segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A SOGRA QUE ENGANOU O DIABO - A FEIA E A BONITA













A SOGRA QUE ENGANOU O DIABO
Leandro Gomes de Barros

Dizem, não sei se é ditado,
Que ao diabo ninguém logra;
Porém vou contar o caso
Que se deu com minha sogra.
As testemunhas são eu,
Meu sogro, que já morreu,
E a velha, que é falecida.
Esse caso foi passado
Na rua do Pé Quebrado
Da vila Corpo Sem Vida.

Chamava-se Quebra-Quengo
A mãe de minha mulher,
Que se chamava Aluada
Da Silva Quebra-Colher,
Filha do Zé Cabeludo.
Irmã de Vítor Cascudo
E de Marcelino Brabo,
Pai de Corisco Estupor;
Mas ouça agora o senhor
Que fez a velha ao diabo.

Minha sogra era uma velha
Bem carola e rezadeira,
Tinha seu quengo lixado,
Era audaz e feiticeira;
Para ela tudo era tolo,
Porque ela dava bolo
No tipo mais estradeiro.
Era assim o seu serviço:
Ela virava o feitiço
Por cima do feiticeiro!

Disse o demo: — Quebra-Quengo,
Qual é a tua virtude?
Dizem que és azucrinada
E que a ti ninguém ilude?
Disse a velha: — Inda mais esta!
Você parece que é besta!
Que tem você c’o que faço?
Disse ele: — Tudo desmancho,
Nem Santo Antônio com gancho
Te livra hoje do meu laço!

Ela indagou: — Quem és tu?
Respondeu: — Sou o demônio,
Nem me espanto com milagre,
Nem com reza a Santo Antônio!
Pretendo entrar no teu couro!
E nisto ouviu-se um estouro!
Gritou a velha: — Jesus!
Ligeira se ajoelhou
E, depois, se persignou
E rezou o Credo em cruz!

Nisto, o diabo fugiu.
E, quando a velha se ergueu,
Ele chegou de mansinho,
Dizendo logo: — Sou eu!
Agora sou teu amigo
Quero andar junto contigo,
Mostrar-te que sou fiel.
Minha carta, queres ver?
A velha pediu pra ler
E apossou-se do papel.

— Dê-me isto! grita o diabo,
Em tom de quem sofre agravo.
Diz a velha: — Não dou mais!
Tu, agora, és o meu escravo!
Disse o diabo: — Danada!
Meteu-me numa quengada!
Sou agora escravo dela!
E disse com humildade:
— Dê-me a minha liberdade,
Que esticarei a canela!

Disse a velha: — Pé de pato,
Farás o que te mandar?
Respondeu: — Pois sim, senhora,
Pode me determinar,
Porque estou no seu cabresto
Carregarei água em cesto,
Transformarei terra em massa,
Que para isso tenho estudo;
Afinal, eu farei tudo
Que a senhora disser — faça!

Disse a velha: — Vá na igreja,
Traga a imagem de Jesus.
Respondeu: — Posso trazê-la,
Mas ela vem sem a cruz,
Porque desta tenho medo!
Disse a velha: — Volte cedo!
Ele seguiu a viagem
E ao sacristão iludiu:
Uma estampa lhe pediu
Que só tivesse uma imagem.

A velha, então, conheceu
Do cão o quengo moderno,
E, receando que um dia
A levasse para o inferno,
Para algum canto o mandou
E em sua ausência traçou
Com giz uma cruz na porta.
Voltou o cão sem demora,
Viu a cruz, ficou de fora,
Gritando com a cara torta.

Gritou o cão no terreiro:
— Aqui não posso passar!
Venha me dar minha carta,
Quero pro inferno voltar!
Disse a velha que não dava,
Mas ele continuava
A rinchar como uma besta.
— Pois fecha os olhos! ela diz.
Ele fechou e, com giz,
Fez-lhe outra cruz bem na testa!

Aí entregou-lhe a carta
E o demo pôs-se na estrada,
Dizendo com seus botões:
— Não quero mais caçoada
Com velha que seja sogra,
Porque ela sempre nos logra!
Foi, assim, a murmurar.
Quando no inferno chegou,
O maioral lhe gritou:
— Aqui não podes entrar!

— Então, já não me conhece?
Perguntou ao maioral.
— Conheço, porém, aqui
Não entras com tal sinal:
Estás com uma cruz na testa!
Disse ele: — Que história é esta?
Que é que estás aí dizendo?
Mirou-se dum espelho à luz:
Quando distinguiu a cruz,
Saiu danado, correndo!

E, na carreira em que ia,
Precipitou-se no abismo,
Perdeu o ser diabólico,
Virou-se no caiporismo,
Pela terra se espalhou,
Em todo lugar se achou,
Ao caipora encaiporando,
Embaraçando seus passos
E com traiçoeiros laços
As sogras auxiliando…

Deste fato as testemunhas
Já disse todas quais são.
Agora, quer o senhor
Saber se é exato ou não?
Invoque no espiritismo
Ou pergunte ao caiporismo,
Este que sempre nos logra,
Se sua origem não veio
Do diabo imundo e feio
E do quengo duma sogra!
             F I M



 













A FEIA E A BONITA

    (Guibson Medeiros)

A bonita quando passa
Chama logo a atenção
Nego morre na cachaça
O outro arruma confusão
E acontece até desgraça
Se alguém passar a mão

A feia quando passa
Só serve de gozação
Um chama de carcaça
O outro diz mas que dragão
E eu não quero nem de graça
Esse troço no meu colchão

A bonita usa blusinha
Tipo tomara que caia
Com estilo de rainha
Desfilando pela praia
É de lei dá uma olhadinha
Quando ela passa de saia

A feia vai na praça
E fica toda se olhando
Nego já faz pirraça
E o menino vai apontando
Pega logo essa desgraça
Que o circo já vai passando

A bonita é admirada
Deixa o Homem apaixonado
Sua perna é torneada
E o corpinho é um pecado
Maltrata a rapaziada
Com  seu bum bum empinado

A feia tem olheira
O suvaco nem apara
É uma gata borralheira
Quando o cabra vê dispara
E o outro de primeira
Se assombra com a sua cara

A bonita é jeitosa
É um tremendo avião
Tem a pele bem cheirosa
De estraçalhar coração
A boca é mais que gostosa
E a cintura é de pilão

A feia é toda esquisita
Não há no mundo quem goste
Com aquela calça de chita
Eu duvido quem encoste
A boca parece brita
E o corpo parece um poste

A bonita de manhã
Já acorda ouvindo assim
Menina eu sou teu fã
Você nasceu para mim
A sua pele é de maçã
E o seu cheiro é de jasmim

A feia quando levanta
Com os olhos todo vermelho
Parece uma jamanta
Sentada no aparelho
E ela mesmo se espanta
Quando se olha no espelho

A bonita é elegante
É um pedacinho do céu
Um sorriso interessante
E os cabelos de Rapunzel
O olhinho é de brilhante
E os lábios são de mel

A feia é desajeitada
Um pedacinho de rapadura
A maioria é desdentada
Pra encarar só com bravura
E a pobre vive cansada
De carregar tanta feiura

Você que é uma princesinha
Não deve ter indecência
Sem essa de ser galinha
É preciso inteligência
Se não vai ficar sozinha
Quando mudar a aparência

Você que não é perfeita
Se arrume num segundo
A feiura se ajeita
E ninguém fica só no mundo
Aqui tudo se aproveita
Até Maria que é Raimundo.

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