quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

ESSE CABRA SOU EU & CANÇÕES DE LUCAS

(Moraes Moreira)

 
Sossega flor de açucena
Pro  mode o que assucedeu
Assunta, valeu a pena,
Juntim a gente cresceu
Nós nunca perdeu a mira
Se inziste quem te admira
Esse cabra sou eu!


Deita no leito do ri
Imbala o sonho que é teu
Nas águas do desafi
O amor quem foi que te deu?
Quem muito ama não drôme
Carece dizer o nome?
Esse cabra sou eu
 

No fundo dos horizonte
Mil vezes o sol nasceu
Briando pur  traz os monte
Alumiando esse breu
Te amando pro toda a vida
Vou priguntar, quem duvida?
Esse cabra sou eu!
 

No imaginaro castelo
Que o nosso amor se valeu
O sentimento eu martelo
Assim que nem um Romeu
Nas foia desse romance
Se tem arguem que te alcance
Esse cabra sou eu!
 

Os verso mais delirante
O teu poeta inscreveu
Sou o mió dos amante
Que o mundo já conheceu
Astuto, matuto esperto    
Arremedando o Roberto
Esse cabra sou eu!




Conselho Ao Filho Adulto
Poeta Sebastião Dias

Por favor, filho querido
Me escute, pense bem
Seu velho pai quer lhe dar
O valor que você tem

Você está na idade
De alcançar a liberdade
De fazer sua vontade
E tornar-se homem também

Tem uma coisa meu filho
Que eu queria lhe dizer
Lhe eduquei como podia
Já cumpri com o meu dever

Você agora decida
O futuro lhe convida
Eu gerei, Deus deu a vida
É você quem vai viver

Tem espinhos no começo
Aguarde flores no fim
Respeite os seus semelhantes
Siga o bom, deixe o ruim

Por onde você passar
Reconheça o seu lugar
Pra ninguém se envergonhar
Dum filho meu, nem de mim

Defenda a moral sem sangue
Ajude a quem precisar
Quando tiver precisão
Peça um pão, pra não roubar

Ouça o velho, ame o menor
Pense em Deus, faça o melhor
Coma e vista do suor
Que o seu rosto derramar

Não queira nada roubado
Nem amor por fantasia
Escolha mulher sincera
Para sua companhia

Faça, meu filho, o que fiz,
Veja como sou feliz
Só casei com quem me quis
E sua mãe com quem queria

O mundo tem dois caminhos
Um é certo, outro é errado
Na escolha de um deles
É preciso ter cuidado

Se você não escolheu
Um deles pra ser o seu
Se quiser seguir o meu
O exemplo é meu passado

Mesmo na maior idade
Quero estar sempre contigo
Lhe ensinando bons caminhos
Lhe livrando do perigo

Estando perto ou distante
Não lhe deixo um só instante
Porque de agora em diante
Além de pai, sou amigo

Corra mundos, faça amigos
Conheça o que eu conheci
Transmita o que eu ensinei
Conquiste o que eu consegui

Aproveite a juventude
Ame a paz, honre a virtude
Quando quiser quem lhe ajude
Seu velho pai está aqui





















CARTA DE UM MARGINAL

RECEBI PELO CORREIO
CARTA DE UM HOSPITAL
DIZENDO SER DE UM CLIENTE
QUE PASSAVA MUITO MAL
O QUAL EU JÁ TINHA LIDO
O SEU NOME EM JORNAL

DIZIA CARO POETA
SÓ VOCÊ QUE TEM MEMÓRIA
PODE TRANSFORMAR EM VERSO
MINHA FRACASSADA HISTÓRIA

MEU DESTINO FOI TRAÇADO
COM A MINHA FORMAÇÃO
O VENTRE QUE ME GEROU
FOI VÍTIMA DE TRAIÇÃO
FUI MALDITO DESDE O DIA
DA MINHA CONCEPÇÃO

PASSEI POR CIMA DA PÍLULA
FUI GERADO EM DESCONFORTO
MINHA MÃE TOMOU REMÉDIO
PRA VÊ SE EU NASCIA MORTO

VIM AO MUNDO POR ACASO
E NÃO CONHECI OS MEUS PAIS
FUI JOGADO EM UM CERRADO
EM PEDAÇOS DE JORNAIS
A POLÍCIA ACHOU-ME QUANDO
PROCURAVA MARGINAIS

ALGUÉM DE MIM TOMOU CONTA
ME FAZENDO UMA ESMOLA
ME CRIARAM COMO FILHO
E ME BOTARAM NA ESCOLA

NÃO QUIS SABER DE TRABALHO
ESTUDAR NÃO DEI VALOR
SEMPRE DESOBEDECENDO
AO MEU SUPERIOR
BATIA NOS MEUS COLEGAS
XINGAVA O MEU PREFESSOR

ENTREI NO VÍCIO DA DROGA
JUNTO COM A CURRIOLA
JÁ FUMEI ERVA MALDITA
MESMO DENTRO DA ESCOLA

FUI EXPULSO DO COLÉGIO
POR TRAFICÂNCIAS ILEGAIS
DESONREI UMA MENOR
E FUGI DA CASA DOS PAIS
E PARTIR PRA A PESADA
NUM GRUPO DE MARGINAIS

NÃO CONTO TUDO A MIÚDO
PORQUE O MEU TEMPO NÃO DÁ
NÃO QUIS NADA COM TRABALHO
MEU NEGÓCIO ERA ROUBAR

NA VIDA DE ASSALTANTE
TODOS TEMIAM A MIM
FUI TERROR DA NOITE ESCURA
 E FIZ TUDO QUE FOI RUIM
UM GERME ASSIM COMO EU
SÓ PRESTA LEVANDO FIM

SEMPRE FUGINDO DE CERCO
 E MATANDO DE EMBOSCADA
SEDUZI MUITAS DONZELAS
FIZ ASSALTO A MÃO ARMADA

NAQUELE MESMO LUGAR
ONDE FUI ENCONTRADO
PELA RONDA DA POLÍCIA
HÁ MUITO TEMPO PASSADO
ME ESCONDENDO DE UM ASSALTO
POR ELA EU FUI BALEADO

A BALA ENTROU NO MEU PEITO
E ME FERIU NO CORAÇÃO
JÁ FIZERAM MUITO ESFORÇO
MAS NÃO TENHO SALVAÇÃO

NÃO TE ESCREVO MAIS POR QUE
MINHA VISTA ESTÁ TÃO POUCA
FALAR TAMBÉM EU NÃO POSSO
MINHA GARGANTA ESTÁ ROUCA
TERMINO A CARTA BOTANDO
MUITO SANGUE PELA BOCA


TOSTÃO DE CHUVA

No sertão do Cariri
Certo tempo um fazendeiro
fez uma carta a meu padrinho
E mandou por um romeiro
Comprando um tostão de chuva
Ao padre do Juazeiro


Dizia a carta citada
Seu padre Cícero Romão
Dizem que és milagroso
Cumpra a sua obrigação
Me mande um tostão de chuva
Pra aguar minha plantação


Que o meu gado está morrendo
E minha plantação se acabando
Meu dinheiro sem valor
Minhas barragens secando
E estes romeiros bestas
Em você acreditando

Seu padre Cícero Romão
Espero você cumprir
Olhe eu tenho muito dinheiro
Sou o mais rico daqui
Domino seis municípios
No vale do Cariri.

Tenho catorze alambiques
Doze engenhos de rapadura
Oito fábricas de açucares
Dez vazantes de verdura
Três mil alqueires de terra
Tudo passado escritura

Não acredito em castigo
Para acabar minha riqueza
Se acaso o tostão não der
Mande chuva com franqueza
E depois mande dizer
Quanto foi toda a despesa

Se você não mandar chuva
Daqui para o anoitecer
Se acaso amanhecer o dia
E nas minhas terras não chover
O tostão que eu lhe mandei
Você tem que devolver.

Das três para as quatro horas
Um temporal se formou
Com relâmpagos e trovões
E forte chuva desabou
Nas terras do fazendeiro
O que tinha se arrasou

Demoliu todos os engenhos
Não escapou nenhum tacho
Demoliu todas as barragens
Emendou rio com riacho
Seis mil cabeças de gado
Desceram de água abaixo

Foi-se mala de dinheiro
Com papéis e escritura
Paióis de milho e feijão
E campos de agricultura
Gado, fazenda e dinheiro
Se acabou toda a fartura

Na região habitava
Entre grandes e miúdos
Um cego e um paralítico
E também um rapaz mudo
Nesse dia ele falou
Disse oh meu Deus se acabou tudo

Dentro do grande aguaceiro
O aleijado nadou
No estrondo do trovão
O mudo também falou
No clarear do relâmpago
O rapaz cego enxergou

A casa grande caiu
E o fazendeiro escapou
Com a mulher e uma filha
Na casa de um morador
Onde tinha um oratório
E foi o único que restou

Com quatro dias depois
O mensageiro chegou
Trazendo só dois vinténs
E na mão dele entregou
E disse é o troco do tostão
Que o padre Cícero mandou

Ele ficou arrasado
Se acabou toda avareza
Não pode reconstruir
Mais sua grande riqueza
E o governo repartiu
Suas terras com a pobreza

Dizem que arrependeu-se
E ainda hoje é romeiro
Anda de noite e de dia
Feito um louco em desespero
Mas nunca pode acertar
Com o caminho do Juazeiro


VENIZ O CÃO DE GUARDA

Seu moço você está vendo
Este grande casarão
Com uma área desocupada
Dos fundos até o portão
E não tem um cão de guarda
Para a sua proteção

Eu já criei neste muro
Veniz um cão lavrador
Um grande amigo do homem
Um guerreiro, um defensor
Guarda fiel da família
E da casa um pastorador

Muito valente e esperto
Era um autêntico vigia
Tudo que chegasse perto
Ele rosnava e latia
Não descuidava da casa
Nem de noite e nem de dia

Se chegasse alguém de fora
Ele tomava-lhe a frente
Onde as crianças brincavam
Ele estava ali presente
Cuidava de ponta a ponta
E nem precisava corrente

Porém um certo domingo
Como era acostumado
Saí à rua a passeio
Da família acompanhado
Deixando o neném de berço
Pelo cão vigiado

Quando eu cheguei de volta
Que abri a porta do meio
Vi o cachorro na sala
Soltando um rosnado feio
E a boca suja de sangue
Que mau pensamento veio

Quando a mulher viu o cão
De sangue todo manchado
Gritou o nosso cachorro
Está doido e enraivado
E matou nossa criança
Fiquei desorientado

Bati de mão ao revólver
E a mulher louca a gritar
O cão partiu para mim
Querendo me abraçar
E eu de nada entendendo
Fiz a arma detonar

Quando o cachorro caiu
Entrei no quarto apressado
Vi o menino no berço
Chorando um tanto assustado
E um homem morto no chão
De dentes todo rasgado

Desesperado eu gritei
Meu Deus o que foi que eu fiz
Arrastei o miserável
Pra perto do cão Veniz
Disparei mais quatro tiros
No peito do infeliz

Veniz ainda com vida
Quando avistou o ladrão
Arrastou-se até o corpo
Irado como um leão
Depois de morder bastante
Ficou gemendo no chão

Todos ali choravam
No momento amargurado
Veniz balançou a cauda
Olhando para o meu lado
Como quem diz o meu dono
Por mim está perdoado

Quando o cachorro morreu
Fui para o pronto socorro
Paguei pena na prisão
De desgosto quase que morro
E ainda hoje eu escuto
O ladrar de meu cachorro
        F  I  M 




















Nenhum comentário:

Postar um comentário