quarta-feira, 24 de setembro de 2014

HISTÓRIA DE JOÃO BESTA E A PRINCESA QUE NÃO RIA - HISTÓRIA DE INÁCIO E ARQUILENES (José Edimar)
















Foto Gianne de Luca


HISTÓRIA DE JOÃO BESTA

 E A PRICESA QUE NÃO RIA

José Edimar

 

Num reino do Oriente

Na remota antiguidade

Existiu uma princesa

Gozando a flor da idade

Porém ela demonstrava

Não sentir felicidade.

 

Seu nome foi Arachely

Com beleza sem defeito

Cabelos e rosto lindo

Corpo escultural perfeito

Daquelas que todo homem

Sonha ter do mesmo jeito.

 

Porém na linda Princesa

Havia algo diferente

Pois nunca dava um sorriso

Não parecia contente

Por isso é que o rei queria

Ver a filha sorridente.

              01

O rei sabendo daquilo

Que a filha dele não ria

Baixou no reino um decreto

Num letreiro que se lia

Bem ao lado do palácio

Por esta forma dizia:

             

“Se alguém fizer a princesa

Que do rei é filha amada

Dá o mais belo sorriso

Em forma de gargalhada

Se casará com a mesma

Dele é ordem decretada”.

 

Assinando esse decreto

No reino então divulgou

Quem era rapaz solteiro

Pelo o assunto interessou

Para casar com a princesa

Ninguém em casa ficou.

             

Começou a chegar gente

Muitos vinham apressados

Outros chegavam sonhando

Que voltariam casados

Mas a princesa não ria

Saíam decepcionados.

                 02

Todos os rapazes do reino

Daquele tempo vieram,

Falou o rei: falta alguém?

Os vassalos lhe disseram:

– Falta apenas o João Besta

Que ainda não trouxeram.

               

– João Besta aqui não virá

Disse o rei esbravejando,

Com ele a moça não casa

Pois não tem ninguém faltando

A rainha entrou no meio

Por sua guarda chamando.

 

Dizendo: chame João Besta

Que ele também tem direito,

Por ser solteiro e do reino

Merece nosso respeito,

Vão logo, disse a rainha

O rei gritou: não aceito!

 

Ali perto do palácio

Numa simples moradia,

Morava a pobre viúva

Enfrentando o dia a dia,

Com seu filho preguiçoso

Que para nada servia.

                  03

João Besta “o Borralheiro”

Assim o povo chamava,

Numa preguiça danada

No borralho se deitava,

Nem lenha botava ao fogo

Quando este se apagava.

 

Por causa dessa preguiça

Vivia só cochilando,

No borralho do fogão

A pobre velha lutando,

Com toda dificuldade

Ao seu filho sustentando.

                  

Pra guarda particular

O rei pediu apressado,

– Pode trazer o João Besta

Aquele é abilolado,

Os guardas indo encontraram

No borralho ele deitado.

                 

Os soldados vendo João

Sobre o borralho quentinho,

Que disse o palácio é frio

o chão todo é bem limpinho

Posso ir em uma cama,

Nos lençóis enroladinho.

               04

Os soldados o levaram

Para a presença do rei

Ele gritava: me solte

Ao palácio não irei?

Disse o rei: solte o rapaz

Se ele correr pegarei.

               

Levaram até outra sala

Onde se achava a princesa,

Quando ele avistou a moça

Com sua imensa beleza,

Como nunca tinha visto

Tremia só de fraqueza.

             

Ela olhava para João

Ele olhava disfarçado,

Fingindo não perceber

Permanecendo calado,

Disse o rei: pode levá-lo

Que ele é um abilolado.

                 

Não havendo mais ninguém

O rei mudou seu decreto,

Chamando homens casados

Mesmo sem achar correto,

Não devia usar a filha

Como se fosse objeto.

              05

Começou a chegar homens

Vindo de perto e além,

Para cumprir o decreto

Casados vinham também,

Porque casar com princesa

Nunca fez mal pra ninguém.

                  

A princesa não sorria

Por mais que alguém quisesse,

Nem mesmo um simples sorriso

Conseguiram que ela desse,

Nem por força de vontade

Com o esforço que pudesse.

               

A mãe de João Besta estava

Já cansada de chamar,

Dizendo assim: meu filhinho

Uma lenha vá buscar,

Que arranjei a comida

Falta apenas cozinhar.

               

João ligeiro respondeu:

– Deixe de preocupação,

Só é pra mim e a senhora

Faça aí qualquer pirão,

Que a gente come e se deita

No borralho do fogão.

              06    

Depois disse para a mãe:

– A senhora não acredita,

Hoje avistei Arachely

Que é a moça mais bonita

Toda vez que penso nela

O meu coração se agita.

                

A mãe insistiu dizendo:

– Se você não me atender,

Buscando lenha pra casa

Com certeza não vai ter,

O borralho pra deitar

Quando o dia amanhecer.

                

Ele ouvindo o que a mãe disse

Foi logo se levantando,

Pondo uma corda nos ombros

Bem depressa atravessando

A rua gritando alto

Só vivia resmungando.

 

Ele caminhou um pouco

Quando no mato encostou,

Viu que não havia lenha

Poucos gravetos achou,

Quando olhou lá na frente

Algo estranho ele avistou.

               07

Era na beira dum lago

Algo estranho acontecendo,

Tinha um peixe fora da água

Pulando e se debatendo,

Ele agarrou o peixinho

E já foi assim dizendo:

               

Como é belo esse peixinho

Já fiquei foi animado,

O dia estava tão ruim

Não comi nenhum bocado,

Agora tenho certeza

Vou comer peixe torrado.

 

A mamãe está em casa

Desde cedo agoniada,

Porque ontem o dia todo

Enfrentou dura jornada,

Saí pra pegar a lenha

Pra comer não deixei nada.

                   

Disse o peixe por favor

Não me coma agora não,

Que eu sou do reino dos peixes

Vim aqui numa missão,

Pra fazer a tua vontade

Quando tiver precisão.

             08    

Disse João: não acredito

Que queiras me ajudar,

Na vida não tenho nada

Não vou querer te soltar,

Soltando pode depois

Que tu queiras me enganar?

               

Primeiro quero saber

Se você não tá blefando,

Arranje um feixe de lenha

Pois eu ando é procurando,

Depois quero ir montado

Pela cidade voando.

 

– Olha a lenha ali adiante

Disse o peixe e ele viu,

Um grande feixe amarrado

Em cima dele subiu,

O feixe dali voando

Na mesma hora saiu.

            

João montado sobre a lenha

Passou numa disparada,

Bem na porta do palácio

A princesa ali sentada

Vendo aquela arrumação

Deu enorme gargalhada.

               09 

Ele ouvindo a gargalhada

Gritou muito apressado:

Valei-me reino dos peixes

Quando um falou do seu lado:

– O que queres que façamos

Faremos o ordenado?

               

– Quero que um filho meu

Na barriga da princesa,

Se gere e nasça importante

Entre os filhos da nobreza,

Sendo príncipe desse reino

Maior símbolo da beleza.

 

Que depois dele nascido

O que se veja primeiro,

Um livro que traz nas mãos

Também na testa um letreiro,

“Dizendo: este só entrego

Para o meu pai verdadeiro”!

                 

Disse o peixe: será feito

Assim como ordenou,

Vá para casa e espere

A contagem começou,

Com nove meses verá

Que tudo realizou.

            10        

Com aquela gargalhada

Gritaram: ela vai a casar,

O rei vendo o alvoroço

Começou a esbravejar:

– Com João Besta ela não casa

Nem que eu tenha que matar!

                

João Besta ficou em casa

Deixando o tempo correr,

Até quando ouviu falar

Com a princesa adoecer,

Ficando tão magra e pálida

Tendo a barriga crescer.

 

Todos os médicos da corte

Diagnósticos fizeram,

Mas a causa da doença

Falar ao rei não quiseram,

Pois pra contar a verdade

Ousaram mas não puderam.

                   

Completando os nove meses

Para a criança nascer,

Quando o rei viu o menino

Veio quase enlouquecer,

Quis logo matar a filha

Pôde a rainha o conter.

            11

A rainha disse ao rei:

– O menino tem sinais,

Pode o pai ser encontrado

Basta o livro que ele traz

A quem entregar o livro

Não haverá dúvidas mais.

                

Ele ouvindo ficou calmo

Fez nova convocação,

Dizendo: “homens do reino,

Não falte nenhum varão,

Quero o pai dessa criança

Pra governar a nação! 

              

O recado o rei mandava

No decreto publicado,

Porém coitado daquele

Que fosse o pai confirmado,

Pois o que rei desejava

Era matá-lo afogado.

               

Espalhou - se a notícia

Começou logo a chegar,

Jovens de todos os cantos

Que desejavam casar,

Com a princesa Arachely

Para o reino governar.

                12

Cada um tinha a certeza

Quando ao palácio chegava,

Que receberia o livro

Mas o bebê não lhe dava,

Deixando tão constrangido

Tinha gente que chorava.

              

Assim pra nenhum dos homens

Quis ele o livro entregar,

O rei perdeu a esperança

Do pai do neto encontrar,

Deles que puxavam o livro

Mas não puderam arrancar.

 

Ninguém conseguiu o livro

E o rei ficou pensando,

Qual seria o próximo passo

Pois o que estava faltando,

Era pegar o culpado

Que já estava escapando.

               

Lembrou-se ali do João Besta

A quem nunca dava crença,

Pois não seria problema

Trazê–lo a sua presença,

Depois mandava pra morte

Não ia haver diferença.

            13

Não encontrou outro jeito

O rei então obrigou – se,

Buscar de novo o João Besta

Pediu um guarda que fosse,

Pra trazê-lo sem demora

Não usava uma voz doce.

                

O guarda ali disse: João

O rei lhe faz intimado,

Ir de novo a sua presença

Vá logo ele está zangado,

Hoje vai de qualquer jeito

No acordo ou amarrado.

               

João Besta disse: está certo

Não quero briga pra mim,

Vamos logo que eu quero

Que tudo isso chegue ao fim,

Que depois eu não vou mais

Quem quiser que ache ruim.

             

Ele acompanhou o guarda

Indo direto ao sobrado,

Pra onde estava o menino

Porém foi meio cismado,

O menino lhe avistando

Sorriu bastante animado.

               14

João olhou para o menino

Que sem parar de sorrir,

Com o livro em sua mão

Já deu pra ele sentir,

Que o livro receberia

Até mesmo sem pedir.

             

Quando rele pegou no livro

Disse olhando pra o rei:

– Não tenho culpa de nada

No palácio nunca andei,

Estou igual ao senhor

Vim aqui, mas nada sei.

                 

Se aprincesa engravidou

Mas a culpa não foi minha,

Passo o dia no borralho

Que tem na minha cozinha,

Lá não preciso de nada

Porque tem a mamãezinha.

                 

Mas o rei esbravejava

E precisava entender,

Como o menino nasceu

Sem nada ele perceber,

Disse pra João como pai

Cumprirás com teu dever.

              15

O rei já traçara um plano

Tudo estava preparado

Colocar João com a princesa

Do seu filho acompanhado

Indo os três ao meio do mar

Dentro dum barco furado.

 

Pediu que os marinheiros

Logo providenciasse

Um barco ornamentado

Com tudo que precisasse

Levasse ao centro do mar

Nele um buraco furasse.

              

O rei pensava consigo

Assim todos morrerão

Vai ser um golpe tirano

De arrebentar coração

Mas é melhor que uma filha

Envergonhando a nação.

               

Os marinheiros partiram

Como quis a vossa alteza

Iam conduzindo o barco

Com João o filho e a princesa

Que pagava sem ter culpa

Sem ter chance pra defesa.

               16

Chegando a beira do mar

No barco ligeiro entraram,

Outro barco acompanhava

Quando ao alto mar rumaram,

Depois que furaram o casco

No meio do mar deixaram.

 

Quando João entrou no barco

Ficou bem acomodado,

Ela não olhava nele.

Que estava bem deitado,

Ele sabendo de tudo

Porém ficava calado.

               

Pouco depois começou

A água no barco entrar,

Enchendo por todo canto

Ela começou a gritar:

– Acorda João vem depressa

Que o barco vai afundar!

                

Quanto mais ela gritava

Mas era que João fingia,

Que dormia e com o tempo

Cada vez o barco enchia,

– A preguiça é quem te mata!

A princesa assim dizia.

                17

Depois que chamou bastante

Foi que João se levantou,

Valeu-se logo dos peixes

Que a água borbulhou,

Peixe em grande quantidade

Mas somente um lhe falou:

 

– Qual é seu desejo João

O que tanto te apavora,

Disse ele: é que eu preciso

Que me salve nessa hora,

Tirando a água do barco

Depois fechando por fora.

              

Disseram: já está feito

Tudo como nos pediu,

Logo desapareceram

Nenhum reboliço ouviu,

Ficando o barco enxuto

Pois toda água sumiu.

            

João voltou a se deitar

Ficando bem à vontade,

A princesa perguntou-lhe

Quando viu a novidade:

– Como isso aconteceu

Quero saber a verdade.

                18

João respondeu: oh princesa:

Por aqui não houve nada,

São peixes na piracema

Fazendo grande zuada,

Ou então um peixe grande

Que deu sua rabanada

 

Arachely disse: João 

Veja o que me aconteceu,

Fiquei grávida tive um filho

O meu pai não entendeu,

Saber pode amenizar

Este sofrimento meu.

              

João sentiu naquela hora

A princesa ter razão,

Contou - lhe toda a verdade

Expondo a situação,

Quando ela ouviu a história

Já maldou no coração.

            

Encostou pertinho dele

Disse assim: oh! queridinho

Preciso receber hoje

Uma ajuda do peixinho,

Ele igual uma vara verde

Tremia com seu carinho.

                 19

– Desejo que eles façam

Antes do amanhecer,

Um palácio suntuoso

Que mais belo venha ser,

Que o palácio do meu pai

Para todo mundo ver.

               

Eu preciso que o palácio

Seja construído ao lado,

Sendo muito mais bonito

Que meu pai seja tentado,

A visitar bem ligeiro

Assim que for avistado.

             

Será bem ornamentado

Forrado com fino couro,

Com jaspe, esmeralda e sárdio

Sendo o mais lindo tesouro,

Ter crisólito e calcedônia

Seus utensílios de ouro.

 

Quero exigir nos talheres

Detalhes pra admirar,

Feitos em ouro maciço

Pois deles vou precisar,

Deverão encher os olhos

Da pessoa que avistar.

              20

Quero na sala de janta

Um quadro com nossa imagem

Em uma grande pintura

Uma boa criadagem,

Roupas e lençóis de cama

Quero de fina linhagem.

 

Quero que qualquer pessoa

Que no palácio chegar,

Mesmo que seja meu pai

Quando vir nos visitar

Sejamos desconhecidos

Se conosco ele encontrar.

             

– Se for esse o seu desejo

Dessa forma será feito,

Quando o dia amanhecer

Estará tudo no jeito,

Não discuto sua vontade

Disse ela que estava aceito.

           

 Vou tomar conta de tudo

Que meu desejo já sei

Vou dar um grande jantar

Especialmente pra o rei

E no jantar com certeza

Então eu me vingarei.

             21

A princesa foi dormir

Esperando o novo dia,

A meia noite João falou

Tudo como pretendia,

Os peixes fizeram tudo

Do jeito que ele queria.

 

O rei levantou cedinho

Quando o dia amanheceu,

Olhando logo avistou

Um palácio junto ao seu,

Duma beleza tamanha

Que ele olhou não entendeu.

            

Chamou ligeiro a rainha

Para admirar a obra,

Disse ela: supera o nosso

Pois beleza tem de sobra,

O rei ficou tão zangado

Que parecia uma cobra.

                

Ficou logo atordoado

Vendo aquele ocorrido,

Pois durante aquela noite

Quando havia decidido,

Expulsar a filha e o neto

Quase não tinha dormido.

               22   

Passou quase à noite em claro

Não conseguiu perceber,

A construção do palácio

Só vendo ao amanhecer,

Arquitetura avançada

Como pôde acontecer?

 

A rainha disse a ele

– Vamos para uma visita,

Aproveitar logo hoje

Com essa manhã bonita,

Porque preciso esquecer

Minha tristeza maldita.

            

Disse o rei: não posso ir

– Sem alguém me convidar,

Naquele momento um guarda

No palácio viram entrar,

Trazendo um cartão convite

Chamando para um jantar.

 

Naquele dia a princesa

Cedinho tinha acordado,

Mandando o convite aos pais

Tendo providenciado,

Tudo com a criadagem

Para nada dar errado.

               23  

O dia estava tão lindo

Da campina se ouvia,

Os passarinhos cantando

João a vontade dormia,

Por ser muito preguiçoso

Aproveitava o seu dia.

 

Coitada e pobre da mãe

Botando todo cuidado,

João passou a noite fora

Tinha o dia clareado,

Olhando o borralho frio

Ele não tinha deitado.

              

No momento Arachely

Lembrou-se de chamar João,

Que ali profundamente

Dormia no bom colchão,

Tinha ela algo guardado

Dentro do seu coração.

 

Quando jogados ao mar

Ele havia lhe contado,

Que para todos morrerem

O barco estava furado,

E não morreram por que

Os peixes tinham fechado.

               24  

Como seu pai foi capaz

Dessa atitude malvada,

Jogar-lhe fora de casa

Sem ela ser a culpada,

Matar seu neto inocente

Que não sabia de nada.

                

João agarrado no sono

Novamente ela chamou,

O sol já estava alto

Dormindo ele não notou,

Apenas rolou na cama

Depois que espreguiçou.

              

Pois era a primeira vez

Dormindo em cama macia,

Esticar aquele sono

Era o que mais pretendia,

Quanto mais ela chamava

Mais era que João dormia.

 

Depois de chamar bastante

Foi quando ele acordou,

Esfregou as mãos nos olhos

Depois que se espreguiçou,

Lembrou-se do compromisso

Bem ligeiro levantou.

              25        

Despertando bem do sono

Novamente conseguiu,

Ver como era muito lindo

O palácio que pediu,

Até naquele momento

Outro igual não existiu.

 

A princesa disse: é hoje

Que meu pai vai me pagar,

Nada pode dar errado

Aqui com nosso jantar,

Pois o momento é chegado

Vamos a casa arrumar.

              

Seremos desconhecidos

Para quem aparecer,

Pra meu pai somos estranhos

Aqui pra lhe receber,

Hoje vai pagar a conta

Que me deve sem querer.

 

Bem no início da noite

Os convidados chegaram,

Para o salão principal

Os criados os convidaram,

Com viva e salva de palmas

Os anfitriões saudaram.

               26 

Mais tarde trouxeram o filho

João pertinho da princesa,

Vestindo roupas de galas

Pompas da alta nobreza,

Saudaram de novo ao rei

Com a maior gentileza.

 

O rei ali demonstrava

A maior felicidade,

No ambiente agradável

Que lhe deixava à vontade,

Não sabendo que mais tarde

Vinha o preço da bondade.

           

Falou ela pra criada

Que logo a mesa botasse,

Os seis jogos de talheres

Com cuidado colocasse,

Naquele lado da mesa

Onde o rei seu pai sentasse.

               

Os talheres era a tarefa

Que os peixes iam fazer

A princesa disse a eles

Como imaginava ser

Botar no bolso do pai

Sem nada ele perceber

            27

Bem na hora do jantar

Ele estando descuidado,

Já de talheres no bolso

Tendo o jantar terminado,

Dava o alarme e com isso

Seu pai era envergonhado.

 

Combinaram com os peixes

Ela ficou aguardando,

A princesa o tempo inteiro

Disfarçava conversando,

Quando chegou a criada

Para o jantar convidando.

                 

Foram à sala de jantar

Onde estava a mesa posta,

Todo tipo de comida

Como gente rica gosta,

O rei vendo achou difícil

Recusar essa proposta.

 

Todos sentaram - se a mesa

Naquele belo jantar,

Terminando a refeição

Antes de alguém levantar,

A criada da princesa

Veio na mesa alarmar.

              28           

Ela chegando encostou

Com semblante de tristeza,

Disse: durante o jantar

Desapareceu da mesa,

Os seis jogos de talheres

Da coleção da princesa.

 

Nessa hora a princesa

Na mesa se levantou,

Pedindo calma pra todos

Por esta forma falou:

– Talvez alguém descuidado

Em algum bolso botou.

 

Pode ter acontecido

Sem a pessoa perceber,

Num descuido ter botado

No seu bolso sem querer,

O rei disse: eu estou fora

Isso um rei não vai fazer.

               

A moça pediu desculpas

Por tal acontecimento,

Mas pediu que a vistoria

Não fosse constrangimento,

Pois não queria suspeitas

Ou mesmo aborrecimento.

              29    

Disse o rei: pois então façam

Seu bolso sacolejou,

Duas dúzias de talheres

Lá de dentro tilintou,

O rei se sentiu tão mal

Que quase ali desmaiou.

 

Ficou muito envergonhado

Não conseguindo falar,

Porém disse: não sei como

Puderam em meu bolso entrar,

Porque eu não coloquei

E não vi ninguém botar.

                      

A princesa no momento

Já se sentindo vingada,

Disse ela: dessa forma

A criança em mim gerada,

Veio pra minha barriga

Sem que eu soubesse de nada.

                 

Não sei como essa criança

No meu ventre veio parar,

A culpa que coube a mim

Foi somente engravidar,

Sem ter chance pra defesa

Tive a conta pra pagar.

              30

O rei conhecendo a filha

Com seu coração ferido,

Ela sem dever pagou

Por ele o preço exigido,

Expulsa da própria casa

Sem ter erro cometido.

 

Abraçou a filha em choro

Pedindo logo o perdão,

Ela abraçou-o em prantos

Devido a grande emoção,

A ingratidão do pai

Perdoou de coração.

 

O rei pediu que o genro

Governasse seu reinado,

Pois ele tinha nobreza

Podia ser coroado,

Mas ele ali dispensou

Disse não ser preparado.

                  

– Meu filho que é seu neto

É herdeiro por direito

Será ele o nosso rei

Inteligente e perfeito

Espere mais vinte anos

Que será um homem feito.

                31            

João presenteou sua mãe

Duma casa mobiliada,

Serviço de criadagem

Pra mantê-la ornamentada,

Ela viveu muitos anos

Sem precisar mais de nada.

 

Até hoje ninguém sabe

Qual problema que havia,

Com a princesa Arachely

Que até o bendito dia,

Antes de avistar João Besta

Porque ela não sorria.

 

Depois disso ela passou

Conviver com animais,

Os peixes principalmente

Sempre na beira do cais,

Quem via ela observava

Que sorria até demais.

             

Digo aos queridos leitores

Que a história não inventei,

Ela existe há muito tempo

Somente as rimas botei,

Nem o Besta com a preguiça

Com a princesa fiz justiça,

Por Arachely a chamei.       FIM

               32

         

 

Um comentário:

  1. Minha avó contava essa história para mim. Com algumas diferenças e outros acontecimentos. Mas a essência bem parecida. Parabéns pelo trabalho, pude relembrar da infância e das várias histórias de Trancoso que ela contava.

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