sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

JOÃOZINHO E ROSINHA (José Edimar)






















JOÃOZINHO E ROSINHA
E O PAI SEM CORAÇÃO

Desgraça sempre acontece
Onde impera a traição
Com ódio inveja ganância
Falsidade e ambição
Toda sorte vem mesquinha
Foi com Joãozinho e Rosinha
Por um pai sem coração.

No Rio Grande do Norte
Naquele tempo passado
Morava um velho viúvo
Trabalhador do roçado
Embora lutasse tanto
Não se imaginava o quanto
Vivia necessitado.

Era pai de dois rapazes
De Joãozinho e de Zezinho
Depois que ficou viúvo
Cuidou dos filhos sozinho
Como um pai bem amoroso
Com os dois era zeloso
Dando pra eles carinho.
              
Na dura luta diária
No roçado trabalhava
Tendo pouco rendimento
Quase em nada melhorava
Dando duro pra valer
Nem mesmo para comer
O lucro deles não dava.

Quanto mais passava tempo
Só aumentava a piora
Pois somente a esperança
Que não deixava uma hora
Ruim na situação
Sendo uma espera em vão
Nunca havia uma melhora.

Daquela vida cansado
E pensando em melhorar
Joãozinho o filho mais velho
Pediu ao pai pra casar
Seu pai lhe deu permissão
Tinha ele no coração
Uma moça do lugar.

Joãozinho onde morava
Era bem relacionado
Apesar da sua pobreza
Nunca lhe faltou agrado
Das moças da vizinhança
Com ele tinham esperança
De um futuro dourado.
            
A jovem de quem gostava
Era uma linda mocinha
Filha de família pobre
Que da sua era vizinha
Divina e maravilhosa
Foi batizada por Rosa
Mas, lhe chamavam Rosinha.

Rosinha era moça bela
Alegre e muito sincera
Sendo fruto dos valores
Da educação que tivera
Não havendo na sua classe
Quem da jovem não gostasse
Por tudo que ela era.

Ela já alimentava
Amizade por Joãozinho
Sempre dedicou pra ele
Amor sincero e carinho
Foi daquele sentimento
Que trouxe pro casamento
Muito amor ao novo ninho.

Depois do seu casamento
Joãozinho foi trabalhar
Comprando gado e vendendo
Dentro e fora do lugar
Melhorou de condição
Até o pai e o irmão
Começou a sustentar.
               
Comprando gado de fora
E trazendo pra cidade
O negócio foi crescendo
Com muita facilidade
Seu capital aumentando
Em pouco tempo alcançando
A maior prosperidade.

Comprou uma casa grande
Para os parentes morar
Pra seu pai e pra Zezinho
Sem ninguém se preocupar
Porque nada ali faltava
Pois tudo que precisava
Tinha dinheiro pra comprar.

Rosinha muito feliz
Ao lado do seu amado
Vida de menina pobre
Já ficara no passado
Era uma esposa decente
Querida por toda gente
Lá daquele povoado.

Três anos de casamento
Folga Joãozinho não tinha
A esposa ficou grávida
Teve uma linda filhinha
Aumentou o sentimento
Com grande contentamento
Para Joãozinho e Rosinha.
               
Ele conservava um hábito
Toda vez que viajava
Na saída e na chegada
Na casa do pai passava
Para falar de Rosinha
E da querida filhinha
Que ao pai recomendava.

Sem saber do sentimento
Que no  seu pai existia
Um grande peso na alma
Mas o filho não sabia
Muita inveja e ambição
Transbordando o coração
Onde o mal prevalecia.

Era uma carga pesada
Que ninguém imaginava
No coração ninguém anda
E o velho disfarçava
Tudo aparentava bem
Filho bom virtude tem
Do pai não desconfiava.

Vendo o dinheiro do filho
Nele a inveja cresceu
Trabalhou tanto na vida
Lutou e nunca venceu
Ficou com a alma pesada
E a mente perturbada
Do mal seu espírito  encheu.
                 
Falando ao filho Zezinho
O seu tom era zangado
Dizendo - Não quero mais
Viver aqui humilhado
Joãozinho só dar migalha
Todo tempo ele trabalha
Ganha dinheiro avultado.

Zezinho disse -Papai
Não fale assim por favor
Joãozinho tem sido bom
Comigo e com o senhor
Quem lhe ouvir falar assim
Pensará que ele é ruim
Uma pessoa sem valor.

Após essa discussão
O velho foi conformado
Não falou mais com o filho
Cada um ficou calado
Zezinho achou uma afronta
Porém não levou em conta
O que o pai tinha falado.

Joãozinho vinha chegando
Manifestava alegria
Tudo caminhava bem
No negócio que fazia
Amava muito seu pai
Pensava consigo vai
Do jeito que ele queria.
            
Chegando dessa viagem
Ele estava satisfeito
Abraçou seu pai dizendo
Tudo faço a seu respeito
Vai trabalhar e ter valor
Para ajudar o senhor
Vivo alegre desse jeito.

Ele sabendo que o pai
Desejava trabalhar
Pensava então num açougue
Que pretendia montar
Com seu pai ficava sócio
Desse promissor negócio
Onde os dois iam lucrar.

Assim que o filho saiu
O pai falou pra Zezinho
-Acho bom que você saiba
Que quero roubar Joãozinho
Dinheiro tem a vontade
E me vem com falsidade
Se fazendo de bonzinho.

Zezinho ficou trêmulo
Só de ouvir o pai falando
Pois roubar o próprio filho
Que vinha os dois sustentando
Lembrou da necessidade
Na pobreza de verdade
Cresceu sem viver roubando.
                   
O velho muito invejoso
Então começou pensar
Na fortuna de Joãozinho
Numa forma pra roubar
Em Zezinho ele pensou
Porém não lhe convidou
Pois não iria aceitar.

Zezinho tinha lhe dito
Que jamais aceitaria
Ir roubar o seu irmão
Naquilo nem pensaria
Que maldade sem tamanho
Não se faz nem com estranho
Que é imensa a covardia.

Com esse mau pensamento
Que ele trazia escondido
Mantendo dentro guardado
Fingiu-se entristecido
Pensou quando viajasse
Antes que ele voltasse
Já teria acontecido.

Rosinha naquela noite
Dormindo ela sonhava
Que dois ladrões mascarados
Na porta dela chegava
Dois monstros sem confiança
Matavam ela e a criança
Muito aflita ela acordava.
               
De manhã ela contou
O sonho para o marido
Contando o sonho ela estava
Com semblante entristecido
Ele ouvindo com carinho
Lhe disse-Sonhar benzinho
É ilusão do sentido.

Na noite daquele dia
Joãozinho ia viajar
Ela falou - Que no sonho
Não parava de pensar
Que não fosse, desse um jeito
Mas tendo negócio feito
Disse -Não posso ficar.

Ele confortou-a dizendo:
Tenha fé e confiança
Preciso dessa viagem
Não posso fazer mudança
Para lhe dar guarnição
Vem meu pai e meu irmão
Fazer toda segurança.

A segurança é por conta
Do meu pai e meu irmão
E sendo um pedido meu
Eles nunca deixarão
Enquanto eu estiver fora
Sem descuidar uma hora
Lhe dando toda atenção.
               
Ela ainda argumentou
Que seu marido ficasse
Isso não era por quê
Em seu pai não confiasse
Do sonho estava abalada
Só ficava sossegada
Se ele não viajasse.

Ele não pode atender
Aos apelos da amada
Preparou-se pra viagem
De doze pra madrugada
Na casa do pai passou
E com ele conversou
Pra poder pegar jornada.

Na conversa com o pai
Joãozinho também contou
Sobre o sonho de Rosinha
Seu pai se prontificou
Dando toda garantia
Que a segurança faria
Com isso ele confiou.

Na hora que ele saiu
O velho pai sem demora
Acordou também Zezinho
Com uma surra nessa hora
Uma máscara nele botou
Outra no rosto amarrou
E saíram porta afora.
               
O velho muito apressado
Zezinho lhe acompanhando
Pedindo perdão a Deus
Da sorte se lamentando
Na mais difícil missão
Com aperto o coração
Seu rosto o pranto banhando.

Apenas dezesseis anos
Considerado um menino
Governado pelo o pai
Que tinha gênio assassino
Por força lhe acompanhava
Pois ainda não mandava
Direito no seu destino.

Com a saída de Joãozinho
Rosinha viu o abandono
Igualmente um cão perdido
Dentro do mato sem dono
Com a filhinha ao seu lado
Embora com muito enfado
Nunca pegava no sono.

Ela pensava no sonho
Quando escutou a pancada
Alguém batendo na porta
Igual na noite passada
Ela aguçou os ouvidos
Percebeu fortes ruídos
Da porta sendo quebrada.
               
Terminando a zoada
Ela notou que entraram
Estavam dentro da casa
Em todo canto pisaram
Sentindo que ia morrer
Pediu pra Deus socorrer
Quando eles encostaram.

Abraçando sua filhinha
Quando um se aproximou
Pegou com força a criança
Dos braços dela arrancou
Segurando num dos braços
Puxou um punhal de aço
Na hora ela desmaiou.

Ele apunhalou Rosinha
Porque estava irritado
Por não encontrar dinheiro
Depois de ter revirado
A casa, e sem esperança
Jogou pra cima a criança
Deixando o punhal cravado.

Jogou na primeira sala
Sem desistir da jornada
Revirando a casa inteira
Porém não encontrou nada
De procurar se cansou
Sem dinheiro ele ficou
Feito uma fera assanhada.
                
De caçar tanto o dinheiro
Não viram o tempo passado
Dinheiro não tinha em casa
Estava depositado
Procurando insistiram
Só pararam quando viram
Que alguém tinha chegado

Joãozinho seguiu viagem
Já estava bem distante
Pensava muito em Rosinha
Quando viu naquele instante
Seu cavalo refugar
Cavar o chão relinchar
E não dar um passo adiante.

Apertou nele as esporas
Ele não lhe obedeceu
Puxado pelo o cabresto
Foi inútil o esforço seu
Quando resolveu voltar
Viu o cavalo disparar
Como nunca aconteceu.

Sem chicote e sem esporas
Numa carreira disparada
Que quando chegaram em casa
Era três da madrugada
Vendo a casa toda acesa
Ele exclamou com surpresa
Rosinha ainda acordada!
                  
Viu o seu portão quebrado
Dois vultos sair correndo
Foi sacando o seu revólver
Na noite eles se escondendo
Fez a arma detonar
Conseguindo acertar
Ainda nada entendendo.

Entrando ligeiro em casa
Foi a mulher procurar
Passando a primeira sala
O calçado quis pregar
Era a criança que estava
No sangue dela marcava
O seu rastro no lugar.

Seguiu direto pro quarto
Viu a porta escancarada
O quarto desarrumado
A porta também quebrada
Começou queimar a alma
Não pode manter a calma
Ver Rosinha ensanguentada.

Agiu igualmente um louco
Com a alma muito ferida
Por causa do seu trabalho
Sua mulher perdeu a vida
Com seu coração quebrado
Porque não tinha encontrado
Junto à filhinha querida.
              
Se sentindo amargurado
No desespero ele chorou
Novamente veio pra sala
E seu rastro observou
Com o sangue no chão marcado
Também com o punhal cravado
A filhinha ele encontrou.

Foi ao terreiro sentindo
Muita dor no coração
Olhando para os bandidos
Os dois caídos ao chão
Quando as máscaras retirou
Na mesma hora notou
Ser seu pai e seu irmão.

Chorou porque os bandidos
Que ele tinha matado
Era o pai e o irmão dele
Pra quem tinha confiado
Os cuidados de Rosinha
Mataram ela e a filhinha
Oh que gênio desgraçado!

Ficou muito atordoado
Depois daquele ocorrido
Quase perdeu o controle
Seu mundo estava perdido
Seus nervos virou bagaço
Da família todos os laços
Tinha desaparecido.
             
Joãozinho foi á polícia
Contou o que aconteceu
Entregou-se a prisão
Porém ninguém lhe prendeu
Sem a esposa e sem filha
Ele seguiu outra trilha
Dali desapareceu.

Saiu montado a cavalo
Daquela delegacia
Lamentando a triste sorte
Foi aquele o pior dia
Pegou um novo caminho
Precisava andar sozinho
Com a tristeza em companhia.

Quando foi menino pobre
Sofreu por necessidade
Nunca pensou que riqueza
Trouxesse infelicidade
Que inveja e ambição
Fosse encher o coração
Do pai com tanta maldade.

Ninguém ouviu mais falar
Qual foi dele, a trajetória
Mamãe contava pra gente
Guardei tudo na memória
Disse ela, que um violeiro
Cantando com o companheiro
Divulgava a triste história.
              F I M




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