sábado, 1 de setembro de 2018

PELEJA DE PEDRO BANDEIRA COM MANOEL XUDU














PELEJA DOS POETAS VIOLEIROS
Pedro Bandeira e Manoel Xudu

PB—Colega Manoel Xudu
Abra o palco da cortina,
Se firme bem na cadeira
Erga o peito e se previna,
E diga como deixou
A cidade de Carpina.

MX- Vai bem minha Planaltina
De poetas um viveiro,
Situada entre Paudalho
Nazaré e Limoeiro,
E agora mandou seu vate
Vir visitar Juazeiro.

PB- Mas você não é romeiro
Nem comprador de pequi,
Nem carola nem turista
Ninguém lhe esperava aqui,
Sem eu lhe dar carta branca
Pra entrar no Cariri.
                   
MX- Eu vim porque conheci
Que havia necessidade,
De conhecer os colegas
Que moram nessa cidade,
E saber se o novo príncipe
Tem ou não autoridade.

PB- Saiba que sou majestade
No reinado poesia,
Você pra cantar comigo
Precisa ter fidalguia,
Nobreza, brio e respeito
Honra e aristocracia.

MX- Há tempo que conhecia
A fama do meu amigo,
Porém eu sou dos poetas
Que nunca teme perigo,
Só digo que um cabra canta
Depois que cantar comigo.

PB- Você está no meu abrigo
Se não quiser passar fome,
Respeite meu auditório
Meu cetro e meu cognome,
Minha esposa e minha filha
Minha plateia e meu nome.
                      
MX- Acho bom que você tome
O conselho que lhe dou,
Estou no seu auditório
Mas seu escravo não sou,
Penetre em qualquer terreno
Que se eu puder também vou.

PB- O sangue do meu avô
No meu sangue inda evapora,
Me dando ideia e talento
Entusiasmo e sonora,
Pra rebater desaforo
De repentista de fora.

MX- Com sua proposta agora,
Sei que o jeito que tem,
É eu lhe dar um acocho
Dos ossos virar xerém,
Que canto a vinte e dois anos
E nunca perdi pra ninguém.

PB- Eu nunca perdi também
E agora vou lhe provar,
Que daqui a meia hora
Você começa a chorar,
Troca a viola em cachaça
E nunca mais fala em cantar.
                 
MX- É mais fácil se esgotar
O mar com uma peneira,
Bala de aço esmagar-se
Em tronco de bananeira,
Do que Manoel Xudu
Temer a Pedro Bandeira.

PB- É Mais fácil uma caveira
Ter nojo dum urubu,
Uma cobra de veado
Se assombrar com um cururu,
Do que o príncipe dos versos
Respeitar Manoel Xudu.

MX- É Mais fácil um canguçu
Correr com medo dum bode,
Menino enjeitar bolacha
Moleque enjeitar pagode
Do que eu correr com medo
Dum cantador sem bigode.

PB- Nós sabemos que Deus  pode
Manobrar tudo que é seu,
Transformar o gelo em fogo
Ressuscitar quem morreu,
Não pode é criar poeta
Pra cantar mais do que eu.

MX- Mas agora apareceu
Miguel Alencar Furtado,
Que é Juiz e deu um tema
Muito bem metrificado,
E vamos saber do tema
Quem canta mais inspirado.
                 
Dr. Miguel de Alencar Furtado,
Juiz de Direito de Juazeiro do Norte,
Homem culto e amigo dos poetas
Violeiros, Presidente da Câmara de 
Turismo, pediu que Pedro e Xudu
Cantassem o seguinte mote:

“Vi a noite enlutando o horizonte,
Com saudade do dia que morreu”.

Pedro Bandeira começou:

PB- Cinco e meio da tarde mais ou menos
Resolvi vê de Deus os espetáculos,
Transportei-me das baixas aos pináculos
Pra poder me inspirar olhando Vênus,
Comecei vislumbrar astros pequenos
O cruzeiro do Sul resplandeceu,
Quando o rosto da lua apareceu
Eu estava na crista de um monte,
Vi à noite enlutando o horizonte
Com saudade do dia que morreu.

MX- Quando o sino tocava Ave–Maria
E o sol se escondia no ocaso,
De um voo transportei-me ao parnaso
Num balão que eu fiz de poesia,
Uma estrela brilhava o sol morria
E a natura chegava ao apogeu,
Tive sede e um Querubim me deu
Água pura tirada duma fonte,
Vi à noite enlutando o horizonte
Com saudade do dia que morreu.
                      
PB - Contemplei  o azul além do mar
Vi a treva envolvendo as ondas pardas,
As libélulas pousaram nas mostardas
E agripinas saíram do pomar,
Escutei uma musa solfejar
Uma musica crida por Orfeu,
Estendi-me nos braços de Morfeu
Reclinei no seu busto a minha fronte,
Vi à noite enlutando o horizonte
Com saudade do dia que morreu.

MX- Eu também me achava esmorecido
Numa tarde perdido no deserto,
Sem achar um amigo ali por perto
Que indicasse por onde eu tinha ido,
Quando o bravo leão deu um rugido
Que o bosque da serra estremeceu,
Mas o manto de Deus se estendeu
Parecendo a varanda de uma ponte,
Vi à noite enlutando o horizonte
Com saudade do dia que morreu.

PB- Atendi ao pedido do Juiz
Mas a nossa polêmica continua,
Pra você minha volta vai ser crua
Encomende-se a Deus pra ser feliz,
Se é mesmo um poeta como diz
Mostre aqui sua personalidade,
Se vier com mentira e vaidade
Entra grande na luta e sai pequeno,
Nunca mais quer entrar no meu terreno
Sem primeiro pedir-me a liberdade.
                     
MX- Eu não vim procurar inimizade
Com você seus irmãos e outros mais,
Mas se quer destruir o meu cartaz
É perdida de vez sua vontade,
Com poeta de toda qualidade
No Nordeste eu tenho combatido,
No Brasil o meu nome é conhecido
Desde o Norte ao Sul Leste e Oeste,
Quem meter-se comigo a fazer teste
Leva pau perde o jeito e sai vencido.

PB- Vou coser sua boca e um ouvido
Dou-lhe um murro na cara estoura os pés,
Cantador do seu jeito eu dou em dez
Só enquanto mamãe troca um vestido,
Fuxiqueiro insultante e desconhecido
Atrasado sem luz e sem valor,
Decoreba perverso e traidor
Beberrão de latada e pé de serra,
Volte e digas chorando em sua terra
Que agora encontrou superior,

MX- Repentista se enche de pavor
Quando ouve meu verso e meu baião,
Sente logo tremer o coração
Gela o sangue, o rosto muda a cor,
Em martelo eu sou raio abrasador
Cantador sendo fraco eu dou em cem,
A pancada que dou é como o trem
Um gigante pra mim inda é pequeno,
Cascavel que eu pegar perde o veneno
Só me curvo a Deus e a mais ninguém.
                        
PB- Otacílio Batista canta bem
Lourival é o rei do trocadilho,
Zé Faustino morreu deixou seu filho
Clodomiro não perde pra ninguém,
Dr. Dimas um título também tem
Pinto velho é o rei do Pajeú,
Louro Branco e Moacir no Iguatu
Os Irmãos Bernardino se deleitam,
Todos esses poetas me respeitam
Quanto mais uma égua como tu.

O Juiz disse: -- Xudu
Cantou bastante inspirado,
Pedro Bandeira com essa
Ficou imortalizado,
É nosso príncipe e não deixa
Outro tomar seu reinado.

Houve um abraço apertado
Ente os poetas famosos,
O povo dizia: -- Eles
São mesmos mais fabulosos,
Mais geniais mais autênticos
E muito mais caprichosos.
              FIM