sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

CARTA A PAPAI NOEL- A SAGA DO HOMEM JUSTO









CARTA A PAPAI NOÉ (Luis Campos)


Seu moço eu fui um garoto
Infeliz na minha infânça
Que soube que fui criança
Mas pela boca dos outo.
Só brinquei com os gafanhoto
Que achava nos tabuleiro
Debaixo dos juazeiro
Com minhas vaca de osso
Essa catrevage, sêo moço
Que a gente arranja sem dinheiro.
 
Quando eu via um gurizin
Brincando de velocipe
De caminhão e de gipe
Bola, revólver e carrin
Sentia dentro de mim
Desgosto que dava medo
Ficava chupando o dedo
Chorando o resto do dia
Só pruquê eu num pudia
Pegar naqueles brinquedo.
 
Mas preguntei uma vez
A uns fio de dotô
Diga, fazendo um favô
Quem dá isso pra vocês?
Mim respondeu logo uns três
Isso aqui é os presente
Que a gente é inocente
Vai drumí às vêis nem nota
Aí Papai Noé bota
Perto do berço da gente.  
 
Fiquei naquilo pensando
Inté o Natá chegá
E na Noite de Natá
Eu fui drumi mim lembrando
Acordei fiquei caçando
Por onde eu tava deitado
Seu moço eu fui enganado
Que de presente o que tinha
Era de mijo uma pocinha
Que eu mermo tinha mijado
 
Saí c’a bixiga preta
Caçando os amigos meu
Quando eles mostraram a eu
Caminhão, carro e carreta
Bola, revólver, corneta
E trem elétrico, até
Boneca, máquina de pé
Mas num brinquei, só fiz vê
E resolvi escrevê
Uma carta a Papai Noé.
 
“Papai Noé, é pecado
Os outro se matratá
Mas eu vou le recramá
Um troço que tá errado
Que aos fio de deputado
Você dá tanto carrin
Mas você é muito ruim
Que lá em casa num vai
Por certo num é meu pai
Que num se lembra de mim.
 
Já tô certo que você
Só balança o povo seu
E um pobe qui nem eu
Você vê, faz qui num vê
E se você vê, porque
Na minha casa num vem?
O rancho que a gente tem
E pequeno mas le cabe
Será que você num sabe
Qui pobe é gente também?

Você de roupa encarnada,
Colorida, bonitinha
Nunca reparou que a minha
Já tá toda remendada
Seja mais meu camarada
Prêu num chamá-lo de ruim
Para o ano faça assim:
Dê menos aos fio dos rico
De cada um tire um tico,
Traga um presente pra mim.
 
Meu endereço eu vou dá,
Da casa que eu moro nela
Moro naquela favela
Que você nunca foi lá
Mas quando você chegá
Que avistá uma paióça
Cuberta cum lona grossa

Uma porta véia de frande
Cum dois buraco bem grande

Pode batê que é a nossa.




A SAGA DO HOMEM JUSTO
         Merlânio Maia

Contam que um homem justo
Pai de família honrado
Homem de bem exemplar
Caridoso e iluminado
Morreu pra Terra e ao subir
Sem saber aonde ir
Foi dar na porta do céu
Viu o anjo do protocolo
Com um computador no colo
Que o tratou como um réu

Sentou-se numa cadeira
E um computador ligou
Perguntou o nome do justo
Digitou e esperou
E haja a máquina demorar
E o anjo voltou a olhar
Assoprou, deu dois suspiros
Mas surpreso observou
Que a máquina detectou
Que o HD tinha vírus

Ouviu-se um agudo apito
E a tela ficou travada
O anjo ligou pro arcanjo
Que veio dar uma olhada:
-“Desligue logo o sistema
Que assim desfaz-se o problema!”
E o anjo fez esta ação
Mas quando redigitou
Não mais ali encontrou
O homem na relação

Mandou logo imprimir
A relação dos fiéis
E o nome daquele homem
Não constava nos papéis
E o anjo tristemente
Disse ao homem: - “Infelizmente
Não lhe encontrei no papel
E sem essa informação
Não posso dar permissão
Pra ninguém entrar no céu”

E o homem resignado
Pediu-lhe pra informar:
- “Mas, por favor, me adiante
Devo ir pra que lugar?”
O anjo coçou a cabeça
E disse: -“Não se aborreça
Vou dizer, mas me consterno
Tenho o dever de informar
Pois muito bem! Seu lugar
É lá embaixo, no inferno!”

Diante da serenidade
O anjo surpreendido
Ouviu do homem: - “Pois bem!
Onde o caminho escolhido?”
Disse o anjo: - “É só descer
Lá embaixo e dá pra ver
É uma caverna escura
Nem há controle na porta
Mas lá a sorte está morta
Pois a vida ali é dura!”

O homem logo se despede
Agradece e vai descendo
E enfim entra no inferno
E por ali vai vivendo
Depois de duas semanas
Chegam no céu caravanas
Com o séqüito de Satanás
Param na porta a gritar
Pedindo pra convocar
O santo arcanjo da paz

Diz o diabo: - “Assim não dá
Só pode ser terrorismo!!!”
O Arcanjo sai e pergunta:
- “Que é isto é anarquismo?”
E o diabo diz: - “Quem mandou
Me diga! Quem enviou
Aquele agente sagaz
Que desde a sua chegada
Está mudando a parada
Levando ao inferno a paz?”

“Valorizando a equipe
Divulgando a união
Já mudou tudo no inferno
Desfigurou, meu patrão
Ou vão tira-lo dali
Ou faço um inferno aqui!”
E o anjo diz: -“Tenha calma
Que eu resolvo o mitiê
Já formatei o HD
E sei quem é aquela alma!”

“Foi engano aquele homem
É puro e é muito justo!”
E assim mandou buscá-lo
E este veio a muito custo
Pois no inferno ele viu
O seu grande desafio
Do ambiente transformar
Já que os sentimentos seus
Sintonizavam com Deus
Em todo e qualquer lugar

O reino dos céus reside
No íntimo do ser humano
São palavras de Jesus
Resumindo o nosso plano
Quem faz de si esperança
Já é pleno de bonança
E há amor nos atos seus
Vibra em outra dimensão
É feliz e tem razão
Pois já é Filho de Deus