terça-feira, 30 de setembro de 2014

A VIDA DE CANCÃO DE FOGO E O SEU TESTAMENTO 1º e 2º VOLUME





A Vida de Cancão de Fogo
E o seu Testamento

Leitor se não se enfadar
Desta minha narração,
Leia a vida deste ente
E preste toda atenção,
Que foi o quengo mais fino
Desta nossa geração.

Pois ele desde criança
Sabia a tudo iludir,
Estradeiro muito velho
Não pode a ele competir,
O Cancão nunca armou laço
Que alguém pudesse sair.

Cigano que no Egito
O temiam como lobo,
Entre todos os ladrões
Era professor de roubo,
Chegou aqui no Brasil
O Cancão fez dele um bobo.
               01
Até na hora da morte
O Cancão caloteou,
Com o Testamento dele
Inda o juiz se enrascou,
O escrivão recebeu
Um processo que tomou.

Na vida dele houve caso
De chamar a atenção,
Muita gente talvez pense
Que seja exageração,
Ia um ladrão roubar ele
Ele roubava o ladrão.

Agora vamos saber
Quem era esse tal Cancão,
Descrever os sinais dele
Costumes e propensão,
Para podermos entrar
Em sua apreciação.

Cancão era um apelido
Que os irmãos lhe puseram,
Pelas as travessuras dele
Esse apelido lhe deram,
Por ele nunca querer
O que os parentes quiseram.

Ele era um branco moreno
De olhos agateados,
O rosto largo pequeno
Os cabelos estirados,
Não eram preto nem louro
Eram quase acastanhados.
                02
O corpo muito franzino
E muito pouco comia,
Vivia sempre pensando
De noite pouco dormia,
Não confiava em ninguém
E nem contava o que via.

No quengo é que não se pode
Dar dele uma descrição,
Só posso classificá-lo
Como grande aberração,
Um caso extraordinário
Enfeites da criação.

Porque admira a todos
Este ente se criar,
E enganar a todo mundo
E ninguém o enganar,
Nunca achou um estradeiro
Que pudesse o enrascar.

Roubar objeto algum
Isso não, nunca roubou,
Mas em negócio com ele
Nunca ninguém se salvou,
Desde a Igreja a justiça
Tudo isto se queixou.

O pai de Cancão de Fogo
Foi um homem preparado,
De muitos bons sentimentos
E muito bem arranjado,
Mas a sorte neste mundo
Dar e tira, como um dado.
                 03
Por isso Cancão um dia
Estava numa discussão,
Disse a um irmão da mãe dele
Homem algum tem distinção,
A vantagem do fiel
É a mesma do ladrão.

Já tenho quase dez anos
Nunca ouvi dizer assim:
Pedro escapou por ser bom
Paulo morreu por ser ruim,
Bom e mal, bonito e feio
Tudo tem o mesmo fim.

Cancão tinha sete anos
Quando andou perto da morte,
Foi passar um rio cheio
A correnteza era forte,
Desta vez quase a desgraça
Fez ele mudar de sorte.

O Cancão já se afogando
Estava bastante vexado,
Quando passou um cavalo
Que ali morreu afogado,
O Cancão saltou em cima
E disse: estou embarcado.

Os irmãos bateram palmas
Quando viram ele cair,
Disseram em casa nós vimos
O Cancão se consumir,
Afogou-se nesse instante
Ali deitaram a sorrir.
            04
A própria mãe de Cancão
Não deu sinal de sentida,
Quando trouxeram-lhe a nova
Da desgraça acontecida,
Disse: ele não prestava
Não perdi nada na vida.

Cancão saiu no cavalo
Com as pernas a remar,
Tocaram numa barreira
Cancão pode se salvar,
Disse ele: bom cavalo
Que faz o dono escapar.

O Cancão entrou em casa
Pôs tudo surpreendido,
Principalmente os que viram
Quando ele tinha caído,
Já tinha corrido a nova
Que Cancão tinha morrido.

A mãe dele perguntou-lhe
– A morte então não te quis?
Quem não quis, disse Cancão
Foi o esforço que eu fiz,
Graças a um cavalo morto
Que foi quem me fez feliz.

Cancão de Fogo já tinha
Nove ou dez anos de idade,
Quando o pai dele morreu
Deixou-os em necessidade,
Cancão quando soube disse:
– Isso não é novidade.
                05
Minha mãe está sem marido
Por isso não vá chorar,
Eu também fiquei sem pai
Porém sempre hei de passar,
Ela pode achar marido
Pai é que não posso achar.

Eu digo como o macaco
A um outro respondeu:
Quando ele disse: meu mano
Sua mãe hoje morreu,
Disse –lhe então o macaco
Por isso já esperava eu.

A mãe de Cancão de Fogo
Decidiu-se a trabalhar,
Cancão de Fogo não quis
A isso se sujeitar,
Dizendo: não tenho força
Para serviço acabar.

Agora para viagem
Ou para qualquer mandado,
Achava-o de prontidão,
Não se mostrava enfadado,
Ninguém conseguia dele
Era trabalho pesado.

Todos na casa queriam
Ver o Cancão se acabar,
Dizia o Cancão de Fogo:
Pode tudo me odiar,
Amor não enche barriga
Ódio não faz empacar.
             06
Minha mãe acha que fez
Favor ter-me concebido,
Eu cá sim, fiz lhe um favor
Livrei-a de ter morrido,
E o que seria dela
Se eu não tivesse nascido?

Se ela deu-me de mamar
Eu não sei, ela é quem diz,
Eu não lhe pedi o peito
Se me deu foi porque quis,
Em eu lhe vazar os seios
Foi um favor que lhe fiz.

Eu cá só devo favor
Ao sol e a água do rio,
A água porque eu bebo
E tomo banho no estio,
Devo ao sol porque me esquenta
Na hora que tenho frio.

Um dia disse a mãe dele:
– Não tenho o que almoçar,
O Cancão de Fogo disse:
– É fácil de se arranjar,
O mundo é uma dispensa
Tem o que se procurar.

Então a mãe dele disse:
– Só se for comprar fiado,
Eu morro, porém não compro
Deus está vendo o meu estado,
Seu pai morreu sem dever
Conservou seu nome honrado.
                07
Disse Cancão: essa honra
Não passa de palhaçada,
Porque o capitalista
Não olha a pessoa honrada,
Leve a honra numa venda
E veja se arruma nada.

Disse a velha: não puxaste
Ao teu pai que foi honrado,
Disse Cancão: Deus me livre
De ter a ele puxado,
Se eu fosse como meu pai
Também estava enterrado.

Ela chorando não pode
Pronunciar mais um nome,
O Cancão de Fogo disse:
Minha mãe está é com fome,
Disse: espere aí mais um pouco
Que nessa casa se come.

Saiu encontrou um velho
Que andava ali perdido,
O velho era sertanejo
E ali desconhecido,
Não sabia dum hotel
Onde fosse garantido.

O velho muito usurário
Não queria se arranchar,
Em qualquer hotel decente
Só com medo de pagar,
Dava preferência a um rancho
Somente a fim de poupar.
               08
Disse-lhe  o Cancão de Fogo:
Vossa mercê está perdido?
Me pague que eu vou botá-lo
Em um lugar garantido,
Foi o hotel que já vi
De preço mais resumido.

Eu vou contar uma história
Eu, lá levei um freguês,
Era um mês que ia passar
Foi tão bom que passou três,
Quer saber quanto pagou?
Dez tostões por cada vez.

Se me der cinco mil réis
Vamos que está arranchado,
E a despesa é a que disse
Lá não há preço alterado,
Leve os contos que tiver
Que lá ninguém é roubado.

O velho disse consigo:
Esse assim vem me servir,
É atrás desse que eu ando
Para comer e dormir,
Só gastarei seis mil réis
Daqui para eu sair.

E saiu com o Cancão
Com o mesmo a conversar,
Cancão mostrou–lhe uma casa
Disse: é ali pode entrar,
Dê-me o dinheiro que volto
Ver outro pra hospedar.
              09
O velho deu-lhe dinheiro
E Cancão saiu danado,
Não procurou mais ninguém
Foi logo para o mercado,
Dizendo com seus botões
– Eu hoje como deitado.

Gastou os cinco mil réis
Não ficou com um vintém,
Chegou em casa com tudo
E disse a mãe: aí tem,
Pode cuidar no almoço
Por hoje jantamos bem.

A velha olhou para ele
Com cara bastante feia,
Perguntou: foste comprar
Fiado na venda alheia?
Disse Cancão: foi um frete
Que eu levei para a cadeia.

A velha aí exclamou:
– Oh! bruto amaldiçoado,
Além de seres ladrão
És de mais até malvado,
Além de roubar o velho
Deixaste tão enrascado.

Lançando mão uma vara
Atacou ela a Cancão,
Cancão se fez na canela
E disse: na vara não,
Eu não hei de ser fiel
Obrigado a ser ladrão.
                10
O velho chegou na casa
Julgando que fosse hotel,
Então logo quando entrou
Conheceu que era quartel,
Vieram ao encontro dele
O cabo e o coronel.

O furriel perguntou-lhe:
– O senhor vem se entregar?
É sem dúvida um criminoso
E vem do júri se livrar,
O velho ficou de forma
Que nem podia falar.

– Ladrão! Exclamou o velho
Traiçoeiro e desgraçado!
Disse–lhe o cabo se sente
Não precisa ter cuidado,
Porém só pode sair
Com ordem do delegado.

Então esse caso deu-se
No centro da capital,
E Cancão de Fogo disse:
– Se ficar aqui vou mal,
Eu posso correr o mundo
E não gasto o principal.

O tio dele sabendo
O que tinha se passado,
Foi na casa da mãe dele
Que ia desesperado,
Dizendo que do Cancão
Inda seria vingado.
           11
Cancão ganhou a estrada
De Paraíba a Goiana,
Passando por um partido
Entrou chupou uma cana,
Disse: nessas condições
Eu viajo uma semana.

Largou-se de estrada a fora
Sem direção sem destino,
Quando chegou em Goiana
Embora que pequenino,
Foi procurar uma casa
Que empregasse menino.

Empregou-se numa casa
Para vender tabuleiro,
A doze mil réis por mês
Disse ele: é bom dinheiro,
Isso é quase um ordenado
Dum guarda livro caixeiro

Do serviço de Cancão
Tudo na casa gostava,
Muito fiel e esperto
Aquilo não se encostava,
E do tabuleiro dele
Um bolo não se roubava.

Ao cabo de sete meses
O Cancão tinha juntado,
Sessenta e quatro mil réis
Quase todo ordenado,
O dinheiro que ganhou
O tinha todo guardado.
              12
Um dia disse consigo:
Minha mãe tem precisão,
Talvez não tenha mais roupa
E até lhe falte o pão,
Vou mandar-lhe esse dinheiro
Que ela agradeça ou não.

Enviou-o pelo correio
Mandou dizer onde estava,
E o emprego que tinha
A quantia que ganhava,
Então mandou lhe dizer
Que todo mês lhe mandava.

Assim mesmo pela velha
Tudo tinha se arrumado,
Ela pensou que Cancão
Tinha até melhorado,
Mas o tio quando soube
Ficou como um cão danado.

E era irmão da mãe dele
Essa fera inconsciente,
Só odiava a Cancão
Por ser ele inteligente,
E os filhos desse monstro
Brutos desgraçadamente.

Havia ali um mulato
Chamado José Vaqueiro,
Um indivíduo ladrão
Covarde e alcoviteiro,
Jurava o que nunca viu
Por diminuto dinheiro.
            13
Esse tendo feito um roubo
O Cancão de Fogo viu,
Foi logo ao delegado
E o roubo descobriu,
Por isso o cabra foi preso
E a sentença se cumpriu.

O tio de Cancão de Fogo
Julgou ir muito acertado,
Mandou por José Vaqueiro
Vir o Cancão escoltado,
Dizendo com seus botões:
– Ele chega desgraçado.

Chamou o vaqueiro e disse:
– Dou–lhe parte de uma história,
Vá ver Cancão em Goiana
Está aqui a precatória,
Ele já lhe deve uma
Tem mais você esta glória.

A precatória que vai
Foi feita por escrivão,
O delegado assinou
O mandado de prisão,
A denúncia vai provando
Que o mesmo é ladrão.

Ele descobriu seu roubo
Você pode se vingar,
Ele fez você ir preso
E custou a se soltar,
Essa ocasião é própria
Para você se descontar.
           14
O indivíduo saiu
Como uma fera tirana,
Levou chuva no caminho
Pôs-se a tomar muita cana,
Foi cair embriagado
Num dos ranchos de Goiana.

O Cancão ia passando
E achou ele deitado,
Disse aí dentro de si:
– Esse cabra vem danado,
O carcereiro amanhã
Terá mais esse apurado.

Meteu-lhe a mão na algibeira
E achou a precatória,
Era um protocolo enorme
De uma medonha história,
Disse Cancão: eu te arranjo
Um baile de palmatória,

Aonde Cancão dormia
Tinha chaves enferrujadas,
De portas de armazéns velhos
Por ali depositadas,
Cancão limpou-as dizendo:
– Hoje são aproveitadas.

Voltou encontrou o cabra
Inda na mesma soneira,
Cancão tomou-lhe chegada
Pôs a mão muito maneira,
Trazia as chaves num mólho
Botou-lhe na algibeira.
               15
Saiu no mesmo instante
Foi dizer ao delegado,
Vi no rancho de tal parte
Um indivíduo deitado,
É ladrão e assassino
E três vezes processado.

Anda com chave que abre
Qualquer porta de armazém,
E na casa aonde vai
Não deixa nela um vintém,
Se não o prenderem logo
Não escapará ninguém.

Então foram lá no rancho
Inda estava ele deitado,
Cinco chaves na algibeira
Foi visto por um soldado,
– O indivíduo é ladrão
Disse o praça ao delegado.

O indivíduo acordou
Já debaixo de facão,
Falava, porém ali
Ninguém lhe dava atenção,
Ele ali calculou logo
Ser cilada de Cancão.

Daí a sessenta dias
Foi que veio justificar,
Levou sessenta e três surras
Quase morre de apanhar,
Por um milagre de Deus
Ainda pôde voltar.
            16
Cancão disse consigo:
– Eu aqui sou descoberto,
Pedir as contas e sair
Este é o plano certo,
Eu não quero que a polícia
Me ache de peito aberto.

Devido a José Vaqueiro
Ter caído na prisão,
O comércio de Goiana
Fez um presente a Cancão,
Deu-lhe duzentos mil réis
Como gratificação.

Cancão antes de sair
Fez duas cartas primeiro,
Uma foi para a mãe dele
Lhe mandando mais dinheiro,
Outra ao tio dando lembrança
Que mandava Zé Vaqueiro.

Dizia a carta do tio:
– Seu mordomo excelente,
Eu apresentei-o aqui
Ao delegado somente,
Foi para a casa da câmara
Seguido por muita gente.

Está na casa do governo
Lá tem honra de sultão,
Soldados ali na porta
A sua disposição,
Se o senhor tivesse vindo
Era mais satisfação.
              17
Cancão pediu ao patrão
Licença de uma semana,
Para visitar sua mãe
Que estava em Itabaiana,
Dizendo: ela não pode
Vir a pé até Goiana.

O patrão aí pagou-lhe
O resto do ordenado,
Disse: Cancão eu agora
Quero tomar mais cuidado,
Dormir pouco e andar muito
Viver mais acautelado.

O tio de Cancão de Fogo
Veio cá pessoalmente,
E provou com documentos
Que a prisão foi inocente,
Foram procurar Cancão
Há um mês estava ausente.

O tio de Cancão de Fogo
Disse: ao tal José Vaqueiro:
– Você siga daqui mesmo
Atrás daquele estradeiro,
– Disse o cabra eu não vou lá
Inda por todo dinheiro.

Quem sofreu do que sofri
Não vai atrás de Cancão,
No meu lombo não tem lixa
Para limpar-se facão,
Os dois meses de cadeia
Me serviram de lição.
           18
Fui eu que quase morri
De facão e palmatória,
Os tormentos que passei
Me ficaram na memória,
Garanto que seu sobrinho
Foi quem ganhou a história.

Cancão embolsou o cobre
Disse: vou dar um passeio,
O mundo é mole eu sou duro
Vou furar de meio a meio,
Agora vou a Recife
Vou ver se é bonito ou feio.

Cancão saiu de Goiana
Antes de dar meio-dia,
Chegou em Igarassu
Ao tocar Ave-Maria,
Não quiseram dar-lhe rancho
Pois ninguém o conhecia.

A polícia o encontrou
Perguntou de onde vinha,
Disse ele: venho da casa
Da minha avó e madrinha,
Disse o subdelegado:
Você está bom pra marinha.

O Cancão dentro de si
Ficou bastante agitado,
Mas se mostrasse recusa
Ia dormir amarrado,
Disse consigo: eu arrumo
Esse subdelegado.
           19
Este subdelegado
Era um alferes ambulante,
Sujeito metido a bom
Porém muito ignorante,
O Cancão disse consigo:
Este aqui cai num instante.

Disse Cancão: senhor tenente
Era atrás disso que eu vinha,
Porque até quando eu durmo
Eu sonho com a marinha,
Por isso já desgostei
A minha avó e madrinha.

O senhor faz uma carta
A quem eu hei de falar,
Me ensine a rua onde é
Que é fácil de se acertar,
Disse o alferes: eu mando
Um soldado lhe levar.

Inda é melhor para mim
Disse contente o Cancão,
Peço a vossa senhoria
Para me dar um cartão,
Porque já me arrumei bem
Com a sua proteção.

Foi Cancão a chefatura
Mas não se deu por achado,
No dito quartel dormia
O tal subdelegado,
Por fortuna nessa noite
Da força tinha um soldado.
             20
O alferes confiado
Que ali estava garantido,
Armou a rede e deitou-se
Da roupa todo despido,
Ressonava como porco
Estava do mundo esquecido.

O soldado na tarimba
Da mesma forma dormiu,
O Cancão de Fogo disse:
– Este sono me serviu,
Tirou a roupa de todos
Abriu a porta e saiu.

Carregou as duas blusas
Do alferes e do soldado,
Calças, camisas e ceroulas
Tudo isso foi levado,
Só ficou com o relógio
O mais botou no valado.

Às seis horas da manhã
Encontrou ele um menino,
Um desses que vem ao mundo
Por capricho do destino,
E ao princípio da vida
Triste como a voz do sino.

Cancão perguntou a ele
O que tens que vem chorando,
Já vai te doendo os pés?
E te vejo suspirando!
Respondeu ele: eu devia
Viver só me lastimando.
            21
Fui um menino enjeitado
Fui logo triste ao nascer,
Nem uma ave noturna
Tão triste não pode ser,
Eu sou igual ao deserto
Onde ninguém quer viver.

Esse homem que me cria
Me maltrata em tal altura,
Que nem um preso no cárcere
Sofrerá tanta amargura,
Não foi Deus é impossível
Que me deu tal desventura.

– E para onde é que vás?
O Cancão lhe perguntou:
– Eu vou daqui a dez léguas,
Que hoje ele me mandou,
E não me deu um vintém
Veja em condições que vou.

– Queres fazer como eu
Já ficará descansado,
E teu pai de criação
Talvez nem tenha cuidado,
Pois só se tem prejuízo
Se o objeto é comprado.

Eu também sou como tu
Só não fui foi enjeitado,
Mas até por minha mãe
Eu sou bastante odiado,
Porém este mundo é grande
Eu hei de viver folgado.
             22
Como se chama você?
Respondeu: chamo-me Alfredo
– Eu sou o Cancão de Fogo
Meu nome digo sem medo,
Tendo precisão eu nego
Porque em tudo há segredo.

Quer ir comigo, acompanhe-me
Faço-lhe observação,
Não há de insultar a ninguém
E nem há de ser ladrão,
Ser esperto nos negócios
Isso é uma obrigação.

Só furtará uma coisa
Estando necessitado,
Se não quiserem lhe dar
Tem o direito sagrado,
Aí se rouba até Deus
Se achar Ele descuidado.

Se um ladrão vir nos roubar
Devemos procurar jeito,
De roubar primeiro ele
Porém roubá-lo direito,
Que depois dele roubado
Todos digam: foi bem feito.

Disse o Alfredo: pois vamos
Porém eu quero saber,
Nós ainda tão pequenos
De que podemos viver?
Disse Cancão: ora essa
Vivemos do que comer.
            23
Agora vamos saber
Como o Alferes ficou,
Às sete horas do dia
Foi quando se levantou,
Gritou: acorda soldado
O menino me roubou.

O soldado deu um grito
Que o Alferes se assustou,
E perguntou: o que foi?
O soldado suspirou,
Dizendo: tudo que eu tinha
Aquele infeliz roubou.

Que faço? disse: o alferes
Nuzinho sem poder sair,
Se o governo souber disso
Pode até me demitir,
Só não deserto hoje mesmo
Por não ter o que vestir.

Ás quatro horas da tarde
Ainda estava despido,
E o chefe da polícia
Já tinha disso sabido,
Mandou ver preso o alferes
E foi logo demitido.

Cancão chegou em Recife
Cismado do que houve lá,
Soube que ia um vapor
Com destino ao Pará,
Disse em voz baixa: Alfredo
Vamos até ao Ceará.
             24
Entremos que ninguém veja
Chegando a ocasião,
Que nos veja sem passagem
Você diz que é meu irmão,
O resto é por minha conta
Eu desenrolo a questão.

Entraram pelo rebordo
Sem a ninguém dizer nada,
Já perto do Ceará
Foram então fazer chamada,
Cancão disse a Alfredo
– Não conte história furada.

Perguntou o comissário:
– Meninos vocês quem são?
– Nós somos dois passageiros
Respondeu sério Cancão,
– Passageiros sem bilhetes
Para onde vocês vão?

Papai comprou as passagens
E mandou nos trazer cá,
 – Em que vapor mandou ele?
Diz Cancão: no Ceará,
Ele mora no Recife
Mamãe mora no Pará.

– Este vapor é o Olinda
O Ceará lá ficou,
Cancão exclamou de forma
Que o comissário chorou,
Disse: maninho a nossa roupa
Ai meu Deus! que jeito eu dou!
                25
Perguntou o comandante:
– Menino seu pai quem é?
Disse Cancão: é fiscal
No Recife, em São José,
Minha mãe é professora
E se chama Salomé.

Perguntou o comandante:
– Como o senhor é chamado?
O Cancão de Fogo disse:
O meu nome é Romualdo,
– O nome de seu irmão?
Disse Cancão: é Reinaldo.

Então disse o comandante
– Quando chegar em Belém,
Mando chamar sua mãe
E o delegado também,
Lá é que posso saber
O erro de onde vem.

O comandante fiado
Que eles eram do Pará,
Não os privou que saltassem
No porto do Ceará,
O Cancão de Fogo disse:
– Um burro é que volta lá.

Naquele mesmo vapor
A precatória seguiu,
Denunciando o Cancão
Quando no quartel dormiu,
Porém ia no correio
O comandante não viu.
                26
Saltaram no Ceará
Cancão ia descuidado,
Andando casualmente
Na porta do delegado,
Este disse: esteja preso
Você foi denunciado.

Você é Cancão de Fogo
Da Paraíba do Norte,
Você lá só falta ser
Cúmplice em pena de morte,
Cancão sorriu e disse:
– Meu senhor, só sendo sorte.

– Sorte por quê? Perguntou
O homem impressionado,
Disse Cancão: já ali
Por um subdelegado,
Nós dois já não fomos presos
Por papai ser empregado.

– E você tem pai aqui
Disse Cancão: tem acolá,
Diz o delegado então:
– Chame o seu irmão e vá,
Diga a seu pai que o chamo
E seu irmão fique lá.

Então disse o delegado:
– Espere um pouquinho aí,
Deu a bengala a Cancão
E disse: leve isso ali,
Diga ao subdelegado
Que traga seu pai aqui.
               27
O Cancão saiu sorrindo
E disse: estou arrumado,
Chegou onde estava o moço
E deu o seguinte recado,
Está aqui esta bengala
Que mandou lhe o delegado.

 Ele me ordena que eu
Diga a vossa senhoria,
Que lhe mande cem mil réis
Que ele já aparecia,
E mandou essa bengala
Que o senhor já conhecia.

O moço deu-lhe o dinheiro
Cancão de Fogo voltou,
Disse a Alfredo eu agora
Pensarei por onde vou,
A bomba demora pouco
Se ainda não estourou.

Saímos da capital
Ganhamos a capoeira,
Não havemos de passar
Em lugar que tenha feira,
Perder cem mil réis assim
Não é boa a brincadeira.

E voltou com a bengala
Que tinha lindos anéis,
Disse Cancão: isso aqui
Vale quatrocentos mil réis,
Porém não me custou nada
Eu vendo até por dez.
              28
Quando o delegado soube
Disso que tinha se dado,
E que a bengala dele
O Cancão tinha levado,
De raiva que teve ali
Quase morre asfixiado.

Dava duzentos mil réis
A quem trouxesse Cancão,
Dava o valor da bengala
Como gratificação,
Chorava como criança
E rolava pelo chão.

Disse Cancão: procuremos
Um mato muito fechado,
Então só devemos ir
Por onde tenha roçado,
Onde tenha milho verde
Que a noite se coma assado.

O Alfredo tinha um jeito
Para os olhos revirar,
E representava um cego
Que podia se jurar,
Até um médico oculista
Era fácil se enganar.

E dava um jeito na boca
Que parecia aleijado,
O Cancão de Fogo disse:
– Agora tome cuidado,
Você vai para a cidade
Para ver o que é passado.
               29
Alfredo foi a cidade
E lá viu os movimentos,
Parecia um aleijado
E cego dos mais nojentos,
Soube de tudo que havia
Trouxe três mil e trezentos.

Cancão disse a Alfredo:
– Amanhã vá preparado,
Converse com o vigário
Mas assim como aleijado,
Pregue-lhe uma das minhas
E peça-lhe um atestado.

Você diz: senhor vigário
Eu venho aqui lhe consultar,
Minha mãe antes da morte
Me pediu para pagar,
Uma promessa que fez
Para um santo festejar.

Pedir pelo mundo esmola
Exposto a todo rigor,
Para São Sebastião
E entregar ao senhor,
Vossa mercê não estando
Eu desse o outro pastor.

Se ele der o atestado
Já vê que aí não há nada,
Você peça lhe uma coroa
E a tolha emprestada,
Nós com esses documentos
Faremos boa jornada.
                30
O Alfredo arrumou tudo
Quando o Cancão o esperava,
Disse o vigário consigo:
– Atrás de ti eu andava,
Um conto de réis de esmola
O vigário projetava.

Então deu-lhe o atestado
Escrito com perfeição,
Com carimbo da igreja
Feito por Tabelião,
De forma que só estava
De acordo com Cancão.

Mandou-lhe fazer três vestes
De lutos para ele andar,
E lhe disse: das esmolas
Você não pode tirar,
Um vintém dela não tire
Sob pena de pecar.

E quando Alfredo chegou
Cancão ficou satisfeito,
Deu-lhe um abraço dizendo:
És um menino direito,
Presta atenção aos mandados
Tudo que faz é bem feito.

Meia-noite eles saíram
Quando o dia amanheceu,
Dizia Cancão: neste mundo
Não há mestre como eu,
Disse: nem o diabo pode
Escapar dum laço meu.
             31
Com seis dias de viagem
Começaram a esmolar,
Cancão aonde pedia
Fazia gente chorar,
A fim de dar uma esmola
Era capaz de furtar.

A graça era quando eles
Chegava num povoado,
O Cancão com uma coroa
Ia pedindo de um lado,
Então Alfredo pedia
Como cego e aleijado.

No Ceará não ficou
Uma só povoação,
Que não fosse explorada
Por Alfredo e por Cancão,
E nunca chegou o dia
Que gastasse um tostão.

Sou forçado aqui leitores
A partir as aventuras,
Desse quengo inteligente
Esse rei das travessuras,
Que já foi classificado
Como o rei das diabruras.

Leia o segundo volume
Desse livro apreciado,
E veja o que fez Cancão
Depois de tudo arranjado,
Com o dinheiro das esmolas
Deixando o padre danado.  FIM

                 32







A VIDA DE CANCÃO DE FOGO
E O SEU TESTAMENTO

CONCLUSÃO

Eis o final formidável
Da história de Cancão,
O ente mais trapaceiro
Que houve nesta nação,
Pra ele tudo era fácil
Sem precisar ser ladrão.

Ficou no outro volume
O Alfredo e o Cancão,
Pedindo esmola ao povo
Para São Sebastião,
Mas o santo nem sequer
Viu a sombra dum tostão.

Ao cabo de quatro meses
O vigário já cismado,
Foi aonde Alfredo disse
Que tinha sido criado,
Lhe disseram que ali
Tempo algum tinha morado.
             01
O padre ficou sem fala
Ao saber daquele horror,
Torceu-se como serpente
No mais tremendo furor,
Subiu o sangue a cabeça
Quase dar-lhe um estupor.

Enquanto isso Cancão
Junto com seu secretário,
Sorria bem satisfeito
Dizendo: que pare otário,
Desta vez nós ensinamos
O padre nosso ao vigário.

Um dia Cancão de Fogo
Consultou o companheiro,
Dizendo: somos felizes
Temos bastante dinheiro,
Já temos mais de três contos
Vamos ao Rio de Janeiro?

– Pode ser que aquele padre
Venha nos incomodar,
E nós estando distante
É fácil de se escapar,
Lá comeremos do bom
Pois temos para gastar.

Alfredo achou muito boa
A ideia de Cancão,
E disse vamos amigo
Sou ave de arribação,
Aonde não me servir
Mudemos de posição.
            02
E seguiram para o Rio
Como Cancão calculou,
Depois de oito ou dez dias
A precatória chegou,
Nem notícia de Cancão
A autoridade achou.

Todos dois estavam em Crato
Cancão disse: companheiro,
Saímos de madrugada
Não se passa em Juazeiro,
E vamos diretamente
Para o Rio de Janeiro.

Passaram em Pernambuco
Entraram pela Bahia,
Dez, doze, quatorze léguas
Tiravam eles num dia,
Vendo a hora e o instante
Que uma onça os comia.

Entraram por matas virgens
No cipoal intrincado,
Um dormia sobre as folhas
Outro dormia trepado,
Comiam frutas da mata
Sempre andavam com cuidado.

Já no Estado do Rio
Um dia deram uma errada,
Dormiram numa fazenda
Saíram de madrugada,
Deixaram o caminho certo
Seguiram por uma estrada.
                 03
Cancão disse para Alfredo:
Ouça aguda, e vista alerta,
Para não sermos pegados
Juntinhos de boca aberta,
Aonde nós estivermos
Todo perigo é na certa.

E andaram todo dia
Não viram uma só morada,
Tinham saído do rancho
À uma da madrugada,
Água achavam que bebiam
Porém o que comer nada.

À noite faziam fogo
Um velava outro dormia,
A onça rosnava perto
Cancão de Fogo dizia:
Se está com frio, tem fogo
Se está só, tem companhia.

Às seis horas da manhã
Se levantaram e seguiram,
Eram três horas da tarde
Quando uma casa eles viram,
Cheiro duma feijoada
Chegando perto sentiram.

Cancão lambeu logo os beiços
Alfredo riu sem querer,
E disse para Cancão:
Agora vamos comer,
Uma empreitada dessas
Nós não podemos perder.
             04
Era um lugar esquisito
Somente uma casa havia,
Uma crioula acolá
Com quatro filhos vivia,
Dali até doze léguas
Não tinha uma moradia.

A crioula cozinhava
Era fora do oitão,
Eles viram a panela
Que cozinhava o feijão,
A crioula pisava milho
Estava cozinhando um pão.

Cancão de Fogo chegou
Cumprimentou-a contente,
A negra cravou-lhe os olhos
Que parecia serpente,
O Cancão de Fogo disse:
– Eu pensava diferente!

O Cancão de Fogo disse:
– Não podemos viajar,
Vossa excelência me arrume
O que se possa jantar,
Temos dinheiro e pagamos
O que a senhora cobrar.

A negra olhou e disse:
– Já por ali vagabundo,
Gente branca para mim
É a pior deste mundo,
Você pode se danar
E morrer de olho fundo.
               05
Cancão olhou para Alfredo
E ele compreendeu,
Aquele olhar de Cancão
Alfredo logo entendeu,
De novo olharam pra negra
Ela então se enfureceu.

A negra chamou um filho
Dizendo: João venha cá,
Vá a baixa do capim
E mude a cabra de lá,
E volte com muita pressa
Preciso de você já.

Disse a Cancão e ao outro:
– Vocês vão logo saindo,
Tem aqui um filho meu
Que mata gente sorrindo,
Eles saíram voltando
Por onde já tinham vindo.

O Cancão de Fogo disse:
Nós havemos de voltar,
Para não darmos motivo
A negra desconfiar,
Se ela vir por onde vamos
É fácil de nos achar.

Alfredo então perguntou-lhe
E como se faz agora?
As tripas estão roncando
A fome já me devora.
O que nós vamos fazer
Para a negra dar o fora?
              06
Disse Cancão a Alfredo:
– Para poder conseguir,
Roubar aquela panela
É preciso você ir
Se esconder atrás da casa
Até a negra sair.

– Pra negra sair de lá
Meu plano já está formado,
Faça como estou dizendo
Pro golpe não ser errado,
Vou dizer-lhe mais ou menos
O que tenho planejado.

– Eu pego aquele moleque
E vou com ele à madeira,
A negra há de vir a mim
E você não faça asneira,
Pegue a panela com tudo
E saia em grande carreira.

– Antes da negra chegar
A minha carreira é feia,
Procure a estrada na frente
Me espere a légua e meia,
E procure logo o mato
Aonde se bote a ceia.

Alfredo entusiasmou-se
Com o plano de Cancão,
E disse: aperte esses ossos
És um homem de ação,
Penso até que no diabo
Tu já passaste a lição.
             07
De onde estavam escondidos
Viram um moleque passar,
Alfredo correu depressa
Para poder atocaiar,
A panela que a negra
Tinha de abandonar.

Cancão pegou o moleque
Deitou-lhe o cipó no lombo,
A negra partiu danada
Com o bacamarte no ombro,
Cancão soltou o moleque
Disse: com chumbo não zombo.

A negra ainda atirou-lhe
Mas o tiro não pegou,
A negra uivava de ira
E de que forma ficou,
Depois que chegou em casa
E a panela não achou?

A negra soltava praga
Se rasgava e se mordia,
Puxava irada os cabelos
Babava sangue e cuspia,
Suas pragas reboavam
Só o eco respondia.

– Ah! cachorro da moléstia
Infeliz quem te gerou!
Ladrão, infeliz, infame
Satanás te batizou,
És o monstro mais nojento
Que nosso mundo criou!
              08
Cancão chegou adiante
Voltou por dentro do mato,
Dizendo com seus botões:
– Quem morre de fome é pato,
Quem trabalha deus ajuda
O pão é muito barato.

– Eu não vou morrer de fome
Achando onde comer,
Nem ficar de goela seca
Tendo água pra beber,
Não vou andar compassado
Sendo preciso correr.

Cancão de Fogo saiu
Correndo sem dizer nada,
Ia por dentro do mato
Beirando sempre a estrada,
Onde encontrou o Alfredo
Já com a ceia botada.

Era feijão mulatinho
Com ossada de carneiro,
Cancão quando acabou disse:
– Já vi hotel barateiro,
Enche-se bem a barriga
E não se gasta dinheiro.

Os programas de Cancão
Tinha que se apreciar,
Porque o Cancão dizia:
Nada faz-me admirar,
Aquele que sorrir hoje
Amanhã tem que chorar.
             09
– Bem só pode está o sol
Porque ninguém o alcança,
Haja no mundo o que houver
O sol lá nem se balança,
Enquanto a fortuna dorme
A desgraça não descansa.

– Pai e mãe é muito bom
Barriga cheia é melhor,
A moléstia é bem ruim
A morte é muito pior,
O poder de Deus é grande
Porém o mato é maior.

Disse o Cancão ao Alfredo
Assim se deve roubar,
Não é crime e nem pecado
Eu falei para comprar,
A negra não quis vender-me
Deu-me direito a pegar.

– Se ela fosse de acordo
Como o que eu desejava,
Não ficava sem comida
Eu ainda lhe pagava,
Não açoitava o moleque
E tudo na paz ficava.

Diz Alfredo: e eu calculo
O ódio que ficou nela,
Vê o moleque apanhado
Vê seu fogão sem panela,
Confesso que desmaiava
Só em ver a cara dela.
              10
Depois de terem almoçado
Procuraram descansar,
Na manhã do outro dia
Trataram de caminhar,
Mesmo já faltava pouco
Não queriam demorar.

Afinal chegaram ao Rio
Quando estavam hospedados,
Na mesa estavam almoçando
Chegaram cinco soldados,
Oficiais de justiça
E dois subdelegados.

Alfredo olhou pra Cancão
Cancão também o olhou,
Como quem diz: caro amigo
A nossa hora soou,
É bom logo despedir-nos
Porque a cana chegou.

Ambos ficaram surpresos
Mas sem dar demonstração,
Continuaram comendo
Cada qual na impressão,
Se conviria fugir
Ou entregar-se a prisão.

– Quem é o Cancão de Fogo?
Um dos homens perguntou,
– Sou eu, respondeu Cancão:
– As suas ordens estou,
– Está preso: disse um
O Cancão não se alterou.
               11
O oficial da justiça
Leu claramente o mandado,
Então o Cancão de Fogo
Disse ao subdelegado:
Dê-me licença almoçar
Que ficarei obrigado.

Toda gente do hotel
Prestou grande atenção,
Tudo parou o talher
Olhando para o Cancão,
Até as autoridades
Fizeram admiração.

Quando acabou de almoçar
Pediu a conta e pagou,
Tirou um conto de réis
Ao companheiro entregou,
Disse ao subdelegado
Agora querendo, eu vou.

Alfredo disse a Cancão:
É pena ter que deixa-lo,
Lamento da minha parte
Em não poder ajuda-lo,
Esta é uma das viagens
Que não posso acompanha-lo.

Então lhe disse Cancão:
Você faça o que aprouver,
E veja se pode ir
No lugar que eu estiver,
E demais até um dia
Quando o governo quiser.
               12
Foi Cancão a chefatura
Para ser interrogado,
Disse o chefe de polícia:
– O senhor é viciado,
Como foi no Ceará
O roubo do delegado?

O Cancão de Fogo disse:
– Lá eu não roubei ninguém,
Fui a um mandado dele
Ele não deu-me um vintém,
Eu fiquei com a bengala
Que não sou pai de ninguém.

– Qualquer um faria o mesmo
Pra qualquer um cascudo,
Não era empregado dele
Nunca o vi tão carrancudo,
Ia trabalhar de graça
Sou algum pai de pançudo?

– E Cadê os cem mil réis
Lá do subdelegado?
– Vossa excelência crê nisso?
Isso é plano mal traçado,
Quem é que dar cem mil réis
A quem está denunciado?

– E a roupa do alferes
Que vossa mercê carregou?
– Foi para me defender
Foi isso que me salvou,
Ele, pra que me prendeu
Quando ninguém o mandou?
                13
Disse o chefe de polícia:
– O leve para a marinha,
O Cancão de Fogo disse:
– Essa vontade eu já tinha,
A desgraça ia em viagem
Quando a fortuna já vinha.

– Tomara que me aceitem
Disse ele ao delegado,
A tempos que esperava
Esse momento chegado,
Espero que não descubram
Que eu sofro de puxado.

Então lhe disse a polícia:
– Sinto muito meu rapaz,
Essa história de puxado
É um plano bem sagaz,
Mas desculpe que lhe diga
Seus truques não pegam mais.

Mas o médico da marinha
Estava nesta ocasião,
O recusou por doente
Da laringe e do pulmão,
Achou ser uma injustiça
Não se proteger Cancão.

Às quatro horas da tarde
Cancão de Fogo chegou,
Dizendo: bendito seja
O que me denunciou,
Há males que trazem o bem
Como este agora chegou.
               14
Depois de solto Cancão
Seguiu junto com Alfredo,
Enganado até gatuno
Como estradeiro rochedo
Deu quengada em fazendeiro
Pois Cancão fazia medo.

Enrolou o quanto quis
Depois chegou o momento
Desejando ter família
Arranjou um casamento,
Como ele estava doente
Quis fazer seu testamento.


O Testamento de
Cancão de Fogo

Nesta história o leitor viu
Quem era Cancão de Fogo,
Era aquele que dizia:
A vida é mesmo que um jogo,
Pra morrer não falta tempo
Pra dar não precisa rogo.

– Roubar a quem tem demais
É forma de caridade,
Tirar dez de quem tem vinte
É forma de regularidade,
Quem não precisa de tudo
Basta ficar-lhe a metade.
                15
– Da forma que vai ao mundo
Só poderá triunfar,
Aqueles que tem astúcia
E não se deixam enganar,
No mar da vida se afoga
Quem nunca soube nadar.

Foi o que Cancão de Fogo
Disse: na hora da morte,
A fortuna tem o peso
Que tem a tirana sorte,
A desgraça quando vem
Não respeita quem é forte.
              
Quando ele viu que morria
Chamou a mulher pra junto,
E disse: minha mulher
Não precisa chorar muito,
Não há tempo mais perdido
Do que chorar por defunto.

Disse um filho: eu vou chamar
Depressa um facultativo,
Ali tem um médico bom
Inteligente e ativo,
Disse Cancão: é asneira
Dar remédio a quem está vivo.

– Inda que ganhe desta vez
Doutra tenha que perder,
Porque é ordem celeste
Não podemos inverter,
É este o lema da terra
Nascer, crescer e morrer.
               16
– Agora depois de eu morto
Você o manda chamar,
Pergunte quanto ele quer
Para me ressuscitar,
E diga logo: só pago
Se meu pai se levantar.

– Isto não! Disse-lhe o filho
Morrendo, aí se liquida,
Disse lhe Cancão: meu filho
Isso é coisa conhecida,
Aquele que expulsa morte
Não faz com que volte a vida.
              
A pessoa que tomar
Remédio pra não morrer,
É como quem salga carne
Depois de apodrecer,
Como rezar pra São Bento
Depois da cobra morder.

Chegou um frade e lhe disse:
– Venho ajudá-lo a morrer
Disse o Cancão de Fogo
Tenho que agradecer,
Sente-se aí para um canto
Cuide logo em se torcer.

– Torcer como? Disse o frade
Disse Cancão: meu amigo,
O senhor não vem morrer
Para ir junto comigo?
O frade respondeu: votes
Um burro é quem vai contigo.
               17
O Cancão de Fogo disse:
Se eu não tivesse prostrado,
Você tinha que sair
Cortês e civilizado,
E só entraria em casa
Depois que fosse chamado.

– Porque pra eu liquidar-me
Não preciso de vigia,
Embora depois de morto
Leve minha companhia,
Porque o defunto é cego
Só anda se tiver guia.
             
– Meu irmão, lhe disse o frade:
Eu vim aqui exortá-lo,
O inferno está aberto
E diabo a esperá-lo,
As chamas do purgatório
Estão prontas pra queimá-lo.

– Eu entrei na tua casa
Foi para te confessar,
Pois levas grande pecado
Para o leito tumular,
Vim salvar-te do diabo
Para ele não te levar.

Disse-lhe Cancão de Fogo:
Frade quero que me dê,
Explicações do inferno
Lhe peço a vossa mercê,
No inferno inda haverá
Um diabo como você?
                18
– Eu não mandei-o chamar
Nós não temos amizade,
Eu nunca quis relação
Com cigano nem com frade,
Apenas tenho a dizer-lhe
Dane-se por caridade!

O frade saiu dali
Se benzendo amedrontado,
Dizendo: aquilo é o cão
Em um ente transformado,
Me valha o rosário bento
E o madeiro sagrado!
             
Cancão chamou a mulher
A quem tinha estimação,
Disse: não chore mulher
Por minha consumação,
Reze para encontrar outro
Marido como Cancão.

– Agora quero que chame
O juiz e o escrivão,
De alguns bens que me restam
Vou fazer uma doação,
Vou fazer publicamente
Minha recomendação.

Encontrou em casa o juiz
Junto com o tabelião,
Foram logo para o quarto
Onde estava o Cancão,
O juiz disse: aqui estou
A sua disposição.
            19
Disse o juiz: o senhor
Tem uns bens para deixar?
– Sim senhor, disse Cancão
Eu não os posso levar,
Se alguém quiser ir comigo
Tem um bom frete a ganhar.

Disse o escrivão: não brinque
Repare que a morte é crua!
– Pode até ser cozinhada
Pode vir vestida ou nua,
Eu brinco aqui com a minha
Você lá respeite a sua.
              
O juiz lhe perguntou:
Você não tem dois sobrados,
Quer deixa-los pra alguém?
Disse Cancão: estão vexados!
Ou vocês são dois gatunos,
Ou são meus filhos bastardos.

Disse o juiz: ora essa
Entenda essa charada,
Gente em casa me esperando
E o senhor dando massada,
Eu fazendo falta lá
Devido a sua embrulhada!

Disse Cancão: meu amigo
Você assim não vai bem,
Vexames fazem fadigas
Difícil escapar alguém,
Padre, juiz, escrivão
Não fazem falta a ninguém.
              20
Portanto não tenho pressa
Para lhe dar atenção,
Mas depois de tudo feito
E de nossa transação,
O senhor dirá consigo
Como é bondoso o Cancão!

Puxou um papel lacrado
De dentro do travesseiro,
Entregou para o juiz
E disse: veja primeiro,
Veja quem eu constituo
Como meu testamenteiro.
             
– Sessenta contos de réis
Que tenho depositados,
No Banco Nacional
Três casas e dois sobrados,
Estão fora do testamento
Serão inventariados.

O juiz bem satisfeito
Mostrando contentamento,
Sua voz ficou macia
Quase dar-lhe um passamento,
De ver seu nome gravado
Nas folhas do testamento.

“Ao Doutor João de Cerqueira
“escrivão dos testamentos,
“deixo em Belo Horizonte
“na praça dos Sacramentos,
“a casa número cem
“com todos compartimentos.
             21
“Ao Doutor João de Lira
“eu deixei em Canta-Galo,
“a casa número seis
“na rua de São Gonçalo,
“e o Sítio dos Ausentes
“na capital de São Paulo”

Disse o juiz: oh! senhor
É muita dignidade!
O senhor dar tanta coisa
Por sua livre vontade,
A mim e ao escrivão
Isso é muita bondade!
            
– Não doutor, disse Cancão
Meus filhos ficam aí,
Podem precisar um dia
Os senhores são daqui,
Disse o doutor: precisando
Já sabe eu moro ali.

Saíram numa palestra
O doutor e o escrivão,
Dizendo um para o outro
Foi sublime aquela ação,
Só nós dois livraríamos
Dum calote de Cancão.

Morreu o Cancão de Fogo
A mulher participou,
Poucos minutos depois
O juiz se apresentou,
Daí a uns dez minutos
O tabelião chegou.
             22
Disse o juiz a mulher:
– Seu marido já morreu,
Com relação ao enterro
Deixe que quem faz sou eu,
Eu não quero que dependa
Um tostão do que é seu.

Fique com esta importância
Porque talvez necessite,
Mandou fazer catacumba
Fez quem fez todo convite,
Disse à mulher de Cancão
Com a senhora estou quite.
               
Depois de quarenta dias
Que Cancão tinha morrido,
Procedeu-se o inventário
Foi tudo bem dividido,
Filhos e mulher de Cancão
Cada qual foi bem servido.

O juiz depois pensou
Que havia precisão,
De exigir a escritura
Da família de Cancão,
Chegou lá não encontrou
Quem desse definição.

Mas depois disse consigo:
– Eu tenho provas legais,
Provo com o testamento
Não preciso nada mais,
Tratou de pegar o trem
Partiu pra Minas Gerais.
               23
Saltou em Belo Horizonte
Foi ao hotel, almoçou,
Indagando aonde era
Uma pessoa ensinou,
A rua até era perto
Num instante ele chegou.

Quando o doutor viu o prédio
Sorriu-se aí de contente,
Examinou-o por fora
Achou-o muito excelente,
Tinha cem palmos de fundo
E setenta e dois de frente.
              
Então batendo na porta
Com pouco um homem chegou,
– Que deseja cavalheiro?
O homem interrogou,
– Sou o dono desse prédio
O homem aí o fitou.

– De qual prédio, meu senhor?
– deste aí que você mora;
– Isto é conto de vigário
É cedo, inda não é hora,
Aí bateu o postigo
Nem falou mais, foi embora.

O Doutor João de Cerqueira
Disse: momentos danados!
Ficou possesso de tudo
Porém minutos passados,
Foi ao cartório e mandou
Dar busca nos registrados.
             24
Foi ao cartório e bateu
Saiu o tabelião,
O doutor disse: me consta
Que o senhor é escrivão,
E eu venho em seu cartório
Decidir uma questão.

E puxou ali do bolso
Os papéis do testamento,
E disse: colega veja
Se acha este apontamento,
Veja se não é legal
Todo este documento.
              
Encontrou a escritura
Da casa já referida,
Vendida pelo doutor
Félix Teixeira Guarida,
Comprada por uma órfã
Da viúva Margarida.

– Colega, como foi isso?
Pergunta o tabelião,
– Foi o conto dum vigário
Passado por um ladrão,
Disse o tabelião: esse
É igualmente a Cancão.

– Pois foi esse tal Cancão
Que mora no Rio de Janeiro,
Disse o tabelião:
– É esse grande estradeiro,
Quando ele era pequeno
Roubou este mundo inteiro.
              25
– Aqui mesmo uma vez
Uma noite de São João,
Um ladrão veio roubá-lo
Ele roubou o ladrão,
E o gatuno por isso
Acabou-se na prisão.

– O ladrão tinha dois contos
Que de alguém tinha roubado,
E julgando que Cancão
Fosse um vendilhão de gado,
Foi ver se passava um quengo
Foi quem saiu quengado.
               
Disse o gatuno a Cancão:
– Patrão, eu tenho dinheiro,
Desejava fazer sérias
Transações com o cavalheiro,
Disse Cancão: é preciso
Que eu examine-o primeiro.

O ladrão ficou imóvel
Ficou bastante assombrado,
O Cancão de Fogo disse:
Ladrão, eu sou delegado,
Desde três horas da tarde
Que tenho sido avisado.

O ladrão ali ficou
Sem saber o que fizesse,
Pensou, aquele dinheiro
Se acaso Cancão quisesse,
Seria melhor que ele
Uma escapula desse.
            26
– Meu moço disse o ladrão
Por vida dos nossos pais,
Por vida da vossa mãe
Me deixe aqui em paz.
Me solte que lhe prometo
Nunca hei de roubar mais.

Aí tirou o dinheiro
Disse: senhor delegado,
Pegue dois contos de réis
Aceite do seu criado,
Cancão pegou o dinheiro
E disse: vá com cuidado.
            
– Botou-lhe um cerco por fora
Adiante denunciou-o,
A patrulha foi atrás
Minutos depois pegou-o,
O gatuno conheceu
Que outro gatuno roubou-o.

O gatuno confessou
Quando a polícia o prendeu,
Procuraram o Cancão
Ele desapareceu,
O gatuno na cadeia
Deu-lhe bixiga e morreu.

– Um preto aqui fazendeiro
No tempo da escravidão,
Botou-o como empregado
E ele uma ocasião,
Foi a um comprador de escravos
E lá vendeu o patrão.
              27
– Meteu o cobre no bolso
E ninguém o pode achar,
O preto viu-se apertado
Para se desembaraçar,
O que Cancão tinha feito
Deu trabalho desmanchar.

– Passou quengada enormes
Com tanta facilidade,
Então nas empresas dele
Tinha tal felicidade,
Que nunca pode cair
Em poder de autoridade.
              
– Eu não sei como o colega
Mora no Rio de Janeiro,
Não sabia que o Cancão
Era o maior estradeiro,
– Estradeiro não, ladrão
Um falsário verdadeiro!

Também o Dr. Cerqueira
Ficou encolerizado,
Passou em Belo Horizonte
Uma noite incomodado,
Pelo conto do vigário
Que Cancão tinha passado.

Dizia sou escrivão:
Nunca roubei um vintém,
Trinta quarenta mil réis
Não é roubo de ninguém,
O roubo que eu considero
É o que passa de cem!
             28
– Eu fazer o enterro
Do diabo desse ladrão,
Gastei seiscentos mil réis
Sem a mínima precisão,
Dei sepultura ao gatuno
Como se fosse um barão!

– Raios te parta, danado
Deus há de te castigar!
O prejuízo que tive
No inferno hás de pagar!
Tenho fé na Providência
Que lá hás de amargar!
             
– Quase trezentos mil réis
Nessa viagem gastei,
Quando o diabo morreu
Quantas passadas eu dei,
Gastei meu tempo e dinheiro
Veja agora o que lucrei!

Também voltou apitando
Com a carranca mais feia,
Chegou em casa e deitou-se
Não quis mais saber da ceia,
E lá soube que o juiz
Já tinha ido a cadeia.

Porque foi em Canta-Galo
Ver a casa que herdou,
Na rua de São Gonçalo
A dita casa encontrou,
O morador era dono
Já que ele o intimou.
           29
Como o dono não saiu
Botou a pulso pra fora,
O homem foi a polícia
Prenderam na mesma hora,
E botaram num asilo
Quase que não vai embora.

O escrivão logo cedo
Foi a casa de Cancão,
E disse para a mulher:
Seu marido era um ladrão,
Depois de morrer roubou-me
Eu sendo dele escrivão.
              
– A senhora viu a casa
Que ele pra mim deixou-a,
Sendo a casa de uma órfã
Que o diabo não comprou-a,
Disse a mulher de Cancão:
– Doutor ele não levou-a.

– O meu marido deixou
O prédio que o senhor diz,
Deixou vinte um Estados
Que tem o nosso país,
Ficou para quem quisesse
Ele nada disso quis.

O doutor corou e disse:
– Também garanto a senhora,
Se Deus botá-lo no céu
Pode esperar a hora,
De uma quengada dele
Que bota até Deus pra fora.
               30
– Porque eu nunca achei
Ladrão fino igual aquele,
Desgraçado do defunto
Que sepultar-se com ele,
Eu acho Cancão capaz
De roubar os ossos dele.

– E a senhora também
Desculpe a minha ousadia,
Vossa mercê herdou dele
Costume e categoria,
Pois a mulher do filósofo
Aprende a filosofia.

A mulher disse doutor:
Meu marido não roubava,
Mas com algum escrivão
Ele se comunicava,
Sendo um pouco inteligente
Muitas coisas decorava.

– Ele chamou os senhores
Quando estava aqui prostrado,
Porque queria imitar
O Cristo crucificado,
Queria morrer também
Com um ladrão de cada lado?

– Como sabe as pessoas
Estando perto de morrer,
Às vezes sentem remorsos
E temem de se perder,
Dizem que no outro mundo
A pessoa há de sofrer.
                31
– O doutor não viu o frade
Vir também por sua vez,
E não viu o meu marido
Que barulho logo fez?
Disse: eu chamei dois ladrões
Não é preciso de três.

Aí lhe disse o escrivão:
– Dê licença eu vou embora,
Sou obrigado a dizer
Que tenho medo da senhora,
Eu acho vossa excelência
Capaz de vender-me agora.

– Até logo, senhor doutor
Disse a mulher de Cancão,
Aqui fico às suas ordens
Se acaso houver precisão,
Tem uma criada aqui
À sua disposição.

– Dana-te cachorra doida!
Disse o escrivão correndo,
O diabo é quem vem mais cá
Ainda estando morrendo,
O quengo do teu marido
Parece que em ti estou vendo! –FIM

                   32

















9 comentários:

  1. Eu procurei tanto isso, meu pai sempre me contava as histórias desse cordel, graças a Deus e a você que postou isso posso ler pra ele que continua lúcido aos 91 anos. Muito Obrigada <3

    ResponderExcluir
  2. Acabei de ouvir meu pai contar uma historia sobre Cancão de fogo e vou ler para ele agora ele tem 80 anos.

    ResponderExcluir
  3. Do mesmo jeito kk, também ouvi meu pai contando aí hj ele me falou que era um homem kkk adorei conhecer mais sobre cancão, obrigada pela publicação, meu pai tem 75 anos e é paraibano !!

    ResponderExcluir
  4. Meu avô contou que ele tinha um livro de Cancão de fogo, então pesquisei, lemos quase todo hoje. Muito obrigada, ele ficou muito contente. Ele fez 97 anos esse mês. Que presente, hein!?

    ResponderExcluir
  5. Sensacional, li literatura de cordel na minha infância... Lembrei do Cancão de fogo, hoje ...Pesquisei e encontrei aqui. Muito obrigado, li todo o conteúdo...

    ResponderExcluir
  6. Lembrei de quando pegava escondido os livros do meu pai. Cancão de fogo era meu preferido. hoje encontrei aqui. Obrigado por disponibilizar um conteúdo tão especial!

    ResponderExcluir
  7. Jayme do Amaral Betim, MG. 26 de novembro de 2020. Voltei aos meus 15 anos de idade, tenho agora 78. Li, Cancao de Fogo na minha adolescência em 1962. Que bom lembrar esta estória!

    ResponderExcluir
  8. Bravo e a unica leitura que sempre gostei

    ResponderExcluir