terça-feira, 5 de março de 2013

O REI E O CARVOEIRO - José Edimar Mendes Barbosa





















O Rei e o Carvoeiro

José Edimar

 

A família é no universo

Primeira comunidade,

Do amor e vital célula

Tendo ela capacidade,

Na educação primeira

Pra nova sociedade.

 

Na família estruturada

A pessoa que nasceu,

Trás limites e respeito  

Que dentro dela aprendeu,

Valores que no futuro

Transborda em quem recebeu.

 

Quando um filho é bem amado

Nunca abandona seus pais,

Ao contrário, cuida deles

Pois tem valores morais,

Com todo apoio e conforto

Porque sente amor demais.

              01

Num reino muito distante

Existiu um rei bondoso

Que se dedicava aos súditos

Sendo amável e cuidadoso,

Chegando o próprio povo

Achar o rei generoso.

 

Todo ano nesse reino

Uma festa esse rei dava,

Onde reunia o povo

Toda vez que festejava,

Havendo harmonia e paz

Todo reino se alegrava.

 

O grande acontecimento

Garantia a animação,

Bebida e comida boa

Tinha mais uma atração,

Encerrando com um prêmio

Por uma adivinhação.

 

Aquele que adivinhasse

Grande prêmio recebia,

Que era dinheiro e roupa

E dava o rei garantia,

Dar durante o ano inteiro

A comida e a moradia.

           02

E durante muitos anos

O movimento ocorreu,

Mas chegou em uma época

Quando não apareceu,

Nenhuma adivinhação

Ela não aconteceu.

 

Foi num prazo de dez anos

Que a festa não ocorria,

Todo povo ficou triste

Reclamando todo dia,

A tristeza em todo canto

Que até o rei sofria.

 

A vida ficou monótona

Não deu para aguentar,

O rei com armas de caça

Saiu pra passarinhar,

Contemplando a natureza

Para poder melhorar.

 

Quando ele andou bastante

Já se sentindo cansado,

Sentou-se sobre uma sombra

Quando olhou para outro  lado,

Viu um homem trabalhando

Cantando muito animado.

                03

Ficou o rei curioso

Pois ali estava ouvindo,

Um homem alegre cantando

No mato se divertindo,

Por causa dos dentes brancos

Viu que ele estava sorrindo.

 

Levantou devagarinho

Chegando onde ele estava,

Perto de uma caeira

Que ainda fumegava,

Ele tirando o carvão  

Quando ainda fumaçava.

 

Vendo o fogo o rei falou:

– Deixe o carvão esfriar,

Fica mais fácil o trabalho

Depois que o fogo apagar,

É bom que não queima o cesto

E melhor pra transportar.

 

Disse ele: rei meu senhor

É que estou apressado,

Trabalho sozinho e faço

Esse serviço pesado,

Também tem outro motivo

Que me mantém animado.

                04

– Vivo pagando uma conta

Desde cedo adquirida

Essa conta só termina

Se o credor fizer partida,

E estou creditando outra

Pra pegar no fim da vida.

 

Disse o rei: pois necessita

-- Dum bom dinheiro ganhar,

Acho que com o carvão

Pra família sustentar,

Com certeza nada sobra

Se ainda quer emprestar.

 

Disse o homem: oh majestade

Não me coloque em apuro,

Pois desse carvão depende

Meu passado e meu futuro,

Com juro eu pago uma conta

E a outra empresto a juro.

 

– Me conte isso direito

Disse o rei, quero entender,

Como paga a parte a juro

Quando começou dever,

E o que vem emprestando

Quando pensa em receber?

                 05

Respondeu o carvoeiro:

– Antes que eu fosse nascido,

Meu pai me alimentou

Pra que eu crescesse nutrido,

Quando precisou de mim

Não me fiz de esquecido.

 

Meus pais hoje estão comigo

No sustento estou mantendo,

Não podem mais trabalhar

Todo dia estão comendo,

E assim estou pagando

Aquilo que estou devendo.

 

A conta é paga com juros

Foi adquirida quando,

Esperavam eu nascer

Dali foi acumulando,

Enquanto eles viverem

Essa conta vou pagando.

 

O dinheiro que empresto

Vem sendo depositado,

Num lugar muito seguro

Por ninguém será roubado,

Quando eu precisar recebo

Por enquanto está guardado.

                 06

Os meus filhos no futuro

Saberão que sustentei,

Então me sustentarão

Com certeza eu saberei,

Que já estou recebendo

Tudo quanto emprestei.

 

O rei ficou tão perplexo

Que se sentia suspenso,

Levara a maior lição

Sentia seu corpo tenso,

Sem saber o que falar

Passava no rosto o lenço.

 

Quando passou um bom tempo

Foi que começou falar,

Oferecendo dinheiro

Para poder lhe ajudar,

De maneira alguma podia

Aquela história contar.

 

E jurou pena de morte

Se ele contasse um dia,

Porém deu uma condição

Como ele escaparia,

Se contasse aquela história

Qual jeito perdoaria.

              07

Perguntou o Carvoeiro:

– Como poderia ser,

Disse o rei mostrando rosto:

– Se cem vezes puder ver,

Meu rosto conte a vontade

Que nenhum mal vou fazer.

 

– Se meu rosto por cem vezes

Avistar vai perdoado,

Do contrário você morre

Lhe deixo logo avisado,

Vou indo e só voltarei

Para matá-lo enforcado.

 

Quando o rei saiu dali

Começou ele a pensar,

Que nunca o rei veio ali

Querendo lhe visitar,

Agora ou guarda o segredo

Ou o rei manda matar.

 

Ainda deixou dinheiro

Mas é pequena a quantia,

Não tenho pra quem contar

Parece que o rei sabia,

Por isso é que seu segredo

 Aqui vai ter garantia.

              08

– Melhor mesmo é trabalhar

Vou cuidar do meu carvão,

De onde sai meu dinheiro

Pra minha alimentação,

E dos que de mim dependem

Essa é minha obrigação.

 

Quando o rei chegou à corte

Estava muito contente,

Com nova adivinhação

Mandou reunir sua gente

Dizendo: vamos ter festa

Tudo vai ser diferente.

 

O que estou trazendo agora

Não vi nada parecido,

Se alguém souber explicar

Vai ter nome conhecido,

Dentro e fora desse reino

Pra nunca ser esquecido.

 

Vale pra qualquer pessoa

Que desse enigma souber,

Dando resposta correta

No momento que disser,

Vai desfrutar nesse reino

De tudo que aqui tiver.

                09

Virá pra esse palácio

Consigo eu dividirei,

Sendo nosso adivinhão

Com muito gosto darei,

As regalias que são

Garantidas a esse rei.

 

Quero dar quatro semanas

Pra ninguém ficar de fora,

O tempo é suficiente

Não dar pra perder a hora

Ouçam-me com atenção

O que vou falar agora:

 

– Sustento minha família

Trabalhando muito duro,

Pagando conta passada

Dinheiro emprestado a juro,

E vou emprestando outra

Pra garantir meu futuro.

 

Com salário é equivalente

Dum trabalhador braçal,

Sustento minha família

Meu passadio é normal,

Pagando e empresto a juro

Desse mesmo capital.

               10

Disseram: é Impossível

Pra alguém se sustentar,

Com salário tão pequeno

Comer e ainda pagar,

Dinheiro emprestado a juro

E sobrar pra emprestar.

 

Disse o rei: antes da festa

Vocês precisam saber,

Da resposta que preciso

Procurem compreender,

Se alguém for inteligente

Tem tempo pra responder.

 

Todos foram para casa

Assim que o rei terminou,

Tinha um vassalo da corte

Que a noite inteira passou,

Em procura da resposta

Mas nada lhe adiantou.

 

Nos primeiros quinze dias

Todos quase não dormiram,

Procurarando dia e noite

Todos eles insistiram

Empenhado o tempo inteiro

Porém nada descobriram.

             11

O vassalo já cansado

Porém não quis cochilar,

Saiu cedinho de casa

Foi no mato procurar,

Uma resposta sensata

Pois queria decifrar.

 

Andou de manhã e a tarde

E saiu no carvoeiro,

Que trabalhava apressado

No rojão o dia inteiro,

O vassalo ali perdido

Por dentro do tabuleiro.

 

– De onde você vem vindo?

O carvoeiro perguntou,

Parece que está perdido

Mas já que aqui chegou

Precisando duma ajuda

Me diga, que pronto estou.

 

Respondeu: ando perdido

De tanto virar o mato,

Há vários dias não durmo

Com meu rei fiz um contrato,

Pra desvendar um enigma

Tenho que cumprir meu trato.

               12

Mas acho muito difícil

Ter quem possa esclarecer

Aqui dentro desse mato,

Já quis me arrepender,

Talvez seja uma invenção

Não há quem possa saber.

 

Mas se aparecesse alguém

Que esse segredo me desse,

Que eu pudesse lhe explicar

Na hora que o rei quisesse,

Garanto que eu pagaria

Todo valor que pudesse.

 

Perguntou-lhe o Carvoeiro:

– Diga-me se pagaria

Com cem moedas de prata

Que além do valor do dia

Trouxesse o rosto do rei

Como a maior garantia?

 

O vassalo respondeu:

– Sou bem capaz de pagar,

Cem moedas como disse

Se acaso alguém me contar,

Revelando o tal segredo

Que o prêmio eu possa ganhar.

              13

Dou-lhe ainda a garantia

De nunca contar ao rei

Do segredo revelado

Como a resposta encontrei

Embora ele me aperte

Juro que não contarei.

 

Quis saber logo o segredo

Estava muito apressado,

Disse o carvoeiro: calma

Que ele será revelado,

Que não vou manter comigo

Nenhum segredo guardado.

 

O vassalo assim falou:

– Vivo sempre trabalhando,

Pra sustentar a família

Pouco dinheiro ganhando,

Pagando o que devo a juro

E a juro ainda emprestando.

 

É essa a adivinhação

Que o nosso rei propôs,

E pediu pra corte inteira

Uma resposta depois

Quando ele fizer a festa

Do enigma que propôs.

               14

O carvoeiro então disse:

– Pois me apareça aqui,

Venha trazendo as moedas

Do jeitinho que pedi,

Depois do fim da semana

Pode vir que consegui.

 

Lembre-se das cem moedas

Fique sabendo o senhor,

Por mim só serão aceitas

Não importando o valor,

Precisa ter num dos lados

O rosto do imperador.

 

Assim os dois combinaram

O vassalo então saiu,

Quando chegou na cidade 

Cem moedas conseguiu,

No dia determinado

Para o encontro partiu.

 

Quando chegou lá no mato

Encontrou o carvoeiro,

Cuidando do seu carvão

Que nem ligou pra o dinheiro,

O vassalo pensou logo:

– Esse aí trapaceiro!.

              15

Chegando ao final do dia

O vassalo impaciente,

Quando veio o carvoeiro 

Dizendo-lhe sorridente:

– Queria ver se o senhor

Era um homem persistente.

 

Pois é nessa garantia

Que eu pretendo apostar,

Que é pra chegar na corte

Disso sempre se lembrar,

Nosso acordo é um segredo

Pra o rei não desconfiar.

 

Estou correndo perigo

Por está traindo o rei,

Mas estou fazendo isso

Porque de nada gostei,

Da resposta que me fez

Ouça bem o que falei:

 

– Veja que o pobre trabalha

E não ganha quase nada,

Porém do pouco que arranja

A família é sustentada,

Ele, mulher pai e mãe

Também toda filharada.

           16

E quando acontece isso

Tudo vai realizado,

O dinheiro pago a juro

É ter seus pais sustentado

E quando alimenta os filhos

É o dinheiro emprestado.

 

Que os filhos no futuro

Também vão lhe sustentar,

O vassalo ouvindo isso

Começou a gargalhar

Voltou feliz com a resposta

Querendo o prêmio ganhar.

 

Só faltava uma semana

Ninguém de nada sabia,

Ele já tinha a resposta

Esperava aquele dia,

Como estava muito eufórico

Pulava só de alegria.

 

Quando passou a semana

Chegou o dia sagrado,

Tudo quanto precisava

Foi sendo organizado,

Que alguém trouxesse a resposta

Era na festa aguardado.

           17

Quando a festa começou

Todo mundo apreensivo,

Que ninguém tinha resposta

Fosse o rei compreensivo,

Talvez a preocupação

Fosse por esse motivo.

 

Naquela hora o rei chegou

Pediu pra música parar,

E falou: chegou a hora

Pra quem sabe adivinhar,

Preciso duma resposta

Vamos ver quem vai falar.

                 

Ficaram todos calados

O rei ali aguardando

A resposta do enigma,

Estava se inquietando

Quando o vassalo partiu

Para o seu lado acenando.

 

O rei pediu ao vassalo

Pra que se adiantasse,

Que a resposta do enigma

Com calma o povo aguardasse,

A corte inteira esperava

Era bom que escutasse.

                18

Disse o vassalo: senhores

Em nome da realeza,

Vossa real majestade

Prometo usar de franqueza,

Garantida em juramentos

Dadas pela Vossa Alteza.

 

Com garantias do rei

Ele começou falar:

– Com o meu salário tenho

Que a família sustentar,

E pagar dinheiro a juro

E sobrar para emprestar.

 

E a resposta do enigma

Traz no significado,

Os meus pais me sustentaram

Foi o dinheiro emprestado,

Hoje eu sustentando eles

Pago a conta do passado.

 

Essa conta vem com juros

Porque não existe um prazo

Ela é paga em hora certa

Pois nunca tolera atraso,

Só termina com a morte

Não acaba noutro caso.

                19

Dinheiro emprestado a juro

É o mesmo investimento,

Dou sustento aos meus filhos

Até chegar o momento,

Que eu não possa trabalhar

Eles me darão sustento.

 

Disse ele: rei meu senhor

A resposta é essa aqui,

E na presença de todos

Seu enigma eu respondi,

Mas me recuso a dizer

De que forma consegui.

 

Toda assembléia de pé

Gritou entusiasmada:

– Nosso rei garantirá

Não precisa dizer nada,

Só a resposta interessa

E essa, aqui já foi dada.

 

Disse o rei: não é preciso

Tudo foi esclarecido,

Mas somente ele sabia

Que tinha sido traído,

Saiu sorrateiramente

Sem ninguém ter percebido.

            20

Na manhã do outro dia

Com as armas foi ao mato,

Pois não pretendia deixar

Aquele assunto barato,

Procurava o carvoeiro

Para esclarecer o fato.

 

Chegou lá e o carvoeiro

Nas caeiras não estava,

Já sabendo que o rei

Bem cedo lhe procurava

Apareceu só à tarde

Mas o rei inda o aguardava.

 

Vendo o rei quis disfarçar

Mas o ele gritou ligeiro,

– Você hoje é réu de morte

Mas me diga carvoeiro,

O que fez trair seu rei

Quanto ganhou em dinheiro?

                

Respondeu-lhe: o carvoeiro

Nenhum dinheiro daria,

Para eu trair Vossa Alteza

Que não me perdoaria

Caso eu pegasse o dinheiro

Seja qual fosse à quantia.

              21

O rei disse: não podia

Nossa resposta contar,

Só se visse por cem vezes

Meu rosto em algum lugar,

Do contrario não existe

Outra forma de escapar.

 

Ele ali virou o saco

De moedas sobre o chão,

Dizendo: veja o senhor 

Olhe com toda atenção,

Que elas trazem seu rosto

Reconheça no brasão.

 

O rei quase que desmaia

Quando o rosto apareceu,

Num dos lados da moeda

E ali reconheceu,

Que o carvoeiro ganhava

De novo o dinheiro seu.

              

Disse o rei: oh carvoeiro

Ninguém pode te ganhar,

Além de escapar da morte

Grande soma vai levar,

E agora és convidado

Pra no palácio morar.

            22

Foi o carvoeiro em casa

E contou todo ocorrido,

Fez o convite a família

Deixou tudo resolvido,

Na corte pela a princesa

Foi seu povo recebido.

 

Tissadê era a princesa

Filha do rei e solteira,

No palácio ela morava

Sentia-se prisioneira,

Não se divertia em festas

Não amava a brincadeira.

 

Por ser linda despertou

No vassalo uma paixão,

Dedicada aos seus estudos

A ninguém dava atenção,

Ele para conquistá-la

Não perdeu a ocasião.

 

O rei sem pensar naquilo

Nada lhe preocupava,

O vassalo muito esperto

Do momento aproveitava,

Sem perder nenhuma chance

A princesa a cortejava.

              23

Aproveitando as delícias

Que no palácio existia,

Levando vida de príncipe

Mas o que ele fazia,

Cortejando a Tissadê

Despertando simpatia.

 

O rei que não tinha um príncipe

Pra governar seu reinado,

Aceitou que o vassalo

Com a filha fosse casado,

E ficasse governado

Com Tissadê ao seu lado.

 

No palácio o carvoeiro

Esqueceu da profissão,

Sendo cidadão do reino

Cuidou da animação,

Quando fosse festejar

Não fabricou mais carvão.

 

Nessa história só o rei

Que tinha tudo e perdeu,

O carvoeiro sendo esperto

Ganhou o dinheiro seu,

E o vassalo a princesa

O poder e a realeza

Tudo que ao rei pertenceu. FIM

            24

             

              

 




Nenhum comentário:

Postar um comentário