Sossega flor de açucena
Pro mode o que assucedeu
Assunta, valeu a pena,
Juntim a gente cresceu
Nós nunca perdeu a mira
Se inziste quem te admira
Esse cabra sou eu!
Deita no leito do ri
Imbala o sonho que é teuNas águas do desafi
O amor quem foi que te deu?
Quem muito ama não drôme
Carece dizer o nome?
Esse cabra sou eu
No fundo dos horizonte
Mil vezes o sol nasceuBriando pur traz os monte
Alumiando esse breu
Te amando pro toda a vida
Vou priguntar, quem duvida?
Esse cabra sou eu!
No imaginaro castelo
Que o nosso amor se valeuO sentimento eu martelo
Assim que nem um Romeu
Nas foia desse romance
Se tem arguem que te alcance
Esse cabra sou eu!
Os verso mais delirante
O teu poeta inscreveuSou o mió dos amante
Que o mundo já conheceu
Astuto, matuto esperto
Arremedando o Roberto
Esse cabra sou eu!
Conselho Ao Filho Adulto
Poeta Sebastião Dias
Por favor, filho querido
Me escute, pense bem
Seu velho pai quer lhe dar
O valor que você tem
Você está na idade
De alcançar a liberdade
De fazer sua vontade
E tornar-se homem também
Tem uma coisa meu filho
Que eu queria lhe dizer
Lhe eduquei como podia
Já cumpri com o meu dever
Você agora decida
O futuro lhe convida
Eu gerei, Deus deu a vida
É você quem vai viver
Tem espinhos no começo
Aguarde flores no fim
Respeite os seus semelhantes
Siga o bom, deixe o ruim
Por onde você passar
Reconheça o seu lugar
Pra ninguém se envergonhar
Dum filho meu, nem de mim
Defenda a moral sem sangue
Ajude a quem precisar
Quando tiver precisão
Peça um pão, pra não roubar
Ouça o velho, ame o menor
Pense em Deus, faça o melhor
Coma e vista do suor
Que o seu rosto derramar
Não queira nada roubado
Nem amor por fantasia
Escolha mulher sincera
Para sua companhia
Faça, meu filho, o que fiz,
Veja como sou feliz
Só casei com quem me quis
E sua mãe com quem queria
O mundo tem dois caminhos
Um é certo, outro é errado
Na escolha de um deles
É preciso ter cuidado
Se você não escolheu
Um deles pra ser o seu
Se quiser seguir o meu
O exemplo é meu passado
Mesmo na maior idade
Quero estar sempre contigo
Lhe ensinando bons caminhos
Lhe livrando do perigo
Estando perto ou distante
Não lhe deixo um só instante
Porque de agora em diante
Além de pai, sou amigo
Corra mundos, faça amigos
Conheça o que eu conheci
Transmita o que eu ensinei
Conquiste o que eu consegui
Aproveite a juventude
Ame a paz, honre a virtude
Quando quiser quem lhe ajude
Seu velho pai está aqui
CARTA DE UM MARGINAL
RECEBI
PELO CORREIO
CARTA
DE UM HOSPITAL
DIZENDO
SER DE UM CLIENTE
QUE
PASSAVA MUITO MAL
O
QUAL EU JÁ TINHA LIDO
O
SEU NOME EM JORNAL
DIZIA
CARO POETA
SÓ
VOCÊ QUE TEM MEMÓRIA
PODE
TRANSFORMAR EM VERSO
MINHA
FRACASSADA HISTÓRIA
MEU DESTINO
FOI TRAÇADO
COM
A MINHA FORMAÇÃO
O
VENTRE QUE ME GEROU
FOI
VÍTIMA DE TRAIÇÃO
FUI
MALDITO DESDE O DIA
DA
MINHA CONCEPÇÃO
PASSEI
POR CIMA DA PÍLULA
FUI
GERADO EM DESCONFORTO
MINHA
MÃE TOMOU REMÉDIO
PRA
VÊ SE EU NASCIA MORTO
VIM
AO MUNDO POR ACASO
E
NÃO CONHECI OS MEUS PAIS
FUI
JOGADO EM UM CERRADO
EM
PEDAÇOS DE JORNAIS
A
POLÍCIA ACHOU-ME QUANDO
PROCURAVA
MARGINAIS
ALGUÉM
DE MIM TOMOU CONTA
ME
FAZENDO UMA ESMOLA
ME
CRIARAM COMO FILHO
E ME
BOTARAM NA ESCOLA
NÃO
QUIS SABER DE TRABALHO
ESTUDAR
NÃO DEI VALOR
SEMPRE
DESOBEDECENDO
AO
MEU SUPERIOR
BATIA
NOS MEUS COLEGAS
XINGAVA
O MEU PREFESSOR
ENTREI
NO VÍCIO DA DROGA
JUNTO
COM A CURRIOLA
JÁ
FUMEI ERVA MALDITA
MESMO
DENTRO DA ESCOLA
FUI
EXPULSO DO COLÉGIO
POR
TRAFICÂNCIAS ILEGAIS
DESONREI
UMA MENOR
E
FUGI DA CASA DOS PAIS
E
PARTIR PRA A PESADA
NUM
GRUPO DE MARGINAIS
NÃO
CONTO TUDO A MIÚDO
PORQUE
O MEU TEMPO NÃO DÁ
NÃO
QUIS NADA COM TRABALHO
MEU
NEGÓCIO ERA ROUBAR
NA
VIDA DE ASSALTANTE
TODOS
TEMIAM A MIM
FUI
TERROR DA NOITE ESCURA
E FIZ TUDO QUE FOI RUIM
UM
GERME ASSIM COMO EU
SÓ
PRESTA LEVANDO FIM
SEMPRE
FUGINDO DE CERCO
E MATANDO DE EMBOSCADA
SEDUZI
MUITAS DONZELAS
FIZ
ASSALTO A MÃO ARMADA
NAQUELE
MESMO LUGAR
ONDE
FUI ENCONTRADO
PELA
RONDA DA POLÍCIA
HÁ
MUITO TEMPO PASSADO
ME ESCONDENDO
DE UM ASSALTO
POR
ELA EU FUI BALEADO
A
BALA ENTROU NO MEU PEITO
E ME
FERIU NO CORAÇÃO
JÁ
FIZERAM MUITO ESFORÇO
MAS
NÃO TENHO SALVAÇÃO
NÃO
TE ESCREVO MAIS POR QUE
MINHA
VISTA ESTÁ TÃO POUCA
FALAR
TAMBÉM EU NÃO POSSO
MINHA
GARGANTA ESTÁ ROUCA
TERMINO
A CARTA BOTANDO
MUITO
SANGUE PELA BOCA
TOSTÃO DE CHUVA
No
sertão do Cariri
Certo
tempo um fazendeiro
fez
uma carta a meu padrinho
E
mandou por um romeiro
Comprando
um tostão de chuva
Ao
padre do Juazeiro
Dizia
a carta citada
Seu
padre Cícero Romão
Dizem
que és milagroso
Cumpra
a sua obrigação
Me
mande um tostão de chuva
Pra
aguar minha plantação
Que
o meu gado está morrendo
E
minha plantação se acabando
Meu
dinheiro sem valor
Minhas
barragens secando
E
estes romeiros bestas
Em
você acreditando
Seu
padre Cícero Romão
Espero
você cumprir
Olhe
eu tenho muito dinheiro
Sou
o mais rico daqui
Domino
seis municípios
No
vale do Cariri.
Tenho
catorze alambiques
Doze
engenhos de rapadura
Oito
fábricas de açucares
Dez
vazantes de verdura
Três
mil alqueires de terra
Tudo
passado escritura
Não
acredito em castigo
Para
acabar minha riqueza
Se
acaso o tostão não der
Mande
chuva com franqueza
E
depois mande dizer
Quanto
foi toda a despesa
Se
você não mandar chuva
Daqui
para o anoitecer
Se
acaso amanhecer o dia
E
nas minhas terras não chover
O
tostão que eu lhe mandei
Você
tem que devolver.
Das
três para as quatro horas
Um
temporal se formou
Com
relâmpagos e trovões
E
forte chuva desabou
Nas
terras do fazendeiro
O
que tinha se arrasou
Demoliu
todos os engenhos
Não
escapou nenhum tacho
Demoliu
todas as barragens
Emendou
rio com riacho
Seis
mil cabeças de gado
Desceram
de água abaixo
Foi-se
mala de dinheiro
Com
papéis e escritura
Paióis
de milho e feijão
E
campos de agricultura
Gado,
fazenda e dinheiro
Se
acabou toda a fartura
Na
região habitava
Entre
grandes e miúdos
Um
cego e um paralítico
E
também um rapaz mudo
Nesse
dia ele falou
Disse
oh meu Deus se acabou tudo
Dentro
do grande aguaceiro
O
aleijado nadou
No
estrondo do trovão
O
mudo também falou
No clarear
do relâmpago
O
rapaz cego enxergou
A
casa grande caiu
E o
fazendeiro escapou
Com
a mulher e uma filha
Na
casa de um morador
Onde
tinha um oratório
E
foi o único que restou
Com
quatro dias depois
O
mensageiro chegou
Trazendo
só dois vinténs
E na
mão dele entregou
E
disse é o troco do tostão
Que
o padre Cícero mandou
Ele
ficou arrasado
Se
acabou toda avareza
Não
pode reconstruir
Mais
sua grande riqueza
E o
governo repartiu
Suas
terras com a pobreza
Dizem
que arrependeu-se
E
ainda hoje é romeiro
Anda
de noite e de dia
Feito
um louco em desespero
Mas
nunca pode acertar
Com
o caminho do Juazeiro
VENIZ O CÃO DE GUARDA
Seu
moço você está vendo
Este
grande casarão
Com
uma área desocupada
Dos
fundos até o portão
E
não tem um cão de guarda
Para
a sua proteção
Eu
já criei neste muro
Veniz
um cão lavrador
Um
grande amigo do homem
Um
guerreiro, um defensor
Guarda
fiel da família
E da
casa um pastorador
Muito
valente e esperto
Era
um autêntico vigia
Tudo
que chegasse perto
Ele
rosnava e latia
Não
descuidava da casa
Nem
de noite e nem de dia
Se
chegasse alguém de fora
Ele
tomava-lhe a frente
Onde
as crianças brincavam
Ele
estava ali presente
Cuidava
de ponta a ponta
E
nem precisava corrente
Porém
um certo domingo
Como
era acostumado
Saí
à rua a passeio
Da
família acompanhado
Deixando
o neném de berço
Pelo
cão vigiado
Quando
eu cheguei de volta
Que
abri a porta do meio
Vi o
cachorro na sala
Soltando
um rosnado feio
E a
boca suja de sangue
Que
mau pensamento veio
Quando
a mulher viu o cão
De
sangue todo manchado
Gritou
o nosso cachorro
Está
doido e enraivado
E
matou nossa criança
Fiquei
desorientado
Bati
de mão ao revólver
E a
mulher louca a gritar
O
cão partiu para mim
Querendo
me abraçar
E eu
de nada entendendo
Fiz
a arma detonar
Quando
o cachorro caiu
Entrei
no quarto apressado
Vi o
menino no berço
Chorando
um tanto assustado
E um
homem morto no chão
De
dentes todo rasgado
Desesperado
eu gritei
Meu
Deus o que foi que eu fiz
Arrastei
o miserável
Pra
perto do cão Veniz
Disparei
mais quatro tiros
No
peito do infeliz
Veniz
ainda com vida
Quando
avistou o ladrão
Arrastou-se
até o corpo
Irado
como um leão
Depois
de morder bastante
Ficou
gemendo no chão
Todos
ali choravam
No
momento amargurado
Veniz
balançou a cauda
Olhando
para o meu lado
Como
quem diz o meu dono
Por
mim está perdoado
Quando
o cachorro morreu
Fui
para o pronto socorro
Paguei
pena na prisão
De
desgosto quase que morro
E
ainda hoje eu escuto
O
ladrar de meu cachorro
F I M
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