quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O HOMEM DA ROÇA



O HOMEM DA ROÇA

José Edimar

 

José foi rei da preguiça

Detestava trabalhar

Mesmo sendo lavrador

Gostava só de amolar

Todas ferramentas suas

Somente para emprestar.

 

Pois trabalhar no roçado

Do serviço não gostava,

Dizia: eu vou amanhã

Quando a mulher pelejava,

Mas de casa não saía

Ela ainda acreditava.

             

Mas tudo muda algum dia

Foi isso que aconteceu,

Disse que botar uma roça

Era maior desejo seu,

Pensando em grande colheita

A mulher se convenceu.

              

Ela criava galinhas

Numa grande quantidade,

Ele fez logo um acordo

Por ver a necessidade,

De almoçar todo dia

Um capão de qualidade.

              

Como isso a recompensava

Garantindo um roçado,

Com umas vinte tarefas

Dentro do mato fechado,

Na colheita deixaria

Aquele povo abismado.

                01

Quando a gente tem problema

E só pensa em resolver,

Quando ouve uma promessa

Ver a esperança nascer

Duma forma tão intensa

Que chega a se convencer.

            

Ele combinou com ela

Começar no outro dia,

Logo que amanhecesse

Levando ela em companhia,

Para escolherem o lugar

Onde sua roça o botaria.

               

A mulher bem satisfeita

Vendo a conversa animada,

Preparou logo um capão

A panela recheada,

Para o marido comer

Depois vinha a noitada.

 

Ele batia a mão nos peitos

Dizendo: a coisa aqui vai,

Comer do bom, do melhor

Isso é coisa que me atrai,

Sem precisar trabalhar

Todo dia um capão sai.

                    

Depois que jantou bastante

A noite pouco dormiu,

De manhã acordou cedo

Ferramentas conferiu,

Com um café reforçado

Pegou os ferros e seguiu.

             02

Ela preparou o café

Deitou e ainda dormia,

José saiu tão ligeiro

E satisfeito sorria,

Pensando consigo mesmo

Deu do jeito que eu queria.

 

Quando chegou lá no mato

Procurou um pau frondoso,

Que tivesse tronco grosso

Que era maravilhoso,

Pensou fazer logo um cocho

Pra tirar sono gostoso.

             

Baixou o machado nele

Que o cavaco subiu,

Da manhã ao meio dia

A metade conseguiu,

A mulher veio com o almoço

O grande salseiro viu.

            

José era tão sabido

Que já tinha combinado,

Quando trouxesse o almoço

Já tinha um lugar marcado,

Pra não passar nos garranchos

Naquele mato fechado.

              

Quando chegasse ao lugar

De longe o machado ouvia,

O eco sobre a montanha

Toda mata respondia,

Quem conhecesse José

Jamais acreditaria.

              03

A mulher pensou consigo:

Esse ano mais ninguém

Vai fazer como José

Preciso tratá-lo bem,

Porque o que está fazendo

Só e Deus e mais ninguém.

              

Quis atravessar o mato

Por ele está demorando,

Quando ele chegou suado

Ela foi lhe perguntando,

Se o lugar era distante

Onde estava trabalhando.

           

José respondeu pra ela:

– Não quero roça pequena,

Quero umas vinte tarefas

Porque valerá a pena,

Onde outros colherem dez

Vou colher uma centena.

 

Disse a mulher: sendo assim

Faça aí o que puder,

Que a roça sendo grande

Vai ser o que você quer,

Cuide dela que capão

Come a hora que quiser.

                   

José voltou pro serviço

Trabalhou o dia inteiro

Deixou o pau bem lavrado

Fazendo um coxo ligeiro,

Para poder dormir dentro

Tirando sono maneiro.              

              04

Todo dia ele ia pra roça

Mas quando chegava lá,

Dizia: esse pau daqui

Também aquele acolá,

Derrubo um, depois outro

A broca acontecerá.

             

Hoje não vou fazer nada

Amanhã quando eu vier,

Derrubarei todos os paus

Que nesta roça tiver,

Depois da amanhã termino

É assim se Deus quiser.

             

Passou assim vários dias

Quando na roça chegava,

Dizia eu não vou agora

E novo plano formava,

Deixando pra outro dia

Pois a coragem não dava.

              

Naquele cocho que fez

Passava o dia dormindo,

Numa moleza danada

Que acabou conseguindo,

Pegar a tal da murrinha

Que ficou lhe consumindo.

                

Mas na hora do almoço

Corria igual um matreiro,

Bastava a mulher chegar

Que ele estava no aceiro,

No primeiro grito dela

Era o cabra mais ligeiro.

              05    

A mulher era esperta

Começou desconfiar,

Chegava antes da hora

Pra poder observar,

Que é impossível alguém

O tempo inteiro enganar.

 

Ela chegava e gritava

Cansou e não gritou mais,

Saiu procurando ele

Por baixo dos matagais,

Andou que cansou, e roça

Não achou nem sinais.

               

Resolveu seguir em frente

Encontrou o pau cortado,

Foi pelo o lado das galhas

Tinha sido o pau lavrado,

Encontrou o grande cocho

Onde ele estava deitado.

             

Dormindo sono profundo

E não tinha percebido,

Que ela tinha chegado

Acordou sendo agredido,

Quando ela já metia

Uma mão no pé do ouvido.

             

Ela não quis mais conversa

Tinha o diálogo esgotado,

Procurou logo uma vara

Naquele mato cortado,

Quando ele acordou correu

Mas já era encoivarado.

               06

Gritou pra ela: o que é isso?

Ainda quase dormindo,

Querendo se desculpar

Olhando ela e sorrindo,

Ela sem dar atenção

De varadas ia cobrindo.

 

Foi quando ele decidiu

Fugir pra não apanhar,

Levantou-se e foi correndo

Ela pôde acompanhar

Ele enganchou-se nos galhos

Conseguiu ela agarrar.

             

Nunca pegou uma pisa

Como levou nesse dia,

Essa surra foi tão grande

Pois zangada ela batia,

E quando cansou os braços

Arrependida sorria.

 

Ficou ele acabrunhado

Com a surra que levou,

Estava no chão sentado

Margareth o levantou,

Agarrando na mão dele

Em seguida o abraçou.

             

Disse pra ele: querido

Perdoe tudo que lhe fiz,

Não pude me controlar

E fazer o que não quis,

Conheço sua preguiça

Mas nunca fui infeliz.

           07

José lhe abraçou também

Chorando pediu perdão,

Porque por sua preguiça

Causou nela a traição,

Enganando a esposa

Só para comer capão.

          

A surra foi um exemplo

O remédio que faltava,

Que depois daquele dia      

Ninguém mais lhe encontrava,

Nem mesmo para conversa

José em casa não parava.

            

Quem não tinha conhecido

José, mas ouviu falar,

Porque ele ficou rico

Dedicado a trabalhar,

Preguiça na sua vida

Nunca encontrou mais lugar.

 

Porém não foi a preguiça

Nem roça que prometeu

Que deu o nome que tem

Sabe bem quem o conheceu

Mas por enricar com roça

Que esse nome recebeu.

 

Sua esposa Margareth

Com José tornou-se amável

Surrar deu fim na preguiça

Fez um homem responsável

Dando pra sociedade

Um exemplo bem saudável. FIM

                 08

               

 

 

 

 

 

 

 

 


















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