A INTRIGA DO CACHORRO
COM O GATO
JOSÉ PACHECO DA ROCHA
A
intriga é mãe da raiva
O
mau pensamento é pai,
Da
casa da má querência
O
desmantelo não sai,
Enquanto
a intriga rende
A
revolução não cai.
Quando
o cachorro falava
Gato
falava também,
Gato
tinha uma bodega
Como
os homens hoje tem,
Onde
vendia cachaça
Encostado
a um armazém.
Com
uma balança armada
Para
vender cereais,
E na
bodega vendia
Bacalhau
açúcar e gás,
Bolacha,
café, manteiga
Miudeza
e tudo mais.
01
Então
no tempo da safra
Comprava
mercadoria,
Chegada
no armazém
Que
todo bicho trazia,
Vou
dizer pela metade
Desta
grande freguesia.
O
peru vendia milho
Porco,
feijão e farinha,
Com
um cacho de banana
O
macaco também vinha,
Raposa
também trazia
Um
garajau de galinha.
Carneiro
passava a noite
Junto
com a sua irmã,
Descaroçando
algodão
Quando
era de manhã,
Para
o armazém do gato
Botava
sacos de lã.
Guariba
vendia escovas
Que
fazia do bigode,
Urubu
vendia goma
Porque
tem da lavra e pode,
A
onça suçuarana
Vendia
couro de bode.
02
Então
todo bicho tinha
No
armazém seu contrato,
Porém
eu vou deixar isto
Para
tratar de outro fato,
Relativo
à intriga
Do
cachorro com o gato.
Rei
leão mandou o cachorro
Efetuar
uma prisão,
E o
cachorro passando
Na
venda do gato então,
Falou
pra beber fiado
O
gato disse: pois não.
Subiu-se
na prateleira
Uma
garrafa desceu,
Um
cruzado de cachaça
O
cachorro ali bebeu,
Botou
fumo no cachimbo
Pediu
fogo e acendeu.
Depois
disse para o gato:
– Eu
vou prender o preá,
Porque
carregou a filha
Do
compadre cambambá,
Mesmo
ele deve a honra
Da
filha do seu guará.
03
E
tornou dizer: compadre
Bote
mais uma bicada,
Eu
só sei prender valente
Depois
da gata esporada;
O
gato botou e disse:
–
Esta não lhe custa nada.
O
gato bebeu também
O
cachorro repetiu,
Botou
o copo na boca
Saiu
na porta e cuspiu,
O
gato puxou o lenço
Limpou
a barba e tossiu.
Embebedaram-se
ambos
Garrafas
secaram três,
Cachorro
fez um discurso
Falando
bastante inglês,
Gato
rolava no chão
Também
falando francês.
A
gata mulher do gato
Saiu
do quarto e veio cá,
E
disse muito zangada:
–
Vocês dois procedem má;
O
gato disse: mulher
Da porta
do meio pra lá!
04
Depois
o gato ficou
O
cachorro foi embora,
Ali
ouviram: oh! de casa!
A
gata disse oh! de fora!
Quem
é? disse a raposa:
–
Sou eu quem cheguei agora.
Disseram:
entre comadre;
E o
gato levantou-se,
Sentou-se
numa cadeira
Raposa
também sentou-se,
Ele
contou a raposa
De
que forma embebedou-se.
Raposa
disse: compadre
Você
não pensa direito,
Bebendo
com o cachorro
Um
safado sem respeito,
Se seus
amigos souberem
O
senhor perde o conceito.
–
Beba com os seus amigos
Seu
irmão maracajá,
O
tenente porco espinho
E o
capitão guará,
Major
porco, doutor burro
E o
coronel cambambá.
05
– Eu
também gosto da troça
Bebo,
danço e digo loas,
Mas
com gente igual a mim
Civilizadas
e boas,
Que
não vou andar com gente
De
qualidades atoas.
– Só
me dou com gente boa
Como
o compadre urubu,
Dona
ticaca de tal
E
dona surucucu,
A
professora jiboia
E o
seu primo timbu.
–
Você é conceituado
Na
roda palaciana,
Cachorro
vive na rua
Tanto
furta como engana,
Com
um baralho no bolso
Jogando
e tomando cana.
– E
ele compra fiado
Porque
quer, mas ele tem,
Uma
mochila de níquel
Que
por detrás se ver bem,
Pendurada
balançando
Porém
não paga ninguém.
O
gato se pôs em pé
Perguntando
admirado:
–
Comadre isto é verdade?
06
Ele
me deve um cruzado,
Eu
não dei fé da mochila
Por
isso vendi fiado.
–
Porém eu vou atrás dele
Daquele
cabra estradeiro,
Dou-lhe
um bote na mochila
Arranco
e tomo o dinheiro;
–
Sendo eu, disse a raposa
Passava-lhe
o granadeiro.
O
gato se preparou
Amarrou
o cinturão,
Correu
a bala no rifle
Passou
lixa no facão,
Botou
um porre e bebeu
De
cachaça com limão.
Chegou
lá disse ao cachorro;
– É
triste o nosso progresso,
Você
paga o meu cruzado
Ou
quer pegar um processo?
O
cachorro afastou o pé
E
disse: eu não converso.
Ali
deu um tiro e disse:
– É
assim que eu despacho;
Porém
o gato abaixou-se
E
passou o rifle por baixo,
Deu-lhe
um tiro tão certeiro
Que
quase derruba o cacho.
07
O
cachorro que também
Tem
pontaria fiel,
Tornou
passar-lhe a pistola
A
bala fez um revel,
Cortou-lhe
o rabo no tronco
Que
descobriu o anel.
Depois
que trocaram tiros
Divertiram
no punhal,
Gato
pulava de costas
E
dava salto mortal,
Cachorro
por sua vez
Também
traquejava igual.
E
ali trincou-se o tempo
Na
porta do barracão,
Da
baronesa preguiça
Comadre
do rei leão,
E
ela telegrafou-lhe
Pedindo
paz a questão.
O
leão passou depressa
O
telegrama pra traz:
–
Minha comadre levante
A
bandeira e grite paz,
Ela
não tinha bandeira
Levantou
a macaxeira
Ali
ninguém brigou mais. FIM
08
A
Moça que Casou 14 Vezes
Apolônio
Alves dos Santos
No
outro século passado
Na
fazenda Jequié
Havia
uma donzela,
Religiosa
de fé
No
seu batismo lhe deram
O
nome de Salomé,
Salomé
era uma virgem
De
estimada simpatia,
Filha
de um fazendeiro
Criou-se
muito sadia,
Era
a moça mais formosa
Do
estado da Bahia
Contava
22 anos
Aquela
jovem tão bela
Sempre,
sempre aparecia,
Namorado
para ela
Casou-se
14 vezes
E
continuou donzela
Um
daqueles namorados,
Que
Salomé arranjou,
Era
um rapaz forte e moço
Em
poucos dias casou,
Mas
sua morte súbita
Todo
mundo admirou
01
Porque
em menos dum ano
Que
ele tinha casado,
Começou
enfraquecendo
Pálido
e desfigurado
A
noite deitou se vivo
E
amanheceu finado.
Salomé
ficou viuva,
A
noite inteira chorou
O
seu primeiro marido,
A
morte ingrata o levou
Mas
que ainda era virgem
A
ninguém nada contou.
Acontece
que um dia
Na
festa dum batizado,
Viuvinha
arranjou
O
segundo namorado
Com
15 dias casou-se
Num
dia tão festejado.
Por
segurança dos bens
Casou
também no juiz
A
sua lua de mel
Foram
passar em Paris
Salomé
voltou viúva
Chorando
a sorte infeliz.
Mas
continuou a mesma
Viúva
virgem sem sorte
porque
o segundo esposo,
Que
era sadio e forte
Esse
também embarcou,
No
barco negro da morte
02
Porém
Salomé por ser,
Viúva
de polidez
Não
demorou muito tempo,
Casou-se
terceira vez
Com
outro rapagão moço,
Filho
de um português.
Esse
não durou um mês
Começou
ficando fraco
Amarelo
cadavérico,
Da
grossura dum cavaco
Em
poucos dias também
Foi
pra dentro do buraco.
Todo
povo comentava,
- Este
caso è muito sério
O
que há com Salomé
Até
parece um mistério,
Já três
maridos que ela
Manda
para o cemitério.
A
quarta vês para ela
Apareceu
um baiano
Um
rapagão muito forte
Descendente
de cigano
Noivaram
no mês de outubro
Casaram
no fim do ano.
Esse
também se findou,
No
próximo ano vindouro
Começou
se definhando,
E o
povo fazendo agouro
Que
no fim do mesmo ano,
Também
entregou o couro.
03
Coitada
da Salomé
Ficou
viúva de novo
Vivia
tão pensativa,
Calada
que só um ovo
Envergonhada
de ouvir,
O
comentário do povo.
Após
passar muito tempo,
Lamentando
a desventura
Apareceu
outro jovem,
De
forte musculatura
Foi
o quinto esposo dela
A
entrar na sepultura.
Logo
apareceu o sexto
Era
um rapaz arrasado
Vendo
que ela era filha
De
um velho recursado
Pensando
enricar também
Acertou
logo o noivado.
Embora
contrariado,
O
velho o casório fez
Esse
também morreu logo
Vivo
não passou um mês
Salomé
ficou viúva,
Pela
sua sexta vez.
Casou
pela sétima vez
Com
um rapaz forasteiro
Tocador
de violão
Boémio
e aventureiro
Esse
casou-se em dezembro
E
faleceu em janeiro.
04
Certo
dia ela contou
Aquele
segredo dela
A
uma sua amiguinha
Lhe
dizendo: Maristela
Já
me casei 7 vezes,
Mas
ainda estou donzela.
E
logo pediu a ela
Para
guardar o segredo
Porém
a amiga falsa
No
outro dia bem cedo
Saiu
pela vizinhança
Espalhando
aquele segredo.
O
povo pra criticar
Lhe
chamavam na surdina
De viúva
mata sete
Ou
viuvinha assassina
Assim
a pobre vivia,
Lastimando
a sua sina
Os
homens todos diziam
O
fato não é comum
Já
se casou 7 vezes
E
ainda está em jejum,
Porque
é que seus maridos
Não
fica vivo nenhum?
Assim
a pobre vivia
Neste
dilema sofrido
Por
onde passava ouvia
Do
povo o "estampido"
- Lá
vai a viúva virgem
Matadora
de marido.
05
Ela
vendo que ali,
Rapaz
nenhum lhe queria
Por
está muito manjada,
Decidiu
certo dia
Viajou
pra outro estado
Que ninguém
lhe conhecia.
Salomé
saiu dizendo,
Aqui
eu não volto mais
Partindo
se despediu,
De
seus extremosos pais
Foi
parar no Amazonas
A
terra dos seringais.
Casou-se
no Amazonas
Com
um velho seringueiro
Com
59 anos
Mas
ainda era solteiro
Em
pouco tempo também,
Deu
serviço ao coveiro.
Para
encurtar a história,
Salomé
foi se casando,
Até
inteirar quatorze
E viúva
ia ficando
Por
fim se desenganou
Sua
sorte praguejando
Naquilo
havia um mistério
Que ninguém
não conhecia,
Que
Salomé se casava,
O
seu marido morria
O
porquê desse mistério,
Nem
mesmo ela sabia.
06
Foi
um bruxo que queria
Se
casar com Salomé
E
apaixonou-se por ela,
Um
dia num candomblé
Mas
ela lhe deu um fora
Mandou
o chupar picolé
Por
isso o bruxo maldito
Fez
pra ela um malefício
Que
a pobre Salomé
Vivia
neste suplício
Levando
todos os maridos
A
borda do precipício
Toda
vez qu'ela casava
O
feitiço acontecia
Porque
na noite de núpcia
Seu
marido adoecia
Sem
conhecer a doença,
Pelo
desgosto morria.
Porque
na primeira noite,
Na
hora do tererê
Que
o marido encostava
O
seu corpo em Salomé
A
sua moral caís
Nunca
mais ficava em pé.
Porem
o seu ultimo esposo
Por
ser esperto e matreiro
Correu
logo e procurou
Um
famoso feiticeiro
Pra
desmanchar o feitiço
Do
bruxo catimbozeiro.
07
Perguntaram
a Salomé
Se
ela se lembraria
O
nome daquele bruxo
De
tamanha covardia
Que
fizera para ela
Essa
horrenda bruxaria.
Ela
disse que sabia
O
nome do infiel
Então
o segundo bruxo
Logo
pegou num papel,
Escreveu
em cruz o nome,
Do
feiticeiro cruel.
Disse
para Ezequiel
Vou
desmanchar o feitiço
Porem
só por 2 milhões
Posso
fazer o serviço
E
você pode assumir
Sua
esposa. sem enguiço
Ezequiel
conseguiu
Findou-se
todo o mistério
Salomé
ficou feliz
Desfrutando
aquele império
Após
enterrarem o nome
do
bruxo no cemitério.
Ainda
teve dois filhos
A
moça de Jequié,
Livrou-se
da bruxaria,
Vivendo
cheia de fé
Ezequiel
adorava,
Sia
esposa Salomé. - FIM
08
Apolônio
Alves dos Santos nasceu em
20 de setembro de 1926, em Guarabira,
Paraíba;
morreu em 1998 em Campina
Grande, Paraíba
Brosogó,
Militão e o Diabo
Patativa
do Assaré
O
melhor de nossa vida
É
amor paz e união,
E em
cada um semelhante
A
gente ver um irmão,
E
apresentar para todos
O
papel de gratidão.
Quem
faz um grande favor
Mesmo
desinteressado,
Por
onde quer que ele ande
Leva
um tesouro guardado,
E um
dia sem esperar
Será
bem recompensado.
Em
um dos nossos Estados
Do
nordeste brasileiro,
Nasceu
Chico Brosogó
Ele
era um miçangueiro,
Que
é o mesmo camelô
Do
nordeste brasileiro.
01
O
Brosogó era ingênuo
Não
tinha filosofia,
Mas
tinha de honestidade
A
maior sabedoria,
Sempre
vendendo ambulante
A
sua mercadoria.
Em
uma dessas viagens
Numa
certa região,
Foi
vender mercadorias
Numa
certa habitação,
De
um fazendeiro malvado
Por
nome de Militão.
O
ricaço Militão
Vivia
questionar,
Toda
sorte de trapaça
Era
capaz de inventar,
Vendo
assim desta maneira
Sua
fortuna aumentar.
Brosogó
naquele prédio
Não
apurou um tostão,
Onde
na mesma casa
Não
lhe ofereceram um pão,
Comprou
meia dúzia de ovos
Para
a sua refeição.
02
Quando
a meia dúzia de ovos
O
Brosogó foi pagar,
Faltou
dinheiro miúdo
Para
a paga efetuar,
E
ele entregou uma nota
Para
o Militão trocar.
O
rico disse: -- Eu não troco
Vá
com a mercadoria,
Qualquer
tempo você vem
Me
pagar essa quantia,
Mas
peço que seja exato
E
aqui me apareça um dia.
Brosogó
agradeceu
E
achou o papel importante,
Sem
saber que o Militão
Estava
naquele instante,
Semeando
uma semente
Para
colher mais adiante.
Voltou
muito satisfeito
Na
sua viagem pensando,
Sempre
arranjando fregueses
No
lugar que ia passando,
Vendo
sua boa sorte
Melhorar
de quando em quando.
03
Brosogó
no seu comércio
Tinha
bons conhecimentos,
Possuía
com os lucros
Daqueles
seus movimentos,
Além
de casas e terrenos
Meia
dúzia de jumentos.
De
ano em ano ele fazia
Naquele
seu patrimônio,
Festejo
religioso
No
dia de Santo Antônio,
Por
ser o aniversário
Do
seu feliz matrimônio.
No
festejo oferecia
Vela
para São João,
Santo
Ambrósio, Santo Antônio
São
Cosme e São Damião,
Para
ele qualquer santo
Dava
a mesma proteção.
Vela
para Santa Inês
E
para Santa Luzia,
São
Jorge e São Benedito
São
José e Santa Maria,
Até
que chegava a última
Das
velas que possuía.
04
Um
certo dia voltando
Aquele
bom sertanejo,
Da
viajem lucrativa
Com
muito amor e desejo,
Trouxe
uma carga de velas
Para
queimar no festejo.
A
casa naquela noite
Estava
um belo encanto,
Se
via velas acesa
Brilhando
por todo canto,
Porém
sobraram três velas
Por
faltar nome de santo.
Era
lindo a luminária
O
quadro resplandecente,
E o
caboclo Brosogó
Procurava
impaciente,
Mas
nenhum nome de santo
Chegava
na sua mente.
Disse
consigo: -- O diabo
Merece
vela também,
Se
ele nunca me tentou
Para
ofender a ninguém,
Com
certeza me respeita
Está
me fazendo bem.
05
Se
eu fui um bom menino
Fui
também um bom rapaz,
E
hoje sou pai de família
Gozando
da mesma paz,
Vou
queimar estas três velas
Na
tenção de satanás.
Tudo
aquilo Brosogó
Fez
com naturalidade,
Como
o justo que apresenta
Amor
e fraternidade,
É as
virtudes preciosas
De
um coração sem maldade.
Certo
dia ele fazendo
Severa
reflexão,
Um
exame rigoroso
Sobre
a sua obrigação,
Lhe
veio na mente os ovos
Que
devia a Militão.
Viajou
muito apressado
No
seu jumento baixeiro,
Sempre
atravessando rio
E
transpondo tabuleiro,
Chegou
no segundo dia
Na
casa do trapaceiro.
06
Foi
chegando e desmontando
E
logo que deu bom dia,
Falo
para o coronel
Com bastante
cortesia:
--
Venho aqui pagar a conta
Que fiquei
devendo um dia.
O
Militão muito sério
Falou
para Brosogó:
--
Para pagar esta dívida
Você
vai ficar no pó,
Mesmo
que tenha recurso
Fica
pobre que nem Jó.
Me
preste bem atenção
E
ouça bem as razões minhas,
Aqueles
ovos no chôco
Iam tiram
três pintinhas,
Mais
tarde as mesmas seriam
Meia
dúzia de galinhas.
As
seis galinhas botando
Veja
a soma o quanto dá,
São
quatrocentos e oitenta
Ninguém
me reprovará,
Pois
a galinha aqui põe
De
oito ovos pra lá.
07
Preste
atenção Brosogó
Sei
que você não sensura,
Veja
que grande vantagens
Veja
que grande fartura,
E
veja o meu resultado
Só
na primeira postura.
Dos
quatrocentos e oitenta
Podia
a gente tirar,
Dos
mesmos cento e cinquenta
Para
no chôco aplicar,
Pois
basta só vinte e cinco
Que
é pra o ovo não gourar.
Os
trezentos e cinquenta
Que
era a sobra eu vendia,
Depressa
sem ter demora
Por
uma boa quantia,
Aqui
procurando ovos
Temos
grande freguesia.
Dos
cento e cinquenta ovos
Sairiam
com despacho,
Cento
e cinquenta pintinhas
Pois
tenho certeza e acho,
Que
aqui no nosso terreiro
Não
se cria pinto macho.
08
Também
não há prejuízo
Posso
falar pra você,
Que
maracajá e raposa
Aqui
agente não vê,
Também
não há cobra preta
Gavião
nem saruê.
Aqui
de certas moléstias
A
galinha nunca morre,
Porque
logo a medicina
Com
urgência se recorre,
Se o
gôgo se manifesta
A
empregada socorre.
Veja
bem seu Brosogó
O
quanto eu posso ganhar,
Em
um ano e sete meses
Que
passu sem me pagar,
A
conta é de tal maneira
Que
eu mesmo não sei somar.
Vou
chamar um matemático
Pra
fazer o orçamento,
Embora
você não faça
De
uma vez o pagamento,
Mesmo
com a mercadoria
Terreno
casa e jumento.
09
Porém
tenha paciência
Não
precisa se queixar,
Você
acaba o que tem
Mas
vem comigo morar,
E
aqui parceladamente
Acaba
de me pagar.
E se
achar que estou falando
Contra
a sua natureza,
Procure
um advogado
Pra
fazer sua defesa,
Que
o meu eu já tenho e conto
A
vitória com certeza.
Meu
advogado é
Um
doutor de posição,
Pertence
a minha política
E
nunca perdeu questão,
E é
candidato a prefeito
Na
futura eleição.
O
coronel Militão
Com
orgulho e petulância
Deixou pobre Brosogó
Na
mais dura circunstância
Aproveitando
do esmo
Sua
grande ignorância.
10
Quinze
dias foi o prazo
Para
o Brosogó voltar,
Presente
ao advogado
Um
documento assinar,
E
tudo que possuía
Ao
Militão entregar.
O
pobre voltou bem triste
Pensando
a dizer consigo:
--
Eu durante a minha vida
Sempre
fui um bom amigo,
Qual
será o meu pecado
Para
tão grande castigo!
Quando
ia pensando assim
Avistou
um cavaleiro,
Bem
montado e bem trajado
Na
sombra dum juazeiro,
O
qual com modos fraternos
Perguntou
ao miçangueiro.
Que
grande tristeza é esta
O
que você tem Brosogó?
O
seu semblante apresenta
Aflição,
pesar e dó,
Eu
estou ao seu dispor
Você
não sofrerá só.
11
Brosogó
lhe contou tudo
E
disse por sua vez,
Que
o coronel Militão
O
trato com ele fez,
Para
ás dez horas do dia
Na
data quinze do mês.
E disse
o desconhecido
Não
tenha má impressão,
No
dia quinze eu irei
Resolver
esta questão,
Lhe
defender da trapaça
Do
ricaço Militão.
Brosogó
foi para casa
Alegre
sem timidez,
O
que o homem lhe pediu
Ele
satisfeito fez,
E
foi cumprir seu trato
No
dia quinze do mês.
Quando
chegou encontrou
Todo
povo aglomerado,
Ele
entrando deu bom dia
E
falou bem animado,
Dizendo
que também tinha
Achado
um advogado.
12
Marcou
o relógio dez horas
E
sem o doutor chegar,
Brogosó
entristeceu
Silenciso
a pensar,
E o
povo do Militão
Do
coitado a criticar.
Os
puxas saco do rico
Com
ares de mangação,
Diziam:
-- O miçangueiro
Vai
se arrasar na questão,
Brosogó
vai pagar caro
Os
ovos do Militão.
Estavam
pilheriando
Quando
ouviram um tropel,
Era
um senhor elegante
Montado
em seu corcel,
Exibindo
em um dos dedos
O
anel de bacharel.
Chegando
disse aos ouvintes:
--
Fui no trato interrompido,
Para
cozinhar feijão
Porque
muito tem chovido,
E o
meu pai em seu roçado
Só
planta feijão cozido.
13
Antes
que o desconhecido
Com
razão se desculpasse,
Gritou
o outro advogado:
--
Não desonre a nossa classe,
Com
esta grande mentira
Feijão
cozido não nasce!
Respondeu
o cavaleiro:
--
Esta mentira eu compus
Para
fazer a defesa
É
ela um foco de luz,
Porque
o ovo cozinhado
Sabemos
que não produz.
Assim
que o desconhecido
Fez
esta declaração,
Houve
um silêncio na sala
Foi
grande a decepção,
Para
o povo da politica
Do
coronel Militão.
Onde
a verdade aparece
A
mentira é destruída,
Foi assim
desta maneira
Que
a questão foi resolvida,
E o
candidato politico
Ficou
com a crista caída.
14
Mentira
contra mentira
Na
reunião se deu,
E
foi por este motivo
Que
a verdade apareceu,
Somente
o preço dos ovos
O
Militão recebeu.
Brosogó
agradecendo
O
favor que recebia,
Respondeu
o cavaleiro
Eu
era quem lhe devia,
O
valor daquelas velas
Que
me ofereceu um dia.
Eu
sou o diabo a quem todos
Chamam
de monstro ruim,
E só
você neste mundo
Teve
a bondade sem fim,
De
um dia queimar três velas
Oferecidas
a mim.
Quando
disse estas palavras
No
mesmo instante saiu,
Adiante
deu um pipoco
E
pelo o espaço sumiu,
Porém
pipoco baixinho
Que
o Brosogó não ouviu.
15
Caro
leitor nesta estrofe
Não
queira zombar de mim,
Ninguém
ouviu estouro
Mas
juro que foi assim,
Pois
cada história do diabo
Tem
um pipoco no fim.
Sertanejo
este folheto
Quero
lhe oferecer,
Leia
o mesmo com cuidado
E
saiba compreender,
Encerra
muita mentira
Mas
tem muito o que aprender.
Bom leitor
tenha cuidado
Ainda
vive entre nós,
Milhares
de Militões
Com
um instinto feroz,
Com
traçados e mentiras
Perseguindo
os Brosogós. FIM
16
,