segunda-feira, 21 de maio de 2012

A DEUSA DO MARANHÃO




















Na cidade Carolina
Estado do Maranhão
Há muitos anos viveu
Um grandioso barão
Três vezes milionário
Porém de mau coração

Esse barão era o chefe
Que governava a cidade
Porque ela foi fundada
Em sua propriedade
Por isso só se fazia
Ali a sua vontade

O barão tinha três filhos
Igualmente três guerreiros
Eram muito respeitados
Entre todos os brasileiros
Andavam acompanhados
Por grupos de cangaceiros

Na cidade nesse tempo
Não havia delegado
Nem juiz nem promotor
Nem inspetor nem soldado
Era somente o barão
Quem exercia o mandado

Quando um fazia crime
Outro vinha se queixar
O barão estava pronto
Pra punir ou castigar
Sempre a sentença que dava
Era vivo se queimar

O barão tinha uma filha
Que se chamava Dalvina
Para formà-la esmerou-se
A natureza divina
Tinha a beleza de vênus
Ao romper da matutina

Quando ela completou
Doze anos de idade
Pela sua formosura
E tanta amabilidade
O povo a denominou
Pela deusa da cidade

Era muito caridosa
Remia o necessitado
Protegia a orfandade
Que havia em seu Estado
O barão sabendo disso
Ficava desesperado

Dalvina com quinze anos
Arranjou um namorado
Um moço de Fortaleza
O qual era deputado
Mas o barão quando soube
Ficou muito indignado

Chamou a filha e lhe disse
Com muita indignação
-- Soube que aí tem um moço
Que pretende a sua mão
Pra não casares com ele
Vou te botar na prisão

E metendo-a na prisão
Deixou Dalvina a chorar
Com saudades das amigas
Sem ninguém lhe visitar
Soube que o seu amado
O barão ia matar

Um dia que o rapaz
Chegou sem ser esperado
Na cidade Carolina
Pra ver o seu anjo amado
O barão mandou pegá-lo
E mandou matar queimado

Então o moço morreu
Pelo o amor de Dalvina
E Dalvina quando soube
Lastimava a triste sina
Dizendo - É infeliz
Quem o amor lhe crimina

Os três irmãos de Dalvina
Sempre visitavam ela
Tinha mais uma criada
Sempre a disposição dela
Rapaz nenhum tinha o gosto
De ver aquela donzela

Por um grande e alto muro
A prisão era cercada
Na qual só tinha um portão
Para saída e entrada
E dois cachorros de fila
Serviam de retaguarda

Dizia o barão a ela
--Aí estás muito bem
Para evitar namoros
Pois namorar não convém
Visto que eu não tenho filha
Para casar com ninguém

Acho que é um desaforo
Ou por outra uma desgraça
Um pai criar uma filha
No mato ou mesmo na praça
Depois de tanto trabalho
Dá-la a homem de graça

Portanto com minha filha
Não há quem seja casado
Assim dizia o barão
Com orgulho e muito irado
Porém esses orgulhosos
Sempre tem mal resultado

Residia em São Luiz
Um grande comerciante
Já era capitalista
Luiz Dias Cavalcante
Que tinha um filho Maurício
Moço rico e elegante

E este chegando um dia
Na cidade Carolina
Ouviu falar nessa Deusa
A graciosa Dalvina
Coitada ainda estava
Cumprindo a tristonha sina

Depois ouvindo falar
Do moço que foi queimado
Pelo amor de Dalvina
Depois de bem informado
Disse consigo - Pois breve
Com ela serei casado

Foi logo procurar meio
De falar com a menina
Percorrendo impaciente
As ruas de Carolina
Deparou-se um certo dia
Com a prisão de Dalvina

Ficava o grande portão
Ao lado oposto da praça
Maurício se aproximou
Viu por entre uma estrilhaça
Dalvina triste chorando
Por detrás duma vidraça

Ele acenou para ela
E ela correspondeu
Por acenos ela disse
-- O meu amor será teu
Ele aproximou-se e disse
-- Teu pensamento é o meu

Se me amas senhorita
E queres casar comigo
Brevemente voltarei
Pra me casar contigo
Disse ela - Quero sim
Porém é grande perigo

-- Grande perigo porquê?
O rapaz lhe interrogou
Se eu te amo e tu me amas
És solteira e eu também sou
A moça então respirando
Por esta forma falou:

-- Grande perigo vos digo
Porque meu pai é malvado
É valente e orgulhoso
E tem um grupo avultado
De cangaceiros perversos
Que vive sempre a seu lado

E disse que não consente
Eu me casar com ninguém
Já matou um deputado
Que a mim queria bem
E qualquer que aparecer
Ele matará também

Para evitar traição
Me fez esta muralhada
Os dias passo sozinha
Á noite sou vigiada
Por um cabra e dois cachorros
Não há quem tome chegada

Disse ele - Não tem nada
Descanse seu coração
Que garanto libertar-lhe
Aguarde a ocasião
Que entrarei no seu quarto
Pra tirar-lhe da prisão

Maurício no outro dia
Mandou fazer uma escada
Porém que fosse de molas
Por dobradiças ligada
Que encachando no muro
Dava saída e entrada

Comprou um grande carneiro
E levou-o para matar
Lá detrás do grande muro
Depois a carne jogar
Para os cachorros e assim
Ele poderia entrar

A uma da madrugada
Ele a carne sacudiu
Botando a escada em cima
Ligeiramente subiu
E os cães comendo a carne
Já nenhum o persguiu

Mas o cabra de vigia
A Maurício presentiu
Botou-lhe o rifle em cima
Maurício o investiu
Deu-lhe um murro tão danado
Que o tal vigia caiu

O vigia quis gritar
Porém foi logo agarrado
Pela goela e a punhal
No mesmo instante sangrado
Marício disse - Bandido
Não grite morra calado

E pegou por uma perna
Jogou por cima do muro
O cabra do outro lado
Caiu no valado escuro
Maurício disse - Eu agora
Vou atrás do que procuro

Chegou no quarto da moça
Baixinho chamou por ela
Ela conheceu a fala
Foi logo para a janela
Sem ninguém presenciar
Ele entrou no quarto dela

Maurício disse - Querida
Vim somente lhe buscar
Isto é com toda pressa
Não podemos demorar
Se os cães acabarem a carne
Já não podemos passar

Ela respondeu sorrindo
-- Pois não querido rapaz
Mas demorou-se arrumando
Suas jóias principais
Os cães acabaram a carne
Não puderam sair mais

Disse o rapaz - Não podemos
Sair, ficamos trancados
Visto isso forre a cama
Vamos dormir sossegados
A moça disse chorando
-- Nós vamos morrer queimados

Não tem nada disse o moço
Esta vida é transitória
O mau tempo trás desgraça
O bom tempo trás vitória
Se seu pai for brabo mesmo
De nós se conta uma história

Maurício com muito sono
Atacou-lhe a letargia
Porém Dalvina com medo
Receiosa não dormia
Quando Maurício acordou
Eram seis horas do dia

Maurício enquanto dormia
No sono estava sonhando
Que estava numa jaula
Um leão o rodeando
Nisto ele acordou-se
Dalvina estava chorando

Ele perguntou a ela
-- Porque estás a chorar
Disse ela - É que meu pai
Hoje nos manda matar
Disse ele - Sou muito homem
Para ao seu pai enfrentar

Estavam nesta conversa
Quando a criada chegou
Deu o café a Dalvina
Pela janela e voltou
Maurício estava deitado
Ela não presenciou

Ambos tomaram o café
Com bolo manteiga e pão
Maurício disse a Dalvina
-- Chame a criada atenção
E diga que hoje queres
Almoçar com o barão

A moça chamou a negra
E deu o recado dele
-- Diz a meu pai que eu hoje
Quero almoçar com ele
Como sem falta nenhuma
Este meu recado dê-lhe

A negra voltou e deu
O recado do barão
O velho ficou calado
Depois murmurou - Pois não
Porém só mandou chamá-la
Na hora da refeição

Então na hora marcada
O barão mandou chamar
A filha por essa negra
Para com ele almoçar
Dizendo - Venha ligeiro
Não queira se demorar

A negra muito ligeira
Da porta fez o chamado
Maurício se levantou
Com Dalvina acompanhado
Entrou na sala de janta
Com ela de braço dado

A mesa era muito grande
Com cadeira a todo lado
Em cada uma cadeira
Tinha um capanga sentado
E de frente a cada um
Tinha um punhal colocado

Maurício numa cadeira
Mandou Dalvina sentar
Disse a negra - Veja outra
Para eu me abancar
Que também estou com fome
Preciso de almoçar

A negra deu-lhe a cadeira
Ele formou o casal
Ao lado de Dalvina
Perante ao pessoal
Em uma ponta da mesa
Fincou também seu punhal

Sem nenhum acanhamento
Começou ele almoçando
Todos que estavam na mesa
Ficaram pra ele olhando
E o barão de vista baixa
Como quem estava pensando

Quando acabou de almoçar
Cruzou as mãos sobre a mesa
Olhou pro barão e disse
-- Oh! seu barão que beleza
O senhor nunca pensou
De sofrer esta surpresa

Eu amo esta sua filha
E dela pretendo a mão
E se o senhor achou ruim
Dê a sua opinião
Pra tudo quanto quiser
Estou a disposição

Sua filha me contou
Que o senhor é malvado
E que pelo o amor dela
Á alguém já tem matado
Me diga logo se quer
Me matar também queimado

Eu sou homem em toda altura
Lhe digo desta maneira
Se quer ver pra quanto eu presto
Se meixa aí na cadeira
Pois eu não temo ao senhor
Nem a sua cabroeira

O barão pensou consigo
--Eu nunca vi tão valente
Se eu disser alguma coisa
Sou o primeiro da frente
Que ele mata e hoje aqui
Vai morrer é muita gente

Nisso um filho do barão
Entre todos o mais voraz
Perguntou em alta voz
--Meu pai diga o que se faz
Disse o velho - É ver o padre
Para casar o rapaz

Disse o rapaz - Está certo
Eu mesmo nunca pensava
Que este rapaz sozinho
A nós todos enfrentava
Disse o velho - Atrás dum deste
Há muito tempo eu andava

Mandaram chamar o padre
Pra fazer o casamento
No mesmo dia a tardinha
Celebrou-se o sacramento
Na maior camaradagem
Tudo em paz e salvamento
              F  I  M