sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O REI QUE CORTAVA MANGUEIRAS















Foto Gianni de Luca


O REI QUE CORTAVA MANGUEIRAS

José Edimar

 

Num tempo muito remoto

Nos confins da cordilheira,

Em um antigo reinado

Perto dum pé de mangueira,

Dois irmãos se enfrentavam

Numa luta carniceira.

 

Essa luta era pesada

Quase sempre acontecia,

Só por causa de trabalho

Quando o dia amanhecia,

Começavam nessa arenga

Dia a fora se estendia.

 

Antônio era um caçador

E brigava com o irmão,

Que amolava as espadas

Sem ter outra ocupação,

Para cortar as mangueiras

Esse se chamava João.

              01

Da manhã ao meio dia

Numa luta tão pesada,

A espada ele amolando

A tarde ia pra jornada,                                                               

Cortando pés de mangueiras

Sobre o gume da espada.

               

Antônio falava sempre:

Isso não dá resultado,

Cortar os pés de mangueiras

Que além de ensombrado,

Todo fruto que dá nele

Tem tanto te alimentado.

 

Porém João lhe respondia:

– Nada disso meu irmão                       

Só corto pés mangueiras

Porque sou um valentão,

Quero gastar energias

Sem arranjar confusão.

 

-- Pois se eu ficar parado

Sem ter nada pra fazer

Preciso ir caçar brigas

Para meu corpo aquecer

E cortando estas mangueiras

Posso minha ira conter.

               02

E dizia não ter medo

Nem de espírito do além,

Que se viesse assombrá-lo

Era assombrado também,

Porque não veio pra o mundo

Pra ter medo de ninguém.

                  

– Sou um sujeito valente

Pode em mim acreditar,

Sendo dez homens é pouco

Pra na luta me enfrentar,

Qualquer batalhão chegando

Preso não vão me levar.

                

Antônio ficou calado

E saiu para a caçada,

Porém consigo pensando:

– Pabula e não vale nada,

Pois na hora do perigo

Esquece até da espada.

 

Quando chegou lá no mato

Destinou-se para andar

Viu que era dia da caça

Depois de tanto caçar

Pois estava muito exausto

Sem uma caça encontrar.

              03

Ficou ali descasando

E mais tarde despertou,

Passou a mão sobre o rosto

Um portão grande avistou,

Aberto na sua frente

Sem pensar duas vezes entrou.

 

Na frente viu outra porta

Entrou nela novamente,

Lotada de ferramentas

Preferiu seguir em frente,

Passando meio apressado

Mas vendo o suficiente.

 

Cada porta que ele abria

Via uma imensa grossura,

Sendo metal amarelo

Bem fornida em espessura,

Com a chave presa dentro

Da enorme fechadura. 

                       

Apareceram mais portas

Ele ia abrindo e passando,

Por causa da claridade

De longe foi avistando,

Uma belíssima coroa

Numa vitrine brilhando.

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Ficou muito admirado

Nela desejou tocar,

Mas preferiu ir em frente

Noutra sala foi parar,

Mas a curiosidade

Queria lhe dominar.

               

Avistou mais ferramentas

E armamentos guardados,

Enxadas e roçadeiras

Arco de flechas, arados,

Lançadeiras, armaduras

Facões foices e machados.

 

Ouviu vozes lhe chamando

Quando uma porta se abriu,                                

Chegando um vento tão forte

Que Antonio não conseguiu,

Segurar-se e arrastado

Dentro do quarto caiu.

 

As luzes foram acesas

Que muito claro ficou,

No centro daquela sala

De longe ele avistou

Uma múmia sobre a mesa

Que Antônio quase gelou.

               05

A porta ali se fechou            

Não tinha como correr,

A múmia mexeu com a mão

Que fez seu corpo tremer,

E cair numa banheira

Sem nada poder fazer.

                 

Levantou-se já molhado

Nisso a múmia se mexia,

A perna e a mão esquerda

E ele ali não corria

Pensando: o bicho me pega

Seu corpo inteiro tremia.

 

A múmia lhe agarrou

Dando nele um pulo certo,

Mas não viu o rosto dela

Pois mantinha-se coberto                                       

Lamentou muito não ter

Uma espada ali por perto.

                 

Brigaram por uma hora

Lutando pra se soltar,

Sentiu um forte perfume

Que invadia o lugar,

Um delicioso aroma

Que chegava inebriar.

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Naquela hora se achava

Completamente vencido,

Aquele perfume forte

Tirava dele o sentido,

Que talvez no Oriente

 Não achasse um parecido.

                 

Não resistindo exclamou:

– Será um reino encantado!

Não conheço esse palácio

Onde tanto tenho andado,

Não me lembro coisa alguma

Nem aqui já ter passado.

 

Isso é coisa do outro mundo

Meu Deus te peço amparo,

Tenha de mim piedade

Obediência a ti declaro,

Porque não quero pagar

O que devo assim tão caro.

 

Enquanto Antônio gritava

Algo ali aconteceu,

Uma pequena raladura

No braço a múmia sofreu,

E houve transformação

Logo o dia amanheceu.

                  07

Sendo tudo transformado

Numa tremenda beleza,

A múmia que era defunta

Tornou-se linda princesa,

Aqueles quartos escuros

No Palácio a realeza.

 

Mas pelas damas da corte

Foi à princesa levada,

Antônio ficou sozinho

Numa tristeza danada,

Levaram-lhe pra vestir-se

Também com roupa adequada.

                  

 Foi Antônio conduzido

Para um quarto reservado

Onde havia lindas roupas

Onde ele foi bem trajado,

Parecendo com o príncipe

Daquele reino encantado.

 

Foi ao quarto da princesa

Sentiu chegar novo dia,

A princesa bem trajada

Radiante de alegria,

Recebeu-lhe como rei

Com beleza e simpatia.

                08

Foi logo lhe agradecendo

Por tudo que havia feito,

Desencantando seu reino

Assim ganhado o direito,

Se quisesse ser o rei

Seu nome seria aceito.

 

Mas faltava uma coisa

Ela pediu insistente,

Pra que o encanto deixasse

O reino completamente,

Precisava a mesma ação

Mas feita por um parente.

                

Porque tinha uma irmã

Que estava ainda encantada,

Se não tivesse um parente

Pra terminar a jornada,

Todo esforço até ali

Não teria valido nada.

                

Faltava apenas três dias

E precisava resolver,

Pra não voltar o encanto

quando o prazo se vencer,

Que depois disso não havia

Nada mais para fazer.

               09

Enquanto estiver comigo

Se esforce pra lembrar,

Se tem um parente próximo

Preciso que vá buscar,

O mesmo que você fez

Ele tem que enfrentar.

               

Os três dias passarão

Numa grande rapidez,

Nosso reino corre o risco

Assim encanto se fez,

Não resolvendo o problema

Volta tudo outra vez.

 

Se você tiver irmão

Deve buscar bem ligeiro,

Pra terminar o que falta

É como um tiro certeiro,                        

Não dar pra cometer falha

Tem que agir como guerreiro.

                   

Conseguindo resolver

Vamos ter felicidade,

Se perdermos não seremos

Uma nação de verdade,

Para sempre sofreremos  

A cruel fatalidade.

               10

Antônio disse não tenho

Nenhum amigo ou irmão,

Esqueceu completamente

Até das brigas com João,

Pra desencantar o reino

Pensou não ter solução.

 

Não lembrando do irmão

A princesa aperreou – se,

Começou fazer perguntas

Pra lembra seja o que fosse

Quando falou em mangueiras

Aí Antônio lembrou – se.

                

E logo gritou afoito

Dizendo: tenho um irmão

O cortador de mangueiras

Que é o rei da confusão,

Com certeza não virá

Por nenhuma condição.

 

João não serve pra nada

Pois nunca quis trabalhar,

Todo serviço que faz

É a espada amolar,

Passando o dia inteiro

Para as mangueiras cortar.

             11

A princesa satisfeita

E muito mais animada,

Disse: Traga o valentão

Que a luta vai ser pesada,

Vai ser ele o vencedor

Porque é bom na espada.

                  

Antônio saiu às pressas

Para buscar seu irmão,

Quando saiu do palácio

Notou a transformação,

Estava na mesma sombra

Sentado naquele chão.

 

Ele olhou pra todo lado

Mas só enxergava mato,

Ficou pensando: foi sonho

Mas dava a mente o relato,

Mostrando toda clareza

Vinha tristeza e maltrato.

                 

Lembrou-se da sua princesa

Ficou muito pensativo,

Aquele acontecimento

Dentro dele estava vivo,

Voltar novamente ao reino

Era o seu objetivo.

               12

Foi à casa onde morava

Pra tentar se convencer,

O cortador de mangueiras

Lhe ouviu mas não quis saber,

Dizendo: daqui não saio

Quero cumprir meu dever.

                  

Antônio não conseguiu

Nada que o convencesse,

Falar de reino encantado

Não despertava interesse,      

Tinha que apresentar algo

Que a João amolecesse.

 

Naquilo Antônio lembrou-se

Daquelas lindas espadas,

Que avistou naqueles quartos

De ouro bem cravejadas,

Pensou: João não resistirá

Para vê-las amoladas.

 

Disse João: vim te buscar

Porque andando encontrei,

Um quarto cheio de espadas

Quando vi eu me lembrei,

De te trazer mas não pude

Lá mesmo onde vi deixei.

                13

João ficou ligeiro eufórico

Porém temendo perigo,

Disse: nunca houve um dia

Que eu não brigasse contigo,

Vem querer me dar presente

Acreditar não consigo.

 

O irmão falou de novo:

– Tenta me compreender,

Se isso não for verdade

O que tu podes perder,

É o tempo de ir e vir

Se nada puder trazer.

                

– Lembra que tuas espadas

Já afinaram o bastante,

De tanto serem amoladas

Como é que te garante,

Um bom corte nas mangueiras

Como será mais adiante.

               

E tu trazendo as espadas

Tudo vai ser diferente

Se fizer competições

Quem ganhará certamente

Quem tiver espadas novas

Que será o mais valente.

              14

Depois de pensar um pouco

João disse: tu tens razão,

Até agora foi sozinho

Que enfrentei a profissão

Mudarei de hoje em diante

Vou reunir multidão.

 

E disse: vamos embora

Foi empurrando o irmão,

Só pensava nas espadas

Prestando pouca atenção,

Chegaram encontraram abertas

A entrada do portão.

 

João avistou uma porta

Recuou pra não entrar,

Para enganar seu irmão

Antônio fingiu passar

Voltando a porta fechou

Ainda ouviu João gritar.

 

Tentando sair não pôde.  

A andar continuou,

Quando avistou as espadas

Dez na cinta ele amarrou,

Quando avistou a coroa

Na cabeça colocou.

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Pondo ela em sua cabeça

Amarrou como podia,

Dizendo: essa aqui é minha

Lutarei com valentia

Mas serei rei do reinado

Minha espada é garantia.

               

 Na frente viu outra porta

Por ela foi logo entrando,

Tudo quanto ele avistava

Amarrava pendurando,

Ficou num peso tremendo

Mas continuou levando.

               

Gritando por seu irmão

Quando as luzes se acenderam,

Na sala viu um defunto

Todos seus membros tremeram,

Também os braços e pernas

Daq1uela múmia mexeram.

             

Começou chamar o irmão

E jogar as coisas fora,

Ficou espada e coroa

Ele querendo ir embora,

A múmia deu-lhe um abraço

Quase que morre na hora.

                16

A múmia encolheu a perna

Depois a outra também,

Começou seu desespero

Agitado a mais de cem,

Saiu correndo e gritando

Antônio o bicho já vem!

                 

Fugindo daquela múmia

Ligeiro como uma bala,

Quando um cheiro de perfume

Encheu toda aquela sala,

João num medo tão terrível

Engasgou perdeu a fala.

 

Porém corria e pensava

Meu Deus que perfume é esse,

Durante a vida inteira

Não senti um cheiro desse,

Com tanta suavidade

Que todo lugar enchesse.

 

Com a múmia lhe agarrando

Quis sair não conseguiu,

Sua espada da cintura

No momento escapuliu,

E quando caiu no chão

A mão da múmia feriu.

                17

Tudo ali se transformou

Como já era esperado,

A luta foi no escuro

Mas havia clareado,

João não percebeu por que

Estava ali desmaiado.

               

O reino desencantou-se

Todos estavam gritando,

De coroa na cabeça

Foi ali João despertando

Já saudado como rei

Quando estava levantando.

             

Avistando as princesas

Que estavam desencantadas,

Percebeu tanta beleza

Parecendo santas ou fadas,

João foi descobrindo ali

Perder tempo com espadas.

  

A primeira princesinha

Chamava-se Angelina,

Essa parecia um anjo

Duma beleza tão fina,

Ainda era muito jovem

Tinha o rosto de menina.

                18

 A segunda parecia

Com uma santa em andor,

Quem olhasse já sentia

No coração muito amor,

Essa se chamava Rosa

Era linda como a flor.

               

João jamais tinha sonhado

Ficar junto com princesa,

Foi levado ao vestuário

Vestira-o de realeza

Não se afastou da coroa

Estava na sua defesa.

 

Para começar a festa

Foram todos pra o salão

Onde escolheriam o rei

Pra governar a nação

A princesa fez Antônio

Tomar essa decisão.

                              

Antônio encostou-se a João

Mantendo ele aberturado,

Pela gola perguntando:

Quer governar o reinado,

Vai fazer tudo direito

Depois que for coroado.

              19

João ali fez juramento

Dizendo que sempre quis,

Ser rei ter autoridade

Fazer seu povo feliz,

Também casar com princesa

E governar o país.

 

Novamente Antônio voltou

Pra falar naquele instante,

Dizendo: João é o rei

Do reinado de hoje em diante

Todos ali aplaudiram

Foi muito emocionante.

 

Celebrou-se em poucos dias

Dos casais o casamento,

Antônio com Angelina

Com todo merecimento,

E João casou com Rosa

Com grande contentamento.

 

Antônio o bom caçador

Não precisou mais caçar,

Depois do seu casamento

Começou a viajar,

Com sua linda esposa

Foi viver sem trabalhar.

                20

Foram conhecer o mundo

Que a princesa desejava,

Por que viveu encantada

Sem saber o que passava,

Muitos anos no passado

Pouca coisa se lembrava.

 

Pois Antônio agora estava

Na vida que mais queria,

Viajar e ser feliz

A princesa em companhia,

Não faltava era motivo

Para sentir alegria.

 

João sendo rei escolhido

Não podia se ausentar,

Tendo a princesa de lado

Precisava governar,

O povo esperava dele

Como iria trabalhar.

 

João sentando-se no trono

Tomou logo a decisão,

Para alegrar sua corte

A grande competição,

Cortadores de mangueiras

Houve grande animação.

               21

Começou plantar mangueira

No reino pra todo lado,

Convocou um grande exército

Todo mundo bem treinado,

Pra essa competição

Tinha que ser preparado.

 

Treinamento e exercício

Era o corte das mangueiras,

Preparou competições

Formando grandes fileiras,

Os troncos que eles deixavam

Servia como trincheiras.

 

Ficaram então conhecidos

Exército de valentões,

Nas batalhas em campo livres

Ou grandes competições

Não perdiam pra ninguém

Sempre foram os campeões.

 

João ficou bem conhecido

Por cortador de mangueira,

Sendo agradável com o povo

Pois era um rei de primeira,

Muito alegre e cordial

Que amava a brincadeira.

              22

O reino foi garantido

Vivendo assim bem seguro

O exército preparado

Nunca passou por apuro

E ainda preservaram

A manga para o futuro.

 

Foi a partir do seu reino

Que essa fruta apareceu,

Conhecida no Nordeste

Quem dessa fruta comeu,

Mesmo passando cem anos

Dela nunca esqueceu.

 

Tem cheiro maravilhoso

Pra comer é saborosa

Adoro a peito de moça

Espada, cajá e rosa.

Tem grande variedades

Cada qual a mais gostosa.    

 

Essa fruta abençoada

Engrandece meu país,

Cada terreno comprado

Um belo plantio eu fiz

Que mangueira carregada

Faz nordestino feliz. - FIM

             23

 

 



























































           



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