
Pisces,
Escórpio e Sagitário.
—
Existem outros três signos
Áries,
Léo e Geminis,
No
signo Léo quem nascer
Será
um homem feliz,
Inclinado
a viajar
Por
fora de seu país.
09
O
sábio disse: -- Donzela
É
necessário dizer,
Que
condições tem o homem
Que
em cada signo nascer,
Por
influência o signo
De
que forma pode ser?
Disse
ela o signo Aquário
Reina
o mês de janeiro,
O
homem que nascer nele
Tem
o crescimento vasqueiro,
Será
amante das mulheres
Venturoso
e lisonjeiro.
Pisces
reina em fevereiro
Quem
nesse signo nascer,
É
muito gentil de corpo
Muito
guloso em comer,
Risonho,
gosta de viagens
Não
faz o que prometer.
Em
março governa Áries
Neste
signo nascerão,
Homens
nem ricos nem pobres
Por
nada se zangarão,
Neles
se notam um defeito
Falando
sós andarão.
Em
abril governa Tauro
Um
signo bem conhecido,
O
homem que nascer nele
10
Será
muito presumido,
Altivo
de coração
Será
rico e atrevido.
Geminis
governa em maio
Sua
qualidade é quente,
O
homem que nascer nele
Será
fraco e diligente,
Para
os palácios e cortes
Se
inclina constantemente.
Em
julho governa Câncer
Sua
qualidade é fria,
O
homem que nascer nele
É
forte e tem energia,
É
gentil, tem muita força
E
sempre tem alegria.
Em
julho governa Léo
Por
um leão figurado,
O
homem que nascer nele
É
lutador e honrado,
Altivo
de coração
Inteligente
e letrado.
Em
agosto reina Virgo
Vem
da terra a natureza,
O
homem que nascer nele
No
princípio tem riqueza,
Depois
se descuidará
Por
isso cai em pobreza.
11
Em
setembro reina Libra
A
Vênus assinalado,
O
homem que nascer nele
Será
um pouco inclinado,
A
viajar pelo mar
É
lutador e honrado.
O
que nascer em outubro
Será
homem falador,
Inclinado
aos maus costumes
Teimoso
e namorador,
Pouco
lícito nos negócios
Falso
grave e enganador.
Então
o mês de novembro
Sagitário
é o reinante,
O
homem que nascer nele
Será
cínico e inconstante,
Desobediente
aos pais
Intratável
assim por diante.
Em
dezembro é Capricórnio
Tem
a natureza de terra,
O
homem que nascer nele
Será
inclinado a guerra,
Gosta
de falar sozinho
E
por qualquer coisa emperra.
O
sábio ali levantou-se
Disse
ao rei: -- Esta donzela,
Não
há sábio aqui no mundo
12
Que
tenha a ciência dela,
E
confesso vossa alteza
Que
estou vencido por ela.
O
rei ali ordenou
Que
fosse o sábio segundo,
Foi
um matemático e clínico
Um
gênio grande e fecundo,
E
conhecido por um
Dos
sábios maior do mundo.
Chegou
o segundo sábio
Que ainda
estava orelhudo,
E
disse: -- Donzela eu tenho
Dezoito
anos de estudo,
Não
sou o que tu venceste
Conheço
um pouco de tudo.
A
donzela respondeu:
-- Com
licença de El-rei,
Tudo
que me perguntares
Aqui
te responderei,
Com
brevidade e acerto
Tudo
vos explicarei.
Perguntou
o sábio a ela:
-- Em
nosso corpo domina,
Qualquer
um dos doze signos
Que
a donzela descrimina,
Terá
alguma influência
Os
signos com a medicina?
13
Então
a donzela disse:
-- Descrito
mestre direi,
Sabe
que os signos são doze
Como
eu já expliquei,
Compactam
com a química
Quer
saber? Explicarei.
Áries
domina a cabeça
Uma
parte melindrosa,
Para
quem nascer em março
A
sangria é perigosa,
A
pessoa que sangrar-se
Deve
ficar receosa.
Libra
domina as espáduas
Câncer
domina os peitos,
Para
os que são deste signo
Purgantas
tem maus efeitos,
E as
sangrias também
Não
serão de bons proveitos.
Tauro
domina o pescoço
Léo
domina o coração,
Capricórnio
influi nos olhos
Escórpio
a organização,
Geminis
domina os braços
E
influi na musculação.
Virgo
domina o ventre
E
Aquário nas canelas,
Para
os que são desses signos
14
Purgas
e sangrias são belas,
Então
Sagitário e Pisces
Ambos
têm iguais tabelas.
O
sábio dentro de si
Disse
meio admirado,
Onde
esta discutir
Ninguém
pode ser letrado,
Esta
só vindo a propósito
De
planeta adiantado.
O
sábio disse: -- Donzela
Eu
quero se tu puderes,
Isto
é, eu creio que podes
Não
dirás se não quiseres,
O
peso, idade e conduta
Que
têm todas as mulheres.
Disse
a donzela: -- A mulher
É
sempre a arca do bem,
Porém
só quem as criou
Sabe
o peso que ela tem,
Isso
é uma coisa ignota
Disso
não sabe ninguém.
Que
me dizes das donzelas
De
vinte anos de idade?
Respondeu:
-- Sendo formosa
Parece
uma divindade,
Principalmente
ao homem
Que
lhe tiver amizade.
15
As
de trinta e quarenta
Que
dizes tu que elas são?
Disse
ela: -- Uma dessas
É de
muita consideração,
—
Das de 50 o que dizer?
— Só
prestam para oração.
—
Que dizes das de 70?
—
Deviam estar num castelo,
Rezando
por quem morreu
Lamentando
o tempo belo,
O
que dizes das de 80?
— Só
prestam para o cutelo.
Então
classificas as velhas
Tudo
de mal a pior?
E
nos defeitos de tantas
Não
se encontra um menor,
Disse
ela: -- Deus me livre
De
ser vizinho da melhor.
Donzela
o sábio lhe disse
Sei
que és caprichosa,
Entre
todas as pessoas
És a
mais estudiosa,
Diga
que sinais precisam
Para
a mulher ser formosa.
Então
a donzela disse:
-- Para
a mulher ser formosa
Terá
dezoito sinais
16
Não
tendo é defeituosa,
A
obra por seu defeito
Deixa
de ser melindrosa.
Há
de ter três partes negras
De
cores bem reluzentes,
Sobrancelhas,
olhos, cabelos
De
cores negras e ardentes,
Branco
o lacrimal dos olhos
Ter
branca a face e os dentes.
Será
comprida em três partes
A
que tiver formosura,
Compridos
os dedos das mãos
O
pescoço e a cintura,
Rosada
cútis e gengivas
Lábios
cor de rosa pura.
Terá
três partes pequenas
O
nariz, boca e pé,
Larga
a cadeiras e ombros
Ninguém
dirá que não é,
Cujos
sinais teve-se todos
Uma
virgem em Nazaré.
O
sábio quando ouviu isto
Ficou
tão surpreendido,
E
disse: -- El-rei Almançor
Confesso
que estou vencido,
E
quem argumentar com ela
Se
considere perdido.
17
El-rei
mandou que outro sábio
Entrasse
em discussão,
Então
escolheram um
Dos
de maior instrução,
A
quem chamavam na Grécia
Professor
da criação.
Abraão
de Trabador
Veio
argumentar com ela,
E
disse logo ao entrar:
--
Previna-se bem, donzela
Dizendo
dentro si
Hoje
eu hei de zombar dela.
Então
a donzela disse:
-- Mestre
estarei disposta,
De
todas suas perguntas
O
senhor terá resposta
Se
tem confiança em si
Vamos
fazer uma aposta?
-- Minha
aposta é a seguinte
De
nós o que for vencido,
Ficará
aqui na corte
Publicamente
despido,
Da
forma que veio ao mundo
Na
hora que foi nascido.
O
sábio disse que sim
Mandaram
o termo lavrar,
E a
donzela pediu
18
Ao
rei para assinar,
Para
a parte que perdesse
Depois
não se recusar.
Lavraram
o termo e foi
Às
mãos do rei Almançor,
Pra
fazer válido o trato
E
ficar por fiador,
Obrigando
quem perdesse
Dar
as roupas ao vencedor.
O
sábio aí perguntou:
Qual
é a coisa mais aguda?
Disse
ela: -- É a língua
Duma
mulher linguaruda,
Que
corta todos os nomes
E o
corte nunca muda.
Donzela
qual é a coisa
Mais
doce do que o mel?
— É
o amor do pai a um filho
Ou
duma esposa fiel,
A
ingratidão de um desses
Amarga
mais do que fel.
O
sábio disse: -- Donzela
Conheces
os animais?
Quero
agora que descrevas
Alguns
irracionais,
Me
diga qual é o bicho
Que
possui oito sinais.
19
Mestre,
isto é gafanhoto
Vive
embaixo dos outeiros,
Tem
pescoço como vaca
Esporas
de cavaleiros,
Tem
olhos como marel
Um
pássaro dos estrangeiros.
Focinho
como de vaca
Tem
pés como de cegonha,
Tem
cauda como de víbora
Uma
serpente medonha,
E é
infeliz o vivente
Que
a boca dela se ponha
Tem
peito como cavalos
E
não ofende a ninguém,
Tem
asas como de águia
A
que voa muito além,
São
estes oito sinais
Que
o gafanhoto tem.
Perguntou
o sábio a ela:
—
Que homem foi que viveu,
Porém
nunca foi menino
Existiu
mas não nasceu,
A
mãe dele ficou virgem
Até
que o neto morreu.
—
Este homem foi Adão
Que
da terra se gerou,
Foi
feito já homem grande
20
Não
nasceu, Deus o formou,
A
terra foi a mãe dele
E
nela se sepultou.
Foi
feito mas não nascido
Essa
nobre criatura,
A
terra foi a mãe dele
Serviu-lhe
de sepultura,
Para
Abel o neto dela
Fez-se
a primeira abertura.
—
Donzela qual é a coisa
Que
pode ser mais ligeira?
Respondeu:
-- O pensamento
Que
voa de tal maneira,
Que
vai ao cabo do mundo
Num
segundo que se queira.
O
sábio fitou-a e disse:
—
Donzela diga-me agora,
Qual
o prazer de um dia
Qual
prazer duma hora?
—
Dum negócio que se ganha
Dum
passeio que se dar fora.
A
donzela respondeu
Com
a maior rapidez,
Disse:
-- Um homem viajando
E se
bom negócio fez,
É um
dos grande prazeres
Que
terá por sua vez.
21
Donzela
o que é a vida?
Diz
ela: -- Um mar de torpeza,
O
que pode assemelhar-se
À
vela que está acesa,
Às
vezes está tão formosa
E se
apaga de surpresa.
Donzela
por quantas formas
Mente
a pessoa afinal?
Respondeu:
-- Mente por duas
Tendo
como essencial,
Exaltar
a quem quer bem
E
pôr taxa em quem quer mal.
Donzela
que é velhice?
Respondeu
com brevidade:
-- É
vestidura de dores
E a
mãe da mocidade,
E o
que mais aborrecemos?
Respondeu:
-- É a idade
Donzela
qual é a coisa
Que
quem mais tem mais quer?
Disse
ela: -- É o dinheiro
Que
o homem e a mulher,
Não
se farta de ganhar
Tenha
a soma que tiver.
Qual
é a coisa que o homem
Possui
e não pode ver?
Disse
ela: -- O coração
22
Que
aberto tem que nascer,
Ver
a raiz dos seus olhos
Não
há quem possa obter.
Donzela
qual foi o homem
Que
por dois ventres passou?
Disse
a donzela: -- Foi Jonas
Que
uma baleia o tragou,
Conservou-o
dentro três dias
E
depois o vomitou.
O
sábio disse: -- Donzela
Qual
o homem mais de bem?
Disse
ela: -- É aquele
Que
menos defeitos tem,
Quem
terá menos defeitos?
—
Isso não sabe ninguém.
—
Donzela qual é a coisa
Que
não se pode saber?
O
pensamento do homem
Se
ele não quer dizer,
Por
mais que a mulher procure
Não
poderá obter.
—
Donzela o que é a noite
Cheia
de tantos horrores?
Disse
ela: -- É descanso
Dos
homens trabalhadores
É
capa dos assassinos
Que
encobre os malfeitores.
23
—
Onde a primeira cidade
Do
mundo foi construída?
— A
cidade de Nínive
A
primeira conhecida,
Que
depois de certo tempo
Foi
pela Grécia abatida.
Perguntou:
-- Qual o guerreiro
Que
teve a antiguidade?
Respondeu:
-- Foi Alexandre
Assombro
da humanidade,
Guerreou
vinte e dois anos
E
morreu na flor da idade.
Donzela
falaste bem
Do
maior conquistador,
Diga
dos homens qual foi
O
maior sentenciador?
—
Pilatos que deu sentença
A
Cristo Nosso Senhor.
De
todos os patriarcas
Qual
seria o mais valente?
— O
patriarca Jacó
Que
lutou heroicamente,
Com
os anjos mensageiros
Do
monarca onipotente.
—
Qual foi à primeira nau
Que
foi para o estaleiro,
—
Foi a Arca de Noé
24
A
que no mar foi primeiro,
Onde
escapou um casal
De
tudo no mundo inteiro.
— O
que é que corta mais
Que
a navalha afiada?
É a
língua da pessoa
Depois
de estar irada,
Corta
com mais rapidez
Que
qualquer lâmina amolada.
—
Qual é o maior prazer
Com
que se ocupa a história?
Respondeu:
-- Quando um guerreiro
No
campo ganha vitória,
Sabei
que não pode haver
Tanto
prazer tanta glória.
O
sábio disse: -- Donzela
Tens
falado muito bem,
Me
diga que condições
O
homem no mundo tem?
Disse
a donzela: -- Tem todas
Para
o mal e para o bem.
É
manso como a ovelha
E
feroz como o leão,
Seboso
como o suíno
É
limpo como o pavão,
É
falso como a serpente
É
tão leal como o cão.
25
É
fraco como o coelho
Arrogante
como o galo,
Airoso
como o furão
Forçoso
como o cavalo,
E
mais te digo que o homem
Ninguém
pode decifrá-lo
É
calado como peixe
Fala
como papagaio,
É
lerdo como preguiça
É
veloz igual ao raio,
É
sábio quando ouviu isto
Quase
que dar-lhe um desmaio.
Então
inventou um meio
Para
ver se a pegaria
Perguntou:
-- O sol da noite
Terá
luz quente ou fria?
A
donzela respondeu
Que
à noite sol não havia.
Com
a presença do sol
É
que se conhece o dia,
Se
de noite houvesse sol
A
noite não existia,
E
sem o sereno dela
Todo
vivente morreria.
Sem
água, sem ar, sem luz
A
terra não tinha nada,
Não
tinha os seres que tem
26
Seria
desabitada,
A
própria vegetação
Não
podia ser criada.
Os
reinos da natureza
Cada
um possui um gênio,
É
necessário o azoto
Precisa
o oxigênio,
Para
a infusão disso tudo
O
carbono e o hidrogênio.
O
dia Deus fez bem claro
A
noite fez bem escura,
Se
de noite houvesse sol
Estava
o homem à altura,
De
notar esse defeito
E
censurar a natura.
O
sábio baixou a vista
E
ouviu tudo calado,
Nada
teve a dizer
Pois
já estava esgotado,
E
tinha plena certeza
Que
ficava injuriado.
Disse
ao público: -- Senhores
A
donzela me venceu,
Não
sei com qual professor
Esta
mulher aprendeu,
Aí a
donzela disse:
-- Então
o mestre perdeu?
27
Ele
vendo que estava
Esgotado
e sem recursos,
Ficou
trêmulo e muito pálido
Fugiu-lhe
até os pulsos,
Prostrou-se
aos pés de El-rei
Se
sufocando em soluços.
E
disse: -- Senhor, confesso
A
vossa real majestade,
Que
vejo nesta donzela
A
maior capacidade,
Ela
merece ter prêmio
Pois
tem grande habilidade.
A
donzela levantou-se
Foi
ao soberano rei,
Então
beijando-lhe a mão
Disse:
-- Vos suplicarei
Mande
o sábio entregar-me
Tudo
que dele ganhei,
O
rei ali ordenou
Que
o sábio se despojasse,
De
todas as vestes que tinha
E à
donzela as entregasse,
O
jeito que tinha ali
Era
ele envergonhar-se.
O
sábio pôs-se a despir-se
Como
quem estava doente,
Fraque,
colete e camisa
28
Ficando
ali indecente,
E
pediu para ficar
Com
a ceroula somente.
Depois
sufocado em pranto
Prostrado
disse à donzela:
-- Resta-me
apenas a ceroula
Não
posso me despir dela,
A
donzela perguntou-lhe:
-- O
senhor nasceu com ela?
O
trato foi o seguinte
De
nós quem fosse vencido,
Perante
a todos da corte
Havia
de ficar despido,
Como
quando veio ao mundo
Na
hora que foi nascido.
El-rei
foi o fiador
Nosso
ajuste foi exato,
O
senhor tem que despir-se
E
dar-me fato por fato
Ficando
com a ceroula
Não
teve efeito o contrato.
E
não quis dar a ceroula
O
rei mandou que ele desse,
Ou
pagaria à donzela
O
tanto que ela quisesse,
Tanto
que indenizasse-a
Embora
que não pudesse.
29
Donzela
quanto queres
Perguntou
o sábio enfim,
A
donzela ali fitou-o
E
lhe respondeu assim:
-- A
metade do dinheiro
Que
meu senhor quer por mim.
O
rei ali conhecendo
O
direito da donzela,
Vendo
que toda razão
Só
podia caber nela,
Disse
ao sábio: -- Mande ver
O
dinheiro e pague a ela.
Cinco
mil dobras de ouro
A
donzela recebeu,
O
sábio também ali
Nem
mais satisfação deu,
Aquele
foi um exemplo
Que
a donzela lhe vendeu
O
rei então disse à ela:
-- Donzela
podes pedir
Dou-te
a palavra de honra
Farei-te
o que exigir,
De
tudo que pertencer-me
Poderás
tu te servir.
Ela
beijou-lhe a mão
Lhe
disse: -- Peço que dê-me,
A
quantia do dinheiro
30
Que
meu senhor quer vender-me,
Deixando
eu voltar com ela
Para
assim satisfazer-me.
O rei
julgou que a donzela
Pedisse
para ficar,
Tanto
que se arrependeu
De
tudo lhe franquear,
Mas
a palavra de rei
Não
pode se revogar.
Mandou
dar-lhe o dinheiro
Discutiu
também com ela,
Mas
ciente de tudo
Quanto
podia haver nela,
E
disse vinte mil dobras
Não
pagam esta donzela.
Voltou
ela e o senhor
À
sua antiga morada ,
Por
uma guarda de honra
Voltou
ela acompanhada,
O
senhor dela trazendo
Uma
fortuna avaliada.
Ficaram
todos os sábios
Daquilo
impressionados,
Pois
uma donzela escrava
Vencer
três homens letrados,
Professores
de ciências
Doutores
habilitados.
31
Abraão
de Trabador
Com
todos não discutia,
Já
tinha vencido muitos
Em
música e filosofia,
Em
história natural
Matemática
e astronomia.
Ele
descrevia a fundo
Os
reinos da natureza,
Era engenheiro
perito
De
tudo tinha a certeza,
Descrevia
o oceano
Da
flor d'água a profundeza.
Tanto
quando ele entrou
Que
fitou bem a donzela,
Calculou
dentro de si
A
força que havia nela,
Confiando
em sua força
Por
isso apostou com ela.
Caro
leitor escrevi
Tudo
que no livro achei,
Só
fiz rimar a história
Nada
aqui acrescentei,
Na
história grande dela
Muitas
coisas consultei.
32
OS
LADRÕES DE RETROLÂNDIA
João
Lucas Evangelista
Salomão
rei da Ciência
Te
peço com lealdade,
Solte
o gênio da memória
Do
reino da liberdade,
Que
vou descrever um drama
Do
tempo da antiguidade.
Residia
em Retrolândia
Num
reino muito afastado,
Um
velho pai de dois filhos
Um
ele tinha criado,
Por
filho de criação
E o
outro apropriado.
Masdome
era o mais velho
Sendo
o filho apropriado,
Dropes
o filho mais moço
Que
o velho tinha criado,
Viviam
bem satisfeitos
Naquele
lindo reinado.
Já
tinham sido soldados
Cada
qual o mais valente.
Mas
Dropes tinha um defeito
Ser
teimoso e renitente,
Tudo
que o outro fazia
Ele
desviava a frente.
01
Um
dia se combinaram
Pra
fazer vida futura,
Viajar
daquele reino
Sair
daquela amargura,
Mesmo
eles precisavam
De
viver uma aventura.
Participaram
ao velho
Logo
fizeram partida,
O
velho os abençoou
Recomendou-os
na saída,
Cuidado
pra não caírem
Nos
atropelos da vida.
Seguiram
os dois pelo mundo
Naquela
viagem além,
Andando
pelas campinas
Sem
encontrarem ninguém,
Adiante
faltou comida
Depois
a água também.
E
avistaram um castelo
Com
um torreão dourado,
Dropes
disse a Masdome:
--
Seguimos pra` aquele lado,
Pois
estou com muita sede
Com
fome e desfigurado.
Masdome
disse a Dropes:
--
Nós vamos seguir a frente,
Que ali
naquele castelo
Talvez
não more um vivente,
Ou
por outra é esconderijo
De
algum bandido insolente.
02
Dropes
disse a Masdome:
--
Eu vou por este caminho,
A
sede que me atormenta
Me
deixa em desalinho,
Se
você não quiser ir
Fique
aí que eu vou sozinho.
Respondeu
Masdome: -- Eu vou
Mas
sei que é horroroso,
Ir
parar naquele castelo
Pois
acho ser perigoso,
Mas
tu ainda se arrependes
Por
causa de ser teimoso.
Leitor
aquele castelo
Para
onde eles iam,
Era
de uma quadrilha
Que
de assaltos viviam,
Os
ladrões de Retrolândia
Que
a ninguém não temiam.
Viviam
de emboscadas
Esse
ladrões bandoleiros,
Atacavam
de uma vez
Todos
os reinos estrangeiros,
E
ninguém se aguentava
Nas
mãos desses desordeiros.
Por
isso que os reis temiam
Que
um dia eles entrassem,
Em
seus reinos porque eles
Nos
reinos que atacassem,
Nunca
se ouvia falar
Que
os soldados escapassem.
03
Porém
Masdome e Dropes
Já
tinham sido soldados,
Dois
espadachins valentes
Nunca
foram graduados,
Por
serem bravos demais
Eram
por todos marcados.
Além
de serem dispostos
Topavam
qualquer parada,
Sabiam
jogar bem facas
Tinham
treinos na espada,
E
eram destros na lança
Não
tinham medo de nada.
Seguiram
para o castelo
Os
dois em conversação,
Quando
avistaram a entrada
Era
um enorme portão,
Um
guarda de sentinela
Com
uma lança na mão.
Se
aproximaram do guarda
Dropes
disse: -- Eu falarei,
Fez
sinal de continência
De
acordo com a lei,
E
disse: -- Guarda eu preciso
Falar
com o vosso rei.
O
guarda baixou a lança
Não
deu sinal de passar,
Porém
puxou num alarme
E
começou a chegar,
Soldados
de toda parte
E
começaram a cercar.
04
E
aproximou-se deles
Um
sujeito bronzeado,
Pelos
enfeites da roupa
Se
via ser graduado,
Uma
capa muito verde
Um
capacete dourado.
Que
desejam os senhores
Foram
logo interrogados,
Pelos
ladrões de Retrolândia
Vocês
dois estão cercados,
Sendo
príncipes ou ladrões
Hão
de serem escravizados.
Disseram:
-- Somos aldeões
Saímos
neste lugar,
Perdidos
com fome e sede
Não
podemos viajar,
Precisamos
de conforto
Pra
outro rumo tomar.
Os
ladrões assim disseram:
--
Aqui não tem regalia,
Se
ficarem escravizados
Trabalhando
todo dia,
Do
contrario serão mortos
Sem
estipular quantia.
Masdome
aí disse a Dropes:
--
Segure lá sua espada,
Para
enfrentar os ladrões
Como
fera endiabrada,
Ali
travou-se entre eles
Uma
luta encarniçada.
05
Nisto
os soldados partiram
E se
travaram na luta,
Masdome
e Dropes tinham
Uma
força absoluta,
Como
se fosse ajudado
Por
força tremenda oculta.
No
brandir das espadas
Todo
soldado tremia,
Tantos
revezes fizesse
Como
um soldado caía,
Quando
derrubava um
O
outro logo partia.
Com
dez minutos de luta
Viram
o esbandalho no chão,
Daquela
primeira luta
Não
escapou um ladrão,
E
puxaram no alarme
Pra
vir outro batalhão.
Surgiu
outro grupamento
E os
moços encontraram,
Em
menos de meia hora
Os
reforços acabaram,
Os
rapazes como feras
Três
batalhões devoraram.
E o
sultão dos ladrões
Vendo
tudo esbandalhado,
Indignado
disse aos príncipes
Quero
os homens liquidados,
Desceram
de corte abaixo
Como
uns leões assanhados.
06
De
repente foram ouvindo
O
brado do sentinela,
Pois
ali os dois rapazes
Igual
à febre amarela,
Iam
pegando os vassalos
E
jogando pela janela.
Dois
príncipes ladrões partiram
Como
uma fera bravia,
Os
dois homens mais valentes
Que
nesse castelo havia,
Que
comandavam os ladrões
Pra
todo canto que ia.
Desceram
de escada abaixo
Quatro
homens embolados,
Quebrando
porta e janela
Nos
maiores esbagaçados,
Pois
os rapazes estavam
Feridos
e já cansados.
Masdome
de espada em punho
A um
príncipe traspassou,
O
Sultão se escapuliu
E
embaixo esbagaçou,
Torou
o pescoço de outro
Desocupado
ficou.
Terminam
a grande luta
A
rainha havia fugido,
Damas,
princesa e escravos
Tinham
desaparecido,
Soldados,
príncipes e vassalos
Na
luta tinham morrido.
07
Seguiram
de reino adentro
Depois
que se confortaram,
Dois
cavalos russos pombos
Bem
arreado encontraram,
Tomaram
conta de tudo
Que
esses ladrões deixaram.
Havia
em cima das selas
Dois
trajes bem alinhados,
Feito
de bronze e veludo
Azul
branco esverdeado,
Duas
capas encarnadas
Dois
capacetes dourados.
Dropes
disse:-– Estes cenários
Nós
temos para vestir,
Trajados
como ladrões
Ninguém
vem nos perseguir,
E só
assim a viagem
Nós
podemos resistir.
Masdome
disse a Dropes:
--
Eu não combino contigo,
Dos
ladrões de Retrolândia
Todo
mundo é inimigo,
Nós
com essa identidade
A
vida corre perigo.
E
Dropes quando queria
Tinha
que ser correspondido,
Masdome
ali resolveu
A
fazer o seu pedido,
Muito
embora que depois
Se
tornasse arrependido.
08
Se
montaram nos cavalos
E
dali foram-se embora,
Pois
não convinha voltar
Para
o seu reinado agora,
Se
muniram de dinheiro
E romperam
de mundo afora.
Saíram
de mundo a fora
Fazendo
estripulia,
Quando
entravam num reinado
O
povo todo corria,
“Os
Ladrões de Retrolândia”
Assim
o povo dizia.
Os
soldados iam a eles
Mas
não subjugavam,
Nas
unhas dos dois rapazes
Ninguém
se aguentava,
E a
fama dos ladrões
Cada
vez mais aumentava.
Ninguém
pôde acreditar
Como
eles se transformaram,
Eram
dois cordeiros mansos
E
tão valentes ficaram,
E
assim nesta missão
Muitos
reinos devoraram.
Mas
eles só derrotaram
Aqueles
que os perseguiam,
E
não eram desordeiros
Roubar
também não queriam,
Se
não bulissem com eles
Eles
também não buliam.
09
Um
dia pela tardinha
Cansados
de viajar,
Avistaram
grande rocha
Num
esquisito lugar,
Rumaram
em busca da pedra
Com
destino a pernoitar.
Umas
cento e tantas léguas
Os
cavalos já corriam,
As
terras eram diferentes
Das que
eles conheciam,
Cheia
de assombro e encantos
Porém
eles não sabiam.
Porque
fera para eles
Não
era de assombrar,
Leão
e tigre não eram
Coisa
de amedrontar,
Lobo
serpente e pantera
Temiam
aos dois encontrar.
No
pé da rocha uma gruta
Com
grande concavidade,
Amarraram
os dois cavalos
Desceram
com brevidade,
Por
uma caverna escura
Saindo
numa claridade.
Era
um salão sem saída
Sem
réstia do arrebol,
As
pedras brilhavam tanto
Igual
os raios do sol,
Nisso
ouviram uma voz
E o
tremido de tarol.
10
A
voz seguia dizendo
Acho
bom não demorar,
Não
perderam nada aqui
Não
tem por quem esperar,
Mesmo
o lugar é impróprio
De
ladrão se aproximar.
Dropes
falou em voz alta:
-- E
quem é que está falando?
Só
posso temer ao vulto
Se
me derrotar lutando,
Nisso
ouviram os estrondos
Da
caverna desabando.
Dali
surgiu o silêncio
Uma
porta viram abrir,
E
dois enormes gigantes
Em
suas frentes surgir,
E
dizendo:-- Dois pirralhos
O
que é que querem aqui?
Masdome
disse: -- Nada
Vós
quereis me desculpar,
Também
sobre o desafio
Meu
irmão sem esperar,
Que
fossem dois monstros destes
Dê
licença a nós voltar.
Disseram
os gigantes: -- Calma
Agora
estão ocupados,
Daqui
só sai para fora
Os
pedaços rebolados,
Ordens
de nossos patrões
Para
ficarmos treinados.
11
Masdome
disse: -- Amigos
Então
vamos enfrentar,
Nosso
treino é muito pouco
Para
com vocês lutar,
Porém
cuidado na vida
Que
vou botar pra tostar.
Botaram
pra derreter
Como
Oliveira e Roldão,
Lutando
com Ferrabrás
Estremecendo
o salão,
Gritavam
os rapazes, gigantes
Segurem
as armas na mão.
Diziam
os gigantes:-- Cabras
Saibam
fazer o brandio,
Que
nossas espadas cortam
Até
as pedreiras do rio,
Quanto
mais estes seus bronzes
Fininho,
fraco e macio,
Porém
Masdome avançou
Com
a força do braço e deu,
Um
golpe desapontado
Porém
de nada valeu,
Partiu
um braço do monstro
Mas
a espada perdeu.
Com
rapidez dum relâmpago
O
gigante o agarrou,
Com
um só braço brigando
Lá
para dentro o levou,
E
Dropes quase endoidava
Quando
essa cena passou.
12
E
com mais cinco minutos
Dropes
então pode cravar,
A
espada entre os dois olhos
Do
gigante e viu tombar,
Sumiu-se
dali também
Mas
ele pôde ficar.
Entrou
pela furna adentro
Com
a espada na mão,
Uma
era de Masdome
Que
ele encontrou no chão,
Deparou
com duas moças
Sentadas
noutro salão.
E
passando as mãos no rosto
Com
a vista embaraçada,
Contemplando
aquelas moças
Mas
notou ser encantadas,
Passava
as mãos sobre elas
Porém
não triscava em nada.
Nisto
uma voz lhe falou
Moço
não seja medroso,
Que
teu irmão está preso
Em
um buraco horroroso,
Para
tirá-lo de lá
Precisa
ser corajoso.
Ele
entrou de furna adentro
Com
toda sagacidade,
Encontrou
Masdome preso
E
Dropes com brevidade,
Partiu
depressa as algemas
Pondo
ele em liberdade.
13
E o
gigante ferido
Só
com um braço avançou,
Masdome
estando solto
Por
sua espada puxou,
E
partiram dois pra um
Que
o fogo clareou.
E na
fúria dos dois homens
O
monstro ficou sem jeito,
Masdome
cravou-lhe a espada
Que
atravessou o peito,
Dropes
cravou no umbigo
Ele
caiu sem efeito.
Voltaram
para o salão
Embainharam
as espadas,
Lá
encontraram as moças
Chorando
desenganadas,
Debruçadas
numa mesa
Em
duas cadeiras sentadas.
Ai
disseram seus moços
A
causa está enrascada,
Ainda
tem dois gigantes
Que
chegam de madrugada,
Encontrando
os outros mortos
Vai
ser tremenda a zoada.
--
Pois lá no nosso reinado
Uma
fada nos roubou,
A
esses quatro gigantes
Com
todo orgulho entregou,
Para
passar trinta anos
Ela
aqui nos encantou.
14
Já
fazem vinte e nove anos
Onze
meses e poucos dias,
Quando
completar o tempo
Ela
vem com bruxarias,
Redobrar
nossos encantos
Aumentar
nossas agonias.
Sendo
que vocês resistam
Com
os gigantes lutar,
Às
doze horas da noite
Caso
a vitória alcançar,
Amanhã
fica mais fácil
De a
nós desencantar.
Pois
na hora do almoço
Quando
na mesa chegar,
Uma
pombinha bem alva
Na
refeição vem pousar,
Vocês
com muita cautela
Pegue
e não deixe escapar.
Puxe
logo no pescoço
Cuidado
se ela voar,
Irá
pousar muito longe
Nas
gramas de outro pomar,
Onde
nunca mais no mundo
Vocês
hão de encontrar.
Dentro
dela tem dois ovos
Tire-os
com muito cuidado,
Vão
deixar no Monte Além
Aquele
lindo reinado,
Que
lá nossa recompensa
A
cada um será dado.
15
Somos
de alta nobreza
Mais
rica do que ninguém,
E
toda nossa fortuna
Pertence
a vocês também,
Somos
filhas do Monarca
Do
reino do Monte Além.
Cuidado
muito cuidado
Quando
no reinado entrar,
Chegue
com muita cautela
Pra
ninguém desconfiar,
Porque
papai não consente
Ladrão
na corte pisar.
Ali
quando terminaram
Aquela
conversação,
A
mesada estava pronta
E
fizeram a refeição,
E
depois foram dormir
Noutro
bonito salão.
Às
doze horas da noite
Masdome
foi se acordando,
Com
um estrondo na caverna
Foi
logo se levantando,
Para
saber o que era
Foi
então se preparando.
Bateu
mão a sua espada
Disse:
-- Dropes está na hora,
Meteram
os pés todos dois
Saíram
de porta a fora,
No
salão da grande luta
Se
encontraram sem demora.
16
Os
gigantes foram entrando
Chamando
pelas princesas,
Quando
acenderam uma luz
Que
tinha em cima da mesa,
Os
moços disseram: -- Pronto
Estamos
aqui, vossa alteza.
Eram
dois monstros terríveis
Maiores
do que os outros,
Pretos
da cor do demônio
E os
cabelos de bilotos,
Das
esquadras dos navios
Serviam
como pilotos.
Novamente
entraram em luta
Saíram
de gruta a fora,
Os
cavalos que estavam
Presos
do lado de fora,
Quebraram
as rédeas e entraram
Lutando
naquela hora.
Partiram
para os gigantes
Com
a crina arrepiada,
Os
rapazes quando davam
De
frente uma cutilada,
Os
cavalos pelas costas
Também
davam uma patada.
Já
por fim Masdome estava
Cansado
só de lutar,
Quando
a venta dum gigante
Dum
golpe pode arrancar,
O
cavalo tomou conta
Acabou
de esbagaçar.
17
O
outro derrubou Dropes
E
partiu para o cavalo,
Dando
ecos e patadas
Porém
antes de agarrá-lo,
Masdome
com a espada
Também
pode traspassá-lo.
Houve
grande reboliço
Depois
que o outro morreu,
Caindo
banda de serra,
A
montanha estremeceu,
Dropes
só deu cor de si
Quando
o dia amanheceu.
As
moças abraçaram os dois
Dizendo:
-- São muito ativos,
Nunca
pensamos de hoje
Encontrarmos
vocês vivos,
Levaram
os dois para dentro
Foram
fazer curativos.
E na
hora do almoço
Os
dois estavam na ativa,
Quando
chegou a pombinha
E
pousou tão pensativa,
Pegaram
para matar
Dropes
disse: -- Eu quero viva.
Masdome
disse pra Dropes:
-- O
melhor é nós matar,
Dropes
disse: -- É perigoso
Pode
os ovos se quebrar,
Nisto
a pombinha soltou-se
Saiu
no mundo a voar.
18
Mas
Dropes ligeiramente
Do
seu trinche-te sacou,
Ela
já voando alto
Ele
com força atirou,
Cravou
debaixo da asa
Dropes
correu e apanhou.
Aí
tiraram os dois ovos
E
saíram em disparada,
Em
busca de Monte Além
Nesta
tremenda jornada,
Foram
parar muito longe
Dessa
viagem puxada.
Dropes
olhando os ovinhos
Disse
ali: -- Não pode ser,
Duas
princesas aqui dentro
Coisa
que não posso crer,
Vou
quebrar um desses dois
Acredito
quando ver.
--
Oh! Dropes não faça isso
Ele
fez que não ouviu,
Apertou
por entre os dedos
E
quando o ovo partiu,
A
princesinha mais nova
Perfeitamente
surgiu.
A
princesa disse: -- Dropes
Porque
fizeste essa prosa,
Pois
se a fada me ver
Bota
emboscada horrorosa,
E
daqui para o reinado
A
viagem é perigosa.
19
Dropes
disse: -- Monte aqui
E
vamos pra frente andar,
Se a
fada vier a nós
Teremos
que lhe enfrentar,
Inda
virada no diabo
Ela
não pode lhe tomar.
Masdome
ia muito atento
Olho
aberto a vigiar,
Dizia:
-- Com ser humano
É
fácil de se lutar,
Porém
com ser invisível
É
muito raro ganhar.
E no
pé dum arvoredo
Pararam
pra descansar,
O
sol tremia de quente
E
não podendo viajar,
Desarrearam
os cavalos
Botaram
para pastar.
Depois
que fizeram a boia
Beberam
agua sentados,
E
sentaram nas folhas
Os
dois bastante enfadados,
Masdome
nada dormia
De
olhos arregalados.
Daí
a poucos minutos
Quando
ele foi madornando,
Ouviu
um tremor de terra
As
árvores se balançando,
Ele
pensou que era o mundo
Que
vinha se acabando.
20
Nisso
viu um pássaro preto
No
arvoredo pousar,
Um
forte bater de asas
O
claro do sol tomar,
Ele
faltou a coragem
Não
pode nem se molgar.
O
pássaro deu um gemido
E
disse de vozes presas:
--
Esse rapazes são os tais
Que
me fizeram uma surpresas,
Mataram
meus dois gigantes
E
carregaram as princesas.
Eu
não tenho resistência
Para
de peito enfrentar,
São
bravos e muito dispostos
Eu
não vou me arriscar,
Porém
vou tentar um meio
Para
os dois eu devorar.
Soltou
um eco tremendo
Que
no espaço ecoou,
Uns
500 pássaros pretos
No
arvoredo pousou,
Porém
reinava um mistério
Que
Dropes não se acordou.
O
pássaro diziam aos outros:
--
Quero tudo estrangulado,
Um
permanece dormindo
O
outro está acordado,
Mas
precisa de precaução
Que
este é muito malvado.
21
--
Com força mágica esse aí
Conservo
em sono ferrado,
Vamos
lutar com o outro
Porém
precisa cuidado,
Se
eu sair deste canto
Está
tudo desgraçado.
Se o
outro se acordar
O
esbandalho está feito,
Porém
não acontecendo
Pegamos
o outro de jeito,
Carregamos
as princesas
Matamos
o outro sujeito.
Masdome
naquela hora
Viu
besouro e borboleta,
Com
a passarada em cima
Tudo
com a cor muito preta,
Disse
ele: -- Eu vou mostrar
Que
minha volta é marreta.
Bateu
com a mão a espada
De
aço bem temperado,
Fez
guardas aos que dormiam
Foi
tremendo o revirado,
Só
via pena de pássaro
Voando
pra todo lado.
Um
pássaro partiu em cima
Para
rasga-lo na certa,
Ele
com o capacete
Das
unhas fez a coberta,
Danou-lhe
a espada em cheio
Que
caiu de asas aberta.
22
O
pássaro grande gritava:
--
Quero que mate o bandido,
Masdome
fazendo ali
Papel
de doido varrido,
Cada
golpe que ele dava
Caía
um pássaro estendido.
Um
pássaro grande veloz
Partiu
pra rasgar o moço,
E
Masdome na espada
Fazendo
grande destroço,
Viu
onde ficou o corpo
Mas
não soube do pescoço.
Se
desviando dos outros
Ficou
mais desapertado,
Nisto
voou o trinchete
No
que estava trepado,
Pegando
no meio do papo
Caiu
de bico fechado.
E
dando um gemido feio
Nisso
uma voz estrondou,
Estamos
todos perdidos!
Dropes
também acordou,
Batendo
mão a espada
Na
luta também entrou.
Nesta
hora no poente
Viu-se
um vulcão turbulento,
Os
pássaros faziam vôo
E
quando chegavam ao centro,
Da
fumaça do vulcão
Entravam
de fogo adentro.
23
Masdome
contou ali
O
que tinha se passado,
Dropes
disse: -- Eu desejava
Também
está acordado,
Para
provar dessa luta
Isso
é que é ser azarado.
E
prosseguiram a viagem
Em
procura do reinado,
Masdome
bem satisfeito
E
Dropes muito zangado,
Porque
quando não brigava
Ficava
contrariado.
Quando
avistaram o castelo
A
princesa a meditar,
Disse:
-- É bom que fique um
O
outro vá me levar,
Chegando
os três de surpresa
Pode
tudo piorar.
Pois
indo os dois duma vez
Papai
pode suspeitar,
Ser
quadrilhas de bandidos
Para
o reinado atacar,
Revolta-se
todo exército
As
forças da terra e mar.
Disse
Dropes a Masdome:
--
Eu na frente seguirei,
Você
fica me esperando
Que
de lá eu mandarei,
Um
recado te chamando
De
acordo com a lei.
24
Masdome
ali combinou
Mas
não ficou satisfeito,
Dropes
seguiu com a moça
No
reino meteu o peito,
Logo
na primeira guarda
Como
ladrão foi suspeito.
Logo
disseram: -- O senhor
Não
pode no reino entrar,
A
princesa deu sinal
Para
as lanças levantar,
Disseram:
-- É crime de morte
Ladrão
na corte pisar.
Mas
Dropes tomou a frente
Dizendo:
-- Saia do meio,
Com
ladrão de Retrolândia
Ninguém
não topa recreio,
Ou
eu entro no reinado
Ou o
esbandalho é feio.
Ali
não contou conversa
Dizendo:
-- Eu gosto é do bolo,
Quando
pegava um de jeito
Da
espada fazia rolo,
Quando
pegava nas pernas
De
outro fazia rebolo.
Fazia
a guarda da moça
Segurando-a
pela mão,
O
qual não foi muito fácil
Entregar-se
ao batalhão,
Prenderam
a moça porém
Não
conseguiram o ladrão.
25
Levaram
a moça pra corte
Para
com o rei falar,
Ele
ficou muito alegre
Porém
não pode aceitar,
Pois
ali em Monte Além
O
decreto era matar.
Mas
a princesa sabia
Que
Dropes tinha progresso,
Ali
não fez mais pedido
Aquele
sultão perverso,
Nessa
hora ele já vinha
Virando
o reino asavesso.
Queriam
os guardas pegar
Pra
metê-lo no xadrez,
Ele
se fez na espada
Com
tamanha rapidez,
Que
nem um rinoceronte
Tinha
tanta estupidez.
Com
meia hora de luta
Estava
o esbandalho feito,
Dropes
já muito cansado
Brigando
quase sem jeito,
Porque
já tinham cortado
Todo
bronze do seu peito.
Porém
matou um soldado
E
tomou dele um escudo,
Fez
sombra na sua frente
Cortando
guarda a miúdo,
Dizendo
para os soldados:
--
Hoje eu acabo com tudo.
26
Mas
atiraram uma lança
Para
traspassar o peito,
Ele
aparou no escudo
Ela
fez um tal efeito,
Pegando
na sua espada
Quebrando
não teve jeito.
Ele
ficou desarmado
Quatro
soldados o pegaram,
E o
moço com os braços
Deu
um sopapo e voaram,
Dois
de cabeça pra baixo
E
novamente o soltaram.
Partiu
um guarda pra ele
Feito
um leão assanhado,
Dropes
o ergueu jogando
Em
procura do telhado,
Na
volta o cabra ficou
Num
torno dependurado.
Partiram
dois duma vez
Dropes
já muito afobado,
Pegou-os
pelo pescoço
Deu
um sopapo danado,
Pegando
testa com testa
Foi
banda pra todo lado.
Por
mais de quarenta guardas
Nesta
hora foi pegado,
E
imediatamente
Para
a corte foi levado,
Onde
encontrou o sultão
Falando
encolerizado.
27
Lhe
disseram: -- Majestade
Esse
ladrão é valente,
Pois
acabou mais de um quarto
Da
guarda de nossa gente,
Disse
o rei: -- Nem Deus te livra
De
morrer barbaramente.
-- Se
tivesse se entregado
Sem
de sangue fazer trilha,
Eu
te dava uma medalha
Por
salvar a minha filha,
E
daria a liberdade
De
voltar para a quadrilha.
Disse
Dropes: -- Senhor rei
O
senhor está enganado,
Pois
meu irmão vem aí
Saber
do meu resultado,
Se
apronte que o seu reino
Hoje
vai ser incendiado.
Mandou
prender o rapaz
Em
um escuro salão,
Deu
ordens para os soldados
Reunirem
o batalhão,
Talvez
a quadrilha toda
Venha
do reino em direção.
Mas
vamos ver o Masdome
O
que foi que ele fez,
Onze
horas mais ou menos
Nada
lhe chegou talvez,
Ele
montou no cavalo
E
partiu com rapidez.
28
Às
doze horas do dia
No
reino entrou um ladrão,
Foi
logo se dirigindo
Ao
palácio do sultão,
Era
o grande Masdome
Em
busca do seu irmão.
Disseram
os guardas:--Estás preso
É
bom não fazer ação,
Basta
o estrago que o outro
Fez
aqui no batalhão,
Disse
ele: -- Eu quero saber
Onde
é que está meu irmão.
Disseram
os guardas:--Está preso
Aqui
mesmo em Monte Além,
Vai
para a forca amanhã
E
você irá também,
Pois
aqui não se atende
A
pedido de ninguém.
Disse
ele: -- Acho difícil
Ser
por vocês agarrado,
Pra
quem luta com gigante
Acha
maneiro um soldado,
Com
vinte batalhões destes
Inda
estou desocupado.
Dava
até pra suspeitar
Que
ele tinha encarnado,
Uma
força diabólica
Pois
só um endiabrado,
Fazia
o que ele fez
Um
tremendo esbagaçado.
29
Um
guarda partiu pra cima
Dizendo:--
Eu vou derretê-lo,
Masdome
disse: -- Eu sou
Parada
pra desmantelo,
Danou-lhe
a espada em cima
Que
ele acentou o cabelo.
Os
outros também partiram
Por
ser de obrigação,
Masdome
fez que morria
Foi
pior que um dragão,
Muitos
deles não brigavam
Morriam
do coração.
Com
mais uns quinze minutos
Estava
o serviço feito,
Quebraram
um portão de ferro
Pularam
um parapeito,
Foi
encontrar o irmão
Num
beco escuro e estreito.
Nem
é preciso dizer
O
que foi que ele fez,
Partiu
as duras algemas
Do
outro com rapidez,
Se
armaram e enfrentaram
O
batalhão outra vez.
Porém
como já se sabe
Que
aonde os dois passavam
Das
espadas cortadeiras
Nem
satanás escapava,
Tantos
batalhões achassem
Como
eles devoravam.
30
Os
guardas fizeram como
Um
bando de seriemas,
Em
procura do palácio
Fizeram
pernas de emas,
Abandonaram
o reinado
Se
danaram nas juremas.
Foram
dar parte na corte
Do que
no reino havia:
-- Os
dois ladrões que chegaram
Da
princesa em companhia,
Vão
devorar o reinado
Antes
de findar-se o dia.
-- Pois
os dois homens parecem
Lavra
ardente de vulcão,
Uma
grande tempestade
Com
mais força que Sansão,
É
tanto soldado morto
Que
o sangue faz borbotão.
O
rei mandou uma ordem
Para
a luta terminar,
E
trazer os dois ladrões
Para
com ele falar,
Pois
estava vendo a hora
Seu
reinado se acabar.
Assim
terminaram a luta
Os
dois tiveram a vitória,
Foram
falar com o rei
Cada
qual cheio de glória,
Porque
foram corajosos
Assim
eu li a história.
30
Masdome
então puxou
Do
seu bolso nesta hora,
Um
ovo bem pequenino
E
disse: -- Senhor rei agora,
Vou
entregar vossa filha
Que
a senhora está fora.
Disse
ao rei: -- Quebre o ovo
Que
o senhor desembaraça,
A
vida da sua filha
E
sabe do que se passa,
Nisto
a princesa surgiu
Num
borbulho de fumaça.
Quando
tiveram a certeza
Que
nenhum era ladrão,
O
rei perguntou: -- Por que
Fizeram
esses trajes então?
Dropes
disse: -- Porque nós
Gostamos
de confusão.
Casou-se
Dropes com Linda
E
Masdome com Gercina,
E aqui
caros leitores
O
meu romance termina,
Meus
versos são muito simples
Mas
a obra é muito fina.
O
clichê deste romance
Mostra
a figura legal,
De
Dropes com o Masdome
E o
monstro descomunal,
No
encontro da grande luta
Dentro
da furna infernal. FIM
32
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